Bem, abaixo já desvendei o mistério e não, ao contrário do que se chegou a pensar, o homem de que ali se falava não era
- o actor Vírgilio Castelo - coitado; porque haveria de ser?
- o centrista-caceteiro Nuno Melo - a sério? ele, para além de pouco assíduo e de arruaceiro, é como ali se descreve...? Não me espanta.
- nem o Pedro do Anjos e Prostitutas - mas alguém o está a ver todo cavalheiro e charmoso...?!
- nem o Pipoco mais Salgado - bem... pensando bem...
- nem o MEC - sim, estou a ver o ponto: simpático, a achar, lá bem no fundo, que isto ainda é a modos que uma piolheira, etc,
- ...
- nem o meu marido - mas alguém imagina o meu marido a armar-se em bom, todo cheio de recomendações intelectuais, com recadinhos pinga-amor...? Ná...
Era mesmo o Primo Basílio. O próprio. O do Eça.
E portanto, desvendado o mistério, sigo para a próxima. E não vou molestar as minhas ricas mãos com os mal-afamados submarinos ou com os Pandur do Paulo Portas; nem com as trapalhadas do desavergonhado abre-portas Coelho. Por um lado é fim-de-semana, preciso de desanuviar a minha pobre e fraca cabecita e, por outro, nada disso me espanta. É dar tempo ao tempo que a verdade haverá por vir acima. Mesmo para quem consegue passar, anos a fio, por entre os pingos da chuva, haverá um dia em que a tempestade não o poupará -- é dos livros. E, se estão recordados do que vos contei um dia sobre uma viagem que fiz com um jornalista no activo e outro já fora do métier mas ainda com fortes ligações ao milieu, terão ainda presente o que eles disseram: mal estejam afastados do poder, as coisas começarão a aparecer. Inevitável.
Portanto, hoje afasto-me do assunto e, estando numa de peace and love, fico-me, antes, pelo amor verdadeiro. E, assim sendo, transcrevo do Bored Panda, em tradução livre:
Portanto, hoje afasto-me do assunto e, estando numa de peace and love, fico-me, antes, pelo amor verdadeiro. E, assim sendo, transcrevo do Bored Panda, em tradução livre:
O Sr e a Srª Kuroki tinham uma vida feliz no Japão rural, com os seus dois filhos. Viviam numa quinta desde 1956. Até que, na sequência da diabetes de que sofria, a Sra Kuroki, subitamente, ficou cega. Triste, deprimida, refugiou-se dentro de casa.
O marido tentou animá-la mas sem sucesso até que teve uma ideia maravilhosa: decidiu plantar, na sua quinta, um jardim imenso para que ela tivesse vontade de sair e sentir o perfume das flores. Dois anos mais tarde e muitos milhares de flores depois, a quinta atrai imensas pessoas que querem testemunhar a expressão florida deste amor real. A senhora agora gosta de estar cá fora, no seu amoroso jardim, e sorri, feliz.
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No outro dia, na barragem do Alqueva, vi umas letras metálicas na varanda sobre o rio. As letras diziam isto:
On a clear day you can see forever
E penso que é qualquer coisa assim que a Senhora Kuroki deve sentir quando cheira o perfume suave das flores cor-de-rosa que o marido plantou para ela, quando sente o calor do sol no seu rosto e o braço do Sr. Kuroki sobre os seus ombros: que pode ver para sempre.
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E, caso queiram mergulhar no amor às palavras, nomeadamente, ao Primo Basílio e ao Amor, I love you, desçam um pouco mais, por favor.
2 comentários:
Por vezes, quando não estou com pressa, ou na ida para Lisboa, ou no regresso a casa mais cedo, decido fazer o percurso pela estrada do Guincho. Outro dia, como estava um fim de tarde sem vento e um pôr-do-sol agradável, embora tímido dado ainda ser Inverno, parei o carro, como ocasionalmente tenho feito e saí dali, deixando-me ficar encostado à viatura, de pé, a ver o mar. Desapertei o nó da gravata e abri o colarinho da camisa e ali fiquei com o sobretudo, pois fazia algum frio. Ainda se via gente aquelas horas do dia, ou a caminhar, ou a passear os cães, ou fazer jogging, ou simplesmente a ver a vista - ou até a namorar. E foi uma situação dessas, uns metros mais adiante, junto às rochas perto do mar, que acabei por vir a observar. Era um casal, talvez nos seus trinta e tais, ela de cabelos claros, com um barrete de lã escuro que lhe tapava as orelhas, que lhe dava um ar muito feminino, mas que lhe deixava solto o resto da bela cabeleira por cima dos ombros, vestia um casacão preto sobre uns jeans e calçava uns ténis. Ele moreno, com o cabelo ao vento, também de jeans e um casaco de pele. Andavam por ali, de mãos dadas, rindo, a voz dela podia ouvir-se aquela distância, tinha um timbre bonito e nada neste mundo os parecia preocupar. Viviam aqueles momentos para eles e só para eles. Estavam felizes. Percebia-se. Era um casal romântico, de um romantismo simples e saudável, a quem nada mais importava senão eles e a relação que desfrutavam, naquele momento. Beijavam-se, acariciavam-se, riam, falavam, caminhavam sob a leve brisa marítima e depois vieram sentar-se numa rocha a olhar para o mar. Ela encostou a cabeça no ombro dele e ele acariciou-lhe os cabelos e beijou-a. E ali ficaram. Felizes. E enamorados. Achei a cena encantadora. Gosto de ver gente feliz e, se enamorada, melhor. Ainda bem que há gente assim, que gosta de amar, que ri, que é feliz. Não sei porquê, mas achei que era tempo de sair de cena, encostado ao meu carro a ver o mar, pois senti que estava a mais, embora eles estivessem a uma certa distância de mim e nem imaginavam que os observara. Entrei na viatura, sorri-me, liguei a música (lembro-me que tocava na ocasião aquela música de Paula Fernandes, "Pássaro de Fogo", de que gosto) do rádio e desejei-lhes mentalmente felicidades.
Gosto de registar estas situações, como agora aqui tive oportunidade de o fazer.
Li igualmente outro dia essa história do casal japonês, que aqui relata. Maravilhoso! De uma ternura espantosa! Ainda bem que nos recordou essa história!
P.Rufino
Ah. um homem romântico. que bela "cena".
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