quinta-feira, janeiro 14, 2016

De novo o Gerês -- e tanta, tanta água e tanta, tanta beleza [Último de três novos postais ilustrados]




Dia frio por estas bandas, envoltos em névoas brancas, a serra belíssima, misteriosa. Não encontramos ninguém, ninguém, ninguém. Os postos de turismo vazios, os pequenos museus etnográficos vazios. As estradas absolutamente vazias. Os restaurantes vazios. Claro que não é a época mais usual para ter férias. Mas, para quem não tem que gozá-las em períodos obrigatórios e não tem crianças em idade escolar ou para quem já não trabalha, todas as alturas do ano são boas para se passear. E se é lindo o Gerês agora. Lindo, lindo. 

Já ontem vos mostrei e temo que isto, para vocês, de tão repetitivo, seja um suplício.
Temos uns primos que eram dados a viajar em larga escala. Tudo bem, adoravam, vinham felizes. O pior é que vinham carregados de fotografias. Nem era fotografias, era aquilo que se projectava, uns diapositivos pequenos. Então, sempre que chegavam de alguma viagem longa, convidavam-nos para almoçar ou jantar lá - e, já sabíamos: inevitavelmente teríamos que gramar com horas daquilo. O meu marido não aguentava, levantava-se, arranjava maneira de ir fumar (nessa altura fumava), de ir ver o cão, de ir fazer qualquer coisa. Mas eu, que tenho uma certa dificuldade em desapontar as pessoas quando as vejo todas entusiasmadas, ficava ali, às escuras, ouvindo-os descrever as peripécias, os lugares, e só pedia a todos os santinhos que aquilo chegasse ao fim.
Por isso, sei bem o que é maçar os outros com aquilo de que gostamos sem percebermos que, para eles, isso não tem piada de espécie alguma. Mas, enfim, abuso mais um bocadinho e amanhã já não toco no assunto. 

Volto ao tema da água. É que não há outra forma de o dizer: parece que a terra se desfaz em água, sai água de todo o lado. Há nascentes nas encostas, saindo de pequenas grutas, de dentro da serra, de junto das rochas e há pequenas e grandes quedas de água, e há água que escorre com elegância, e há água que jorra com petulância, e há infinitos regatos, há riachos, rios, há água por todo, todo o lado. 


Há uma música constante de água a correr, a estalar uma contra a água, a saltar, a jorrar com imensa energia. É uma alegria, uma beleza. Num dia como o desta quarta-feira, um ar muito frio e puro, poder andar junto desta natureza tão viva, tão intensa, é uma bênção. E o que desejo é que, tendo visto e lido o que eu aqui vos trouxe, se sintam também abençoados. Ou que sintam vontade de vir colher a bênção com as vossas próprias mãos.

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A fotografia lá de cima está pouco nítida, estava a chover e estava nevoeiro (não foi fácil conseguir fazer fotografias ali, na Peneda)
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Sobre a barata tonta que por aí anda pelas ruas armada em fútil catavento (ah! agora estou a vê-lo a dançar e a cantar!) falo no post já a seguir.

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1 comentário:

Pôr do Sol disse...

Água é vida e aí sentimo-nos vivos entre dois mundos, o quase mágico e o que pudemos pisar e enchermo-nos de cheiros e de paz.
Não receie maçar-nos,quem se sentir tem bom remedio, entretanto muitos viajam consigo neste Portugal lindo em qualquer época.
Um beijinho e continuação de boas descobertas.