quinta-feira, janeiro 14, 2016

De novo o Gerês -- e as cores suaves, e a doçura de uma natureza serena, serena [Segundo de três novos postais ilustrados]




Não sei se é da neblina, se é de estarmos envoltos em nuvens, se é mesmo assim. Ou se é dos meus olhos. Talvez seja. Quando se gosta muito de alguma coisa ou de alguém, parece que os contornos se esbatem, as arestas perdem relevância, as cores se tornam subtis, que tudo se adoça e aninha em nós. Sei disso. Mas que seja. É bom gostar muito de alguma coisa ou de alguém. E se tudo nos parece mais perfeito do que é na realidade, pois que assim seja.

A cada passo eu quero fotografar, olhar bem, guardar dentro de mim. Penso que era bom que o que por aqui vejo ficasse tatuado em mim, por dentro, onde o tempo não esbata. Gostava que, de cada vez que me entedie ou aborreça, pudesse trazer de volta estas imagens, embalá-las com carinho, apresentá-las aos outros: 'tomem, é também para vocês, vejam o que é importante, o que vai ficar para além de nós, para além de tudo, esqueçam os pequenos e sujos nadas, esqueçam os dias incolores, os afectos sem alma, esqueçam o que não vos comove, vejam, vejam esta natureza acolhedora, serena, afável'


Vejam a terra molhada, vejam as árvores nuas ao pé das de folha perene, vejam as cores, sintam com a água escorre dos troncos, dos ramos nus.


Vejam com os montes se deixam envolver pelo suave abraço da névoa, vejam com a graciosa mulher de pedra protege a criança, vejam como o chão está molhado, como a paz é tão boa, tão, tão plena de harmonia.


Vejam as casas tão bonitas, vejam as cores que os seus donos escolheram para as pintar, como quem pinta um livro de desenhos, vejam a neblina tão limpa, vejam como tudo é tão próximo de um sonho bom.


Vejam de novo o chão atapetado de fetos ruivos, vejam a macieza do musgo tão verde, vejam a transparência fresca da água que abre caminho e onde é tão bom mergulhar as mãos, lavar o rosto, e onde tudo parece tão, tão irreal.


E vejam esta árvore, uma de muitas, tão elegante ela é, tão elegantes todas, quanta beleza, quanto despojamento. Não poderia eu encostar-me a uma árvore assim e deixar que o meu corpo se fundisse com o corpo da árvore, eu feita árvore, eu ser das florestas, livre, livre, serena, imersa nas cores abstractas da natureza?



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