No post abaixo mostrei o striptease televisivo de Maitê Proença, uma mulher que, aos 57 anos, deixa homens e mulheres de boca aberta: pelo seu corpo, pela sua graça, pela sua descontracção e pela sua irreverência. Uma mulher de 57 anos tem que se portar como uma avozinha caquética, daquelas em cujo corpo há muito se extinguiu a vida? Ora, ora. É ver o vídeo que ali coloquei para confirmar que nem pouco mais ou menos. Há as que nasceram velhas e as que, apesar da idade, terão sempre uma jovialidade transbordante dentro de si.
Mas isso é a seguir.
Agora, no mesmo comprimento de onda, sigo para o Pirelli 2016, esse objecto de culto que, ano após ano, conta com os melhores fotógrafos que captam mulheres fantásticas em décors de sonho.
Pois bem: desta vez o objectivo foi superado.
Annie Leibovitz, fotógrafa que eu muito aprecio e de quem tantas vezes já aqui falei ou mostrei trabalhos, foi a convidada para o calendário de 2016. E as mulheres que ela escolheu são, de facto, fantásticas - fantásticas pelo que são e não pelo que parecem.
Nas palavras da própria Amy Schumer que ilustra o mês de Dezembro: Beautiful, gross, strong, thin, fat, pretty, ugly, sexy, disgusting, flawless, woman. Thank you @annieleibovitz |
O calendário Pirelli deixou, desde há muito, de ser o protótipo do calendário para camionistas solitários - até porque não é produto que se venda por aí (aliás, nem por aí nem por ali: é presente da Pirelli para alguns happy few). Nem é, tão pouco, um produto exclusivamente para homens.
A sua qualidade e raridade posiciona-o como um produto de colecção - para homens e mulheres.
A sua qualidade e raridade posiciona-o como um produto de colecção - para homens e mulheres.
Ora, estando a falar-se de boas fotografias de mulheres que dão nas vistas, estava, de facto, na altura de romper um tabu. O que é dar nas vistas? E, já agora, o que é que um homem admira numa mulher?
A sua fachada? Que se apresente em excelente forma física, que ostente um corpo de acordo com os protótipos de beleza feminina, que se apresente descascada, maquilhada? E, se isto é verdade, para que quer um homem ver uma fotografia assim? Para sonhar com ela? Para fantasiar?
Se for isso, então não são precisas grandes produções, nem grandes fotógrafos. Qualquer anúncio barato do Correio da Manhã deve ter fotografias que cumpram os requisitos.
Talvez, os homens mais exigentes, daqueles que gostam de referir nomes de escritores, de charutos ou de vinhos, não se satisfaçam com esse género de imagens vulgares e, para esses, há muito mais por onde escolher. Qualquer acompanhante de luxo se faz divulgar em produções fotográficas apelativas.
Contudo, diria eu, essas fotografias em que a sugestão é muito explícita ou a exposição muito convidativa, acabam por cair facilmente no esquecimento. Tudo o que é formatadamente perfeito torna-se vulgar, isto é, parecido com os demais - e, portanto, torna-se perecível na nossa memória.
O que é único, imperfeito na sua genuinidade, torna-se mais marcante, grava-se melhor em nós.
Ainda ontem, a propósito do guarda-costas da Adele, eu disse que não sou muito admiradora de homens esculturais, muito luzidios, muito aparatosos. Por isso mesmo também não aprecio homens muito aprumadinhos, muito botões de punho, muito fato de risquinhas, muito sapatinhos da moda, muito rodriguinhos.
Numa altura em que tinha reuniões frequentes com clientes e fornecedores de várias nacionalidades e me aparecia toda a espécie de executivos armados em carapaus de corrida, despertou-me especial atenção o vice-presidente de uma grande multinacional que me apareceu de calças de bombazina todas esbambalhadas, uma camisa quase informal com um pullover escuro por cima, um casaco de tweed com cotoveleiras de camurça, cabelo meio desalinhado, franja tombada sobre o rosto enfurecido (tinha vindo de França, com urgência, para me dar uma valente 'coça'). Achei que tinha um charme enorme. Saíu a chamar-me femme infidèle (porque eu rompera uma preferência entre empresas que ele achara intocável). E, por tudo, passei a ter uma respeito e admiração por ele que não tinha por nenhum dos outros cheios de nove horas, convencionais da cabeça aos pés e que não eram capazes de me dar luta. Negociar a sério, daqueles negócios suados, fi-lo eu com esse francês heterodoxo, com um holandês que uma vez me apareceu irreconhecível de barba dizendo-me que ficasse eu a saber que quando um homem aos cinquenta e tal resolve passar a ter barba é porque tinha arranjado uma namorada e que a tinha trazido para conhecer Portugal e que negociava implacavelmente até ao último cêntimo, com um marroquino que era um príncipe e com mais dois ou três invulgares e fantásticos.
Se a mim me fosse dada a possibilidade de escolher homens interessantes para fazer um calendário com uma grande pinta, de certeza que não ia escolher modelos bonitinhos, atletas musculados ou executivos arrumadinhos viciados em power points - a menos que tivessem algo mais, algo de irreverência ou fora do usual, que me despertasse alguma curiosidade.
Este calendário Pirelli mostra mulheres que, de alguma forma, se têm destacado no seu ofício, e mostra-as tal como elas são - e nada agrada mais a uma mulher que a apreciem por ela ser como é.
Se eu tiver que pôr botox em cada ruga, colocar uma camada de base que disfarce qualquer pequena imperfeição, pintar-me de alto a baixo e produzir-me com mil cuidados para que me concedam o privilégio de me apreciarem, então boa-noite, vou ali e já venho.
E Annie Leibovitz mostra-as contra um fundo neutro, sem qualquer décor que desvie as atenções das fotografadas. Nas fotografias, são elas que importam: elas, elas mesmas. E quem não gostar que dê meia volta e vá andando.
Shirin Neshat - mês de Setembro |
As mulheres que fazem parte do Pirelli 2016 são:
A fundadora do blog Rookie, Tavi Gevinson, a lenda do ténis Serena Williams, a comediante Amy Schumer, a artista/activista Yoko Ono, a escritora Fran Lebowitz, a música e autora Patti Smith, a supermodelo Natalia Vodianova, a administradora da Lucasfilm Kathleen Kennedy, a actriz chinesa Yao Chen, a magnata financeira Mellody Hobson, a directora e guionista Ava DuVernay, a collecionadora de arte e chairman do MoMA PS1 Agnes Gund com a sua neta Sadie Rain Hope-Gund, e a artista visual iraniana Shirin Neshat.
Yao Chen |
Annie Leibovitz was behind the lens for the 2016 calendar and was given free rein to cast the 12 months of famous faces. The iconic photographer, who helmed the 2000 Pirelli calendar, said in a press conference today, "Pirelli came to me and told me they wanted to shift this year to something different. I made the suggestion that they do women performance artists or women comedians, almost a take-off. I just thought of women I admired and I didn't let anyone in the studio from Pirelli. It became a very strong set of very simple portraits [...] No one was supposed to look like they tried in these pictures." She continued, "I still can't believe the women who agreed to do it, did it. I felt a big responsibility to that [...] It shouldn't be a big step, but it is a big step," Leibovitz went on to highlight that, in addition to featuring a new group of accomplished women, the calendar is more book-like this year, also featuring a paragraph about each woman's work and influence.
One standout photo in the calendar is of Amy Schumer, who fronts December and is pictured wearing nothing but panties and heels, drinking from a Starbucks cup. When she arrived at the photographer's New York studio back in July, Leibovitz proposed on the spot that she pose nude ironically, as if she didn't get the memo that everyone else was clothed. Leibovitz explained, "She got the whole concept completely. She's so bright. She was willing to play that role. I was worried for her; I said, 'Are you self-conscious?' [Amy] said, 'Are you kidding? I love my body.'"
The 2016 Pirelli Calendar by Annie Leibovitz | Behind The Scenes
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E, se me permitem, sigam para o strip da Maitê Proença: 57 anos de sensualidade e de sentido de humor.
Nua para quem a quiser ver.
Nua para quem a quiser ver.
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