domingo, dezembro 20, 2015

A sensualidade das gordas



Acho que tenho que perder uns quilos e sei o que é que como que me faz engordar (frutos secos, queijo, mel, por exemplo); mas primeiro que me afoite ao sacrifício vai um passo de gigante. Já o consegui há uns dois ou três anos. Nessa altura, a nutricionista identificou como causa o excesso de peças de fruta.
Eu podia alimentar-se só disto: fruta fresca, frutos secos, iogurtes, queijos, saladas. Nessa altura, entre peças de fruta inteiras e sumos de fruta naturais, eu ingeria cerca de sete peças de fruta por dia. Ora isso -- fiquei eu, então, a saber -- era açúcar a mais (porque as frutas têm açúcar e eu, feita totó, nem me tinha lembrado disso; como não ponho açúcar no chá nem no café e quase não como bolos, achava que, comigo, o açúcar era igual a zero...). 
Por isso, eu agora já sei avaliar as calorias que ingiro, ainda que o faça apenas 'a olho', e sei bem onde deveria cortar; mas acaba por prevalecer aquilo do 'perdoa o mal que faz, o bem que sabe' e vou deixando andar. Agora tenho a desculpa das festas, mas a seguir há-de aparecer outra razão qualquer que me faça continuar a infringir os mandamentos.

De qualquer forma, visto números dentro do que se pode considerar normal para a minha idade (L ou 42). No entanto, embora a mim mais do que isto não me fique bem, acho bonitas as mulheres mesmo gordas, XXL, 46, 48 ou mais, tanto mais que, geralmente, contêm, em si, uma graça, um humor e um gosto desbragado pela vida que as tornam, pela sua boa onda, umas excelentes companhias.

Na faculdade tinha uma colega alentejana, alta, gorda, vernacularmente desbocada, sensual de forma exuberante, descontraída, desavergonhada. Dava-me muito bem com ela, apesar das nossas diferenças. Atraía-me aquela pujança e ausência de respeito pelas convenções sociais. 

Mais tarde, foi também minha colega na escola onde dávamos aulas. Íamos geralmente juntas nos transportes públicos e ainda hoje me rio das nossas conversas durante as quais eu pedia a todos os santinhos que não houvesse ninguém que nos identificasse como professoras. 

Tudo nela era excessivo: falava alto, contava as suas aventuras libertinas (mas ponham libertinas nisso), usava palavrões com a maior das naturalidades, soltava irreverentes gargalhadas. Morena, acentuado sotaque alentejano, grande e gorda, sem querer saber do que pensaria dela quem a ouvisse relatar aquelas indecências e escandaleiras, era, em tudo, o meu oposto. Nunca fui nenhuma santinha mas nunca me deu para fazer nada, mas mesmo nada, que se pudesse comparar com as 'cenas' dela -- mas ouvia-a com gosto, era a sua interlocutora privilegiada, ria, queria saber como lidava ela com aquela vida desregrada. Para mim, tudo nela era interessante. Embora tantas vezes lhe recomendasse prudência, cuidado e a mandasse falar baixo, era comigo que ela vinha desabafar quando pisava verdadeiramente o risco ou se sentia adoentada, ou quando, de vez em quando, se via emocionalmente envolvida com alguém com quem mantinha um dos seus casos calientes. 

Beth Ditto e Kristin Ogata, a sua namorada de longa data
Lembrei-me dela ao ver uma outra gloriosa big size: Beth Ditto, que agora tem uma colaboração com esse outro maluco, o Jean Paul Gaultier.  Humor e descontração de mãos dadas. A tshirt (que pode ser vista nas três primeiras fotografias) é um piadão, um modelo próprio para gordas e tendo como motivo o célebre espartilho a la Gaultier.
The two have joined forces to design the said T-shirt, that goes up to a size US30, and is available on Beth's website www.bethditto.com. This isn't the first time the two have collaborated, Jean designed Beth's wedding dress as well as sending her down the catwalk in one of his runway shows, "Big girls" he says "Are beautiful, and Beth is super beautiful! Long live the beauty with shapes, boobs and bottoms. This is a new concept, a loose fit corset. And Beth fits it perfectly."...

Já agora, para quem não saiba bem quem é Beth Ditto, mostro-a em toda a sua graça.

Beth Ditto - I Wrote the Book


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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um belo dia de domingo.

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2 comentários:

Anónimo disse...

As gordas têm, habitualmente, o rosto bonito. E depois, são umas sortudas, têm mais superfície para amar :-)
Bom domingo para sim,
lurdes

Um Jeito Manso disse...

Olá Lurdes,

Li o seu comentário e lembrei-me da Adele. Agora está mais magra mas, mesmo quando estava mais anafadinha, que rosto bonito ela tinha. E é verdade, a superfície é maior, muito corpo para dar e receber e amor.

No outro dia não lhe respondi (falta de tempo...) mas sabe que os safados dos dinamarqueses até querem expropriar os bens de valor dos refugiados...? Olhe que aquela felicidade deles, de facto, tem uma certa dose de alienação mesmo... Credo. Tem razão.

E quanto ao seu amor sereno que já dura há trinta mil anos, é bom. O meu não é que seja sempre uma paixão agitada mas tem os seus momentos. E nem sempre bons pois, se me dá para desatinar é cá com uma força... Mas depois passa e vem o romance e é uma festa. Não sei se tem a ver com o 'amor' em si se com a maneira de ser dos intervenientes. Eu sou mesmo assim, temperamental, apaixonada - e ele não se fica atrás. Mas, sendo os dois mais para o calminho, é bom na mesma.

Um bom domingo, Lurdes. E um abraço!