quarta-feira, dezembro 16, 2015

A entrevista de José Sócrates na TVI: o amigo, os dinheiros, a vida faustosa em Paris, as suspeitas. A Justiça. O Estado de Direito.


Se no post abaixo, ao ver uma tal Sofia Vala Rocha e a Raquel Varela, me mostrei intrigada com o nonsense a que se chegou, nas televisões, com a inexplicável selecção de comentadeiros (neste caso com cada uma mais destemperada e descompensada do que a outra), agora aqui vou falar da entrevista que Sócrates concedeu à TVI.

Aliás, acho que não posso dizer que vou falar porque, para isso, teria que pensar melhor, teria que me organizar antes de me pôr para aqui a escrever. Mas, como não tenho tempo para elucubrações, vai mesmo assim, ao correr da pena.

Mas, com vossa licença, vamos com música, que sempre vamos melhor.




Quem por aqui me costuma ler sabe bem que, salvo situações pontuais, de forma geral sempre apoiei Sócrates enquanto Primeiro-Ministro, em especial no seu primeiro governo - já que o segundo foi atípico, estava em minoria, isolado na Assembleia, permanentemente acossado pelo Presidente da República, e cercado por uma violenta crise financeira internacional, com os fundos especuladores, verdadeiros abutres, à perna e com o BCE ainda imobilizado, com as rotativas paralisadas.

Contudo, o facto de eu achar que ele foi um bom Primeiro-Ministro não tolda a minha consciência. Se eu sou crítica em relação ao meu marido e aos meus filhos, pessoas de quem sou tão próxima e a quem estou tão emocionalmente ligada, obviamente que, por maioria de razão, acho que mantenho o distanciamento que me permite olhar para Sócrates com a necessária objectividade.

Portanto, disto isto, volto ao que já aqui disse mil vezes: não faço ideia se ele é culpado de alguma coisa. Aliás, ainda nem acusado foi. Está sob suspeita e, à pala das suspeições, está a ser investigado faz tempo, já esteve um ano enclausurado, e agora nem sei já como está, creio que ainda com termo de identidade e residência. As suspeições têm variado e, ao que se vai sabendo e pelo que ele confirmou, são bizarras. E, no entanto, tanta escuta, tanta busca a tanta casa, tanta gente detida e interrogada ainda não deu em nada.
Chocam, chocam, chocam, mas nascer algum pinto, está quieto.
Na segunda-feira, na TVI 24, gente credível e com conhecimentos na área, juristas prestigiados, confirmaram, uma vez mais, que, à luz do que se conhece, não havia matéria nem fundamentação para a prisão preventiva, os prazos foram ultrapassados, os preceitos desrespeitados e que aquilo a que se está a assistir é a uma inqualificável transformação da Justiça numa assustadora justiça-justiceira.

Este terça-feira, Sócrates falou dos dinheiros, da vida em Paris, do dinheiro que a mãe lhe deu, do dinheiro que o amigo lhe emprestou. Não me espanta que ele gastasse muito dinheiro já que vivia num país estrangeiro com os filhos, todos eles a estudarem, a viverem bem, ele a andar para a frente e para trás de avião, etc. Agora uma coisa é certa: não tenho nada a ver com isso nem me passa pela cabeça fazer juízos morais sobre factos pessoais da vida de pessoas que não conheço. E achar que uma pessoa gasta mais ou menos dinheiro não dá a ninguém o direito de a acusar na praça pública de corrupta, muito menos de o prender, de dar cabo da sua vida.

Vou extrapolar. Já não é a primeira vez que alguém deixa aqui comentários, em tom de censura, sobre o meu nível de vida. É um facto que nunca escondi: face aos padrões médios nacionais, vivo bem. Eu e o meu marido exercemos cargos de gestão, temos ordenados razoáveis. Vivemos do nosso trabalho e descontamos mais de metade do que ganhamos. Ou seja, mais de metade do ano trabalhamos para outros, para quem precisa, para os que não têm a sorte que nós temos. Acresce que os meus pais também não vivem mal. Ajudaram a comprar as minhas casas. Acredito que, quem viva com dificuldades, possa olhar para quem viva melhor com algum desconforto, quase sentindo vontade de acusar quem vive melhor como se daí adviesse a causa da sua própria pouca sorte. É um erro. Não haver uma classe média forte, paralisa a economia interna de um país. Mas esse agora não é o ponto, o ponto é que o que tenho foi obtido por via legítima e, de facto, não é nada de especial. Viver faustosamente, e eu conheço quem o faça, é ter propriedades com milhares de hectares, com cavalos, com caça, é poder ter lá grupos de amigos a passar férias e fins de semana e lá organizar caçadas, é ter grandes veleiros e poder contratar tripulações para grandes viagens, é passar temporadas na neve em requintadas estâncias, é perseguir o tempo quente à volta do mundo na companhia de um grupo de amigos, é ter uma casa em Paris, um apartamento em Nova Iorque e uma fazenda no Brasil, etc, etc, etc. Ou seja, viver faustosamente não é viver desafogadamente: é muito, mas muito mais, que isso. No entanto, viver faustosamente também não é crime se os bens tiverem sido obtidos por vias legítimas e se se pagarem os impostos devidos. 

Portanto, por muito que custe a quem viva com grandes dificuldades ou que viva com um orçamento apertado ou a quem não tenha visto de perto o que é ser mesmo muito rico, a verdade é que não faz sentido lançar um manto de suspeição geral sobre alguém, apenas porque se acha que essa pessoa vive melhor do que o comum dos mortais ou porque se embirra com ela ou porque se acredita no diz-que-diz-que do Correio da Manhã. Não faz sentido. 

Um colega meu, há algum tempo, estando a falar-se de um ex-ministro, dizia que o fulano estava cada vez mais abichanado e, a seguir, disse que um outro também. Reagi: Disparate! Esse pode ser um estupor mas bicha não é! Ele deu uma gargalhada e disse: Pois não! Mas pode espalhar...

E assim, por vezes na brincadeira, outras por despeito ou por rivalidade se pode lançar um boato, uma injúria, uma difamação. 

No outro dia, por acaso, fiz uma viagem, que durou quase três horas, na companhia de dois jornalistas meus conhecidos, um ainda no activo, o outro não. As coisas que eles contaram... Se eu não tivesse escrúpulos, teria matéria para aqui ir deixando cair informações ao longo de meses. Claro que não o farei. Mas uma coisa vos posso dizer: que não haja dúvidas quanto a serem plantadas 'falsas pistas', 'falsas informações'. Sabe-se de quem, quando a coisa aperta para o seu lado, seja exímio em lançar perfídias sobre outros, apenas para lançar confusão, distrair as atenções.

Quantas pessoas foram vítimas disso? Pessoas que viram as suas vidas arrasadas apenas porque, a dada altura, alguém se lembrou de lançar os seus nomes para a praça pública, para que as atenções se concentrassem aí e não onde não lhes convinha.

Ferro Rodrigues e Paulo Pedroso são dois casos exemplares. Eu própria, aqui, uma vez, cometi um dos actos de que mais me arrependo na minha vida ao admitir que poderia haver alguma verdade nas insinuações em relação a um dos nomes. Mil vezes me arrependo da minha estupidez, mil vezes, mil vezes. Ainda nesse dia um dos jornalistas me falou nisso, em como esses dois homens foram tão ignobilmente difamados, tão, tão injustamente. E, acrescentou que eles, jornalistas, foram, nesse processo, ultrajantemente manipulados, e que, para venderem jornais, deixaram passar insinuações que sabiam terem sido forjadas, 'plantadas nas redacções'. 

Sócrates, com o caso Freeport, foi vítima de notícias forjadas. Conhece-se onde nasceu a infâmia, conhece-se a perseguição que lhe foi movida.

Não sei se agora, no caso Marquês, estamos perante a mesma indecência e malvadez. Se estivermos, é de admirar a resistência anímica deste homem, a sua energia inquebrantável. Ele luta, luta, luta, e sempre de pé, sempre com uma surpreendente inteireza. Mas, estejamos ou não, temos que nos levantar para dizermos que não é admissível a devassa na praça pública, a difamação persistente, a privação da liberdade - e, ainda por cima, sem que haja culpa declarada, sem que haja, sequer acusação.

Não é admissível uma situação destas num Estado de Direito. Qualquer cidadão, seja ele qual for, tem que estar defendido da arbitrariedade, da prepotência, do abuso de poder. A Justiça deve funcionar no respeito pela liberdade e pelos direitos dos cidadãos. A Justiça não pode ser um poder sinistro, difuso, que espalhe a ignomínia sobre quem quer que seja, deixando-o impotente, indefeso, à mercê de prazos que se violam, de fugas de informação, de injuriosas capas de jornais, sem poder trabalhar, tendo que pagar a advogados, arriscando-se a perder família e amigos, vendo a sua honorabilidade posta em casa.

Se alguém cometer um crime, que seja acusado, julgado, que pague por isso. Mas que o seja em tempo útil e no respeito pelos seus direitos. 
Contudo, que nunca se maltrate na praça pública, como nos pelourinhos de antanho, ou condene injustamente um inocente, privando-o do seu direito a viver a sua vida em total liberdade e de cabeça erguida.

E sobre a entrevista e sobre todo este processo o que tenho a dizer é isto: que lamento a devassa pública da vida de um homem, que lamento que alguém se veja sujeito a um processo conduzido desta forma.

José Alberto Carvalho deixou Sócrates falar e fez bem, outra coisa não faria sentido. Uma entrevista é isto, não é o atropelo sistemático do entrevistado.


Mas, no fim, o que a mim me fica, sobretudo, é a sensação angustiante que, se isto acontece a alguém que já exerceu o cargo de primeiro-ministro, imagine-se o que por aí não haverá de situações vergonhosas, infames, imagine-se o risco que todos nós corremos. 

É o funcionamento da Justiça em Portugal que tem que ser seriamente repensado. A Democracia e Liberdade não se conjugam com uma Justiça que funcione como a Justiça em Portugal está a funcionar.


...   ...   ...

As fotografias são de Gabriel Isak que sabe captar a melancolia como poucos.

Lá em cima Yo Yo Ma interpreta Don Quixote de Richard Strauss 

.....

E, à semelhança do que fez a TVI 24 depois da entrevista com Sócrates, queiram, por favor, descer agora até à secção das desvairadas comentadeiras avençadas. É já a seguir.

...

10 comentários:

Olinda Melo disse...


Olá, UJM

Li este seu texto com atenção e muita emoção.
Devemos ter sempre presentes os princípios de
liberdade que nos devem nortear, estejamos nós
no sagrado dever de aplicar a justiça ou na alta
missão que está acometida à comunicação
social. Todos nós temos o direito à presunção de
inocência até sermos condenados com provas
irrefutáveis.
Chamou-me a atenção o reconhecimento do "erro"
que diz ter cometido em relação a duas figuras
da política, que refere no texto. Isso só vem
abonar sobre a pessoa boa que é. Ainda ontem,
em conversa, alguém lembrou um pensamento atri-
buído a Confúcio, a propósito de um tema em
discussão:
"Quem comete um erro e não o
emenda, comete um segundo erro."

Tenha um excelente dia.

Bj
Olinda

Anónimo disse...

http://delitodeopiniao.blogs.sapo.pt/descubra-as-diferencas-8027109
Ele embrulha-se em justificações, mas o néscio é-lhe sempre fiel... nem com lentes polaroid isso vai ao sítio.
M.Caetano

Anónimo disse...

O que me espanta neste caso de José Sócrates é sobretudo o facto de depois de tanto tempo, mais de 1 ano e tantas páginas já produzidas pela investigação (MP), ao que ouvi cerca de 3 mil por cada 29 tomos já concluídos, ainda não haja uma qualquer acusação formal! E se mantenha alguém na situação de suspeição, como é o caso dele, sobretudo sabendo que é quase diariamente vilipendiado na praça pública, “graças á informação que o MP (só pode ter sido) foi divulgando”, aos bochechos, para a comunicação social. E entretanto, o procurador Rosário Teixeira, não cumpriu o prazo de apresentação de uma súmula, ou ponto de situação do estado do processo, por escrito, ao seu superior hierárquico imediato, sem que nada lhe tenha sucedido! E não se respeita uma decisão de um Tribunal Superior, o da Relação, que obrigaria a dar a conhecer aos advogados de Sócrates o conteúdo do processo, na sua totalidade, sem que nada aconteça aos responsáveis, na Instância judicial hierarquicamente inferior (o procurador e o juiz de instrução criminal)! Uma das acusações pertinentes sobre a desigualdade de tratamento que tem a Acusação e a Defesa, nos prazos para contestar (de 1 mês para a Defesa e sem prazo para o MP), nos termos do CPP, foi feita pelo advogado Magalhães Silva, no tal debate com outros colegas. Isso irá reflectir-se na defesa de José Sócrates, se chegar haver uma acusação formal. Por fim, uma observação final: discordei totalmente que um dos advogados de José Sócrates, Pedro Delille, se tivesse dignado sentar-se com dois jornalistas comentadores, um deles esse marau do João Miguel Tavares, para um debate sobre o caso do seu constituinte. Um advogado não deve, em circunstância alguma, permitir-se a esse tipo de debates, até porque são desiguais. Os jornalistas podem utilizar argumentos que não cabem ao advogado de defesa, o que acaba por prejudicar a imagem do seu constituinte. E foi o que, de algum modo, sucedeu. Uma coisa é o advogado a sós com um jornalista, numa entrevista, outra debater num painel com jornalistas, o caso que aceitou patrocinar. E claro, aqueles dois acabaram por se comportar da mesma forma que as tais Sofia e Raquel, o que não foi nada bom de ver.
P.Rufino

Um Jeito Manso disse...

Caro/a M. Caetano,

Vou tentar ser clara na resposta ao seu comentário uma vez que, certamente por lapso meu, não o fui no texto. A questão é que me estou nas tintas, mas nas tintas mesmo, para a forma como Sócrates financiou a sua estadia em Paris. Não sou coscuvilheira, não sou fofoqueira, não padeço de voyeurismo. A forma como as pessoas vivem, que dinheiro gastam ou deixam de gastar e se o dinheiro lhes veio da mãe, do banco ou das poupanças é coisa que não me interessa.

Se a mim alguém me perguntasse como paguei eu esta minha casa, achando que era o que me faltava era estar a dar satisfações sobre a minha vida pessoal, poderia responder que a minha mãe me deu dinheiro. Mas, se a coisa começasse a atingir dimensões aborrecidas e eu tivesse que entrar em pormenores, talvez dissesse que pedi um empréstimo. Ambas as respostas seriam verdadeiras. Mas isto seria se eu me visse forçada a prestar satisfações a gente mesquinha, invejosinha, vizinhas que querem saber o que se passa em casa alheia.

Portanto, Caro/a M. Caetano, não quero cá saber do que Sócrates respondeu a esse respeito agora ou antes porque percebo que ele fuja a falar de assuntos que só a ele dizem respeito. Não sei se, por isso, sou néscia (estou em crer que não) ou se, simplesmente, não sou de intrigas.

A questão - e eu pensava que isso tinha ficado claro no que escrevi - é que andar a espiolhar a vida privada das pessoas é absurdo, inútil, mesquinho. Andar a ver nos jornais, nos blogs ou nas televisões o que se diz sobre a vida ou as contas das pessoas é contra a minha maneira de ser.

A questão que se pode colocar (e legítima) é outra: saber se alguém obteve o dinheiro através de corrupção, isso sim, deve ser averiguado e, se houver indícios, deve ser acusado e, se se caso disso, julgado -- através dos mecanismos da justiça (não na praça pública). Mas estamos a falar na obtenção do dinheiro, em saber se foi através de meios lícitos ou não. E isso prova-se, sabendo quem o corrompeu e a troco de quê. Ora, já há alguma acusação contra Sócrates? Alguém o corrompeu? Há provas disso? Quando em funções públicas, favoreceu empresas a troco de dinheiro? Alguém tem provas? --- Se sim, então, que se avance com o processo judicial.

Se não, então não há nada a falar. Se ele usa cuecas de marca ou se come mcdonalds ou filet mignon, isso não é tema sobre o qual me interesse falar. Mas não me interessa isso a propósito do Sócrates nem a propósito de ninguém.

Penso que terei sido clara mas, caso considere que devo explicar-me melhor, não se acanhe: diga-me que eu tentarei explicar melhor (já fui professora, e mesmo na vida profissional que tenho agora, já me habituei a lidar com pessoas com todos os tipos de QI).

Volte sempre mas, de preferência, sem me insultar, ok?







Anónimo disse...

Olá Jeitinho,
A Jeitinho é uma Senhora!
Boas Festas para si e para a sua linda família.
Beijinho Ana

Anónimo disse...

Olá Jeitinho,
A Jeitinho é uma Senhora!
Boas Festas para si e para a sua linda família.
Beijinho Ana

redonda disse...

Mas, para se concluir que a justiça está mal, não seria preciso conhecer o outro lado?
Saber por exemplo o que está no processo?
Parece-me que há prejuízos dos dois lados, de quem ataca o Ex PM e de quem defende o ex PM, e ataca os magistrados e a justiça.

Um Jeito Manso disse...

Olá Ana!

Bom vê-la por aqui! Obrigada!

Um beijinho para si também, Ana.

Um Jeito Manso disse...

Olá Redonda!

Mas conhecem-se os factos da Justiça: incumpre prazos, deixa as pessoas em banho-maria para além dos tempos regulamentares sem, tão pouco, formular acusação, deixa que haja violações do segredo de justica, etc, etc... É contra este abuso que me insurjo.

Sobre o que está no processo não me pronuncio pois não conheço. Por isso, não digo se Sócrates pisou o risco ou não - não sei. E é à Justiça que compete saber - mas dentro dos prazos e no respeito pelos direitos das pessoas.

(Também gostei de vê-la por aqui, Redonda!)

Um abraço.

Luís1904_ disse...

Bom dia.

Eu nem estava para comentar porque não gosto de me introduzir num espaço e principiar logo a "rasgar" na opinião de alguém mas permita-me a ousadia: vai aqui uma confusão dos diabos...

E, tendo em conta aquilo que escreve por todo o blog, das duas uma: ou você não sabe e desconhece as ideologias inerentes a uma política económica e a uma forma de estar de uma determinada classe política OU conhecendo é hipócrita.

Você diz que apoiou José Sócrates e achou que ele foi um bom primeiro-ministro. Deduzo que no extremo seja PELO MENOS simpatizante do Partido Socialista.

Tendo por base aquilo que é o Partido Socialista e as suas ideologias eu relembro-lhe a propósito da sua criação:

"Na Declaração de Princípios afirmava-se a defesa do socialismo em liberdade, ao mesmo tempo que se defendia como objectivo último uma sociedade sem classes e o marxismo era aceite como "inspiração teórica predominante", embora permanentemente repensado."

Posto isto, alguém que simpatiza com um partido que é nos seus fundamentos marxista, tem esta passagem fantástica:

"É um erro. Não haver uma classe média forte, paralisa a economia interna de um país. Mas esse agora não é o ponto, o ponto é que o que tenho foi obtido por via legítima e, de facto, não é nada de especial."

Invocando a existência de classes, a liberdade individual e a liberdade económica. Só que tudo isto são valores do capitalismo por muito que lhe doa.

Posto isto, você não pode ser socialista quando lhe apetece e capitalista só quando lhe dá jeito...Ou vá, pode claro, até porque eu sou a favor da liberdade individual...Se a hipocrisia for um dos valores pelos quais se rege está à vontade para o fazer...Eu diria é que pelos meus padrões humanísticos não a consideraria um bom ser humano se assim for.

"Ou seja, viver faustosamente não é viver desafogadamente: é muito, mas muito mais, que isso. No entanto, viver faustosamente também não é crime se os bens tiverem sido obtidos por vias legítimas e se se pagarem os impostos devidos."

Ou seja, você defende o voto num partido cuja base económica é o socialismo que defende a igualdade económica e a abolição de classes MAS depois vem dizer que concorda com a desigualdade económica desde que se paguem os impostos...O seu código moral confunde-me...

Mas, no fundo, você, tem veia de socialismo quando faz esta, como direi, consideração:

"Ou seja, mais de metade do ano trabalhamos para outros, para quem precisa, para os que não têm a sorte que nós temos."

Ora cá está, a sorte. Um socialista vai sempre achar que os males do mundo são falta de sorte. Que foi a sociedade malvada, o vizinho do lado, o patrão opressor, o professor ditador que fez um teste malvado. Vão refilar e dizer que é o capitalismo que provoca a desigualdade injusta e que por isso é preciso igualdade.

O que um socialista não defende é a responsabilidade individual e o mérito. Isso não...Isso nunca poderá existir...E como não defendem o mérito preferem criar na cabeça deles para uma sociedade que a utopia da igualdade é melhor do que a criação de uma desigualdade social justa (defendida pelo capitalismo baseada num ponto de partida com equidade sendo atingidos diferentes patamares num ponto de chegada que serão naturalmente diferentes).

MAS depois, no seio das suas vidas, gostam do poder de compra, gostam da existência de uma, (como é que é?) classe média forte...Vocês, socialistas, da "classe média forte" como lhes chamou são a hipocrisia em que se transformou Portugal...Defendem o voto na ideologia só quando vos dá jeito...

Eu peço desculpa se nalguma consideração que fiz fui mal-educado ou insultuoso. Penso que não. E se estou errado, aguardo a sua resposta.

O comentário surge mais numa consideração ao blog em geral e às suas ideias do que propriamente ao "post" em si...