domingo, outubro 18, 2015

Um dia da minha vida com mar e amores dentro - e a acabar com pornografia pura e dura [e, de permeio, com a Clara Ferreira Alves no Eixo do Mal, negativamente exaltadésima com a perspectiva de vir a haver um governo apoiado à esquerda - exaltada mas, atenção, sempre com aquele toque de superioridade que a caracteriza.]






Já o contei abaixo. Dia de mar grande, prateado, por vezes branco, cheio de luz, dia de chuvas e ventanias, árvores de cabelos ao vento ou reviradas, raízes expostas, pássaros em terra, pássaros no mar, pássaros alvos descendo das nuvens, e eu de olhos nus, lavados pela maresia, e as ondas imensas, espuma latejante pelos ares, mergulhando nos mares.

Gosto de andar assim, cabelos quase molhados, o vento percorrendo o meu corpo, os pensamentos à solta, e eu, sem mão neles nem em mim, andando, sentindo o frio molhado, as gaivotas rente à água, desenhando círculos de liberdade no ar e eu vendo-as, sentindo-me livre também, livre, sem sombras, sem peias, pronta para voar.
Foi de tarde, isto.

Enquanto transcrevia, há pouco, os poemas de Sophia, os meninos aqui ao meu lado dormiam, aconchegados uns nos outros, aquecidos pelo amor que os une, e uma manta macia cobrindo os seus corpinhos inocentes. Antes, depois de eu ter chegado da praia, tinham brincado, jantado, feito desenhos. Depois, mais à noite, contei-lhes histórias, invento histórias. Depois de muita luta -- que não queriam dormir porque os pais lhes tinham dito que não dormiam cá e eles tomaram isso à letra -- lá adormeceram. Encho-os de beijinhos, abraço-os, sento-os ao meu colo e o meu colo parece feito para acolher filhos, filhos de filhos, amores redobrados.

Agora já se foram, ao colo dos pais, a dormir. Os pais preferem assim. Nós podíamos ir para casa deles mas esta modalidade dá-lhes mais liberdade, chegam quando querem.




Antes - que os meus dias são grandes - já tinha estado em casa dos meus pais. A minha mãe bem, e eu a convencê-la a inscrever-se na ginástica, ou no yoga, ou no inglês que está meio esquecido, ou em tudo ao mesmo tempo. Lá em casa estava, de visita, uma amiga, viúva, com vários órgãos a menos mas muito activa, escorreita, sempre serena e feliz. Anda na ginástica e diz que vai com a minha mãe à inscrição para garantir que ela se inscreve mesmo, mas que ir para o inglês não, que já não tem paciência para a escola. Era professora na mesma escola que a minha mãe. Se a minha mãe tiver companhia, será mais fácil. Depois chegou o meu tio, contou que a minha tia vai começar a fisioterapia e que a minha prima começou a fazer ginástica mas que falta muito, sempre a correr entre o hospital e a clínica. Ele não, diz que lhe chegam os passeios que dá com o cão. Havia lá uns bolinhos que a amiga da minha mãe tinha trazido, trouxe-os de Vila Real, tinha chegado ontem, tinha ido lá de passeio, percebi que é um grupinho de ginastas, tudo gente destas idades, que se organiza para andar no laré. Diz que a minha mãe, depois, deveria também aproveitar para passear e eu incentivo. Mas a minha mãe não quer, não se sente bem em ir sabendo o meu pai em casa, naquela dependência, os pensamentos enovelados, entre a consciência e a confusão. Digo que não é por ela estar fechada em casa, de roda dele, que ele vai melhorar, e que ela tem que aproveitar a vida, distrair-se, fazer aquilo de que gosta. Mas ela vem sempre com aquilo, 'Achas? Achas que me apetece andar de passeio e o teu pai neste estado?' Digo-lhe que o meu pai está bem cuidado, que a senhora que agora toma conta dele sabe o que faz.
O meu pai trata-me, como todos na família, pelo meu diminutivo. Hoje chamava-me e dizia-me que estava com medo, que não queria ir para , que tinha medo de não conseguir voltar. é a cadeira ao lado da cama onde a senhora o senta para lhe dar de comer ou para mudar ou arranjar a roupa da cama. Digo-lhe que não tem razões para ter medo, que está tudo bem. Mas sei que não está nada tudo bem. 
Quando venho de lá tento abstrair-me, e abstraio-me, tenho sempre tanto em que pensar.


...

Um àparte. Tenho a televisão ligada, na SIC, e agora, ao olhar para lá, vejo um casal nu, em pleno acto, mudando de posição a cada minuto, um kama sutra ao vivo e a cores. Não sei o que é isto, se é um filme pornográfico, se quê. Na volta isto agora é normal e eu é que ando desfasada. Enfim. 

Com tanta modernice, um dia destes ainda o PS forma governo com o apoio do PCP e do BE - para fúria das Claras Ferreiras Alves desta vida, histéricas como a vi há bocado no Eixo do Mal, as veias do pescoço num transtorno, antevendo mudanças climáticas, falhas tectónicas, fissuras anais e toda a espécie de desgraças se isso vier a acontecer em vez de o PS servir de pau de cabeleira ao Láparo e ao Portas por mais 4 anos). Adiante.

Bem. Não acredito. Deve mesmo ser um filme pornográfico. Distraí-me com a escrita, não acompanhei a história. Só sei que agora está outro casal no maior forrobodó. Agora a cena é de sexo oral. À vez. Mas não é uma mera alusão, coisa velada, ou uma cena artística: não é mesmo uma cena hard
Pronto. A Sic generalista às 2 da manhã vira canal pornográfico. Será que é isto todos os dias? Ou só ao fim de semana? Ou alguém se distraíu e pôs a fita errada?
O que sei é que, com isto, me desconcentrei.
Olha, agora já são outros. É sempre a aviar. E eu, a escrever, nem consigo prestar a atenção ao enredo (porque me parece que a coisa tem enredo: acho que, entre as fornicações, os ouço a falar; na volta é Pinter, quiçá Shakespeare - e eu aqui, feita betinha, a desdenhar)
E tinha aqui um poema tão bonito para rematar a prosa. Bolas. Agora já não consigo, seria estulto misturar poesia com o que se está a passar aqui na minha sala. 
Que coisa esta. Claro que me poderia levantar e mudar de canal porque sexo com tatuagens, muitos ai-ais, muitos trejeitos e sem um pingo de normalidade ou vestígios de romance é coisa a que não acho grande graça. Mas, como estou já a acabar isto, não vale a pena, já desligo a televisão quando me levantar daqui. 
Deixa-me cá ver se encontro um poema que faça a transição entre a normalidade e o regabofe que para ali vai.



Cá está ele, um poema à maneira. Para terminar.

No amor o asno vê égua

o sentimento não interessa
amo-a porque é suave o encaixe das vértebras
o sentimento não interessa
amo-a porque
nariz debaixo da crina e
inspirar
parece que outras há com torrões de açúcar dentro do bolso.
não conheço. bolso estreito para nariz entrar
não conheço. Nariz grande para outra estreitar.

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Não vou rever o que escrevi, acho que saíu uma miscelânea disparatada. Por favor, relevem as gralhas. Amanhã a ver se tenho tempo para rever.

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As fotografias que escolhi não têm  muito a ver com o texto mas gostei tanto de fotografar o mar grande da Caparica que, tal como vos mostrei post abaixo, agora mostro de novo.

Lá em cima era, de novo, Kris Delmhorst interpretando Words Fail You que, também, não tem muito que ver com o texto; mas é que eu, ao começar a escrever e ao escolher esta canção, vinha com outra ideia em mente, podia lá adivinhar que ia derrapar para a conversa sobre os meus pais e que, para acabar em beleza, ia ter uma orgia aqui na sala...? Mas agora é tarde para me pôr a escolher outra.

O poema sobre o asno apaixonado é de Sónia Baptista em Tempus Fugit.

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Descendo, encontrarão mais mar e, a seguir, as fabulosas paragens de autocarro soviéticas.

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4 comentários:

Hermenegildo Lopes disse...

Sou um frequentador habitual da sua página, cujas preocupações geralmente compartilho, ou não pertencêssemos ambos a uma geração que sonhou que o país podia ser um lugar onde apetecesse viver...
No entanto, os seus "posts" acabam inopinadamente com sugestões de "ver abaixo" temas que nunca consigo descortinar. Será problema do meu browser, ou seriam assuntos que gostaria de tratar, mas não pôde fazer por escassez de tempo?
Os meus sinceros agradecimentos.

Um Jeito Manso disse...

Olá, Caro Hermenegildo Lopes, boa tarde,

Obrigada pelas suas palavras.

Tem razão. Geralmente escrevo isso e refiro-me ao post que vem a seguir. O que acontece é que, quase sempre, escrevo mais do que 1 post por noite. Quando, no dia seguinte, perguntava ao meu marido se tinha lido o que eu tinha escrito, ele geralmente via apenas o primeiro, ou seja, não avançava por ali abaixo para ver os outros que eu tinha escrito nessa noite.

Por isso, agora chamo a atenção de que abaixo há mais posts novos.

E agradeço, uma vez mais, a sua presença aí desse lado.

Um bom resto de domingo.

Um Jeito Manso disse...

De novo, Caro Hermenegildo,

Pode também acontecer-lhe outra coisa: entrar no blog através da ligação para o blog a partir de outro blog ou de outro sítio. Nesse caso, se calhar, vai directamente apenas para o último post e não verá mais nenhum. Nesse caso deverá entrar pelo endereço do blog:

umjeitomanso.blogspot.pt

Assim vê todos os milhares de post disponíveis.

Se não der, por favor, diga que tentarei perceber para ajudar melhor.

João disse...

Quem olha assim o mar está pronto para pedalar nas montanhas. É só arranjar a bike e mais duas ou três coisas.