sábado, setembro 05, 2015

Sócrates e o agradável perfume da liberdade


Vou contar: tanto quilómetro de caminhadas tenho feito que, sem me cansar ou doer o que quer que seja, me achava uma atleta. Mas a verdade é que não sou.

Sem perceber porquê, estando já sossegada junto ao computador, começou a dar-me uma dor no alto da uma das coxas que, cada vez mais forte, me começou quase a impedir de andar.

Identifico-a como uma contractura muscular. Como dava mostras de não passar, vi de entre os medicamentos que tinha, qual me parecia mais indicado. Unisedil, um valium dos mais fraquinhos, receitado uma vez para um torcicolo ou lá para o que foi, por ser um relaxante muscular.

Tomei e agora estou aqui num estado de relaxamento total, muscular e mental, que nem vos digo nada. Sono, sono, sono. Penso que estou melhor da perna mas, a bem dizer, nem me lembro já sequer de ter pernas tal o estado de sonolência total em que me encontro.

Queria falar de Sócrates, da alegria que se lhe vi no rosto, mas não consigo. 



Ao fim de quase 300 dias, Sócrates está fora da prisão e sem pulseira electrónica



Também queria perguntar se alguém me sabe explicar como é que as televisões estavam à porta de um prédio na Rua Abade Faria, sabendo a hora a que ele ia chegar, que ia para lá, sabendo inclusivamente a quem pertence a casa e por quanto a dona (a ex, Sofia Fava) o tinha comprado, e tudo isso -- mas já não consigo mostrar espanto ou ter força para fazer pontos de interrogação.


E queria saber também como é que tanta gente neste país está sempre disponível para saltar de imediato para as televisões para, em cima do acontecimento, conseguir opinar ininterruptamente ao longo de horas sobre uma coisa qualquer que aconteça no país. As televisões cheias de comentadores de toda a espécie e feitio, ora isto, ora aquilo, Sócrates e a Justiça, e a falta de provas, e o uso abusivo da prisão preventiva, e as sistemáticas fugas ao segredo de justiça -- horas, horas a fio nisto.

De resto, acho que ainda bem que soltaram o homem -- inquisição, sim (que há muitos juízos que parece que apreciam o género e, coitadinhos, pois que seja a feita a vontade deles), mas de forma tão ostensiva já parecia um bocadinho de mais, que isto de terem uma pessoa privada de liberdade durante uns 9 ou 10 meses sem que tenha, sequer, culpa formada, me parece coisa imprópria de um regime democrático normal. 

E, portanto, gostei de o ver, igual ao que sempre foi, sorridente, descontraído e só espero que agora não passe mais uma eternidade neste limbo infecto, com notícias a saírem a conta-gotas nos pasquins, antes que, alguma informação oficial e concreta, justifique aquilo por que passou e e está a passar (já que saíu da cela da prisão de Évora mas continua em prisão domiciliária).


Estou mesmo pedrada de sono, tenho a noção de que o texto está a sair desorganizado mas não consigo ter mão em mim e acordar-me o suficiente para não misturar temas.

E digo isto porque agora salto de novo para a rua em que foi feita uma espera à chegada de Sócrates à porta da casa. João Araújo, truculento e incomodado, respondeu com maus modos aos jornalistas que ali estavam a maçá-lo até mais não. Em contrapartida, o outro advogado, Pedro Delille aguentou em silêncio, estoicamente, uma jornalista que mais parecia possuída, grudada nele, perseguindo-o como um cão peganhento, daqueles que não descola, um cão ou talvez uma melga, passeio acima, colada ao homem, massacrando-o com perguntas. Talvez fosse do Correio da Manhã.


E mais não digo porque tenho receio que isto esteja pejado de gralhas e não consigo rever, tenho que ir dormir, e a ver se amanhã já me passou esta dor na perna para poder ir andar para a praia.

E daqui formulo, uma vez mais, os meus votos de que Sócrates seja inocente e para que, se isso vier a provar-se, evidenciando o estado depauperado a que toda a máquina da Justiça se encontra, algum milagre aconteça e ela (Justiça) sofra uma revolução -- porque estou farta da prepotência sem escrutínio desta Justiça que, pelo que se tem visto, faz e desfaz a seu bel-prazer.

E por aqui me fico.


Ah, antes de me ir: ouço a papagaiada toda na televisão a dizer que Sócrates fora da prisão vai prejudicar o PS nas eleições. Não percebo. Aliás, mesmo que tente perceber, não alcanço. Prejudicar? Porquê? Acho que muito pelo contrário. Mais depressa vejo que beneficie do que prejudique. Assim os socialistas não se armem em copinhos de leite, virgenzinhas atarantadas. 



Bom sábado, meus Caros Leitores, e sejam felizes, ok?

...

Puxo aqui para o post o comentário do Leitor ECD por me parecer especialmente oportuno:


Este dois "pormenores", passadas as emoções, não podem passar despercebidos:

1- "No comunicado, assinado pela presidente do Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa, Amélia Almeida, fica ainda claro que Rosário Teixeira não apresentou “factos novos”, face à reapreciação [da medida de coacção a que estava sujeito Sócrates] efectuada em 9 de Junho de 2015, pelo que foi julgado desnecessário ouvir o arguido”. A Procuradoria-Geral da República salientou, porém, numa nota à comunicação social que “neste período foram ouvidas cerca de dez pessoas e realizadas mais de 30 diligências de buscas”. Aliás, acrescentou ainda que “o Ministério Público promoveu a alteração da medida de coacção por considerar que, face à prova reunida desde a última reapreciação, se mostra reforçada a consolidação dos indícios”.

http://www.publico.pt/sociedade/noticia/socrates-libertado-1706903?page=-1


2- "Os procuradores e o juiz Carlos Alexandre não querem que se conheça o acórdão de Rui Rangel. Iremos ver esse acórdão? Se sim, estou pronta a retirar o que disse."

http://aspirinab.com/penelope/primeira-explicacao-para-a-libertacao-de-socrates-hoje-dia-4/


PS: Já agora continuo a rever-me, no essencial, no "enquadramento" que fiz em Novembro da prisão de Sócrates. Com o apoio dos inevitáveis patetas úteis (internos e externos) a direita e a extrema direita controlam, no mínimo, as "agendas" das policias e da justiça. Paulo Rangel tem razões para congratular-se: as policias e a justiça estão de novo na "nossa" (deles) onda.


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8 comentários:

Silenciosamente ouvindo... disse...

As suas rápidas melhoras.
Bj.
Irene Alves

ECD disse...

Este dois "promenores", passadas as emoçoes, não podem passar despercebidos

1- "No comunicado, assinado pela presidente do Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa, Amélia Almeida, fica ainda claro que Rosário Teixeira não apresentou “factos novos”, face à reapreciação [da medida de coacção a que estava sujeito Sócrates] efectuada em 9 de Junho de 2015, pelo que foi julgado desnecessário ouvir o arguido”. A Procuradoria-Geral da República salientou, porém, numa nota à comunicação social que “neste período foram ouvidas cerca de dez pessoas e realizadas mais de 30 diligências de buscas”. Aliás, acrescentou ainda que “o Ministério Público promoveu a alteração da medida de coacção por considerar que, face à prova reunida desde a última reapreciação, se mostra reforçada a consolidação dos indícios”.
http://www.publico.pt/sociedade/noticia/socrates-libertado-1706903?page=-1

2- "Os procuradores e o juiz Carlos Alexandre não querem que se conheça o acórdão de Rui Rangel. Iremos ver esse acórdão? Se sim, estou pronta a retirar o que disse."
http://aspirinab.com/penelope/primeira-explicacao-para-a-libertacao-de-socrates-hoje-dia-4/


PS: Já agora continuo a rever-me, no essencial, no "enquadramento" que fiz em Novembro da prisão de Socrates. Com o apoio dos inevitáveis patetas uteis (internos e externos) a direita e a extrema direita controlam, no minimo, as "agendas" das policias e da justiça. Paulo Rangel tem razões para congratular-se: as policias e a justiça estāo de novo na "nossa" (deles) onda.
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Um Jeito Manso disse...

Olá ECD,

Nem mais. Concordo. Já transcrevi o seu comentário para o corpo principal do post.

Obrigada.

E um bom fim-de-semana!

Um Jeito Manso disse...

Olá Irene,

Muito obrigada. Mas quer crer que hoje não me dói onde me doía antes mas sim na parte de trás da coxa e no pé...?

As dores mudam assim de sítio...?

Continuo meio coxa mas, onde ontem mal aguentava a dor, hoje nem sombra dela e mudou-se para outro lado.

Enfim... Pode ser que continue a seguir o percurso e portanto, daqui a nada, desça mais um bocado e passe para o sapato.

Na volta isto é mesmo a pdi :)

Obrigada pelo seu cuidado, Irene.

Um bom fim de semana!

Anónimo disse...

Ainda não há muito tempo dizia-se que mesmo quando Sócrates fosse libertado a 21 de Novembro – nessa altura não se equacionava a sua libertação antecipada, como agora sucedeu -, o Ministério Público deveria ainda demorar mais algum tempo, talvez a até Março (se bem me recordo), antes de avançar com uma acusação formal e constituir o ex-PM efectivamente arguido.
Ao que vou vendo, fica-me a impressão de algumas fragilidades da parte da Acusação, quer por parte do MP, quer até do Juiz de Instrução Criminal. Pode se que esteja enganado, mas quer-me parecer que este caso ainda acaba por não conseguir fazer prova suficiente, ou em sede de instrução, ou mesmo depois (sobretudo), em julgamento.
Embora me custe ir buscar sistemas judiciais de outros países, a verdade é que o sistema tradicional anglo-saxónico - onde se exige, primeiro, que se investigue a fundo e só depois se profira uma acusação, para em consequência se prender, julgar e condenar, com a rapidez possível, assim se evitando ferir direitos essenciais dos arguidos e custos para o Estado – funciona melhor e é mais célere.
Se até 21 de Novembro o MP não tiver formulado uma acusação, então é caso para, legitimamente, se começar a duvidar da consistência das suspeitas (que foram sendo passadas inaceitávelmente para a imprensa) que recaiem sobre José Sócrates.
Convém, também, perceber que este caso pode acabar por vir a pôr em causa a confiança e credibilidade da nossa Sociedade na Justiça que temos (ou seja, no seu corpo de magistrados judiciais e respectivamento funcionamento), de forma, quem sabe, irreparável.
P.Rufino



lidiasantos almeida sousa disse...


vi na RTP noticias A Senhora Dons Maria Adelaide Carvalho Montanheiro a mãe CORAGEM, Só quem é mãe pode calcular o sofrimento desta Senhora, que perdeu uma filha em circunstância trágica. Outro filho até certo ponto ainda mais trágico, não só
o pela doença dos pulmões mas pela terrível adição,que a induziram à ruína. Ainda por cima mulherengo, fez filhos por todo o lado, mas sá duas estão reconhecidas. Já chorei muito por ver a senhora e pensei como sou sortuda meu filho odeia a politica, como eu, mas votamos porque é o nosso dever cívico. Votarei em Antonio Costa como é óbvio, não por ser do partido socialista, mas por ser uma SOCRATINA COM MUITA HONRA.

lidiasantos almeida sousa disse...

COMENTEI MAS NÃO ESTÁ AQUI, PORQUE SERA. Tenhp umas considerações a fazer sobre a justiça em Portugal, mas por falta de tempo só faço depois de aparecer aqui o meu comentário.

Anónimo disse...

Gosto de ver o regresso a este blogue de Lídia Santos Almeida e Sousa!
P.Rufino