segunda-feira, agosto 10, 2015

Ar condicionado, livros, arrumações [e, em PS, uma palavra para António Costa, agora que Ascenso Simões vai pregar para outra freguesia e Duarte Cordeiro entra em cena]




Durante anos suportámos aqui as inclemências do calor. A casa é quente, fica no último andar e, além disso, a sala em que estou, a maior da casa, é envidraçada a toda a volta. O construtor pensou, e bem, em janelas contínuas para se ter máxima visibilidade sobre o rio, mas a verdade é que o vidro concentra muito o calor.

Eu era a única que não queria ar condicionado, achava que esteticamente ia prejudicar o aspecto da sala. Um aparelho na parede e outro do lado de fora, na varanda, parecia-me um atentado. Foram anos de luta. 

Mas este ano rendi-me, o calor era quase insuportável. Há alturas em que uma pessoa tem que ceder aos argumentos e deixar-se de frescuras.

E tenho que reconhecer que o sítio em que foi colocado o aparelho interior não fere muito a vista. Aliás, acho que, quem não andar à procura dele, se calhar nem o verá.

Mas houve efeitos colaterais.

Para que os homens pudessem trabalhar, foi preciso afastar esta mesa e a mesa estava pejada de livros, foi preciso afastar as cadeiras e as cadeiras estavam pejadas de livros e foi preciso tirar os livros da estante sobre a qual, quase junto ao tecto, se iria colocar o aparelho.

Quem ficou em casa no dia da instalação foi o meu marido que, em três tempos, pegou nos livros e os colocou sobre um dos sofás, sobre uma estante mais distante da obra ou em montes num canto do chão onde não estorvavam.

No outro dia, a obra concluída, apesar de eu lhe ter pedodo que não se pusesse a arrumá-los, quando cheguei a casa tinha ele começado, por sua alta recriação, a fazer montes em cima das estantes tentando discipliná-los. Claro que a lógica dele não é a mesma que a minha e livros, cá em casa, é pelouro meu pelo que prevalecem os meus critérios, sendo ou não os melhores. Felizmente, tinha chegado pouco tempo antes de mim e, portanto, mal tinha começado as arrumações pelo que os estragos não foram dramáticos.

Com a vida que tenho tido, só hoje ao fim do dia, depois dos afazeres e prazeres familiares, pude entregar-me a essa empreitada. Acontece que, cansada como tenho andado, quando cheguei a casa, senti uma vontade inadiável de me deitar e adormeci de imediato, umas duas horas de sono profundo. Ou seja, só já de noite, consegui finalmente atirar-me a esta faxina.

A questão é que, tirando os livros que estavam dentro da pequena estante sob o aparelho de ar condicionado, todos os outros são os que estavam por aqui e por ali ainda não foram registados na base de dados. Ou seja, ainda não podem ir para as estantes temáticas definitivas senão serão devorados pelos que lá estão e nunca mais lhes encontro o rasto.

Por isso, o que estava em questão era, tão só, fazer montes temáticos, para colocar em cima de duas pequenas estantes baixas e reocupar a que tinha sido esvaziada.

Como sempre, comecei por espalhá-los no chão a ver como haveria de os agrupar.

Levei umas duas ou três horas nisto e ainda não acabei mas, os que já estão devidamente amontoados, agora já estão 'encontráveis'. A ver se amanhã consigo completar a faena.

Vejo-me sempre aflita com os que têm formatos complicados ou com os que não são apenas nem uma coisa nem outra como, por exemplo, livros de pinturas sobre poemas ou vice-versa. Acabei por colocá-los num espaço próprio mas já sei que daqui por algum tempo vou querer encontrar algum deles e não me vou lembrar que está ali.

Mas, enfim, para já, até que alguma alma generosa se disponha a inseri-los na base de dados, ficarão assim. E já tenho esta mesa desafogada e as cadeiras até já podem servir de cadeiras.

E, no meio disto, ainda não referi talvez o principal: está aqui um fresquinho de dar gosto...
Que estupidez a minha ter empatado, durante tantos anos, tão óbvia decisão. Antes escrevia-vos sob os efeitos da canícula e nem a janela aberta me trazia os frescores do rio lá em baixo. Agora escrevo-vos de um ambiente climatizado, agradável. A ver é se as ideias passam a vir também mais acertadas.

Mostro-vos o making of desde a fase da bagunça total até à fase actual.

Antes:






E, agora:






(na direita lateral e na baixa são visíveis conjuntos que ainda carecem de 'arrumação')
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Tinha deixado aqui na mesa o Caderno de Leituras com textos da Maria Gabriela Llansol e a Obscénica da Hilda Hilst com ilustração de André da Loba, justamente dois dos que têm formatos de difícil arrumação e que tenho que ver onde os vou colocar pois são maiores ainda que os outros incomuns, e também o Água Viva de Clarice Lispector e tinha pensado escolher alguns pequenos excertos para os partilhar convosco mas a verdade é que já é bastante tarde e não quero começar a semana com uma fraca noite de sono (embora não saiba se, com o que dormi há bocado, vou agora dormir de noite).

Portanto, fico-me por aqui.
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PS: Ouvi de tarde, no rádio do carro, que se demitiu Ascenso Simões, o senhor que andava a dirigir a campanha socialista. Fez bem em demitir-se, claro. Não conheço Duarte Cordeiro mas acredito que vai fazer melhor do que quem lá esteve até agora já que dificilmente alguém conseguiria fazer pior. Só espero é que o PS tenha aprendido alguma coisa com o desastre. 

A responsabilidade de uma campanha publicitária nunca é apenas do director de comunicação, dos publicitários e dos técnicos que lhe dão corpo: a responsabilidade é sempre, sobretudo, de quem tem a última palavra e a última palavra é sempre de quem manda. 
Portanto, daqui lanço mais um apelo a António Costa: a ver se, a partir de agora, atina e as coisas entram nos eixos. A exigência começa nas pessoas que se escolhem para a equipa e só espero que as próximas escolhas sejam de qualidade, que as equipas estejam bem coordenadas e que os resultados comecem a aparecer. Já tarda.
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A música é Amore -- Ryuichi Sakamoto

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela semana a começar já por esta segunda-feira.

Boa sorte e muita saúde e muita esperança e alegria a todos.

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3 comentários:

A Matéria dos Livros disse...

Casa linda! E ainda mais se imaginarmos a vista do rio, por entre as estantes de livros.

Não conheço o "Caderno de Leitura" de Maria Gabriela Llansol; é uma edição nova? Não quer mostrar uma fotografia da capa?

Boa semana!

Um abraço

Anónimo disse...

Olhar para todos esses livros e sabendo que tem ar condicionado e uma bela vista para um rio, senti um impulso irresistível de perguntar:
- Posso ir viver para aí?

Rosa Pinto disse...

Boas arrumações.
O pior são as poeiras, para mim.