quarta-feira, abril 22, 2015

Livros novos cá em casa


É mais forte que eu e, agora que li a opinião de Umberto Eco, ainda mais legitimada me sinto para me atirar para fora de pé: é uma tentação, enfiar-me nas livrarias. Tivesse eu à mão um museu e se calhar também me ia lá enfiar à hora de almoço mas, como não tenho, servem as livrarias mesmo. 

Percorro a livraria, fujo dos best sellers, poupo a vista não encarando os que têm capas radiosas, não me detenho nos romances históricos, nos policiais, nos de suspense, de vampiros ou de códigos religiosos, nos de auto-ajuda, nos de mandamentos de economia e de sucesso à pressão, nem nos de dietas nem nos de banda desenhada - sou preconceituosa, eu sei - e procuro o que me parece ser mais marginal, mais próximo da minha própria realidade (sendo que a minha própria realidade é qualquer coisa em construção e que ando a tentar descobrir).







A carta de Lorde Chandos, Hugo von Hofmannsthal, introdução de Hermann Broch, Relógio D'Água


É bondade sua, muito estimado amigo, ignorar este meu silêncio de dois anos e escrever-me como me escreve. É mais do que bondade dar à sua solicitude para comigo, à sua perplexidade pela letargia espiritual em que lhe pareço ter caído, esse tom de ligeireza e ironia que é próprio apenas dos grandes homens marcados pelas atribulações da vida, mas que nem por isso se deixam desanimar.

Atelier, Diogo Freitas da Costa, Fundação Francisco Manuel dos Santos


Capítulo 1 - Ana Vidigal, A casa redonda
Ando há 30 anos a cortar e a colar coisas
Ao abrir a porta do atelier, Ana Vidigal estava ao mesmo tempo a abrir-me a porta da sua casa. Vive e trabalha numa típica rua de um bairro popular lisboeta: uma via estreita, ladeando uma encosta que se ergue frente ao rio. É um lugar com muita 'vida de bairro', como se costuma dizer, onde se sente que o quotidiano é feito da permanente fusão entre a vida doméstica e a vida social.

À porta do farol faz escuro, Simone Weil, Apostolado da Oração


O mais puro amor


Tudo o que em nós
é vil e medíocre
se revolta contra a pureza
e necessita,
para salvar a vida,
de sujar essa pureza.

Sujar é modificar,
é tocar.
O belo é aquilo
que não se pode querer mudar.
Exercer domínio sobre,
é sujar.
Possuir é sujar.

Amar puramente
é consentir na distância,
é adorar a distância
entre cada um
e aquilo que se ama.

Éter, António Cabrita, abysmo


Ainda não me saíram da pele os teus quatro tiros de caçadeira. É uma maneira de dizer que o seu eco ainda me perfura os tímpanos, devolvendo-me ao momento em que entrei no táxi e a rádio vomitou, Liquidou a tiro a mulher, o filho (que adoravas) e o gato, antes de virar o cano para si, deixando a boca descaída num esgar contido, bruto. Ainda não me saíram da pele.


How to design a Light, Design Museum


A light is a physical object, just as a chair is a physical object, the specifics of its design shaped variously by aesthetics, technology, materilas, engeneering anf function. But a light is not simply a three-dimensional form: it both occupies space and existis as a means of revealing and describing space. A light makes light, and light is a presence that can't be touched, although it is profoundly felt in an emotional sence.


Walden ou a vida nos bosques, Henry David Thoreau, Antígona (... este acho que já cá anda por casa...)


Quando escrevi as páginas que se seguem, ou melhor, a maioria delas, vivia sozinho, a mais de quilómetro e meio de qualquer vizinhança, numa casa que eu mesmo construíra à margem do lago Walden, em Concord, no Massachussets, e ganhava a vida apenas com o trabalho das minhas mãos. Aí vivi dois anos e dois meses. Actualmente regressei à civilização.

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A música é de Pedro Jóia que a toca com Ney Matogrosso - "Porta do silêncio"


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1 comentário:

Anónimo disse...

Comprei recentemente o livro de Julian Bell, na Fnac, "espelho do mundo - Uma Nova História da Arte". Vou lê-lo em breve.
Bem exposto, bem escrito, com uma tradução boa.
P.Rufino