segunda-feira, novembro 03, 2014

A Rosa do Pixinguinha, flores à beira do Tejo, gaivotas e gatos e o Jardim da Gulbenkian, juntamente com algumas palavras das 'Cartas a um Jovem Poeta' de Rainer Maria Rilke para a Margarida. Tudo a ver se consigo estar à altura do chapéu de rosas que ela me ofereceu.


O post abaixo é dedicado ao humor e eu deveria ter avisado que tem bolinha encarnada no canto mas fica agora aqui o alerta.

Mas isso é a seguir.

Aqui, agora, a conversa é outra.



A propósito de rosas, que entre a Rosa (do Pixinguinha) 
na interpretação de Caetano Veloso



No outro dia, a Margarida, sabendo do meu gosto por chapéus, enviou-me a fotografia que aqui vos mostro e a que deu o nome UJM. Adorei, claro, e tomara que o pudesse usar tal e qual. É caso para dizer: é a minha cara.






É difícil agradecer um presente assim, tão lindo e tão à nossa medida mas, enfim, quem dá o que tem a mais não é obrigado e, portanto, vou ver se consigo retribuir.


Flores para a Margarida aqui da beira do Tejo



Se se agarrar à Natureza, ao que nela há de simples, ao que nela há de pequeno, que mal se vê e tão de repente pode alçar-se ao que é grande e desmedido; se tiver esse amor do ínfimo e procurar sem pretensões ganhar a confiança do que parece pobre como se se pusesse a servi-lo: então tudo se lhe tornará mais fácil, mais unido e de algum modo mais reconciliador, talvez não no entendimento, que fica para trás e surpreendido, mas no imo da sua consciência, lucidez e saber.



Jardim da Gulbenkian ao fim do dia, este domingo



Não indague das respostas que não lhe podem ser dadas porque não as poderia viver. E trata-se de viver tudo. Para já, viva as questões. Talvez viva então a pouco e pouco, sem se dar conta, e um belo dia ainda distante chegue à resposta. Talvez traga consigo a possibilidade de criar e de dar forma como um modo de vida especialmente puro e venturoso; eduque-se para isso - mas aceite o que vier com toda a confiança e só se vier da sua vontade, de qualquer necessidade íntima, e então tome-o para si sem ódio nenhum.



Gaivota à beira Tejo, hesitante entre comer o peixe ou simplesmente apreciar a beleza do rio


Pode lembrar-se de que toda a beleza nos animais e nas plantas é uma forma silenciosa e permanente de amor e desejo e pode ver o animal como vê as plantas, unindo-se e multiplicando-se e crescendo pacientemente, docilmente, não do prazer físico, não do sofrimento físico, curvando-se às necessidades que são maiores do que o prazer e a dor e mais fortes do que a vontade e a resistência. Oh, pudesse o homem o homem receber este segredo, de que a terra está cheia até nas mínimas coisas, com mais humildade, e guardá-lo gravemente e sentir como ele pesa tanto em vez de o tomar com leviandade!



Gato vadio num domingo de Outono




Temos de aceitar a nossa existência tão vasta quanto ela for; e tudo, incluindo o inaudito, deve ser possível nela. Esta é no fundo a única coragem que se nos exige: ser corajoso perante o mais estranho, o mais extraordinário e o mais obscuro que nos possa acontecer. 




Gaivota que escolheu o lago da Gulbenkian como casa



E se tenho ainda mais alguma coisa a dizer-lhe é o seguinte: não creia que quem tenta consolá-lo vive sem esforço sob as palavras simples e tranquilas que a si lhe fazem bem. A vida dele tem muita fadiga e tristeza e fica muito aquém delas. Mas se as coisas fossem diferentes, nunca ele poderia achar essas palavras.

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Excertos não sequenciais de Cartas a um Jovem Poeta de Rainer Maria Rilke, numa tradução de Vasco Graça Moura.


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1 comentário:

margarida disse...

:)
fica-lhe 'a matar'...
;)