quarta-feira, junho 25, 2014

Isaltino Morais saíu da prisão para ficar em liberdade condicional: envelhecido, muito magro (e muito bronzeado), com os seus pertences num saco de plástico preto. As voltas trocadas de uma vida antes bem sucedida.


No post abaixo dei a minha opinião sobre a grande entrevista concedida por António Costa a Ana Lourenço na SIC N e, no post seguinte, falei da presença dele e do Tozé no S. João do Porto, anotando as enormes diferenças entre ele e o Tozé, diferenças, desde logo, a nível de carácter. 

Mas isso é a seguir. Aqui, agora, a conversa é outra.



Isaltino Morais nos bons velhos tempos

Há uns anos, eu ia de vez em quando almoçar a um restaurante na altura muito na moda em Oeiras. Não raras vezes encontrava aí o então poderoso Isaltino. Com a sua barriga de sucesso, charuto a meio da boca, gel no cabelo, todo ele era a impante imagem do homem bem sucedido na vida.

Fazia obra por onde passava e, é um facto, transformou Oeiras. Dos tempos do ministério não tenho ideia de grandes realizações mas, à frente da Câmara de Oeiras, ele deixou marcas.

À sua volta moviam-se as forças vivas, os interesses, os que queriam fazer, os que precisavam de fazer mais depressa, os que ainda não tinham feito. 

Por via da maçonaria ou por via do dinheiro que à sua volta se movimentava, ele era o centro de uma eficiente e bem oleada placa giratória.

O pior foi a mulher ciumenta. As ex-mulheres, em especial as ciumentas ou ressabiadas, não olham a pormenores. Sacam de um canhão e querem lá saber do que vai à frente.

O que se seguiu é bem conhecido. A acusação foi inequívoca e apenas os sucessivos expedientes conseguiram mantê-lo fora da prisão durante tanto tempo. Era coisa escandalosa: recurso atrás de recurso, o tempo a passar, a gente já à espera de ver a coisa prescrever e ele cá fora, confiante, gerindo a Câmara. Até que não conseguiu mais e acabou dentro.

Isaltino Morais a sair da prisão da Carregueira

(a partir de foto original de Manuel de Almeida/Lusa)

Quantos anos envelheceu este homem
 nestes 426 dias que lá passou?



Isaltino Morais saíu hoje da Carregueira, depois de ter cumprido mais de metade da pena. Não foi bonito de ser ver: mais velho, muito magro, com os seus pertences num saco de plástico preto. Ouvi dizer que, na prisão, se mostrou arrependido e teve bom comportamento.


Ao vê-lo e ao ouvir estes comentários senti como que uma incómoda comiseração. Toda a glória do mundo vale o risco de passar por tamanha humilhação?

Felizmente tinha o filho à espera e gostei de ver o beijo carinhoso que o rapaz lhe deu. Vale a um homem humilhado o amparo que os entes queridos lhe queiram dedicar.

As notícias dão conta do que deverá atender para se manter em liberdade condicional: Isaltino Morais não poderá ausentar-se para o estrangeiro, terá que viver na sua casa de Miraflores e não poderá cometer mais crimes - como se ele fosse um vulgar criminoso, ele que foi um todo-poderoso presidente de Câmara e Senhor Ministro.


Usou de poderes que não devia, usufruiu do que não devia, trocou autorizações por favores, intermediou, facilitou. Nunca deveria ter sido reeleito. É suposto e normal querer-se obra mas deveria também querer-se hombridade. Mas os portugueses são assim, brandos, permissivos.

Mas, agora que aparentemente já cumpriu o que tinha a cumprir dentro da cadeia, o que me ocorre dizer é que espero que a magreza seja apenas resultado de dieta ou de exercício físico. Não me passa pela cabeça sentir qualquer regozijo perante a perspectiva de que possa estar doente. 
Pelos vistos apanhou bastante sol, já que apareceu tão bronzeado e, portanto, pode ser que tenha feito muita ginástica ao ar livre e que se tenha visto livre de algum peso que tinha a mais. 
Mas ocorre-me também dizer que, de cada vez que um chico-esperto resolva enriquecer para além do que lhe é devido, ou exercer o seu cargo dele tirando proveitos que lhe não são devidos, deveria pensar na imagem deste homem de ar tão envelhecido, magro, de cabeça baixa, com os seus haveres num saco de plástico preto.

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Sobre os Antónios, o Costa e o seu reverso, o inSeguro, desçam, por favor, até aos dois posts seguintes.

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4 comentários:

Carlos disse...

UJM, um qualquer Isaltino pode ir parar à cadeia e sair de lá com os pertences num saco de plástico preto, mas tal nunca sucederá a um Ricardo Salgado (não me refiro apenas ao Ricardo Salgado, mas a toda a casta). A Justiça portuguesa, cega ou não (e eu creio que não o é), detecta sempre o pedigree e age em conformidade.
Um abraço.

Anónimo disse...

Carlos Azevedo tocou e bem na "mouche", como dizia outro. Temos depois um patifóide de um PM que diz que o BES não é um assunto de Estado, mas permite que um deputado seu, o calvo Pinto, com as ligações que teve (veja-se as declarações do Super-Espião) vá lá para dentro do Banco fazer o que se sabe. Estes tipos dos governos que nos lixam sabem como lidar com a Banca, como mais ninguém. Veja-se a relação de Sócrates com esta inqualificável criatura que é o Salgado do BES e depois o que o PS fez ao BCP, colocando lá os seus homens de mão, embora não me preocupe minimamente o destino do Jardim do BCP.
Este governo é uma porcaria, uma imundice, mas disso já há muito o sabíamos.
P.Rufino
PS: um governo que fecha escolas públicas aos pontapés e gasta depois 140 milhões dos contribuintes para financiar escolas privadas, algumas delas por inteiro (uma delas mandada construir por Américo Amorim em Aveiro, onde o Governo de Passos/Portas gasta anualmente 2 milhões de Euros!) é um governo de pulhas!

Pôr do Sol disse...

Sabe Jeitinho, vivo há quarenta e tal anos no concelho de Oeiras.

Vi serem cumpridas as promessas feitas em campanhas eleitorais, coisa rara.

Os bairros de barracas deram lugar a habitações dignas, abriram jardins de infancia e escolas,a 3ª.idade não foi esquecida, construiram-se espaços verdes e de lazer, etc,etc, tudo o que se sabe e que faz de Oeiras uma zona onde se gosta de viver.

Não há nada e muito menos politicos perfeitos. O poder corrompe.

Isaltino de Morais errou, como jurista tentou safar-se,(quem não o faria?) mas, pareceu-me, pelas declarações que já lhe ouvi, aprendeu a lição. Dá agora valor às coisas simples da vida e fez por si, pareceu-me com muito melhor ar do que antes.

Em comparação com os politicos que nos têm desgovernado e maltratado nestes ultimos anos, se voltar à politica não sei se não lhe darei um voto de confiança.

Tété disse...

Também vivo em Oeiras desde Janeiro de 1958.
Subscrevo inteiramente a sua opinião e também acho que o dinheiro nada vale comparando com a humilhação sofrida.
Mas já agora, alguém me diz onde andam os outros "ladrões" que contribuiram para a ruina do nossos país e que andam por aí algures, pavoneando-se, como de gente honesta se tratasse?
Para esses a justiça continua cega.
Beijinhos Tazinha