quarta-feira, setembro 18, 2013

Luís Pardal, ex-presidente da Refer quando Maria Luís Albuquerque lá era directora financeira, diz que sim senhor, ela subscreveu alguns swaps enquanto lá estava e que era tão competente sobre o assunto que até se fartou de andar pelo país fora em roadshows a vender soluções de financiamento. ...- O quê?!?!?!? Terei ouvido bem? Mas a que propósito é que uma funcionária da Refer (empresa que gere linhas de caminhos de ferro) andava em roadshows a vender soluções de financiamento....? Ou será que ia não pela Refer mas, sim, por algum banco? A que propósito!? Estava assim tão ligada aos bancos? Alguém ouviu o mesmo que eu? Alguém me explica? É como aquilo de agora a dita ministra vir dizer que, quando estava no IGCP, deu parecer positivos a financiamentos sem saber de que tratava? Assinava de cruz?!?!?! E uma outra coisa disse o Almerindo Marques que me deixou com a pulga atrás da orelha: que a empresa contratada por ela, a tal onde estava o especialista em swaps do Citi que ela tão bem conhecia, classificou como altamente problemático um swap do mais simples que havia, coisa que ele não consegue perceber. Seria para resgatar o swap, pagando adiantado ao Deutsche Bank?, pergunto eu.


Acho que não vos cheguei a contar. Aqui há tempos fui contactada por uma jornalista de uma estação de televisão para virem fazer uma reportagem comigo em minha casa e para depois participar, ao vivo, num certo programa. Tinham visto o Um Jeito Manso e acharam que eu seria pessoa indicada para a dita participação. Claro está que fiquei muito admirada. Agradeci mas declinei. Não procuro qualquer tipo de protagonismo mediático. 

Falo agora nisto por uma razão. Não faço ideia se, de lá, continuam a ler o que aqui escrevo ou se há quaisquer outros jornalistas a frequentar este blogue. Era bom que houvesse, apesar do que eu aqui os critico.

E digo que era bom porque me faz impressão que sejam tão levianos, tão distraídos. Por vezes, ouço coisas que exigiriam que a comunicação social fosse atrás, que estabelecesse possíveis dangerous liaisons, que esmiuçasse até ao passado pois, por vezes, é no passado que está a chave do mistério.

Claro que me poderão dizer que esse seria também o papel da oposição. Pois. Mas os partidos andam sempre entretidos em jogos palacianos de intriga e parlapié. Ou seja, é gente desatenta e impreparada. Todos. E os que não são, são macacos de rabo pelado, que jogam pelo seguro, guardam na manga; ou, então, não se sabem exprimir.




Vem isto a propósito do que escrevi no título da mensagem. É que tudo isto me começa a parecer estranho de mais. Já não é apenas o facto de ela estar constantemente a ser desmentida. Nem sequer o facto de dizer o que diz (e que toda a gente desmente) a olhar de frente, sem pestanejar, a sorrir. É o facto de tudo isto começar a parecer nebuloso de mais.

As mentiras sucedem-se e ela continua a jogar com a semântica para enganar o zé povinho. 

Agora, sobre esta última de ter aprovados os contratos da Estradas de Portugal, veio dizer que analisou os contratos de financiamento e não os swaps. 


Deve estar a gozar. O swap é um detalhe, uma variante, do contrato de financiamento. Se não analisou isso, então analisou o quê? Deu o parecer positivo a quê? 

Cavaco Silva, que sabe o suficiente da matéria para poder desmontar a conversa fiada dela, continua a acreditar na garantia que Passos Coelho lhe deu sobre o não haver nada de mal com ela no que se refere a este assunto dos swaps?

É que, vamos lá a ver, não se fazem swaps de per se. Fazem-se como uma forma de tentar proteger as taxas de juro ou taxas cambiais. Ou seja, um swap é parte de um contrato de financiamento, é uma coisa colateral ao mesmo.

Por exemplo e muito simplisticamente: contrai-se um empréstimo a 5 anos de 100 milhões de euros a uma taxa indexada a uma determinada euribor. Normal. Mas uma pessoa que está numa empresa pede informações e vamos supor que há expectativas de que a euribor vá subir. Então, associado a isto, faz-se um swap (=troca): se a taxa euribor + x ultrapassar os 45, então passa a vigorar a taxa fixa de 4%. Ou seja, a euribor pode subir até aos 10% que eu pago sempre 4% (e, com isto, farto-me de poupar dinheiro em relação ao que poderia estar a pagar se não tivesse o swap). Mas isto é um jogo de riscos. E se a taxa baixar abaixo dos 2%, por exemplo? Então, aí pagamos 4% (e, portanto, estamos a perder o diferencial para a taxa actual). É que as empresas financeiras não são umas beneméritas. Pelo contrário, fazem de tudo para garantir o máximo de lucros haja o que houver. São conhecidos os chorudos prémios que aquela gente recebe em função dos resultados que obtém.

Por outro lado, negociar coisas destas é do mais corrente que há nas empresas. Se não se fizer nada deste género, se subir a taxa de juro, vai-se pagando cada vez mais? Sem saber quanto mais? ... Se isso acontecer, alguém perguntará e com razão: mas então não se segurou o risco da subida da taxa de juro?

Claro que, nestas coisas, muitas vezes ganha-se dinheiro, outras perde-se. Tentativamente ganha-se mais do que se perde. 

Obviamente que os bancos tentam impingir swaps mais artísticos do que aquele que eu resumidamente descrevi, mais difíceis de perceber. Por exemplo, nos bancos mais useiros e vezeiros nestes instrumentos complexos, indexavam-se as taxas a flutuações de cotações das coisas mais mirabolantes. Aí entra-se na roleta, já não é gestão, já é casino, pois está a lidar-se com a sorte, com o azar e, pior, com coisas sujeitas a especulação desregulada. Por exemplo, é relativamente fácil a esta gente fazer com que as cotações subam ou desçam consoante o que lhes é conveniente. Por isso, nas empresas, a gente prudente socorre-se de mecanismos simples e controlados e não de produtos financeiros arrevesados.

Além do mais, quando se fazem estes contratos tem que se ter em atenção o clausulado para haver salvaguardas e mecanismos de saída justos. E tem que se ir monitorizando.

Ora a dita Pinokia, apesar de mais do que avisada, deixou passar dois anos sem fazer nada e depois, quando fez, foi uma poeirada que ninguém percebeu nada do que se estava a passar.




Não conheço e acho que ninguém conhece os contratos swaps que têm dado tanta celeuma já que aquela a quem toda a gente já trata por Pinokia nunca divulgou nenhum relatório. Para agravar, os organismos tutelados por ela destruíram os dossiers.


Claro que tudo isto é muito suspeito e tanto mais quanto todas as contas das empresas em causa são auditadas não apenas por empresas independentes como passadas a pente fino pelo Tribunal de Contas. Ou seja, não acredito que por lá abundasse trafulhice da séria.




O que me começa seriamente a parecer é que tudo isto não passou de uma armação, de uma grande encenação. 

A Pinokia foi buscar uma empresa, a StormHarbour, (a quem pagou meio milhão de euros) onde estavam amigos e conhecidos, eles fizeram um relatório que ninguém conhece ou pôde validar e, com base nisso, foi adiantado dinheiro aos bancos (como sempre, dizendo que, se não fosse isto, ainda seria pior)


Ora, se os contratos eram gravosos e de má fé, havia matéria para avançar para a via judicial. Mas não, a Pinokia avançou para o pagamento aos bancos.

Para isso houve dinheiro. Para isso há sempre dinheiro.




Não há é como validar se os contratos eram assim tão maus (no caso referido por Almerindo Marques, pelos vistos não era: empolou-se negativamente uma coisa normal; porquê?) pois não se conhecem relatórios e os dossiers já foram mandados destruir. Mas uma coisa nós sabemos: fomos uma vez mais prejudicados (com f) pois, para cobrir tudo isto, estamos a pagar mais impostos, há mais gente desempregada e os reformados se calhar vão ser ainda mais roubados. E sabemos ainda uma outra coisa: quem já se safou foram os bancos que, nem tiveram que esperar muito: receberam antecipadamente um dinheiro que, em alguns casos, ainda era incerto.




***


Mas, voltando ao que escrevi no título: qual o verdadeiro papel de Maria Luís Albuquerque em todo o processo negocial com os bancos, quer antes da crise financeira, quer agora, desde que está no Governo pela mão de Passos Coelho? Andava em roadshows pelo país fora a vender soluções de financiamento...? Mas desde quando é que a Refer vende soluções de financiamento? Ela, de quem Luís Pardal diz ser tão competente em matérias de financiamentos, andava a vender financiamentos ao serviço de quem? 



Não seria interessante que alguém fosse tentar perceber isto? Ou terei sido eu que ouvi mal?

*

As imagens provêm do inesgotável blogue We Have Kaos in the Garden.


***

Talvez ainda cá volte.

4 comentários:

Bartolomeu disse...

Na minha opinião este trecho, resume em boa parte a trapalhada e o conluio político que se vive, e ao que na realidade se assiste: sempre que surge um caso "cabeludo", segue-se uma fase de euforia jornalistica que inclui os comentadores da praxe e logo depois, na fase do comboio a vapor; pouca-terra, pouca-terra...
«Mas os partidos andam sempre entretidos em jogos palacianos de intriga e parlapié. Ou seja, é gente desatenta e impreparada. Todos. E os que não são, são macacos de rabo pelado, que jogam pelo seguro, guardam na manga; ou, então, não se sabem exprimir.»
Quanto ao facto de Cavaco "dever" saber o suficiente, com base nas garantias de Passos para desmontar a conversa fiada dela, ou de outro que se empenhe em a ilibar, não me parece... Aquela gente comunica por assobios, e muitas vezes confundem a melodia, depois... encontram-se uma só vêz por semana e durante meia-dúzia de minutos, entre salamaleques e cedências de passagem, não resta tempo ao primeiro para garantir ao supremo, seja o que for.
Isto é um país de faz-de-conta minha amiga. Só o Zé pagador é que não consegue finjir para a autoridade tributária que já pagou, antes de efectivamente ter pago.

Anónimo disse...

É bom estar informado, mas sem consequências, só faz mal ao fígado.

Um Jeito Manso disse...

Olá Bartolomeu descido à terra depois de andar na sua passarola pelos céus!


Fartei-me de rir com estas palavras tão bem humoradas. Estamos fartos desta gente? Andamos. Já não acreditamos em nenhum deles? Não. Mas isso tira-nos a vontade de fazer trocadilhos e de nos rirmos? Nem pensar!

Vou ficar à espera de mais palavras deste género. Gosto de as ler.

E bons voos, Bartolomeu!

Um Jeito Manso disse...

Olá Anónimo,

Para não fazer mal ao fígado é manter a capacidade de ironizar. A coisa anda melhor se a levarmos com bom humor...!