terça-feira, setembro 17, 2013

Cavaco Silva chama "um novo imposto" ao corte de 10% nas reformas da função pública e, com isso, revela que acredita que tal barbaridade não é convergência coisíssima nenhuma, não passando de mais uma inconstitucionalidade. E eu permito-me explicar que a putativa esperteza do Governo (querendo fazer crer que este corte é uma medida de justiça para fazer convergir o público com o privado e para garantir a sustentabilidade do sistema de pensões) é um erro estúpido, sem ponta por onde se lhe pegue. E, de carreirinha, explico ao ministro Mota Soares que aquela sua medida de pagar às empresas 1% do ordenado dos novos empregados é mais uma parvoíce que até dói de tão parva que é.


No post abaixo já agradeci e partilhei alguns presentes que recebi dos meus queridos Leitores e Amigos. Há de tudo um pouco como poderão ver - até gelado de rosas!

Mas isso é a seguir. Aqui, agora, a conversa é outra, é barra pesada.

*



Tenho andado a ver se me deixo alienar, falo de tudo e mais alguma coisa e faço de conta que não vejo tudo a arder à minha volta. É que me sinto sem paciência para tanta baixeza e mediocridade. Mas acho que hoje, apesar de me faltar a pachorra, devo falar naquilo da sustentabilidade das pensões de reforma. 

Ouvi há bocado, no noticiário, Cavaco Silva dizer uma coisa que é assassina para as pretensões do inteligente Passos Coelho: chamou 'novo imposto' ('novo imposto extraordinário', acho eu) ao corte de 10% nas pensões de reforma dos funcionários públicos. Adorei. Não julguei possível alguma vez vir a dizer que tinha adorado uma coisa vinda do Cavaco mas, desta vez, tenho que admitir: adorei. Um imposto não pode escolher uma fatia da população e, por isso, se isto for encarado como um imposto (e não é?) então será certamente inconstitucional.


Ou seja, com um simples epíteto, Cavaco Silva pode ter atirado à proposta de lei uma seta envenenada. Tomara que isso seja o prenúncio da morte da dita proposta e que os reformados do Estado possam respirar em paz, livres das assustadoras ameaças do governo de Passos Coelho.




Também vi uma malta desqualificada na Assembleia da República, a maltosa do CDS e do PSD, (e custa-me um bocado incluir pessoas como o Telmo Correia neste saco, tenho-o por um sujeito minimamente decente mas, enfim, tenho que o fazer pois foi a ele que vi subir à tribuna a defender este atentado ao Estado de Direito) a minimizar o impacto da miserável lei dos cortes das pensões. Diziam eles, do alto da sua pesporrência, que a lei afecta apenas uma minoria, umas trezentas e tal mil pessoas, coisa pouca. Vá lá que não disseram uns trezentos e tal mil velhos, nada mais que uns quantos milhares de velhos que já não duram muito. Mas, da forma como falaram, foi como se o tivessem dito. Deve ser gente sem pais nem avós esta que assim fala, como se falasse de coisa sem importância. 


Velhacos.

Fico tão, mas tão revoltada! que, só por isso, acho que tenho que me forçar a dizer qualquer coisa sobre isto.




A maioria das pessoas - nomeadamente os papagaios de serviço que invadem as televisões - limita-se a dizer com mais ou menos eufemismos: nasce cada vez menos gente, os velhos custam cada vez mais a morrer, e, portanto, não dá, é preciso cortar senão não chega para todos.

Como os portugueses estão sempre prontos para ser sacrificados, aceitam logo de boa vontade. Choram, choram, mas aceitam tudo. Tudo. E, se for preciso, ainda voltam a votar nos mesmos, nos seus carrascos.

E isto revolta-me cá de uma maneira….




É que aquilo é um raciocínio virado do avesso. É má fé em estado puro.


Ouço aquilo e dá-me vontade de gritar para ver se os papagaios de serviço que mais não fazem do que andarem a palrar asneiras em catadupa: ouçam lá, ó seus burros, bico calado a ver se ouvem e se percebem! 



Mas, claro, não posso dizer isso. Primeiro porque não tenho como me fazer ouvir. Eu ouço-os mas eles não me ouvem (a sorte deles…). Segundo, ninguém aceita que uma pessoa qualquer lhe chame burro. Por isso, se nem quando eu era professora -  e tantas vezes me apetecia dizer isto - eu o fiz, muito menos o faço agora.

Por outro lado, se explicar pela rama, ninguém me vai dar ouvidos. As pessoas ficam cépticas quando ouvem uma coisa que parece ser sentido e lhes é favorável (mas, pelo contrário, baixam logo as calcinhas se lhes cheira a punição. Um dó de alma, estes portugueses fadistas).

Seja como for, vou experimentar a ver se ao menos um de vós me concede o benefício da dúvida.

Cá vai.

*



Houve excessos sim e esses excessos tinham e têm que ser corrigidos. Mas foi a população que se excedeu para agora merecer ser sacrificada? Não, mil vezes não.

Quem se excedeu foi o Berardo que se endividou em milhões para comprar acções do BCP e muitos outros como ele, gerando assim imparidades (leia-se, prejuízos brutais) nos bancos que fizeram tais operações, e foram os bancos que distribuíram rendimentos baseados em resultados forjados, assim gerando buracos de milhares de milhões e as coisas do género que agora anda a população inocente a pagar. Ou seja, foi a ganância de uns quantos, aliada à incompetência de outros, que deu cabo disto. Foi, sobretudo, uma classe política cada vez desclassificada que vem tomando conta do País e que começou com Cavaco Silva a deslumbrar-se com o facilitismo de tudo, anulando as genuínas fontes de rendimento (indústria, agricultura, pescas) e destruindo o tecido económico do país.


Isso tinha (e tem!) que ser corrigido tal como tem que ser corrigido que se menospreze a função pública para, ao lado, contratar centenas de assessores e consultores e gabinetes de advogados e toda uma corte parasita que, a troco de coisa nenhuma, sorve recursos sem dó nem piedade. 

Tal como tem que ser corrigido a profusão absurda de municípios que acarretam presidentes, vereadores, secretárias, motoristas, e amigos de todos eles, que não acrescentam nada ao que autarquias de maior dimensão e menos aparato fariam, desde que o fizessem de forma limpa e profissional.

Fazer a reforma do Estado, que urge, é fazer isto.

Ora este incompetente governo de Passos Coelho & Paulo Portas ignorou tudo isto e virou-se para o esbulho da população. É um governo que, cábula que é, apenas sabe fazer cortes.

A via dos cortes, só por si, é uma via que nunca leva a lado nenhum pois faz-nos entrar numa via descendente a caminho do infinitamente pequeno o qual, como o próprio nome indica, é infinitamente tendente para zero, ou seja, será sempre um caminho de lenta e inexorável agonia.





Além disso, é um caminho autofágico. Corta-se e nunca se corta o suficiente. É que, cortando, haverá menos dinheiro em circulação e, havendo menos dinheiro em circulação, haverá menos consumo e menos poupança e, havendo menos consumo e menos poupança, a economia arrefece e aumenta o desemprego e bla-bla-bla, bla-bla-bla, sempre a piorar, sempre, sempre, e de uma forma da qual não se sai por si só.

Num caso periclitante como o português o que há que fazer é exactamente o inverso, tomando medidas a vários níveis e todas simultâneas e convergentes.




Estimular a economia, injectando liquidez na economia, é o mais urgente. Seja Parque Escolar, Reabilitação Urbana, fazer Lares para a Terceira Idade, Centros de Dia, desenvolver Pólos Culturais regionais ou fazer o que quer que seja que seja distribuído pelo pais, que crie mão de obra local cuja necessidade se prolongue no tempo - qualquer coisa nesta base. 


Em vez de andar a dar verbas ridículas às empresas (como esta agora que é de gargalhada*, de dar 1% do ordenado por cada contratado de novo), deve usar-se o dinheiro dos fundos para criar pólos de investimento e desenvolvimento (em coisas úteis!) pois isso potencia o aparecimento de novas empresas. Ou seja, isso funcionará como o catalisador de um reacender da economia.

Se, em alguns casos, não houver mão de obra suficiente (coisa improvável mas que, mesmo assim, não deve ser descartada) deve fomentar-se a imigração (são impostos frescos que entram, provenientes de gente cuja educação não nos custou nada).

Havendo mais gente a trabalhar, há mais gente a fazer descontos e a pagar impostos e há menos gente a receber subsídio de desemprego. Não deve ser aumentada a percentagem de impostos paga individualmente pelas pessoas - pelo contrário, o que deve é haver mais gente a pagar impostos e menos gente a receber subsídios de desemprego. Ou seja mais gente a trabalhar, mais empresas a ter lucros, e menos gente desempregada.




Ao mesmo tempo devem ser desenvolvidas políticas activas de apoio à natalidade. Isto é uma medida de longo prazo mas, por isso mesmo, tem que ser lançada o quanto antes. 


Fomentar a política de natalidade não é fazer flores no papel.

Não: é ter uma economia amiga dos cidadãos, que não lhes arranque o couro e o cabelo, é ter boas creches e escolas públicas, é ter horário reduzido para os pais nos dois ou três primeiros anos dos filhos, é não ter horários de trabalho de 40 ou mais horas semanais, é ter transportes baratos, é ter um bom esquema de saúde pública, é ter uma boa rede de cuidados continuados e apoios à terceira idade (porque se os casais tiverem problemas de toda a espécie com os seus próprios pais como é que vão ter tempo, dinheiro e entusiasmo – digamos assim – para gerar filhos?), é ter uma legislação e uma política fiscal estável para que os jovens casais possam fazer planos para o futuro.




Com medidas de curto e outras de médio prazo a irem no mesmo sentido, aumentará a confiança, estimular-se-á a economia, aumentarão os descontos e, logo, tornar-se-ão mais sustentáveis os fundos de onde saem as verbas para pagar as pensões de reforma.




Claro que esta via só funciona se o Governo se empenhar nesse sentido e fizer os agentes económicos e os cidadãos confiarem também. Requer envolvimento e  empenhamento de toda a sociedade, requer uma liderança forte, uma ligação forte com a população. Não é fácil, portanto.




A via mais fácil e mais rápida, é a via que os cábulas geralmente seguem, a que dá frutos apenas no curto prazo, frutos que logo definham. É a via que este governo mentecapto tem seguido em tudo. Tirando partido de sermos um povo de bananas, dormentes, dados ao sacrifício, vai cortando no rendimento disponível. Ora corta ordenados e pensões, ora aumenta impostos, ora aumenta as taxas moderadoras, ora aumenta o custo dos transportes, o custo do ensino, o custo das rendas de casa. Resultado: uma sangria na liquidez disponível. Resultado: a economia de pantanas, o desemprego em percentagens aterradoras, a dívida em montantes impossíveis de pagar, os juros a dispararem, os sistemas de pensões a vacilarem. O desastre.

Seguindo este insaciável caminho, agora tem que se cortar mil milhões, passado algum tempo serão quatro mil milhões, depois cinco mil milhões, agora já ouvi falar agora num buraco de oito mil milhões que tem que se tapar... e não vai parar.

Se, pelo contrário, este crime contra Portugal e contra os Portugueses for interrompido, talvez tenhamos possibilidades de sobreviver.





E a troika?, perguntarão vocês.

Pois bem. Não responderei que se lixe a troika mas quase. Se todo um povo se levantar e a uma só voz lhes disser que vão lixar outros, que nos deixem em paz, tenho a certeza que pensarão duas vezes antes de imporem o que quer que seja (se é que alguma vez impuseram, coisa de que tenho algumas dúvidas, pois é sabido que todas as revisões para pior e todos os radicalismos partiram deste governo de gente cabotina, ignorante e estúpida).


Os portugueses têm que acordar. Têm que mostrar aos alemães que a austeridade não está a resultar coisa nenhuma, têm que pregar um susto ao cherne Durão e a todas essas incompetentes alforrecas que por aí espanejam a pensar no seu próprio curriculum, marimbando-se para os povos perante quem deveriam responder. Os portugueses têm que se fazer ouvir, têm que querer ser ouvidos.


//////\\\\\\

(*) Ouvi aquele rapaz da mota, o aprendiz do Paulo Portas, o Mota Soares, a dizer com aquela sua irritante maneira de falar, sílaba a sílaba, como se estivesse à dentada às palavras, que com esta medida fantástica de ser o Estado a pagar 1% do ordenado de cada novo contratado deve criar mais de cem mil novos postos de trabalho. Só não me desatei a rir à gargalhada porque estava com vontade de o ter à minha frente para o pôr vestido de bibe, pintar-lhe dois dentes de preto para ficar com cara de puto desdentado, e, a seguir, encher-lhe as mãos de reguadas. Que pedacinho de asno aquele moço me saíu, ó senhores. Mas pensará a criatura que uma empresa, para poupar 1% do ordenado, se vai pôr a contratar pessoas, apesar de não ter a quem vender os seus produtos e serviços?




Eu explico ao ministro de faz de conta Soares. Uma empresa contrata uma pessoa se tem trabalho para ela e se a empresa vai colher benefícios de a contratar. Vamos supor uma cabeleireira. Com a crise, tem estado a despedir pessoal porque não factura o suficiente para pagar aos empregados todos que tinha. De cada vez que contrata uma pessoa que ganhe, por exemplo, 500 euros por mês mais a TSU, a patroa espera facturar a mais, no mínimo uns 700 euros por mês, de modo a pagar o que deve ao novo trabalhador e ao Estado e ainda ficar com uns trocos que ajudem a pagar a renda da loja, o contabilista, a água e a luz. Ou seja, só admite uma pessoa se isso se verificar. Se isso não se verificar, haverá alguma cabeleireira, por mais avessa que seja a fazer contas,  que vá contratar uma ajudante apenas para lhe pagar menos 5 euros por mês sabendo que não tem como lhe pagar o restante?

Ai meu deus, que estas criaturas do Governo e adjacências são de uma estupidez que até dá dó.

***

Isto está longo para além da conta, eu sei. As minhas desculpas.

As pinturas são do pintor Miguel Barceló.

Recordo que para gelados, para o vídeo da Lencastre a ser montada por uma bailarina e outras cenas, é descerem até ao post seguinte.

*
E, por agora, deixo-vos em paz. tenham, meus caros Leitores, uma bela terça feira. 

6 comentários:

Anónimo disse...

quem fala assim não é gago - http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=Vomxdz1ggNI

Anónimo disse...

e como no vídeo anterior o Sr estava nervoso, este com mais calma para se perceber a pescada de rabo na boca - http://videos.sapo.pt/aor6YIovdGzE40GnnQek#share

Anónimo disse...

São ditas aqui coisas muito pertinentes e esclarecedoras, que subscrevo em absoluto, tal a clareza da argumentação. Quanto ao Telmo, o criado de serviço de Portas na A.R, veio apenas revelar o que o CDS sempre foi e é, mais mentira de feira ou menos mentira de mercado de Paulo Portas. Constança Cunha e Sá deu-lhe (ao Telmo/CDS) bem e forte e com toda a razão, tal como aqui nos diz UJM: “uma minoria - os tais trezentos e tais velhos, reformados!!!” Esta canalha, que compõe este imundo governo é uma PÚSTULA! A começar pelos seus líderes, Passos e Portas. É inacreditável! Abatem-se cidadãos por serem velhos, serem parte de uma minoria estatística, contabilística, etc. Isto é o Fascismo mais refinado que alguma vez se podia imaginar. Este governo é um bando de foras-de-lei! De carrascos! Deveriam era ser presos. A insensibilidade desta gentalha atingiu um patamar nunca imaginado. Até onde vai a indiferença humana? Até onde vai o desprezo governamental desta cambada que nos desgoverna?
Enfim, haverá pelo menos esperar que Sexa PR dê um valente pontapé no rabo destes biltres, sobretudo do PM e depois aguardar pelo que o TC irá dizer, se o questionarem, como espero que o façam. Quanto ao Mota, é a outra face da mesma moeda do CDS: de um lado, na A.R, temos o Telmo; no Governo o Mota das lambretas. Com Portas a sorririr-se, como se nada tivesse a ver com esta esterqueira, porque é esse o termo exacto que encontro para definir tais propostas de lei. Revoltante!
De resto, sobretudo o que escreve a partir do que diz do Berardo, é sublime! No ponto, UJM! Nem mais! Como sempre inspirada para dizer as verdades, verdadinhas! E escreve bem, tudo muito articulado , uma beleza de escrita! E com uma argumentação de truz! Ando tão irritado com esta PÚSTULA (Governo) que há dias em que nem consigo escrever o que quer que seja de jeito. Mas você faz isso na perfeição. Chegue-lhes que mesmo assim é pouco.
A terminar e de algum modo aproveitando algumas das ideias que aqui nos deixa, tenho pena que este país não tenha aprendido com países onde a Social-Democracia é uma realidade, como nos países nórdicos. Mesmo com governos mais conservadores, salvaguarda-se sempre os aspectos sociais, sobretudo dos mais velhos e mais desfavorecidos. Temo bem que nunca teremos por cá um sistema saudavelmente politico desse tipo por cá. Nem pelas maõs do PS. Isto caminha para um neo-liberalismo radical. Uma chatice! Estamos entregues ao mais sórdido da Política.
P.Rufino

Anónimo disse...

hoje em DR 2.ª serie , ponto 4 do concurso (23 cargos dirigentes Câmara de Barcelos)-4 — Tratando -se de um processo de seleção urgente e de interesse
público que visa escolher um titular que melhor corresponde ao perfil
pretendido, não haverá lugar ao exercício do direito de participação
dos interessados.
-http://dre.pt/pdfgratis2s/2013/09/2S179A0000S00.pdf (2 últimas folhas do diário)


urgente?????

Golimix disse...

Mais esclarecedor é impossível! Agora é tentar que o resto da malta acorde....


Agora o que eu acho piada é este deitar abaixo os FP com a desculpa de equiparar ao privado. Conte-me outra! E, já agora, o correcto seria o privado tentar levar o que acha mais justo para eles e não o contrário! Burros mesmo!

Golimix disse...

Mais esclarecedor é impossível! Agora é tentar que o resto da malta acorde....


Agora o que eu acho piada é este deitar abaixo os FP com a desculpa de equiparar ao privado. Conte-me outra! E, já agora, o correcto seria o privado tentar levar o que acha mais justo para eles e não o contrário! Burros mesmo!