Resposta ao comentário do Leitor que acha que Pedro Lomba é um homem de génio, sobrequalificado para o cargo de Secretário de Estado Adjunto do Ministro Adjunto.

Para verem o macaco inconveniente a despropósito da carta de Passos Coelho a António José Seguro, é espreitarem o post a seguir a este.

Agora tenho que resolver aqui uma pendência.

Sobre o meu texto relativo à nomeação de Pedro Lomba para Secretário de Estado Adjunto do Ministro Adjunto do Ministro Adjunto do Gaspar-não-Acerta-Uma, texto esse que já teve até agora mais de 300 visitas, um Leitor deixou um comentário que, desde já, agradeço.

Como ando a tentar manter-me disciplinada quanto à minha resolução de não responder a comentários (a ver se poupo tempo e consigo deitar-me mais cedo – até agora vã tentativa, confesso…), vou antes escrever um texto autónomo.

Dizia esse Leitor: 

Pedro Lomba é um homem de génio. Qualquer um que perca cinco minutos a ler um estudo escrito por ele percebe que não só não é "subqualificado", como aliás é, sem margem para dúvidas, "sobrequalificado" para o novo cargo. É de destacar sua competência!

Ora, eu não contesto a genialidade, a competência ou as qualificações da pessoa em causa mas sim a adequabilidade ao cargo – era disso que eu falava no meu texto. E acerca disso constato que o Leitor é da mesma opinião que eu pois diz, no seu comentário, que Pedro Lomba é “sobrequalificado” para o novo cargo.

O que se pretende para uma função é alguém que a desempenhe bem, alguém adequado e devidamente qualificado, não outra coisa.

Ao demonstrar uma afirmação pode lá chegar-se por via dedutiva, intuitiva ou por absurdo.

Vejamos então uma demonstração por absurdo daquilo que acima referi.

No verão do ano passado fui submetida a uma intervenção cirúrgica por aquele que me garantiram ser o génio da cirurgia naquele tipo de intervenções. Não creio que haja disso mas haver boas referências quando pomos o nosso corpo nas mãos de quem tem poderes para o mandar desta para melhor, é preferível a nada. Génio ou competente, uma coisa posso eu dizer: faria sentido este cirurgião ser convidado para Secretário de Estado Adjunto de um Ministro Adjunto? Tenho sérias dúvidas.

Outro exemplo. A minha mãe tem uma mão para a cozinha que dá gosto. Podia dar muitos exemplos das suas habilidades culinárias mas refiro as mini-quiches de espinafres e cogumelos, uma espécie de fofo de Belas em versão (pouco) salgada. Uma delícia. Pode pôr pratos cheios daquilo na mesa que voam quase imediatamente e as que sobram são disputados pelos comensais para serem levadas para suas casas. Podia também falar de uma mousse de laranja enfeitada com rodelas de laranja caramelizadas, com casca e tudo. Outra delícia.

Para preparar uma mesa cheia de acepipes não há génio que chegue aos calcanhares da minha mãe. Mas faria sentido ela ser convidada para ser Secretária de Estado Adjunta de um Ministro Adjunto? Parece-me que não.

A pessoa, a sua genialidade, a sua competência tem que ser adequada aos cargos. Senão é um flop de todo o tamanho.

Mas, neste aspecto, a falta de tino está sobretudo em quem convida para um lugar alguém cujo perfil não se mostra nem um bocadinho adequado ao lugar. Ou seja, neste aspecto, da parte de Passos Coelho, Pedro Lomba é mais uma bola para o pinhal (que é como quem diz, mais um tiro ao lado).

Mas e do lado do génio Pedro Lomba? Ter aceitado aquele lugar o que nos diz acerca dele?

Nada de bom, é o que eu posso garantir ao Leitor que escreveu o comentário.

Genialidade? Nem um bocadinho... Deslumbramento? Presumo que sim, o que não abona nada a favor da sua inteligência porque pertencer ao Governo de Passos Coelho é uma nódoa que ele vai ter dificuldade em limpar do curriculum.

Se o cirurgião que me operou ou a minha mãe recebessem um convite para este governo, de uma coisa estou eu certa: desatavam-se a rir e mandavam Passos Coelho ir dar uma grande volta. Inteligentes que são, reconheceriam que não têm experiência nem competências nem maneira de ser para desempenharem aquelas funções.

Mas levemos o absurdo ainda mais longe.

Suponhamos que Cavaco Silva, essa ilustre bela adormecida que de vez em quando acorda para dizer coisas contraditórias, inconsequentes, bizarras, resolvia que daquele governo já nada se pode esperar e me convidava a mim para substituir o trio Passos Coelho, Vítor Gaspar e Álvaro Santos Pereira, assim mesmo, em package. Irão desculpar a minha imodéstia mas de uma coisa vos posso eu garantir: apesar de não ser nenhum génio, não tenham dúvidas que eu, a dormir, faria muito melhor do que aqueles três juntos, acordados e a puxarem pela cabeça. Mas apesar de eu achar isso, será que eu aceitaria o desafio?

O que acham, os meus Caros Leitores?

Eu digo: por respeito para com a idade do Presidente não lhe diria para ter juízo mas, educadamente, explicar-lhe-ia que mesmo que o Passos Coelho, o Gaspar e o Rei dos Pastéis já tivessem ido de asa (agora que o Relvas também já foi), nem mesmo assim eu aceitaria ir para aquele Governo. Só depois de uma desinfestação em S. Bento, só quando toda aquela gente que tem dito ámen ao Passos Coelho e Gaspar tivesse saído de S. Banto, e a casa tivesse sido posta a arejar, é que eu reconsideraria (isto no campo do absurdo, claro, que eu, como é sabido, não navego nessas águas).

Ou seja, não tendo competência e experiência e mundividência para o cargo, jamais uma pessoa inteligente o deve aceitar. 

Mesmo tendo tudo isso, antes de aceitar, deve avaliar a quem se vai juntar e se, no barco onde se vai meter e com a tripulação em causa, chegará a bom porto e o seu papel será relevante. Não o sendo, mais vale estar quieto. Ou seja, mesmo que fosse experiente, competente, etc e tal, Pedro Lomba vai fazer o quê num governo chefiado pelo par de jarras Gaspar&Passos?

Ou seja: se eu, pelas suas crónicas jornalísticas, já o vinha achando convencido, vazio e pretensioso, agora é que fiquei mesmo esclarecida. 

Temos pena.

Mas estamos cá para ver as maravilhas que o génio sobrequalificado Pedro Lomba vai fazer. Se ele deitar o Governo abaixo e salvar os portugueses deste governo desqualificado, cá estarei para lhe tirar o chapéu.

*

E já sabem: para verem o macaco inconveniente é só descerem um pouco mais.