Chove muito enquanto escrevo. É tarde, a noite vai avançada e parece que a invernia voltou de novo. Que tempos estes...
Tempos de incerteza e insegurança. Quando nada é certo e quando nos sentimos à mercê de gente que não respeita princípios, valores, de quem não conhece a cultura, a história, de quem sentimos como fazendo parte de uma casta inferior, muito inferior, daquela casta de alpinistas sociais que subiram a troco de esquemas, de contactos, de tudo o que sempre desprezámos, o que fazer?
Direi: lutar.
Mas nem sempre há energia para isso. Por vezes apetece simplesmente deixar que o tempo corra devagar. Ouvir música que contenha muito silêncio, ver imagens de grande tranquilidade. Deixar que uma paz muito grande percorra todo o nosso corpo. Devagar. Devagar.
E depois, outras alturas há em que a irritação toma conta de nós e apetece provocar, quebrar preconceitos, desafiar os dogmas.
Partir. Partir de quebrar, partir de ir. E seguir em frente.
E rir.
Mas devagar. Sem pressa porque em todos os momentos há instantes de prazer. Se andamos com pressa não damos por eles.
E perceber que poucas coisas são o que parecem.
Há que ver para além do que nos é dado ver.
E esconder o que não querermos que vejam de nós. E desvendar uma parte. Só uma parte. Deixar que adivinhem o resto. Um pouco de pele. Um olhar rapidamente desviado. Um sorriso encoberto.
Uma meia palavra.
E chega.
Uma meia palavra.
E chega.
Na poesia sou livre
não preciso de acordo
livre no tema e na cor
na música, ritmo e tom
minhas palavras são livres
não servem qualquer senhor
conceito, sentença, noção
senhoras que saem de mim
só da minha solidão
se percam nos outros no mundo
nas pedras, rios e árvores
não precisam de voltar
pois jamais me encontrarão
não preciso de acordo
livre no tema e na cor
na música, ritmo e tom
minhas palavras são livres
não servem qualquer senhor
conceito, sentença, noção
senhoras que saem de mim
só da minha solidão
se percam nos outros no mundo
nas pedras, rios e árvores
não precisam de voltar
pois jamais me encontrarão
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Não me deixes, não me deixes, não me deixes, não me deixes
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Para onde me leva a vida?
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O primeiro filme foi realizado por Bruno Aveillan com música de G. Santaolalla e interpretação da modelo polaca Monika Krol, para a Louis Vuitton.
O segundo foi filmado por James Lima para a revista inglesa "Love Magazine" e conta com a participação das modelos Cara Delevingne, Georgia May Jagger (filha do vocalista dos Rolling Stones), e Saskia de Brauw. Tem estado a causar grande polémica por apresentar as modelos como prostitutas de rua. Mostra a última colecção Louis Vuitton.
O último filme tem Maria Gadu a interpretar Ne me quitte pas de Jacques Brel.
O poema é 'Livre' de Manuel Paes e pode ser lido no livro Resumo, a poesia em 2012.
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Sintam o gostinho bom da liberdade, meus Caros Leitores, sintam o prazer dos breves instantes.
Desejo-vos um bom sábado.
3 comentários:
«Há que ver para além do que nos é dado ver.»
Concordo em absoluto, UJM.
E assistem-nos ainda duas opções: sermos activamente objectores, ou sermos inactivamente objectores.
Os motivos que elencas e que são na realidade aqueles que nos cercam, não dos deixam espaço para acreditar na possibilidade de uma mudança, na viabilidade de retomar a estabilidade, e de reconquistar um espaço que nos permita recriar-nos como uma sociedade plenamente realizada.
Gostei da sua entrevista hoje. Entrevista de uma mulher inteligente. Gostei das suas opiniões sobre a Rádio. Fui radialista durante duas décadas, principalmente no campo do drama. gostei da poesia do blog. Diga-me se está interessada na lista de peças que realizei - radioteatro, claro. Tenho 81 anos.
belomarques.2005@gmail.com
folhadecouve2.blogspot.com
Gostei do que escreveu, sempre com a mesma elegância do costume.
Quanto à Louis Vuitton, não precisava de se promover nestes recantos tão obscuros da sociedade e na minha opinião foi uma publicidade muito negativa! Que mais irão criar para chamar a atenção de nós, pobres mortais?!
Obrigada pelas suas escolhas e partilhas sempre tão actuais e diversificadas.
Um beijinho
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