terça-feira, fevereiro 12, 2013

Nunca o identifiquei como Papa Bento XVI e não me perguntem porquê: sempre o tratei por Ratzinger. Soube-se hoje que Ratzinger vai pregar para outra freguesia e eu não tenho nada a dizer sobre isso a não ser que era bom que não esquecessem o fiel e competente Georg Gänswein


Já aqui o referi muitas vezes: sinto a presença de uma transcendência na natureza, no universo, na progressão fantástica do tempo assentando em acasos, evoluindo sobre o que poderia ser o inabitável caos. Sinto um afecto imenso pelas pessoas em geral, pela sua capacidade de resistência e de gestos de grandiosidade, pela sua capacidade de aprendizagem e de dádiva. Sinto um respeito indestrutível pelo que as pessoas vêm conseguindo ao longo dos tempos e pelo que a natureza nos dá. Talvez isto tenha um nome, acho que tem, mas agora não me ocorre. Não é uma crença num ser superior mas um reconhecimento, uma admiração ilimitada por uma inexplicável força mágica, magistral.

Tirando isso, nos momentos de aflição sinto necessidade de ter a quem pedir ajuda pois, nessas alturas, sinto-me indefesa, frágil, e humilde que sou, não me envergonharia nada pedir por mim, pelos outros.

E sinto uma vontade grande de silêncio, de interioridade, de sintonia absoluta com o que me é exterior, com o que me é anterior, sinto uma vontade muito grande de partilha do que tenho de mais intrinsecamente meu, dos meus pensamentos, dos meus sentimentos, das palavras que nascem de mim. Não sei. Sei que não é bem isto, que é mais do que isto mas não sei explicar melhor - e, se calhar, estas coisas são mesmo assim, não se explicam. 

Mas sei que não me identifico com os ditames da igreja católica (nem com os de qualquer igreja), nem com os seus preceitos, práticas, restrições. Algumas coisas não me parecem razoáveis, lógicas, justas. E o que me parece fazer sentido são generalidades que têm a ver com princípios e não com doutrinas.

Por isso não frequento a igreja apesar de ter tido uma educação tradicional (catequese, comunhão solene). Não me casei pela igreja, não baptizei os meus filhos (mas andaram num colégio diocesano e tiveram aulas de religião de modo a que adquirissem os conhecimentos mínimos para que pudessem decidir por si próprios).

As grandes demonstrações de fé colectiva inquietam-me, desagradam-me, e acho que, se a igreja fosse séria, não as fomentaria. 

Por tudo isto e por muito mais, tudo o que diga respeito a padres, bispos, cardeais ou papas me deixa indiferente. 

Contudo, que não se pense que fico indiferente em relação a gestos humanos de grande dignidade levados a cabo por alguns membros do clero, ou a palavras de coragem lançadas por alguns deles contra poderes inquinados - não fico. Mas olho para eles como seres humanos e não como profissionais da fé.

Vem isto a propósito da inesperada renúncia de Ratzinger. Não sei porque o fez, se sentiu que estava cansado, oitenta e cinco anos são oitenta e cinco anos, se lhe apeteceu ter alguma paz e sossego para escrever com uma concentração impossível de conciliar com a sua actual actividade, se foi por qualquer outro motivo, não sei, nem isso me desperta qualquer curiosidade.

A única coisa que desejo é que seja sucedido por alguém mais aberto ao seu tempo.

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Mudando de registo e, se me é permitida a brincadeira, retomo o tema de que aqui falei há tempos, sugerindo ao Conclave que, aquando da escolha,  tenha em consideração o fiel e devotado Georg Gänswein, o famoso George Clooney do Vaticano.



Georg Gänswein nasceu em Waldshut, na Alemanha, a 30 de julho de 1956.
Foi ordenado sacerdote a 31 de maio de 1984.
É arcebispo titular de Urbisaglia e novo Prefeito da Casa Pontifícia
e é giro, giro, giro todos os dias!


Acho que se o seu nome os fizesse soltar o fuminho branco, eu passaria a seguir os seus passos e as suas palavras com alguma atenção. Até era capaz de me ir confessar a ele, ai não que não ia. E até me punha aqui sentada a puxar pela cabeça, a inventariar todos os meus imensos pecados, para ter uma lista loooonga de desfiar quando me ajoelhasse, eu do lado de cá, ele, lindo de morrer, sentadinho, sossegadinho do outro lado, a ouvir-me estarrecido.

Bom, não digo mais nada não vá algum dos meus leitores ficar chocado com esta minha confissão... Mas, pensando bem, se algum dos meus leitores é muito beato e altamente praticante, também tem um coração de manteiga e sabe perdoar esta tão grande pecadora, não é?

Mas vá lá... confesso outra vez: estou a brincar...





Repito: estou mesmo a brincar, claro que não me ia confessar ao George Clooney - ele não deve perceber nada de português e eu não teria paciência para estar a traduzir todos os meus pecados para outra língua. É que os meus pecados têm um cunho muito português. Traduzidos perdiam a graça.


:  :  :

Se ainda estiverem para isso, muito gostaria de vos ter lá pelo meu Ginjal e Lisboa. Hoje as minhas palavras são uma prece não ouvida junto a uma parede que parece um Rothko. A música, Senhores, a música é Bach pelas mãos prodigiosas de David Fray e peço-vos que a tentem ouvir: é uma coisa do outro mundo.

: | :

E estamos no Carnaval, ninguém leva a mal, pois não? 

Vamos mas é foliar, rir, espantar mágoas, esconjurar medos. E que viva a vida e a alegria de a viver o melhor possível!

Tenham, meus Caros Leitores, uma bela terça feira! Divirtam-se, está bem?

14 comentários:

Anónimo disse...

De educação tradicional, baptizada, catequese. Leitura da Bíblia.
Quanto ao mais, em comunhão absoluta com o texto de UJM.
Com um abraço,

[…]
Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!

(Isto é talvez ridículo aos ouvidos
De quem, por não saber o que é olhar para as coisas,
Não compreende quem fala delas
Com o modo de falar que reparar para elas ensina.)

Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.

Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.

E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?),
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.

de « Há metafísica bastante em não pensar em nada.» In Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa.

Ana de Sá

.

Isabel disse...

Eu sou batptizada, fiz a 1ª Comunhão a Profissão de Fé e o Crisma. vou à igreja sempre que é necessário, mas o que se faz na igreja não me diz muito. Fala-se muito bem, mas não se pratica o que se apregoa. Acredito em Deus. Dou-lhe esse nome porque foi o que aprendi. Para mim é um ser superior que não sei explicar, mas acredito em algo para lá do nosso entendimento. Tenho fé.
A fé é algo que não se domina. Não se passa a acreditar de um dia para o outro e quem a tem não a perde de um dia para o outro.
Não suporto os fanatismos nas religiões, seja qual for a religião. Acho que o respeito pelo ser humano devia ser a base de qualquer religião.

Enfim, é um assunto para outro dia e não para o de Carnaval.
( Mas lá que o George Clooney do Vaticano é giro, lá isso é!)

Um beijinho e bom dia de Carnaval

Tété disse...

Amiga, acreditar no que não se vê eu chamo Fé e ela ajuda-nos em todos os momentos. Gosto de agradecer pelo que tenho (podia não ter) e pelo que não tenho (problemas, doenças)e como já passei por alguns sustos e momentos de grande intensidade depressiva, só penso que foi a tal força, a que eu chamo Deus, que me ajudou a transpor os obstáculos.
Também não estou de acordo com alguns ouvidos moucos da igreja católica, com as janelas fechadas que parecem ter perante a evolução da humanidade, mas quando entro numa igreja, busco a paz de espírito que me faz falta para continuar em frente.
Bem e agora outra coisa - leu o mail que lhe enviei sobre "O que importa" da Casa Fernando Pessoa? Gostava tanto que participasse.
Beijo e abraço

Anónimo disse...

Olá Jeitinho,

Subscrevo quase completamente o seu texto, só que nem o Clooney do Vaticano me levaria ao confessionário.LOL
Preferia fazer como o piu-piu e apelar directamente ao Dear Lord...

O comentário da Ana de Sá poderia ter sido escrito por mim, incluindo o magnífico poema do Fernando Pessoa.

Posto isto, sinto uma paz imensa quando entro numa igreja vazia, ou apenas com pessoas rezando em silêncio, pessoas que respeito pela sua fé.
Também tenho, às vezes, conversas silenciosas com Maria, que quero acreditar que existiu...

A igreja e seus representantes, salvo raras excepções, deixam muito a desejar.

Abraço.

Antonieta

Anónimo disse...

Esta questão, da resignação do Papa, não só me transcende, como me é, de algum modo, indiferente, na medida em que não faço parte dos milhões de Fiéis, embora, naturalmente, os respeite. A Igreja, numa perspectiva histórica – e merece a pena analisar esse percurso desse ponto de vista –, tem, todavia, muito interesse. Há, sobre esta matéria, incluindo sobre a vida de Jesus (Cristo não era o seu nome/apelido mas uma designação do Grego Antigo que significava Messias), muita informação interessante, desde o número de irmãos e irmãs que teria tido (supostamente seria 6, Jesus incluído), sendo o mais conhecido, “Jaime” (na tradução portuguesa, ou inglesa, “James”, nos livros publicados nessa língua, com grande objectividade histórica) mais velho e um fanático radical judaico que, ao que consta teria sido atirado do topo do Templo de Jerusalém abaixo e assim falecido, pelos rabinos judeus). Seria conversa para muita tinta. Fica para outra altura. Voltando à Igreja, haverá que reconhecer, que apesar de toda a sua postura conservadora, é, nos dias de hoje (não vou aqui rebuscar o passado, com os crimes da Inquisição), incomparavelmente menos fanática do que outras religiões como, por exemplo, a islâmica e judaica. Seja como for, a renúncia papal não irá pôr em causa, quero crer, a continuação da Igreja e da existência do Vaticano, para descanso dos muitos crentes. Como não me incluo neles e, tal como UJM, não só não me casei pela Igreja, como não baptizei os meus filhos, o que dali vier a seguir não faz parte das minhas preocupações. Quanto a confissões, se, porventura, a Igreja, um dia, vier a evoluir ao ponto de aceitar e permitir que as mulheres possam vir a ser ordenadas e, nesse sentido, possam ouvir os penitentes em confissão, quem sabe se ainda me decido a ir até lá e, ali, “parlamentar” sobre a minha pecaminosa vida. E, já agora, preferia alguém, a tal mulher ordenada “Padre”, que fosse o oposto (no plano feminino) ao tal Georg. Não me imaginaria a confessar as minhas maldades, por exemplo, a uma sacerdotisa que se parecesse com a Madre Teresa de Calcutá, ou com a Irmã Lúcia. Ainda me lembro quando eramos adolescentes, eu e meus irmãos, de uma amiga de nossa mãe que era freira, uma simpatia e uma doçura de religiosa, que, a par daquela sua entrega ao Senhor, conciliava a sua dedicação ao Altíssimo com a de artista plástica, pois era uma excelente pintora. Pintava umas belíssimas aguarelas e uns belos óleos, sobretudo de paisagens (assim com um toque impressionista, se se pode dizer), fez exposições e teve mesmo algumas obras abstractas de grande beleza. Aquela Madre, Gabriela de seu nome, era – e por isso a invoco aqui – de uma enorme beleza! Recordo-me de, um dia, ter perguntado a meus pais porque diabo uma mulher tão bonita se decidira seguir semelhante vocação, em vez de ter tido uma outra vida (e aqui, pensava eu, secretamente, na minha adolescência, por exemplo a de partir alguns corações nesta vida terrena). A resposta que recebi foi mais ou menos de “que cada um sabe o que quer desta vida e não devemos interferir com esse tipo de opções”. Mais tarde, vim a saber que a bela freira (ela era na verdade muito bonita!) teria, antes daquela sua decisão, tido um grande desapontamento amoroso. Se tal foi, ou não, a razão porque a bela Grabiela acabou por se entregar nas mãos de Cristo, em vez de outras mais terrenas, nunca o vim a saber. Enfim, seria caso para se dizer que quem ficou a ganhar foi a Ele.
P.Rufino






Um Jeito Manso disse...

Olá Ana de Sá,

Depois de ter lido o seu comentário fui acrescentar também no meu texto aquilo que diz: educação tradicional, baptizada, catequese. (A Bíblia só depois a li, e por vezes ainda leio mas por curiosidade). Também eu fui assim. Até que achei que o sentimento de religiosidade não tinha que passar por ali.

De resto, adorei este poema fantástico. Não conhecia, acho que nunca tinha lido. Ou, se li, na altura não me disse nada.

Acho que me identifico muito, muito com estas palavras.

Muito obrigada.

Um abraço, Ana de Sá!

Um Jeito Manso disse...

Olá Isabel,

Gostei muito de ler o que escreveu com a sua sinceridade e simplicidade tocante de sempre. Percebo-a muito bem e já li várias vezes as suas palavras ('Dou-lhe esse nome porque foi o que aprendi. Para mim é um ser superior que não sei explicar, mas acredito em algo para lá do nosso entendimento. Tenho fé').

De resto concordo com tudo o que diz e, em especial, que o respeito pelos outros deveria ser a base de tudo. Se todos pensassem isso o mundo seria um lugar maravilhoso.

(E ainda mais maravilhoso seria se tivesse o George Clooney do Vaticano como Papa...:)))

Um beijinho, Isabel!

Um Jeito Manso disse...

Olá Teresa-Teté!

Acho que as pessoas que têm verdadeira fé vivem mais apoiadas pois, em caso de dificuldade, devem sentir que há um Ser que está ali para as sossegar e apoiar.

Mas eu não sei se a Fé é apenas isso ou é também achar que há um Ser que pune o mal (e eu acho que isso não acontece) e que há uma vida depois da morte (e eu acho que isso acontece enquanto perdura a memória junto de quem amou os que partiram - e não mais que isso).

Mas, claro, isto da crença e da fé são coisas tão pessoais que cada um pensa e sente como pode e ninguém deve censurar ou tentar alterar isso, não é?

Quanto ao que me enviou por mail: no mail não se via mas depois fui ver ao site e já vi o que é. É um desafio interessante mas eu sou bicho do mato no que se refere a isso de aparecer e ir falar do que se escreveu. Talvez daqui por algum tempo, quando meter isso na cabeça... Agora acho que não me sentia à vontade em aparecer como se escrevesse alguma coisa que merece ser lida pelos outros. E não pense que é modéstia porque não é, mesmo. Escrevo aqui na boa, no descanso da minha casa, pelo prazer de escrever ou de partilhar mas não para me evidenciar.

Mas esses desafios vão ficando a fazer o seu caminho dentro de mim... Um dia dou esse passo.

Obrigada pelo carinho da sugestão, Teresa-Teté e um beijinho!

Um Jeito Manso disse...

Olá Antonieta,

Agora seria eu a subscrever as suas palavras. Também eu não passo por entrar numa igreja vazia. Entro, fico ali um bocado. Entra uma paz dentro de mim difícil de explicar. Também gosto de ver pessoas a rezar ou de entrar numa missa e ficar, um bocado, cá atrás.

Há uns dois ou três anos, em Madrid, ao fim de uma tarde, entrei numa pequena igreja. Tinha pouca luz e as pessoas cantavam um cântico religioso (não estas coisas amodernadas que se cantam em algumas igrejas e de que não gosto nem um bocadinho) e eu fiquei ali pregada, a conter-me para não chorar e sem perceber porque tinha ficado assim.

E também gosto muito da figura de Maria, uma mulher por quem tenho muita admiração e carinho e com quem gosto, por vezes, de falar em pensamento.

Por isso, já vê, gostei de ler o que escreveu: era eu a falar.

Um beijinho, Antonieta!

Maria Eduardo disse...

O Papa Bento XVI anunciou ao mundo a sua resignação no dia dos doentes, por se sentir também
doente e sem capacidade física e mental para continuar a conduzir os desígnios da Igreja Católica.
Diz-se que foi um acto de coragem, de humildade, de lucidez e de inteligência, foi sem dúvida um
acto inteligentemente pensado. Com os seus oitenta e cinco anos de idade e sentindo-se impotente para conseguir controlar todos os imprevistos da sua saúde já fragilizada, da sua idade avançada, e da falta de energia
espiritual, decidiu dar assim oportunidade aos mais jovens para conduzirem o leme do "barco" que ele já não podia comandar, e retira-se ainda lúcido para orar, pensar, humildemente...

Sou católica, mas também não sou praticante, vou à igreja quando tenho necessidade, mas sinto no entanto um grande respeito por todas as religiões, não importa qual.
No entanto, no que à religião católica diz respeito, também não concordo com os exageros que são praticados e de alguns
dos comportamentos de certos seguidores, mas, também admiro muito aqueles que se entregam de alma e coração e com uma fé inabalável, a espalhar a palavra de Deus e a semear os valores sagrados, como o amor pelo próximo, a paz, o bem, saber perdoar, etc. etc.

Ao 'competente Georg Gänswein' também me confessava de boa vontade. Vamos todos ser muito bonzinhos para não darmos trabalho
ao novo Papa Georg Clooney eleito por nós, Mulheres...

Um beijinho grande
maria eduardo



Um Jeito Manso disse...

P. Rufino, olá,

Uma vez mais um texto delicioso de se ler e no qual se aprende sempre. Veja a minha ignorância: Jesus não era filho único?! Pois não sabia.

A igreja tem tido um papel importante ao longo da história mas, infelizmente, nem sempre o melhor. Mas, há que reconhecê-lo, tem sido determinante em alguns aspectos.

De qualquer forma, eu não quis que os meus filhos fossem criados sob a matriz da culpa, da punição, da expiação.

Mas, enfim, eu acho que fiz bem e eu acho que eles acham que nós fizemos bem (porque, naturalmente, foi decisão partilhada entre mim e o meu marido).

Quanto à beleza dos padres e das freiras faz um bocado de pesa, quando os vemos tão lindos, pensar que abdicaram dos relacionamentos terrenos mas eles lá saberão.

Em tempos, a filha de um colega nosso, uma rapariga linda, linda, recém formada, sem mais nem ontem, resolveu ir para freira, daquelas de clausura, tenho ideia que era no Algarve ou no Alentejo, mas agora não consigo precisar. Despediu-se da família e isolou-se. Fez-nos muita impressão. O pai ficou desfeito, sem perceber. Falava-se num grande desgosto de amor.

Mas já o filho de um outro meu colega, um rapagão giraço, também foi para padre porque desde pequeno quis ser padre. Mas aí não me admiro muito porque o pai era (e é) da Opus Dei, sempre viveram nestes ambientes. Ainda me lembro do pai aparecer com essa grande novidade, todo feliz, dizendo que já estava confirmada a ordenação do filho.

Se fosse com um meu, eu ficaria desgostosa, acho eu. Pois ele, estava radiante. Vi depois as fotografias e vi como estava a família toda muito contente.

Opções...

Muito obrigada pelo seu texto, sempre tão interessante de ler.

E desejar-lhe uma boa semana como se hoje fosse domingo... Assim desejo uma boa quarta feira!

Anónimo disse...

Olá Jeitinho,

De certeza que já leu o Poema V do Guardador de Rebanhos, do Alberto Caeiro.
É um poema extenso que começa assim:

Há metafísica bastante em não pensar em nada.

O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.

e termina:

E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.

A Ana colocou e bem apenas aquela parte mais específica.

O Poema VIII, que eu também acho lindíssimo, é sobre o Menino Jesus e pode ser 'visto e ouvisto' no dvd e/ou cd da Maria Bethânia 'Maricotinha ao vivo".
É um poema bastante extenso, que tem duas ou três 'blasfémias' lá pelo meio e do qual transcrevo este bocadinho delicioso:

Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate as palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.

Quanto às igrejas, quando entrei pela primeira vez na Catedral de Sevilha, que é enorme, estava lá um coro de meninos de vozes celestiais a ensaiar.
Fiquei comovida até às lágrimas e só saí de lá depois do ensaio terminar.

Também já assisti a alguns concertos de Natal em igrejas aqui da zona, só que com um frio de rachar embora a lotação estivesse esgotada.
Ainda assim inesquecíveis!

Beijinho.

Antonieta

Um Jeito Manso disse...

Olá Maria Eduardo,

O seu comentário entrou ontem já quando eu estava incapaz de por aqui ficar mais tempo pelo que apenas respondo hoje.

Respeito em absoluto as convicções e crenças de cada um pois considero que é no respeito absoluto das opções individuais que devem assentar as boas sociedades.

O facto de eu não me identificar com muitos dos preceitos e dogmas da igreja católica não quer dizer que não respeite as pessoas que os aceitam.

Contudo, aquilo que diz, perdoar, aceitar os outros, fazer bem ao próximo, etc, não são exclusivos dos católicos ou, sequer, dos crentes. Eu considero-os os princípios basilares que devem enformar todos os seres humanos. Sempre foi isso que, por exemplo, ensinei aos meus filhos apesar deles não terem andado na catequese nem frequentado a igreja.

Mas, enfim, cada um pensa como quer, não é?

Soube hoje que o Papa teve um AVC, tem artrite, anda mal, vê mal, tem dores - ou seja, tem achaques típicos de um homem normal de 85 anos. Acho bem que tenha tido a lucidez e discernimento de se afastar antes que o seu exercício passasse a ter feito por interpostas pessoas.


Um beijinho, Maria Eduardo.

Um Jeito Manso disse...

Olá Antonieta,

Eu acho que imagina que eu sou uma pessoa muito certinha, muito ajuizada, muito compenetrada. Não sou. Sou uma desmiolada. Metade do que leio evapora-se. Outras vezes não se evapora para o espaço mas para a parte de cima da minha cabeça e anda desaparecida durante uns tempos.

Se me perguntam de repente o que ando a ler, quase que me vejo aflita para responder. Parece que, por vezes não fixo o nome dos livros, o nome dos personagens. Depois, se me concentrar, as coisas até aparecem mas, numa primeira impressão, parece que funciono em modo 'economizador de memória'.

Ao ler oq ue escreveu fui à procura e confirmo que devo ter lido, sim. Mas a verdade é que já não me lembrava. Muitas vezes, quando os poemas são muito longos, não os consigo ler de seguida. Acontece-me com o Herberto Helder. A mesma coisa que com os livros da Llansol tal como referi no outro dia. Dá-me ideia que mais do que isso é demais para mim. Por isso, depois não os recordo 'de carreirinha'.

Não sei.

O poema de que também fala, cantado pela Bethania, é outro caso. Adoro ouvir a Bethania ler Pessoa mas, no fim, ela acaba e eu acho que não retive nada. Mais tarde venho a aperceber-me que não é bem assim, que afinal retive (pelo menos em parte).

Ou seja, nunca fui boa a memorizar o que quer que seja, pelo menos de uma forma ordenada.

No Liceu as minhas notas mais fracas eram a História e em tudo o que tivesse que decorar. Não conseguia.


Um beijinho, Antonieta!