sexta-feira, dezembro 28, 2012

Estou com obras em casa, tudo virado do avesso. Quero é saber onde vou arrumar os livros que já andam tresmalhados e ainda não consegui ensaiar uma possível nova disposição dos móveis. Por isso, nem tenho grande cabeça para falar da venda da ANA aos franceses da Vinci. Convido-vos antes a virem sorrir comigo vendo o maravilhoso sorriso de crianças africanas.


Tal como já vos disse, estou com obras em casa. Estava a entrar humidade em algumas paredes que dão para a rua, o que fazia descascar a tinta. Claro que a melhor solução seria a impermeabilização pelo lado de fora mas isso seriam obras dispendiosas a cargo do condomínio o que naturalmente é sujeito a orçamentos, autorizações, demoras. Ou seja, é mais prático e expedito sermos nós a resolver dentro da nossa casa. Chamados os experts, a decisão foi fazer, nesses locais, uma parede falsa com uma caixa de ar e isolamento. Depois, já que se terá que fazer a pintura dessas paredes, aproveita-se para pintar um tecto e, já agora, aproveita-se para fazer alguns pequenos arranjos a nível de electricidade e, já agora, para fazer alguns ajustamentos a nível de canalização e, já agora, para pendurar umas coisas, e, já agora, para substituir uns estores por uns de tipo screen (que deixam ver de dentro para fora mas não permitem ver de fora para dentro) e, já agora, aproveito para mandar pôr umas japonesas noutras janelas e, já agora, para substituir algumas fitas de outros estores, e, já agora, ... Vocês sabem: é o drama do 'já agora'.

Felizmente a empresa que está a tratar de tudo isto é fantástica, de uma enorme versatilidade, e tudo tem corrido lindamente, resolvendo-se tudo muito rapidamente, com valores muito acessíveis, e protegem móveis, tapetes, tudo, para se sujar o mínimo, e, ao fim do dia, antes de se irem embora, varrem e limpam, uma maravilha, um achado. 

Mas, não obstante, a casa está virada do avesso. 

Só para terem uma ideia, mostro-vos como está a sala onde agora estou (estou aqui num canto que é como que um pequeno oásis no meio deste caos). 



Teve que se afastar as estantes e, para afastar as estantes, os livros tiveram que sair
O que vale é que cobriram tudo com um plástico fininho

O outro lado das coisas


Embrulho os livros e os poemas
num enorme véu de noiva
não sei onde guardar
não sei o que fazer
(por onde começar)
talvez por temas
quem sabe, autores...

às vezes constrói-se uma saudade
para depois voltar
e subitamente
descobrir
o outro lado das cores


['O outro lado das coisas' de 'Era uma Vez' num comentário aqui abaixo)




Mas, portanto, agora maior parte dos livros estão assim como os vêem, não lhes consigo deitar a mão. Ou seja, estou aqui em casa, nisto, e por exemplo os livros de poesia estão todos inacessíveis.

(Tenho estado a ler o Resgatados, o livro que relata os dias que precederam o pedido de apoio de Sócrates. Um livro muito bem feito e que transmite uma ideia muito precisa dos bastidores do poder (seja ele o poder do Governo, o do Presidente da República, o da oposição). Um livro bem feito.)


E como já estou com falta de espaço para guardar os livros, acho que lá vamos ter que arranjar mais uma das célebres estantes do Ikea. Só que, para arranjar espaço para a estante, vamos ter que imprimir aqui uma rotação nos sofás e não estou segura de que fique bem. A ver se amanhã já se consegue fazer um ensaio antes de tomarmos uma decisão. 

Uma trabalheira. Vejam bem os três dias de férias que estou a ter (o meu marido, claro, mais esperto que eu, 'tem' que ir trabalhar; isto acaba sempre por sobrar para mim - e ainda há quem ache que eu não sou mansinha...).

Face a este estado de sítio, não estou suficientemente concentrada para me poder debruçar sobre a venda da ANA. Pouco sei sobre esta venda. Sei que, afinal, não foi vendida aos alemães mas, sim, aos franceses. Pouca importa. Os aeroportos portugueses também já na mão de estrangeiros... Uma dor de alma, é o que é. Uma empresa estratégica, rentável, que não sobrecarregava nem um pouco as contas públicas, também já saíu da alçada do estado ou seja, já deixou de ser nossa, de todos nós.

Muito triste isto. Agora que estou a ler a luta que Sócrates travou durante meses, acossado, pressionado, para evitar cair na mão dos sinistros burocratas a mando de outros burocratas - homens de negro que exigem que se sacrifique o interesse nacional a troco de empréstimo a juros um pouco mais baixos do que os que levam outros abutres, mais sinistros ainda - percebo melhor a guerra que ele travou.

Cometeu erros, sem dúvida, mas penso que o mal maior que nos aconteceu foi Portugal ser um país que não se une contra os verdadeiros adversários e que tem uma incompreensível atracção pelo abismo.

Agora, uma vez caídos no abismo, com o País entregue aos funcionários da troika e a gente medíocre, inculta, incompetente (leia-se: governo de Passos Coelho) e sem um presidente da República que nos defenda, estamos, pois, assim, entregues a quem fez da venda do País a retalho a sua missão pessoal.

Mas não pode durar muito tempo isto, que eu não acredito que os portugueses sejam as moscas mortas, os bananas que parecem. Não tarda seremos capazes de todos, unidos, darmos um valente murro na mesa - antes que seja tarde, antes que não sobre pedra sobre pedra.

E, se olho à minha volta, no país, e só vejo parvoíces, péssimas decisões, burrices, e se olho à minha volta, nesta sala, e só vejo confusão, sou forçada a procurar alívio numa coisa totalmente diferente. E nada melhor, meus amigos, que o sorriso das crianças.

Convido-vos, pois, a juntarem-se a mim. Os doces, inocentes, genuínos sorrisos das crianças africanas são uma lição, são um incentivo, são uma mão estendida na nossa direcção. É com eles que temos que aprender, são eles que nos devem levar pela mão. Temos que aprender a ser genuinamente felizes e, depois, temos que lutar para defender essa felicidade conquistada, não podemos aceitar que qualquer chico-esperto, qualquer palerma,  venha destruir a nossa vida, o futuro dos nossos filhos






*


Como vos disse, não consigo chegar aos meus livros de poesia. Por isso, não consigo seguir o meu processo usual de escolher os poemas que coloco no Ginjal e que me inspiram pequenos textos, Por isso, optei por escolher uma Receita de Ano Novo de Carlos Drummond de Andrade, palavras ditas. Bem a propósito para a época que vivemos.

*

E, com isto, já estamos no final da semana. O tempo andar a correr cá a uma velocidade... 
O que vos desejo é que o agarrem, que o vivam da melhor maneira.

8 comentários:

JOAQUIM CASTILHO (QUIM) disse...




Olá UJM!

A minha grande experiência de sofrimento logístico com muitas e variadas obras em casa chama-lhe a atenção para um grande inimigo: o "já agora !!!"
Já agora porque não se faz também isto e já agora aproveitamos para arranjar aquele canto que estava a precisar e já agora porque não mudamos as loiças da casa de banho???

O "já agora" traz-lhe mais custos e mais tempo de caos doméstico embora o "já agora" sirva de auto justificação para muita coisa que há muito tempo se queria fazer e não havia coragem ou disponibilidade para o fazer!

Boa sorte e coragem para o caos!

Um abraço

Isabel disse...

Obras em casa e mudanças de casa...é fugir delas! Mas quando não é possível, há que aguentar e cara alegre, como se costuma dizer!
Mas depois vale sempre a pena.

Então coragem! Há-de passar!

Um beijinho e um Ano Novo feliz, na casa renovada.

MCP disse...

Olá Amiga,
Obras em casa..uma dor de cabeça!! É sempre diferente do que se previu.
Já tive grandes obras em casa, por duas vezes, uma vez transformar dois quartos numa sala e da segunda, modificar totalmente cozinha e casa de banho. Nem me quero lembrar, das duas vezes tive que tirar tudo e ficar fora de casa durante três semanas, de uma vez em casa do filho da outra em casa da filha.
E depois o pó que fica entranhado em tudo...
Quando são só pinturas é diferente.
Desejo-lhe muita paciência para repôr tudo nos sitios.
No final vem a parte boa, tudo bonitinho e ao nosso gosto (outras nem por isso!!)
Adorei a sua receita do Galo Bisonte recheado, deve ser uma delícia, hei-de experimentar num de tamanho mais reduzido.
Os seus meninos uma ternura...o bebé enorme...gostei muito.
Amiga, é sempre tão gentil da sua parte, mostrar-nos os momentos vividos em família.
Quanto à família coelho (não gosto de coelho, muito menos deste) esqueçamo-la por estes dias.No próximo ano, infelizmente, teremos que os aturar...ou talvez não, quem sabe?
Aquele Abraço.
MCP

ERA UMA VEZ disse...

O outro lado das coisas
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Embrulho os livros e os poemas
num enorme véu de noiva
não sei onde guardar
não sei o que fazer
(por onde começar)
talvez por temas
quem sabe, autores...

às vezes constrói-se uma saudade
para depois voltar
e subitamente
descobrir
o outro lado das cores







GL disse...

E já agora há que ter paciência, muita paciência. No fim, com tudo arrumadinho nos respectivos lugares, vai ser uma alegria. Estou a imaginá-la, sentada, orgulhosa a olhar o resultado das obras e a esquecer-se de nós.
Será?!

Li tudo atentamente até à palavrinha "Sócrates".
Aí? Aí parei.
Saltei por cima da ANA, saltei por cima da nossa passividade (que vergonha!) e "aterrei" no sorriso dos meninos.
Que lindos são os seus sorrisos!

Beijinho e...?
Coragem!

Anónimo disse...

Cara UJM:
Obras? As literárias são as minhas preferidas. Em casa, passaria, se fosse possível, sem elas.
Remodelação? Só a do governo, na íntegra, antes que acabe com a liquidação total do país.

Restam as crianças. Seres de uma tão grande formosura que os anjos tiveram neles o seu modelo, tão frágeis, tão indefesos, sempre e constantemente abertos a todas as maravilhas, “o melhor do mundo”.
Já agora…
Com o polvo que sobra da noite de consoada é tradição fazerem-se os filetes.
Corte em troços de mais ou menos 8 / 10cm, abra ao meio as partes mais grossas sem as desligar totalmente.
Passe cada filete por polme temperado com alho picadinho e salsa, e frite até ganharem uma cor dourada, em lume esperto. Servem-se bem quentes, salpicados de sumo de limão e acompanhados por arroz de polvo.
Já agora… couve troncha ou tronchuda é o nome que os transmontanos dão à couve portuguesa.
Força! e tenha dias felizes.
Abraço amigo da
Leanor

Maria Eduardo disse...

Olá, UJM,
Obras?...Tive imensas obras em casa, sei bem o que isso é!...
É preciso ter muita paciência e coragem!
Mas começar um ANO NOVO com casa renovada é partir para uma nova étapa da vida. Depois de tudo arrumado é só olhar a obra acabada e "já agora" que fique tudo a seu gosto e que lhe dê muito prazer.
Gostei muito do vídeo e do sorriso destas crianças maravilhosas.
Desejo-lhe um BOM ANO NOVO com muita saúde, alegria, felicidade e também com muito sucesso pessoal e profissional.
Um beijinho
maria eduardo

Um Jeito Manso disse...

A Todos,

Meus Caros,

Não é que a leitora GL tenha razão quando diz que me esqueço de vós. Claro que não. Mas ontem não consegui responder e hoje também não. É 1 da manhã e só agora estou a pegar no computador. Não consigo.

Li tudo, como é natural, mas é-me impossível responder e com que pena.

Erinha, o seu poema é lindo e já está onde deve estar, onde o máximo de pessoas o possa ver. Muito obrigada.

Um abraço a todos!