Eu podia - e, se calhar, devia - falar das palavras balofas, ocas, de Passos Coelho, o Pedro (ele e a sua senhora, a Laura), no Facebook, com as quais parece ter tentado corrigir a frieza da sua mensagem de Natal na televisão. Mas como não tenho conta no Facebook nem vi a dita mensagem na televisão (porque carga de água iria eu macular o meu Natal?!), apenas vi excertos nas notícias, e, sobretudo, como me estou nas tintas para o referido casal, não vou falar disso. Além disso, tudo o que vem daquele cavalheiro me soa a pechisbeque, a falso, a embuste.
O casal Passos Coelho, feliz e contente, cantando como se não houvesse amanhã (aqui depois do pretenso barítono ter anunciado ao País o aborto do saque aos trabalhadores através do aumento da TSU) |
Vou esforçar-me, nos próximos tempos, para ver se não falo dele por mais porcaria que ele faça. É que acho que nem que a gente diga mal dele, ele merece. Desprezo, é o que acho que ele merece.
Por isso, adiante.
Também podia falar aqui do extraordinário Artur Baptista da Silva que, a ser verdade o que a comunicação social vem aventando, é uma criatura do mais extraordinário que há. Vi-o no Expresso da Meia-Noite e, não tendo eu, na altura, como saber se a o peso da dívida induzida pela UE é ou não 41% ou outros aspectos concretos que ele desfiou, achei que toda a sua conversa era coerente, muito explícita, bem documentada, com uma conversa muito diferente da dos papagaios de serviço. Se for verdade que todo o cv é ficcionado, então pasmo com a convicção dele e interrogo-me sobre se não saberia que alguém o iria desmascarar. Mas não vou falar disto pois imagino que esteja perante uma situação complexa, talvez até um pouco dolorosa. Vejo que a primeira página de um jornal, não sei se o Correio da Manhã, o trata por burlão e refere que ele já matou duas vezes, atropelamentos na passadeira de peões. Se é verdade, é toda uma história muito infeliz, muito estranha, e quem sou eu para fazer julgamentos sumários de situações tão complicadas? E até me angustia a maldade fortuita de alguns sujeitos direitolas que para aí pululam e que se entretêm a gozar com estes alvos fáceis.
De qualquer maneira, o que ele dizia fazia todo o sentido e imagino-o como aqueles falsos médicos que depois de exercerem durante décadas, com o agrado dos doentes, se vem a descobrir que, afinal, não é médico, deixando toda a gente perplexa. Se aquilo é tudo mentira, onde obteve ele todas aquelas informações? Mesmo que não fossem exactamente 41%, os raciocínios tinham lógica, pareciam justos e oportunos. Por isso, se non è vero, è ben trovato.
Assim sendo, passo também à frente.
Então, vou falar-vos de quê...?
Se me permitirem, vou falar de uma coisa muito prática e quiçá, até, de alguma utilidade.
Para as refeições natalícias, o bacalhau é um must e é inequívoco. Este ano fiz bacalhau mas fiz também polvo. Ficou macio, agradável. Era fresco e esteve ao lume umas duas horas, em lume brando e em água sem sal.
Mas já as carnes são sempre objecto de alguma dúvida. O borrego não é consensual, o perú também não, pode ficar seco, sensaborão.
Inclino-me para galo do campo. Dantes a minha mãe fazia-o de cabidela e eu gostava. Agora faz-me um bocado impressão cozinhar sangue e os meus filhos nem pensar.
Por isso, a opção foi galo do campo recheado. O meu filho abastece-se num talho muito bom e encomendou um galo, dos grandes, do campo. Quando o foi buscar ligou-me a dizer que já lá tinha o bicho e que metia respeito. Quando mo trouxe concordei. Um bisonte.
Conforme mandam as regras, foi tirado do frigorífico cerca de meia hora antes de ir para o forno. Em contrapartida, liguei antecipadamente o forno para estar bem quente quando ele entrasse.
Para o recheio, fiz três variantes. Para a zona de cima, do papo, misturei pão saloio com leite, carne de porco picada, coentros picados, um pouco de sal. Misturei e coloquei pela zona do papo.
Depois usei outra porção de carne de porco picada e misturei-lhe alperce seco picado e um pouco de sal. Introduzi na cavidade abdominal.
Para o resto, misturei o resto da carne de porco com farinheira e com um pouco de alperce seco picado. Acabei de rechear. Com a mão, acamei o recheio para que o ar pudesse circular por cima, na cavidade interior (pois, de outra forma, o processo de cozedura duraria mais tempo).
Depois fatiei um bocado de bacon em fatias muito fininhas. Com a mão, a partir de cima, despeguei a pele do bicho e introduzi as fatias entre a carne a pele, nas pernas, no peito, na junção com as asas. Assim, a gordura e o sabor do bacon influenciam ao de leve o sabor do galo, ao de leve mas muito favoravelmente.
A seguir raspei a casca de duas laranjas sobre ele. Juntei uns salpicos de sal, azeite, dentes de alho migados finos, folhas de louro.
Entretanto, como acima referi, já o forno estava a 250º. Coloquei o bisonte sobre a grelha elevada de um tabuleiro de alumínio no qual coloquei um bocado de água no fundo. Esteve para aí uns 5 ou 10 minutos com o forno no máximo. Depois baixei para 180º e cobri-o com papel de alumínio solto (para a pele não queimar e para não ficar seco, e solto para o ar poder circular).
Esteve assim umas duas horas. Aí, tirei o tabuleiro para fora, usei parte do molho (à medida que vai assando vai escorrendo um molho para cima da água que está no tabuleiro) para regar o assado. Tirei também um pouco para um tachinho onde fiz um arroz Bismati. Ao molho que ainda ficou no tabuleiro, juntei batatinhas cortadas aos cubos que salpiquei com sal e orégãos. Voltei a pôr o tabuleiro no forno (com o galo na grelha e as batas por baixo). Ficou a cozinhar ainda mais uma hora e meia. Ao todo, portanto, cerca de 3:30h, quase 4h.
Ficou nada seco, macio, saboroso, mesmo bom (não é imodéstia: foi o veredicto dos comensais). Tirei fotografias mas aparecem as caras dos referidos jurados e isso é que não pode ser. Por isso, imaginem apenas um galo dourado, suculento.... nham nham.
Para além das batatinhas assadas no tabuleiro, fiz também o arroz Basmati que também foi a secar ao forno. E fiz ainda ervilhas cozidas, temperadas apenas no fim, com azeite.
Para a sobremesa tinha salada de fruta e tarde de limão com merengue por cima (esta última comprada numa pastelaria - não gosto de fazer doces, não dá para grandes improvisos e eu geralmente faço tudo sem receita, conforme me vai ocorrendo).
*
E, por hoje, só isto. Tenham, meus caros Leitores, uma quinta feira muito boa.
12 comentários:
Bem haja pela receita do Galo/Bisonte recheado!
Que bom deve ter sido fazer parte desse júri!
Adorava ver o 'bicho' na travessa, será que não dá para fazer um 'corte' na foto?
Aposto que muitos mais ficaram com vontade de o conhecer...
Quanto ao Peter Rabbit, só mesmo o da Beatrix Potter.
O nosso, o nacional (que não é nada bom!) nem vê-lo, se bem que às vezes me divirta a ver todos esses figurões, mas sem som!
Manias...
Cada um diverte-se como pode, não é?
Bj
Antonieta
Mas que petisco! Que bela receita! Tomei a devida nota. Quase que até se pode sentir o cheirinho! Nham, nham! Assim tostadinho, hum!
E que vinho (região) teve a honra de o acompanhar?
Excelente e apetitoso Post!
P.Rufino
Cara Amiga,
Se me permite, sugiro que esqueçamos os dois primeiros bisontes (se bem que o segundo suscite alguma curiosidade!) e dedique-mo-nos ao terceiro.
Não é que fiquei a salivar?! Não sei se irei pagar direitos de autor, mas a receita já consta do meu caderninho.
E a minha arte e engenho darão para tanto? A operação de introduzir o presunto entre a pele do bicho afigura-se-me impossível. Meu Deus, mais facilmente o introduzo entre a minha...
Um grande abraço.
o título jeito manso, manso?? nem quero saber se fosse bravo
Olá Antonieta,
Como pode ver sou muito bem mandada. Lá andei a ver qual a fotografia que daria para recortar e lá fiz o melhor que consegui. Nas fotografias (que desta vez não se importaram que eu tirasse) aparecia o meu filho a fazer uma ginástica para ver se conseguia içar o bisonte da grelha para a travessa. Depois desistiu e resolveu aliviar a carga e trinchá-lo lá em cima, e ir passando a carne já fatiada para travessa. E viam-se os outros a espreitar e a rir. E eu, em vez de estar a ajudar, estava a fazer a reportagem... (já viu a dona de casa que sou...?)
Mas, enfim, recortei de uma das fotografias, o dito galo e já lá está, corado e reluzente, no corpo da mensagem.
Quanto ao Peter Rabbit, burlão por burlão, acho que o Artur Baptista da Silva é mais inofensivo...
Um beijinho!
Olá P. Rufino,
A carne muito macia e saborosa, nada seca, e a pele tostada e crocante... estava mesmo bom.
Tem razão, foi uma falha não ter referido o vinho.
A ver se eu não falho. É que já se acabou e o meu marido está aqui ao meu lado a ver a Quadratura do Círculo... mas a dormir... Era tinto, Meandro, da Quinta de Vale Meão no Douro, mas não sei de que ano ou mais pormenores. Muito bom.
Um abraço, P. Rufino.
Olá GL,
já me ri com o que escreveu. Olhe que não é difícil fazer aquela operação. Neste caso como o galo era quase tamanho de um boi, tinha a pele dura e custava mais a fazer aquela manobra. Mete-se a ponta da faca para começar a despegar e depois vai com a mão, devagar, com jeito, para não romper.
A gordura e o sabor do bacon amaciam a carne e dão-lhe um bom sabor. Por isso, por fora a carne recebe esse sabor e, por dentro, recebe o sabor do recheio. Mas o importante é também o forno não muito quente e a peça estar coberta de papel de alumínio aberto e solto. Os sabores não se evaporam, ficam ali retidos.
Gosto de cozinhar mas, sobretudo, pelo que improviso. Não me dá muito para seguir receitas. Por causa desta minha indisciplina é que não me dá para fazer doces.
Um abraço, GL1
Cara UJM:
Obrigada pelo seu cuidado, e pelo seu regozijo com o meu regresso.
Afora a mentira e a peçonha, de Passos, Gaspar e os demais, que insistem em dar legitimidade ao dito de outros tempos “Em Portugal não há pena de morte, há pena de vida”, felizmente, está tudo bem comigo e todos os que amo.
O meu silêncio deve-se apenas a alguma inércia, (às vezes as palavras teimam em não querer nada comigo), mas confesso que UJM faz parte do meu grupo de amigos onde e com quem se fala de tudo e de nada, com autenticidade, rigor e alegria, e que visito diariamente.
Hoje “saboreei “o seu galo do campo, que a avaliar pela foto devia estar mesmo suculento e muito saboroso, ….. Felizardos comensais, que têm o privilégio de ter uma cozinheira de “mão cheia” como esta. Gostei muito da dica de o “cobrir com papel de alumínio solto (para a pele não queimar e para não ficar seco, e solto para o ar poder circular” e irei pô-la em prática.
A minha ceia de consoada é, todos os anos sempre igual, como manda a tradição transmontana: Bacalhau cozido com couve troncha, polvo (sempre) cozido, ou em filetes, como é mais apreciado pelos mais novos. Ao almoço de Natal: cabrito, do monte, no forno. No dia 26 de dezembro: roupa velha.
Abraço amigo da
Leanor
Caro Anónimo(a),
Acha que fui brava? Mas em quê? Referi-me ao Artur Baptista da Silva com tolerância, referi-me ao galo de uma forma tão atenciosa... Onde é que fui brava...? Não estou a ver...
Só se está a referir-se ao marido da D. Laura... Mas olhe que eu, em relação a essa criatura, nem me pronunciei até porque ele, no facebook, se dirigiu-se aos amigos e eu, foge...!, não sou amiga dele. Ou seja, a mensagem dele não me foi destinada. Por isso, abstive-me de comentar. Não fui mansinha...? Eu acho que sim, que o meu jeito foi tão manso...
Mas tomei boa nota da sua aflição e, de futuro, vou ver se me refiro ao marido da D. Laura de uma forma mais meiguinha (mas não muito, não vá a D. Laurinha aborrecer-se comigo).
Saudações com um jeito manso!
Propus-me não ouvir tal mensagem, mas ainda apanhei com salpicos nos telejornais. Mas aquela de "a Laura e eu desejamos blá blá" é demais...
Falemos antes do seu galo. Na foto está lindo e pela receita um requinte apetitoso.
Há muitos anos que o almoço de Natal é em casa de minha irmã, com netos, filhos e sobrinhos. O peru fica num banho aromatizado de laranja umas 24 horas e depois recheado de puré de castanhas, pinhões, azeitonas, e dos miudos picados, fica muito macio e saboroso.É uma receita que já se fazia em casa de minha mãe e receio pelo dia em que se deixe de fazer.
Cá em casa cozo o polvo, congelado, sem agua, nem sal só com uma cebola, em lume muito brando durante uma hora, se for grande, levo-o depois ao forno com azeite e alho, fica optimo.
Nunca fiz do Natal uma época de excessos, mas de há uns dois anos para cá, noto que os doces vêm diminuindo por não se comerem. As filhós e cuscorões, há muito que os compro num cafezinho, mas faço sempre fatias douradas e um doce de colher. Nós já não somos tão gulosos e os jovens não comem fritos.
Mantenho, contudo, a mesa posta até dia de Reis com o resto do bolo rei, as nozes, as fatias,figos, passas e os bombons recebidos na noite.
O meu Natal é assim, simples, feito destes sabores e dos cheiros da rama de pinheiro, açucar e canela.
Houve um embrulhinho para cada um, nada de cacareus. Prendas uteis, livros, CD,s, roupa, especialmente para quem cresce todos os dias. Talvez com um pouco de esquecimento pelos brinquedos o que leva a que a pequenita todas as noites "reze" ao pé da arvore e do presépio dizendo que o mais importante foi estarmos todos juntos, que gosta muito das roupas, mas que na carta pedia um computador e a casinha das PIN e PON e ainda falta tantos dias para os Reis Magos chegarem.
Os pais acharam que gastar dinheiro num computador do Panda era desperdicio e resolveram mandar arranjar um portatil para carregarem com programas para ela, só que não ficou pronto a tempo.
Tenho-lhe dito para acreditar e ter fé em Baltazar e Belchior.
Com toda a ternura e inocencia que só uma criança pode ter diz-me: e o outro Vóvó? falta o Gaspar.
Finjo que me esqueci e acabamos abraçadas.
Mais uma vez me alonguei. Um beijinho e continuação de BOAS FESTAS.
Olá Leanor,
Já tinha saudades de cavaquear consigo. Ainda bem que está tudo bem consigo e com os seus. Desde aquele susto com o seu rapaz, aquilo de lhe terem feito mal por causa do telemóvel, fiquei a pensar na preocupação que é estar-se longe e não poder estar por perto quando acontecem coisas assim, em que os filhos precisariam de uma mãe ou um pai por perto.
Chama troncha à couve portuguesa, é? Eu cozo umas couves grandes, altas. se calhar são essas. Tenho que usar um tacho grandalhão para caberem.
Também cozi polvo mas acabou por ser polvo a mais. Sobrou e foi a nossa refeição de hoje.
Cozi uma batata doce, uma cenoura, umas batatinhas b«normais, um bocado de brócolos. Depois num tabuleiro coloquei alho picado, louro e coloquei por cima o polvo cozido e os legumes. Reguei com azeite e levei ao forno. Ficou bom, é uma versão de roupa velha...
E ainda tenho um caldo com os miúdos do 'bisonte' com o qual ainda irei fazer uma bela canja.
Enfim, culinária e obras, eis os assuntos que agora me mobilizam...
Amanhã devo ter cá outra vez a turminha toda e então é que a confusão cá em casa deve ficar completa.
Quando for trabalhar vou de gatas. Vem, enfim, uma gata feliz da vida.
Um abraço, Leanor!
Olá Pôr do Sol,
Acabei de descrever como hoje aproveitei o polvo que sobrou e deve ser parecido com o que descreve. Bem bom.
Eu este ano tive muito poucos doces cá em casa porque cada vez eu e o meu marido comemos menos doces e porque na tarde de Natal a minha mãe teria uma mesa cheia deles. E no fim ela quer distribuir o que sobra mas eu nem trouxe nada. Sou muito gulosa e se tenho doces por perto, perco-me e lá se vai a minha 'linha'...
Quanto a brinquedos também resolvemos não encharcar as crianças com coisas a mais. Mas como recebem dos pais, dos avós, dos tios, dos bisavós, etc, acaba por se juntar sempre tralha a mais. E, no fim, quase dão mais valor a uma vassoura e uma pá do que a coisas muito sofisticadas.
É bom os miúdos habituarem-se, desde pequenos, a brincar com computadores pois isso dá-lhes uma destreza informática que é muito boa para o seu desenvolvimento.
Os meus já lidam com os computadores com a maior das naturalidades. Parece que nasceram ensinados. Lá andam com os deditos a escolher as opções, uma graça.
Por isso, percebo bem a vontade da sua princesinha em querer o computador e foi uma excelente ideia irem colocar à disposição dela o portátil com os jogos para ela.
A minha bonequinha também recebeu uma coisa dos Pin e Pon, uma cozinha. É uma ternura vê-las a brincarem com aquelas coisinhas, não é?
Bom, fico-me por aqui, vou-me deitar que já passa das 2 e daqui a nada estão aí os homens das obras.
Um beijinho Sol Nascente!
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