sábado, agosto 25, 2012

Entardecer na Praia dos Pescadores ou o prazer do que é genuíno (o mar, as gaivotas, o peixe, os pescadores, o pôr do sol, o amor)


O mar, por favor - o vento e as ondas
(o som, as imagens)

Debussy, La Mer, 3º mov.
Chicago Symphony Orchestra conduzida por Sir Georg Solti

*

O meu filho tinha-me dito que, se eu fosse ao fim do dia à Praia dos Pescadores na Costa de Caparica, poderia ver o movimento dos pescadores e a venda do peixe. Com a vontade com que ando de respirar o ar do mar, foi música para os meus ouvidos.

Assim, já era quase 8 da noite quando me vi no passeio à beira da praia. Um ar fresco, húmido, agradável, muitas gaivotas. Esta é sempre a melhor hora para se estar junto ao mar. Há uma quietude que me agrada, o tempo suspende-se até que o sol mergulhe nas águas. 

Ia na disposição de mergulhar também eu, gosto tanto da água salgada e fresca, mas perdi-me com as fotografias e, no fim, já era praticamente de noite, já estava frio. Fui arrastada, quase enfiada à força no carro. Fica para outro dia.

Quando lá cheguei, ia sequiosa. O meu primeiro olhar foi, claro, para o mar. Forte, um mar imenso, azul, denso. 

E uma imagem de pura magia: uma figura caminhava sobre as águas.



.                                                                                                                                                                                                                  .


Olhando melhor, vi que era uma mulher. Uma mulher no meio do azul, rodeada por gaivotas. Uma imagem muito bela. O que se sente quando se caminha assim, sobre as águas, cercada de belas aves que gritam, felizes e livres? Solidão? Superação? Êxtase?

Mais ao fundo, reparei depois, havia pequenos pontos brancos, muitos pontos brancos pousados nas águas. Eram gaivotas. O oceano transformado num belo lago de gaivotas. Depois levantavam voo e dançavam junto à mulher, depois pousavam e logo vinham outras. 

O que é isto? Um sonho? A felicidade mais límpida e abstracta?

A seguir, dirigi-me para a Praia dos Pescadores. Um ajuntamento colorido no areal. Barcos, pescadores, veraneantes, e peixe, muito peixe. 



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Pescadores de várias idades. Reparo agora que este pescador da fotografia, aqui, pelo físico e pela posição, parecia estar a posar (*). Mas não, tinha estado a arrumar o peixe, levantando-se para aliviar as costas e para avaliar talvez quantas mais caixas o peixe ocuparia. Dividiam o peixe pelas caixas, organizavam por espécies, e vendiam e tudo aquilo formava uma mancha muito colorida, muito vibrante. 

O cheiro do peixe fresco é muito bom. 

Quando eu era pequena, o meu avô gostava de pescar. Ia de bicicleta, com a cana a tiracolo, com uma grande cesta de verga. E regressava carregado de peixe. O meu pai, durante um período, também pescou. Eu gostava de ir com ele, especialmente quando ele ia à noite para os cais mal iluminados por umas luzes amarelas, umas luzes que eram apenas uma presença íntima naquele ambiente silencioso e mágico dos cais à noite. Mas o meu pai odiava que eu fosse, só lá havia homens, não era sítio para uma menina. Era sempre uma batalha para conseguir que ele me levasse. Eu gostava de andar por ali, gostava do cheiro, do barulho das ondas nos pilares do cais, gostava daquela luz que mais escondia do que mostrava, e gostava de sentir o peixe a 'picar', e ficava contente quando via o orgulho do meu pai quando pescava um peixe grande.

E, quando não ia, gostava, quando eles chegavam, de ver o que tinham pescado e gostava de amanhar o peixe. Como a minha avó e a minha mãe até ficavam arreliadas quando eles vinham carregados porque ficavam fartas de tanto peixe para amanhar, até agradeciam este meu estranho gosto. Gostava de escamar e sobretudo de os limpar, meter a mão pelas guelras e puxar as entranhas ensanguentadas ou de os abrir e aproveitar o fígado, se tivesse tamanho que o justificasse, ou as ovas se as houvesse e que eu sempre adorei. E ainda gosto de o fazer. Ontem comprei uma marmota e trouxe-a inteira. Em casa amanhei-a, cortei-a. Depois cozi duas postas com batatas e feijão verde fresco (e congelei a posta que sobrou). Temperei com azeite e sumo de limão. Comi a posta da cabeça que é a que prefiro, gosto de tudo o que tenha espinhas. Deixo o prato limpo como se fosse uma gata.

O cheiro do peixe fresco sempre foi, portanto, um cheiro de que gostei muito. É um cheiro que transporta o cheiro da vida no mar.



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Portanto, por ali andei, turista acidental, fotografando, cheirando, apreciando. As cavalas reluzentes, estas lulas grandes, viscosas, com uns grandes olhos, com reflexos do pôr do sol. Barcos, pescadores, pescado, mar, redes. A vida plena de cores e com forte cheiro a maresia, que coisa mais boa.

Depois, os barcos voltaram a preparar-se para se fazer ao mar. E, aí, novas atraentes imagens.



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Os tractores aqui não lavram a terra, lavram as águas. Entram pela água e arrastam os barcos até entrarem na água. 

Depois os pescadores juntam-se e, sempre em trabalho de equipa, ajudam o barco a fazer-se ao mar.



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Nessa altura alguns pescadores seguem, outros ficam em terra. Penso que uns vão deitar as redes ao largo e, depois, regressarão. Pela madrugada, irão todos recolhê-las e regressarão pela manhã ou pela tarde. Julgo que é isso.



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O jovem pescador de há pouco, com o seu corpo tisnado, forte, tatuado, foi um dos que, depois de ajudar o barco a entrar na água, ficou em terra, voltando para a separação do peixe. Mas, enquanto andava, olhava o mar, olhava, não sei se distraído, se sonhador. Talvez, em vez de estar ali na areia a separar peixe, a atender clientes e turistas, preferisse estar também a caminhar sobre as ondas, rodeado de gaivotas. Talvez pudessem andar os dois, a mulher e ele, os dois, livres, fortes e vencedores, andando sobre as águas, abençoados pelo voo generoso, quase nupcial, das gaivotas.

Talvez.

O entardecer avançava. Esta é a melhor hora. As gaivotas ficam donas da praia, o vento fica parado no ar.

E as gaivotas dançavam, voavam, namoravam. Namoravam. Em terra, no areal húmido, lavado, neste anoitecer fresco, tranquilo, as gaivotas andavam felizes como eu, namorando (porque namorar é das melhores coisas desta vida: andar em liberdade, namorar).



.                                                                                                                                                                                                                   . 


E não eram só as gaivotas. Um casal resistia ao entardecer, ao cair da noitinha, e amava-se, feliz, na maior intimidade como se a praia fosse o seu quarto. E pode o amor ser melhor do que quando os beijos sabem a maresia e quando a música é a do mar e quando os seres vivos mais próximos são as discretas gaivotas? 

Onde ficam os problemas do mundo, a mediocridade que teima em invadir as nossas praças, onde fica a prepotência das pequenas mentes que nos governam? 

Em lado nenhum. Desaparecem. Tudo desaparece em momentos assim, de plena fruição e felicidade.



.                                                                                                                                                                                                                   .


Fotografei-os tendo o cuidado de que não se visse os seus rostos, e com vontade de voltar para lhes oferecer a fotografia, e de lhes desejar toda a felicidade do mundo, e para lhes dizer que, para sempre, deveriam ser capazes de preservar a vontade de se amar nas areias, junto ao mar, quando o sol se põe. 


O sol estava quase a entrar no mar. É um momento que merece ser vivido em recolhimento e devoção.

Olhei a linha de água, do lado de Lisboa, Cascais, Sintra. Havia nuvens mas as nuvens estavam em fogo.



.                                                                                                                                                                                                                   .


Um cargueiro passava ao fundo, ao largo do Bugio, ia entrar a barra, mais logo vê-lo-ia da janela da minha casa. Estes belos cargueiros, imensos, lentos, avançam com uma grande dignidade. Cruzam os mares e, depois, suavemente, amansam e deslizam no rio, aproximam-se, com um vagar respeitoso, da bela e luminosa cidade.

Fiquei ali, feliz, mas tão feliz, desligada do resto do mundo, suspensa também eu, até que o sol mergulhou num mar quase dourado, até que desapareceu. Mas só por umas horas, felizmente.


Quando eu morrer voltarei para buscar
os instantes que não vivi junto do mar

Com certeza!

*

Estes versos em itálico são da autoria de Sophia de Mello Breyner Andresen.

(*) Ao contrário do que costumo fazer, no caso da fotografia do pescador, aqui mostro o seu rosto. Contudo, vi tanta gente a fotografar que, de certeza absoluta, a esta hora já ele aparece nas fotografias de muita gente. E reparei que os pescadores convivem bem com o facto de ser fotografados. Além disso, acho que a fotografia não desmerece o jovem pescador. Contudo se o próprio vier a ter conhecimento e me pedir que a retire, fá-lo-ei de imediato.

*
E, por hoje, é isto, meus Caros Leitores. 
E desejo que o vosso fim de semana seja glorioso e que, se puderem, procurem o mar e o amor.

18 comentários:

Maria disse...

Amiga:
Se soubesse as recordações que acordou em mim! A minha infância e adolescência, voltaram para mim.
A praia, a saída e entrada dos barcos, a lota na praia, os peixes a saltar, ainda fortes, como se quisessem voltar ao mar, os músculos dos pescadores, retesados pelo peso dos caixotes, as vozes roucas do sal do mar alto, o sol a afundar-se no mar, os casebres dos pescadores, feitos de madeira, o fumo que saía das casas, meninos de cabelo áspero do ar salgado... lá longe, no mar do Furadouro, a minha praia dourada. Em dias de mar alto, a dificuldade dos barcos a entrar na areia... Como era belo e triste.
Nos dias de temporal, o choro das mulheres vestidas de negro,quase uivo de fera ferida.
Ao contrário de si, arrepia-me arranjar peixe. A minha irmã gosta.
E lembro os velhos pescadores feitos de couro, caras enrugadas, barbas de muitos dias, andar cansado, balançado, como se ainda estivessem no barco, tentando encontrar equilíbrio. Sabia-lhes os nomes, as alcunhas. Repetia as queixas delas. Onde estão? onde está a menina que fui?
Gostei das fotos, sobretudo do pescador.
Lindo texto.
Abraço
Mary

Bartolomeu disse...

Colocas-nos de novo perante belíssimas imagens, tanto fotográficas como literárias e ainda, sensitivas como é hábito.
Realmente, a figura do rapaz, suscita também ela poesi, sonho, a lembrar o amigo de Caetano Veloso, que lhe inspirou o sensacional poema; Menino do Rio:

Menino do rio, calor que provoca arrepio
Dragão tatuado no braço, calção corpo aberto no espaço
Coração de eterno flerte, adoro ver-te
Menino vadio, tensão flutuante do Rio
Eu canto pra Deus proteger-te
O Hawaí seja aqui, tudo o que sonhares
Todos os lugares, as ondas dos mares
Pois quando eu te vejo eu desejo o teu desejo
Menino do rio, calor que provoca arrepio
Toma esta canção como um beijo

Para ser adapatdo ao "teu" pescador, bastaria colocar mar no lugar do rio, trocar o dragão por um arabesco árabe ou celta (não se percebe bem) e, calça de oleado por calção.
Et voilá!!!
;))))


Maria Eduardo disse...

Adorei esta sua ida à Praia dos Pescadores e a riqueza de pormenores foi de tal maneira envolvente, que não dei por chegar ao fim, tive a sensação de que estava a contemplar, ao vivo, esse mar, essas gaivotas e esse pôr do sol.
Gostei muito.
maria eduardo

margarida disse...

Que lindo, que lindo, que tremendamente bela, esta poesia toda...; que fotos formidáveis, que evocações superlativas, que beleza às mãos cheias!
Não tem início ou fim, é uma girândola de maravilhas e uma pessoa fica deliciosamente tonta com a luz, com o aroma, com a cor, com o sonho absoluto que perpassa nisto tudo, como se a vida toda pudesse ficar retida neste instante inspirado. Iluminado.
Que bom que exista essa criatividade galvanizante!
Que privilégio, partilhar deste universo...
Obrigada, querida UJM...
:)

Um Jeito Manso disse...

Olá Mary,

Que belas palavras as suas, que gosto em lê-las. Será por falar do mar, por evocar recordações, será porque fluiram como a corrente? Que bom ler palavras assim e logo vindas de si, Mary!

No Furadouro o mar deve ser mais bravo e frio que este por estas bandas mas os riscos estão sempre lá, que o mar tem tanto de belo como de traiçoeiro.

A pesca da minha infância e juventude (tirando as actividades amadoras do meu avô e do meu pai) não era pesca de praia mas pesca de traineiras. E as traineiras iam descarregar à doca e os caixotes iam para a doca e para o mercado e, o que sobrava, era vendido na rua ao pé da doca em pequenas porções a que chamavam 'teca'. E os homens usavam grandes chapéus acho que de borracha sobre os quais punham os caixotes ou os alguidares com o peixe.

Eu sempre gostei muito de ir ao mercado com os meus pais para comprar o peixe. O meu pai era muito esquisito, sabia distinguir perfeitamente o peixe absolutamente fresco e as peixeiras escolhiam bem o peixe pois já sabiam que ele não deixava passar nada. Para a caldeirada nunca levavam já peixe cortado pois ele suspeitava sempre que, no meio, pudesse ir algum bocado menos fresco. Comprava peixes de cada qualidade e, por isso, eram sempre grandes tachadas de caldeirada. No fim, com o caldo, a minha mãe fazia uma massinha. Tão bom.

E quando me casei ia também sempre comprar peixe ao mercado mas a outro, porque morava noutra cidade. Gostava sempre de comprar a uma vendedora que tinha sempre peixe fresco da costa, pescado na noite pelos irmãos. E os irmãos e os sobrinhos estavam às vezes a ajudá-la. Vi-a no outro dia na televisão, muito chorosa, porque o sobrinho morreu na pesca da ameijoa no Tejo, na zona de Alcochete e esteve desaparecido durante uns dias. Tive tanta pena, devia ser um dos rapazes que às vezes lá estava a ajudar a tia.

Gosto de gente que lida com os produtos da natureza.

Por último quero responder à sua pergunta ('onde está a menina que fui?'): está aí, Mary. Nas suas recordações, nas suas palavras, nos tangos de que se recorda.

Um abraço, Mary!

E tenha um belo domingo!

Um Jeito Manso disse...

Olá Bartolomeu,

Gostei tanto de cantarolar a letra do menino do rio, pensando que, de facto, se aplicaria perfeitamente ao menino da praia, ao jovem pescador que tem o sol gravado na pele e uma qualquer secreta mensagem gravada a tinta no corpo. É bem verdade que se lhe aplica lindamente.

Gostei tanto de andar a fotografar o mar, o entardecer, estava um fresquinho tão bom, o ar húmido, aquela maresia que nos invade o corpo. Adoro andar a fotografar assim, com largueza, ao cair da noite quando as pessoas já quase todas debandaram e fico quase só com as gaivotas por companhia.

Mas o meu filho hoje chamou-me a atenção para que é pena não ter fotografado pescadores mais velhos e que deveria ter referido o nome daquele tipo de pesca. Por isso, a ver se hoje vou reparar essas duas omissões.

Obrigada pelas palavras, Bartolomeu, são um belo incentivo.

Um bom domingo!

Um Jeito Manso disse...

Olá Maria Eduardo,

Em primeiro lugar quero dizer-lhe que as suas bonecas são lindas. Faz recuperação de bonecas, não é?

E quero agradecer as suas palavras. Ainda bem que gostou (porque eu também gostei de mostrar aquele belo entardecer no mar, e os pescadores, e o peixe e as gaivotas e tudo aquilo - temos tantos sítios bonitos onde ir... e, por enquanto, ainda sem termos que pagar taxas ou impostos...).

Tenha um belo domingo Maria Eduardo!

Um Jeito Manso disse...

Olá Margarida,

Fico ainda mais contente com as suas palavras por partirem de uma das mais afamadas e inspiradas bloggers da nossa praça! Muito obrigada, mesmo. Fico encantada com a sua leitura pois corresponde ao que senti ontem ao fim do dia, ali de máquina, à beira mar, a ver coisas lindas por todo o lado, para onde olhasse via motivos de beleza.

(Só é pena não ter visto nenhum cavalo marinho... Dantes via-os na areia, são pequeninos e lindos, uma perfeição. Percebo o seu gosto.)

Quando os meus filhos me pedem o cartão da máquina para copiar algumas fotografias ficam 'passados' comigo, com a quantidade de fotografias que tiro. Eu acho que devo ser eu que sou do tipo simplório, que se maravilha com pouca coisa. Mas é o que é e por isso fico tão contente quando sinto que um bocado do meu entusiasmo passa para quem me lê ou vê as minhas fotografias.

Obrigada e um beijinho, Margarida! Um belo domingo para si!

margarida disse...

'simplório' é quem não percebe a extraordinária maravilha de tudo o que nos rodeia...
qual 'simplório'! LOL!
tem uma capacidade de captar o belo que não é de 'amador'.
É uma alma viva absolutamente 'profissional'.
Aplauso merecidíssimo!

( a biologia dos cavalos marinhos é belíssima.., são os machos que carregam os ovos durante a gestação...; são uns animaizinhos encantatórios, milagrosos...)

Isabel disse...

Lindíssimas fotos e texto interessante.
Não sei se é da fotógrafa, se do jovem pescador, mas as duas fotos onde ele está poderiam estar numa qualquer reportagem de moda. Tem, nestas fotos, porte de modelo.

Um beijinho e bom domingo

Um Jeito Manso disse...

Olá Isabel,

O pescador tinha de facto um porte de modelo. O rosto, o corpo, a forma como se movimentava, e as cores de fim de tarde na praia, dariam certamente para uma bela sessão fotográfica.

Mas hoje já complementei a 'reportagem', por sugestão do meu filho, com pescadores com mais vivência nos corpos.

Adoro andar à tarde na praia, é a melhor hora e as fotografias ficam sempre com uma cor que me agrada muito.

Um beijinho e um bom domingo, Isabel!

Um Jeito Manso disse...

Margarida,

As coisas que a menina sabe...! Vou ver se descubro mais alguma informação sobre os cavalos marinhos, que deve ter graça. Acabei de escrever sobre caravelas portuguesas que são uns bichos também de rara beleza e que são unisexuais, coisa também muito curiosa.

Quanto ao resto, vou fazendo aquilo de que gosto e, fazendo-o com gosto, talvez fique com piada. Cada um é para o que nasce, né...?

Agora arte a sério para descobrir preciosidades não há como a Margarida. Vou seguindo as suas múltiplas frentes e fico sempre de queixo caído com as suas fantásticas descobertas.

Se trabalhasse no futebol seria 'olheira', aqueles que descobrem os méritos um pouco por todo o mundo. Quando se reformar pense nisso, em aplicar os seus dons a este campo de acção, acho que ganham rios de dinheiro...

Um beijinho, Margarida!

PS: Já vi que também está brava com esta da RTP. Eu ando a ver se largo este meu estado zen para também ter disposição de me 'atirar a eles'.

jrd disse...


Olá Um Jeito Manso,

Moro junto à agua, ou melhor; quando me viro para a esquerda (tendências…) espreito o rio, se olho para a direita, avisto o oceano.
Em ambos os casos lembro-me do tempo em que namorava e corria para a água para acalmar a fogosidade juvenil de uma paixão que ainda hoje perdura.
O rio e o mar. Ambos me fascinam e, também por isso, adorei ler o seu poético pôr do sol: "Olhei a linha de água, do lado de Lisboa, Cascais, Sintra. Havia nuvens mas as nuvens estavam em fogo”
Que belo fim de tarde.

Abraço

Maria Eduardo disse...

Muito obrigada por ter visitado o meu blogue e de ter gostado das minhas bonecas. São algumas da minha colecção. São bonecas de colecção (numeradas), Portuguesas, em biscuit, o rosto é pintado à mão e vestidas pela famosa "Alda". Infelizmente fechou há muito tempo, mas chegou a exportar para a Europa, América e Japão.
E respondendo à pergunta que me fez (se recupero bonecas) pois respondo-lhe com todo o prazer: Quando me reformei resolvi dar asas à imaginação e dediquei-me à pintura, arte sacra e recuperação de Registos de Santos antigos, mais tarde surgiram as bonecas. Adquiro novas e recupero outras para coleccionar/ou doar a instituíções de crianças desfavorecidas.
É uma terapia, um prazer e o tempo flui rapidamente e não doe nada...
Vou continuar a acompanhar o seu Blogue.

Um Jeito Manso disse...

Olá jrd,

acho que nada lava mais o olhar e, portanto, a alma do que a proximidade da água.

Também gosto de campo e semanalmente vou até ao meu bocado de chão, onde as pedras são soberanas e de onde avisto a grande serra; mas, logo, tenho que vir e chegar-me à janela ou ir à procura da beira de água.

Eu aqui na minha casa não sei bem dizer o que está à esquerda ou à direita mas desde a infância que vivo quase com os pés dentro de água. Mas se tenho o rio na janela, já o oceano está mais longe. No entanto, de carro, uns escassos minutos.

E por muito que veja o rio, o oceano, o nascer do sol, o pôr do sol, o céu com nuvens que tinge o rio de verde, a neblina que envolve as águas, pois não me canso. Continuo a vibrar como se visse pela primeira vez. E fotografo, fotografo.

Obrigada pelas suas palavras e agora reparo que na posição em que me encontro também tenho o rio à esquerda e vai ver é pelas mesmas razões... tendências.

Um abraço, jrd!

Um Jeito Manso disse...

Maria Eduardo,

Que belas actividades as suas e que belos 'objectos' lhe saem das mãos. Eu também gosto imenso de trabalhos manuais mas acho que não sou tão perfeita, tão perfeccionista. Sou mais dada a fazer tapetes de arraiolos (modelos originais do sec. XVII) e aí há que respeitar os desenhos ou pintar ou coisas do género mas ultimamente nos tapetes deu-me para fazer tapetes com desenhos abstractos que iam surgindo enquanto bordava.

Agora por causa do blogue não tenho muito tempo livre, dado que ainda trabalho.

Tomara que quando me reformar também tenha actividades aliciantes. Gosto de pensar que, nessa altura, me irei dedicar à escrita mas não faço ideia. E, com estas políticas, daqui por quantos anos é que me poderei reformar? Um colega meu diz que havemos de ter mais de 80, andar de garrafa de oxigénio às costas e ainda termos que nos andar a arrastar para o trabalho...

Parabéns pela sua actividade e bons trabalhos. E uma boa segunda feira!

Pôr do Sol disse...

Olá Querida Jeitinho,

Adorei o seu texto e as fotografias.

É das imagens mais bonitas num final de tarde numa praia.

No Sul não se usa, ou usava, os tractores para puxarem os barcos. Era com a força da campanha e do pessoal que ía para a praia esperar as lanchas. A braço, sobre pranchas que se iam mudando para a frente e ao som de um coro tipo Ála- Ála- Arriba e avançava.
Eram postais ilustrados que corriam Mundo.

Tenho o mar na alma.Sou filha, neta, sobrinha de pescadores.
Pescadores de longo curso, dos que já extinguiram, daqueles que com sacrificio passavam meses em alto mar, que muito contribuiam para a economia de Portugal, até que governantes de vistas curtas resolveram ceder quotas de pesca, abater frotas e passar a importar quase todo o peixe que se consome.

E depois o povo é tem a culpa de se ter chegado a este descalabro.

Desculpe, já disse estar em estado Zen e não querer falar destas coisas, mas saiu-me.
Um beijinho e uma boa semana

Um Jeito Manso disse...

Olá Querida Pôr do Sol,

Muito obrigada pelas suas palavras e recordações.

Na cidade em que cresci, havia uma grande tradição pesqueira e conserveira. Os maridos pescavam, as mulheres trabalhavam nas conservas de peixe.

Quando havia peixe tocava uma sirene e elas largavam tudo e iam a correr para as fábricas. Quando eu regressava do liceu, de autocarro, havia um troço que era comum com o de um bairro onde viviam muitas dessas mulheres. Cheiravam imenso a peixe. Tinham aventais e, por vezes, ainda vinham reluzentes de escamas. Mas, aos poucos, as fábricas foram fechando.

É uma grande pena que com tanto mar e tanta riqueza se tenha abandonado tudo.

Só pode ser miopia ou estupidez dos governantes que nos têm calhado, como se a nós, por pouca sorte, saísse sempre a fava. Ora bolas.

Um beijinho, Sol Nascente, e obrigada uma vez mais!