terça-feira, junho 12, 2012

Big Data na Cloud: desafios, riscos, interrogações. Sejamos prosaicos: por onde andam os seus mails, os seus posts, as suas fotografias, os seus segredos? Sabe?


Música, por favor - mas é melhor baixar o som...
(pretendo transmitir a sensação de algum incómodo... mas convém não exagerar)

In motion - Banda sonora do filme The social network






Uma das mais recentes questões a nível tecnológica prende-se com aquilo a que se chama big data.

Por Big Data podem entender-se os conjuntos de informação de tal dimensão e complexidade que se tornam difíceis de capturar, armazenar, pesquisar e analisar segundo metodologias tradicionais.

Para os mais novos será difícil recordar os tempos (relativamente recentes) em que não havia internet, depois, mais tarde, quando não era de uso generalizado, depois quando era basicamente para consulta mas não estava disponível para que o comum dos mortais lá pudesse colocar conteúdos.




Recentemente, com o advento da chamada Web2.0, a internet à disposição de toda a gente, a informação disponível começou a crescer exponencialmente. Só o Facebook, para além dos biliões de mensagens, mantém permanentemente milhares de milhões de fotografias. E o Twitter, permanentemente, a cada instante, a ser alimentado por milhares e milhares de mensagens. E há o Gmail e o Hotmail, e o mail da ZON e o da SAP e o da Clix e o inúmeras outras contas, e há, claro, o Youtube com uma fantástica profusão de vídeos a serem carregados a toda a hora e há os Blogues, milhões por todo o mundo, acessíveis a partir de todo o mundo, e há a Wikipedia em dezenas de línguas a crescer todos os dias, e há os dados relativos a informação médica de quase todos os cidadãos do mundo dito civilizado, todos os dias a ser acrescida, e a informação fiscal de todos os cidadãos, e há a informação relativa a operadores de comunicações com chamadas, mensagens de todos para todos, e há informação meteorológica com registos históricos de pormenor de toda a parte do mundo, e há informação científica e há …. (e nem vale a pena continuar porque a lista de aplicações a nível mundial é infindável).




Toda esta informação tem que estar armazenada por ‘aí’. De facto está armazenada em potentíssimos centros de cálculo espalhados por todo o mundo. Para acompanhar este crescimento exponencial, os processadores e os equipamentos de armazenamento e tratamento de informação não param de aumentar em número, capacidade e velocidade de processamento.

Mas a complexidade não advém só do facto de ser muita informação, de ser de crescimento incondicionado e imparável: a complexidade advém também da necessidade de garantir que toda essa imensa massa de informação é guardada e mantida nos últimos formatos disponíveis no mercado, sendo minimamente compatível com formatos anteriores - o que obriga a uma ‘ginástica’ inacreditável por parte de quem opera estes gigantescos sistemas. O que quero dizer com isto é que as ferramentas para manusear esta informação vão sendo alteradas ao longo do tempo. Por exemplo, se este tipo de informação, até há pouco tempo, apenas era acedido a partir de computadores, agora é-o também a partir de telemóveis. Ou seja, se a informação estava ‘formatada’ para poder ser apresentada em écrans de uma dimensão razoável, agora tem que estar formatada para em primeiro lugar ‘perceber’ qual o dispositivo que a vai mostrar e, se for num telemóvel, tem que usar programação que apresentará a informação com um tipo de letra mais pequeno, com uma outra disposição por forma a caber num écran que é mínimo, quando comparado com os écrans de computador, e ainda assim ser legível. Além disso, os sistemas operativos dos computadores pessoais, dos smartphones, etc, vão mudando e as pessoas o que esperam é que, apesar de mudarem de sistemas operativos ou motores de busca, a informação que vêem lhes continue a aparecer em condições e não toda desformatada e com caracteres estranhos.

Para que isso aconteça, essas grandes empresas (Facebook, Google, Microsoft, Amazon, e muitas e muitas outras que lidam com esta questão do Big Data) contratam milhares de cientistas e técnicos altamente especializados que tentam encontrar meios para que tudo isto seja possível.




Se eu ou você, caro Leitor, fizermos uma pesquisa na internet, no Google, por exemplo, e conseguirmos aceder quase instantaneamente a informação que saíu do computador de casa de uma qualquer pessoa no fim do mundo, imagine a tecnologia brutal que existe pelo meio, entre o seu computador e o computador da pessoa do fim do mundo que colocou na internet a informação que você está a ler. Imagine por quantos potentíssimos computadores, desde os dos operadores de comunicações, aos fornecedores de serviços de armazenamento da informação (Blogger da Google ou Wordpress ou SAPO ou Facebook ou LinkedIn ou o que for), imagine os complexos algoritmos de pesquisa que permitem que os dados, percorrendo uma rede infinita de computadores, de país em país, encontrem o documento ou o site que contém a palavra que você colocou no motor de busca ou na barra de endereços do seu computador ou do seu telemóvel. Imagine a complexidade imensa que permite que a informação, percorrendo quilómetros, cruzando-se em cabos ou em redes aéreas ou simplesmente no espaço, não se corrompa ou não se misture com outra.






No entanto, a complexidade não se fica por aí.

Os computadores avariam. Toda a informação a que acedemos por qualquer das vias referidas reside em computadores e equipamentos de armazenagem que estão nesses centros de cálculo espalhados pelo mundo. Para garantir que a informação não se perde em caso de avarias ou desastres de qualquer espécie, existem redundâncias. Regularmente todas estas empresas efectuam cópias de segurança (os chamados backups) que enviam para outros locais. Gerir estas cópias de segurança, que ocupam igual espaço, é outra questão pois, em caso de problema, é necessário localizar a cópia correcta e repor a situação a partir destes backups. Imagine-se isto à escala mundial, informação cuja dimensão já não se mede na escala usual (bits e bytes) mas sim em petabytes ou zettabytes, qualquer coisa que a mente humana consciente já não alcança.




Seria simples se a complexidade se ficasse por aqui. Mas não fica.

Há ainda muitas outras questões. Destaco a da sua identificação. O meu Caro Leitor acede a informação a partir de onde quiser. De casa, do hotel, do smartphone - e chega sempre onde quer. Quando o faz anonimamente isso é relativamente pacífico. Mas quando o faz para aceder a uma conta em seu nome (mail, facebook, etc) tem que escrever um nome e uma password. Ora, algures, no mundo, encontram-se essas chaves de identificação que validam se a password corresponde à que se encontra registada para aquele utilizador. E você pode mudá-la tantas vezes quando quiser. E, ao fazê-lo, quase instantaneamente essa alteração é replicada em cadeias sucessivas de computador em computador. Já imaginou a complexa teia de identificadores que tem que existir espalhada por esse mundo fora?

E há, ainda, as questões de segurança. Todos estes sistemas encontram-se teoricamente blindados, cercados por barreiras de hardware e software que impedem que toda esta preciosa e confidencial informação seja vandalizada ou destruída. Mas todos os dias há milhares de pessoas e milhares de programas que tentam e conseguem furar estas barreiras. É uma luta diária, sem quartel, que as empresas travam para impedir a pirataria ou o terrorismo informático. Uma das maiores ameaças a nível global, hoje em dia, é esta: a do terrorismo informático.

Ainda recentemente a rede Linkedin, uma rede usada essencialmente para contactos profissionais, foi vandalizada e cerca de 6 milhões e meio de passwords foram roubadas e expostas publicamente. Os riscos disto são imensos. Não apenas quem quiser pode, a partir dessa altura alterar os conteúdos, divulgá-los,  ou destruí-os como, dado que muitas pessoas usam a mesma password para aceder a várias aplicações, será fácil a quem consulte essa lista de passwords roubadas entrar noutras contas (mails, facebook, etc).

Claro que, se isto é um mundo fabuloso à nossa disposição, é também um mundo submerso no qual depomos grande parte das nossas vidas sem que saibamos onde está a nossa informação, quem lhe mexe, em que condições de privacidade.




Grande parte das empresas que detêm estes potentíssimos centros de tratamento de dados são empresas ricas, poderosas, que se encontram no mercado, sujeitas a imposições de rentabilidade, a fusões, etc  (o Youtube foi comprado pela Google bem como numerosas outras empresas, o Facebook já comprou não sei quantas outras empresas – e toda a nossa informação vai sendo ‘herdada’ pela empresa compradora).

Qual de vós, Caros Leitores, sabe onde está o vosso correio, as vossas fotografias, os posts do vosso blogue? Presumo que nem um de vós o sabe. É impossível saber.

E mesmo que o conseguissem descobrir hoje, isso seria apenas parte do que há para saber, porque há os centros de contingência; e porque tudo isto é mutável em função dos balanceamentos de carga que estas empresas fazem para que os tempos de resposta sejam mais rápidos. O mais que sabemos é que a nossa informação, a nossa e a de todos, está por aí, algures na nuvem (a isto chama-se cloud computing).

Uma coisa é certa: tudo o que se coloca lá, nessa nuvem distante que desconhecemos, é ‘varrida’, ‘lida’. Os vossos interesses e os de quem lê os vossos mails, posts, sms, chats, etc, são criteriosamente ‘espiolhados’.

Não acreditam?

Então reparem na publicidade que aparece, sem saberem como, na vossa caixa de correio, no vosso mural de facebook. 








Se falarem de flores, lá vos aparecerá o anúncio de floristas, se falarem de livros lá vos aparecerá informação de editoras ou livrarias, etc, etc.

Porquê? Como?

Muito simplesmente porque é esse o modelo de negócio dessas empresas.

Vocês, meus caros leitores, não pagam a ninguém para usufruir do correio electrónico, ou dos blogues ou do facebook (tirando o que pagam ao operador de comunicações para poderem aceder, isto é, bater à porta dos centros de tratamento de dados). Então de onde lhes vem (refiro-me à Google, ao Facebook, etc) todo o imenso dinheiro que é necessário para adquirir e manter tantos potentíssimos centros de cálculo, para contratarem tantos cientistas e técnicos?

É simples: da publicidade.




É um dos maiores meios de publicidade da actualidade: a internet. As empresas anunciantes pagam os anúncios a estas empresas, essencialmente às que gerem as chamadas ‘redes sociais’ (e aqui, por facilidade, incluo as que geram as várias redes de correio electrónico, de blogues, de facebook, etc) e estas comprometem-se a divulgar os anúncios de forma ‘inteligente’.

Claro que não são pessoas que andam de lupa a espiolhar todos os mails, todos os posts, todos os chats. São programas que ‘vasculham’, classificam, organizam.

Mas imagine o meu Caro Leitor se, por vandalismo ou má fé, alguém resolve publicar tudo isso? Já se imaginou a inimaginável devassa?

E quem regula tudo isso?

Pois…

Se uma coisa dessas acontece, a quem é que o meu Caro Leitor se vai queixar? Sabe? E mesmo que apresente uma queixa internacional contra incertos, coisa de improvável êxito, enquanto isso duraria e enquanto andasse a gastar dinheiro com advogados, teria toda a sua vida exposta.

Esperemos que nunca aconteça, mas, sem stress e, muito menos, pânico, pense nisso.

É um mundo fabuloso este, um mundo de oportunidades, de desafios mas também de incalculáveis riscos, um mundo desregulado.

É um outro mundo invisível que está aí.

***

Saíu grande isto, credo..! As minhas desculpas (estou farta de ser avisada que, aqui, ninguém está para ler textos tão longos...)

Contudo, caso tenham curiosidade em saber mais sobre este fascinante (e algo perturbante) assunto (que, até agora, tem passado à margem da discussão sobre direitos, garantias, ética, etc, etc), há muito por onde ler. Tudo o que é major, tem publicações sobre o tema: Mckinsey, Deloitte, BCG (Boston Consulting Group), etc, etc, mas também, por exemplo  World Economic Forum e muito mais existe disponível... na nuvem...


***

Bom. Se foram uns valentes e aguentaram até aqui e se vos apetecer desanuviar, então, deixem que vos convide para uma 'cena' bem mais caliente. Venham daí até ao meu Ginjal e Lisboa. As minhas palavras hoje deitam-se na relva ao lado de um poema de Gastão Cruz. Junto a nós, quem mais senão Placido Domingo que continua a semana Wagner?

***

E tenham, meus Caros Leitores, uma belíssima terça feira!

14 comentários:

Isabel disse...

Apesar de dizer que é longo, gostei imenso de ler. Onde "aprende" tanta coisa?
Fazia alguma ideia que as coisas andam por aí algures e é um pouco assustador, mas por outro lado não podemos andar a pensar muito nisso não é?

Mas isto da Internet é realmente um mundo fascinante e um pouco assustador.
Enfim, vamos utilizando com alguma moderação.

Um beijinho

Um Jeito Manso disse...

Olá Isabel,

Não sei se aprender será a expressão mais correcta. Eu diria, antes, que me vou informando, lendo, reflectindo.

Sou leitora omnívora e sou, naturalmente, muito curiosa, interesso-me pelo que é novo, pelo que tem ou pode ter impacto.

A nível profissional, leio publicações, sites, e vou a congressos ou conferências, debates. Ou seja, vou sabendo, vou ouvindo falar e, depois, pesquiso, aprofundo. E gosto de ir partilhando o que vou sabendo, sempre gostei. Não gosto de guardar na manga. O que sei, partilho.

A internet e o que nos põe à nossa disposição é um mundo que devemos usar o melhor possível mas sabendo que tudo 'anda' por aí e que pode ser sujeito a problemas. Por isso, se devem fazer cópias de segurança para o próprio computador ou para discos externos, não se deve usar a mesma password para tudo, não se devem expor dados confidenciais ou críticos, etc.

Mas, tendo isso em mente, aprende-se imenso e partilha-se imenso na internet.

Um beijinho, Isabel.

dbo disse...

Olá UJM, o texto não é longo porque, na realidade, tem abrangência bastante para “cingir as débeis e polínicas entranhas” do nosso ego devassado por vontade própria, quase masoquista. As redes que nos rodeiam, qual invisível cendal, pescam-nos inteiros, se inteiros nos expusermos. A devassa existe, mas nós alimentámo-la, qual polvo voraz. Urge sermos comedidos na nossa excessiva “luminosidade”.

Digo que as redes nos cingem, porque também adorei o seu “ginjal”, onde se tece uma rede que cinge ambos os corpos.
Afinal, como refere, e bem, “que interessam os segredos que amordaçam o desejo? Só se deixa “cingir” pelo cendal quem liberta os segredos dos seus desejos.

Isabel disse...

Leitora omnívora é uma expressão muito interessante .

Pôr do Sol disse...

Parabens Jeitinho por este texto!
Quando começei a trabalhar as comunicações eram feitas por telex. Não posso deixar de sorrir quando me lembro dos metros de fita prefurada que era depois passada por aquela maquineta. E quando a chamada caía? Que desespero, ter de recomeçar tudo.
Hoje, com a Internet chega-se ao outro lado do Mundo num pestanejar.
Tem tanto de bom como de perigoso.Dia em que falhe, a vida pára.
Já tenho chegado a balcões de bancos, repartições e até lojas onde não se consegue tratar de nada porque"estamos sem sistema" e quando se erra que bom atirar as culpas para a "falha do sistema".
Mas o que me põe fora de mim, são as asneiras que por estarem no Google ou na Wikipedia são verdades incontestáveis.
Há dias corrigi um jovenzinho que me dizia que aquelas escadas não tinham corrimões. Depois de lhe lembrar que o plural de mão é maõs logo será corrimãos, puxou do seu telemovel e mostrou-me que no google estava corrimões. Só me faltava ver o plural de cão ser cões. Uma mentira ou asneira vulgarizada torna-a oficial.
Apesar de tudo creio que seria dificil passar sem ela e como diz a pulicidade, passar passava-se mas não era a mesma coisa.
E o que nos dá de conhecimentos, partilhas e companhia, sem ela não teria conhecido este blog.
Um Bem Haja para si e um bom dia de Santo Antonio.

Um Jeito Manso disse...

Caro DBO, olá!

Que belos textos os seus. Tão bonito o seu comentário, já aqui o estive a ler e reler. E até uma palavra já aprendi. Nunca tinha ouvido ou lido e já fui ao dicionário. E que linda é a palavra, 'cendal', tenho que a utilizar. A ver se hoje consigo escrever um texto que possa acolher esta palavra que acabei de aprender e que me soa tão bem.

Hoje lá pelo Ginjal continuo um pouco no comprimento de onda de ontem, embora com uma pitada de humor - é noite de Sto. António e o espírito dele está a fazer-se sentir por lá, é o que é.

Quanto à net, é uma rede e as redes são belas como véus (ou como cendais) mas podem ser perigosas para quem delas fica prisioneiro.

Obrigada pelas suas belíssimas palavras e tenha um bom dia de Sto. António!

Anónimo disse...

Em primeiro lugar, gostaria de congratular a autora deste Blogue pela fascinante exposição sobre o que é hoje este mundo da Net e correlativos! Um mundo fabuloso e de oportunidades sem dúvida, mas, simultâneamente, perigoso. Bastante perigoso. Mas aqui também depende de cada um. O FaceBook é um bom (mau) exemplo disso, explorando a louca vontade de cada um de tantos de nós (excluo-me) em se querer expôr e dizer o que lhes vai na alma (e aqui o disparate não tem mãos a medir. Tenho conhecimento de tanto exemplo e de verborreia que nunca aquela pessoa seria capaz de dizer face a face!).O que é extraordinário é a velocidade como tudo isto tem vindo a evoluir!Ainda me lembro quando, nos finais dos anos 80 (nós ainda jovens), então a viver no continente asiático, comprámos um computador em Hong-Kong e eu, que me recusava, assumidamente (naquela altura a não querer aderir ao “progresso”) e com todo o “desprezo” em não manipular semelhante aparelho (minha Mulher era a entusiasta á época), lá íamos (ou melhor, ía, ela) procurando fazer o melhor uso daquela "coisa".Mais tarde, já nos princípios de 90 (94/95, creio), um dia tive uma reunião, em Lisboa, que incluía a participação de uns americanos, recordo-me de, a certa altura, uma norte-americana me ter perguntado se eu utilizava a Internet: “a quê?”-perguntei eu (claramente sem entender patavina do que a dita me estava a perguntar). Ao que ela, ao constatar a minha mais completa ignorância pela modernidade dos tempos - um pacóvio perfeito, acrescentou logo: “Ok, não se preocupe, já percebi que não faz a menor ideia do que estamos a falar”. Fiquei algo “amachucado” com semelhante “boutade”, mas fingi-me imperturbável (creio ter disfarçado mal, pois ainda me recordo do seu sorriso condescendente). A verdade é que hoje dependo do computador e da Net como, quase, do pão para a boca, faço todo o meu trabalho escrito aqui, pesquisas, etc e até essa coisa horrível que é o “correio electrónico”, pois com isto estou a engrossar o grupo daqueles que quase deixaram de enviar um postalinho, uma cartinha, etc. Às vezes, em férias, lá procuro enviar um, mas ninguém os lê (“Meu, fogo! enviaste-me um postaleco? Eh pá, só tu! – e um tipo, a tentar manter certas tradições, cheio de “carinho”, desanima! É assim que os amigos e alguma família nos trata quando lhes enviamos um postal? “...com um abraço de Florença, ou Freixo-de-Espada-á-Cinta, ou sei lá”! Pois é! Resumindo, este mundo da Net aqui descrito, evoluíu tão rápidamente e de uma forma quase incontrolável, que não sei onde iremos parar. Penso, todavia, que se cada um de nós tivesse mais reservas de exposição pessoal, de não se querer evidenciar, de não se expôr, talvez as coisas fossem diferentes. Mas, o ser humano actual, sim dos tempos de hoje, tem uma vontade estranhíssima de se querer mostar, de se dar a conhecer, de dizer o que pensa (e o que não pensa, tantas vezes), é tão vaidoso, tão pateta igualmente, que tal nunca irá acontecer. Há mesmo casos que nos espantam. Aqui há um par de anos, uma amiga nossa colocou no FaceBook as “razões” judídiciais do seu divórcio tempestivo (sem dar conhecimento ao “ex”, que não estava no dito “Face”). Enfim, tempos modernos (melhor, moderníssimos!).
P.Rufino

Um Jeito Manso disse...

Isabel,

Mas é que não estou a brincar: papo tudo...! (bem, quase tudo porque há coisas que não consigo mesmo, como os livros de vampiros, de anjos, ou livros embrulhados em tule ou coisas do género)

Se é livro (a sério), marcha, se é revista do coração ao lado da caixa do supermercado, folheio até ter que a largar, se é folheto do Leroy Merlin na caixa do correio leio antes de deitar para o lixo. O Expresso...? Tudo, de uma ponta a outra. Ou melhor tudo menos o desporto.

Omnívora, portanto.

Um Jeito Manso disse...

Olá Querida Pôr do Sol,

Já me fartei de rir com os cões.

Dava para fazer umas belas quadras populares, há muitas palavras engraçadas que rimam com cões. É mais fácil rimar com cões do que com cães...

Com cães só me estou a lembrar de corrimães...

Bom, vou portar-me bem.

Eu lembro-me muito bem é de na empresa se andar a ver se era rentável comprar aparelhos de fax. Estudos de rentabilidade para ver se se poupava dinheiro e se valia a pena.

E quando apareceu a internet e o correio electrónico não se sabia bem a quem é que se havia de dar essa 'coisa' porque não se sabia bem se era útil para alguma coisa. Não foi assim há tanto tempo...

E ao princípio só os administradores e directores é que tinham telemóvel de empresa... mas eram quase do tamanho de tijolos, agarrados ao carro com um fio. Uma coisa...

A tecnologia evolui de uma forma inacreditável. Já não se passa sem nada disto, é um facto.

Bom, não escrevo mais porque já estou a falar muito a sério e quero ir escrever o post de hoje e estava a apetecer-me escrever uma coisa que não fosse lá muito bem comportada. Por isso, tenho que interromper aqui, senão vou muito ajuizadinha e só sou capaz de escrever coisas muito certinhas.

Um beijinho, Sol Nascente e que o Sto António alegre muito o seu dia!

Um Jeito Manso disse...

Caro P. Rufino, olá!

Gostosas histórias nos trouxe aqui hoje e que tão bem ilustram a rápida evolução dos tempos recentes.

Lemos recordações do tempo em que a internet era uma coisa desconhecida e parece que estamos a ler histórias de outros tempos... e no entanto foi há tão pouco tempo.

Tive uma vez uma reunião em Zurique, na sede da Mckinsey e vi lá um computador pessoal que me foi mostrado como a coisa mais maravilhosa à superfície da terra. Quando cheguei à empresa, decidimos comprar um. Tive o primeiro PC da empresa. E fui a um curso de Lotus (antes de haver excel) e a um de DisplayWrite (antes de haver word) e éramos uns quantos percursores. Acho que era o único curso em Lisboa.

Dinamizei o uso de tudo isto lá na empresa. Um período de encantamento, tamanha a novidade que tudo aquilo era.

Claro que como tudo o que cresce, numa fase de expansão desenfreada, a regulação é coisa de que não há tempo para pensar. Um dia haverá, talvez, problemas que levem a reaquacionar tudo isto (tal como tem vindo a suceder com os 'mercados). Tem que haver regulamentação.

As vidas das pessoas estão a ser colocadas, sem regulamentos, em locais sabe-se lá onde, geridas sabe-se lá por quem.

Mas, enfim, por enquanto ninguém pensa nisso...

Mas hoje é dia de Sto António, dia de festa, bailarico. Nada de coisas sérias.

Tenha um belo dia de Sto. António P. Rufino!

Isabel disse...

Também sou uma leitora um bocado omnívora, mas não leio tanto como a UJM e não fixo com tanta facilidade. A minha memória anda bastante "avariada". Leio as revistas cor-de-rosa no café. Folheio o folheto do Lidl...leio um pouco de tudo. A minha biblioteca modesta, também é bastante diversificada. Também não gosto de livros de vampiros. Embrulhados em tule, já li um ou outro...vou lendo a revista do expresso...

Gostaria de dizer aqui uma coisa, se me dá licença. Aqui há tempo, não muito, vi escrito num blogue a palavra corrimões. Estranhei, porque sei que a pessoa que a escreveu é bastante culta e não daria concerteza um erro desses. Fui-me informar e a palavra aceita-se e está correcta, segundo me confirmaram. Fui ver na gramática do Celso Cunha e Lindley Cintra das edições João Sá da Costa, de 1992, e está na página 183 a confirmação. Existe e utiliza-se.
Fica só a informação, se achar bem.
Um beijinho

( Também vou ver o que é "cendal" e já agora, o que são os folhetos do Leroy Merlin, que não sei?!)

Um Jeito Manso disse...

Olá Isabel,

Sempre a aprender... corrimões...?! Não sei, não... Se calhar pode ser mas lá que não soa nada bem, lá isso...

Mas fica aqui a indicação, claro.

Eu adquiri uma forma de ler que é muito rápida. Sou capaz de ler um livro de mais de cem páginas em cerca de 1 hora ou menos. Mas são livros técnicos, ou livros desse género em que basta passar os olhos por cima para se perceber a ideia. Leituras de bons autores, de literatura, aí já é outra coisa, tem que ser com tempo, para aproveitar a forma e o conteúdo. Mas aí sou selectiva. Por isso ontem dizia que lia quase tudo - é que havendo tanta coisa para ler e não havendo tempo para tudo, não leio, mas não leio mesmo, aquilo que considero literatura de cordel, coisinhas da treta, historietas palermas e mal escritas.

Quanto aos folhetos do Leroy Merlin: não sei se por aí há aquelas lojas grandes de bricolage e jardinagem da marca Aky. O Leroy Merlin é do mesmo género, aliás são do mesmo grupo. Vendem cozinhas inteiras, mobiliário de varanda e jardim, plantas, cortinas, tintas, armários, azulejos, persianas, coisas de casa de banho, candeeiros, ferramentas, almofadas, espelhos, molduras, sei lá, tudo o que se possa imaginar. E deixam nas caixas de correio uns catálogos que têm isso tudo, com preços, promoções. Volta e meia vou lá porque há lá de tudo.

Aí não há lojas deste género?

Isabel disse...

Há por aqui uma ou outra no género, mas essa não há. Nem sei bem o que há agora, porque é raro lá ir ( fica tudo na zona industrial). Há a Jom e no Fundão a Moviflor. Não me estou a lembrar de mais nenhuma, mas é capaz de haver. Bricomarché também...

Gostava de ter essa capacidade de ler rápido.
Ultimamente tenho mais dificuldade de concentração. Conseguia ler em qualquer lado, mas agora não. Eu sei que em parte é o facto de a ter o "cérebro" ocupado com mil preocupações. Vêm aí as férias que me vão fazer muito bem.
Adoro ler. Compro sempre livros, sobre muitos temas, mas tenho lido pouco e isso custa-me.
Um beijinho

Um Jeito Manso disse...

Isabel, olá,

A Moviflor é muito diferente desta de que falo porque a Moviflor não tem a componente Jardim, com plantas, material de rega, etc, nem tem a componente de materiais de construção, tintas, ferramentas, janelas, linóleos e mosaicos, madeiras, etc, etc. Dá jeito ir a uma loja destas quando se anda a fazer obras ou remodelações. Há um programa na SIC Mulher que é 'Querido, mudei a casa' que usa geralmente materiais do Leroy Merlin.

Eu ainda estou longe das férias e tenho poucas férias. Ao todo por ano são vinte e três dias, salvo erro. E tenho que as fazer render e esticar para o ano todo, uns dias para a altura do Natal, alguns dias para o caso de estar doente, um ou outro dia para prestar algum apoio aos meus filhos, enfim, isso tudo junto não passa os tais 20 e poucos dias. Os professores têm mais, não é?

Eu estou desejando ficar de férias mas ainda falta muito. Mas passam no instante. A 1ª semana ainda estou na ressaca do trabalho, a segunda já dói porque já só há mais umas e, a 3ª, se houver, é já a despedida de uma coisa que passou a correr. Mas, enfim, sempre é melhor que nada, não é?

Um beijinho!