No post abaixo estive a falar desta situação que está a ficar assustadora, asfixiante. Mas não quero ir-me embora com este tema pesado. Por isso, vou falar de coisas que me deixam a sorrir, com o coração aconchegado.
O meu rapazinho mais velho, quase a fazer 3 anos, cheio de energia, esteve este fim de semana in heaven, feliz da vida. Reconhece cada recanto onde esteve na última vez, exclamando ‘Eu ontem estive aqui!’, e ‘Também estive aqui ontem e começou a chover e tivemos que correr’.
O meu menininho por detrás da vegetação |
Veio preparado para trabalhar, ‘Eu vou ajudar a Tá’.
Vamos à casinha onde está a ferramentaria e o instrumental agrícola. Ele, avaliador, percorre com o olhar as diversas peças e, sem hesitações, aponta o grande ancinho, ‘É aquele’. De facto, quando algumas semanas atrás andou na mesma lide, tinha sido aquele o ancinho que tinha usado.
Depois, líder mas delicado, diz-me ‘ Agora precisamos de uma pá e do contentor. A Tá vai buscar?’. Certo. ‘Vamos os dois, anda’.
A seguir, determinado, o meu pequeno homenzinho com um grande ancinho nas mãos, dirige-se para o sítio onde há mais folhas, folhas da azinheira, do loendro, flores secas, bolotas secas. Enérgico e habilidoso estende o braço e com o ancinho vai puxando todo esse lixo, fazendo montes e dando ordens ‘Vá Tá, já podes apanhar e pôr no contentor’. Assim faço e ele feliz. No fim, o grande contentor cinzento já cheio, atamos umas cordas a uma das pegas e puxamos, caminho fora, para despejar num canteiro que precisa de terra e matéria orgânica. As cordas ajudam a puxar e ele todo contente ‘Parece um guindaste, não é Tá?’ Pois, pelo menos torna-se mais fácil de transportar porque está francamente pesado.
Depois, de volta, diz-me, ‘Agora vamos para ali, para aquele lado’. E eu, ‘Mas aqui ainda há mais folhas…’. Ele não cede. ‘Ali há muita palha, tem que ser apanhada’. É a caruma do pinheiro. Obedeço, pois então.
O recanto (onde tanto eu gosto de estar) onde o grande pinheiro faz sombra e onde o chão está sempre cheio de caruma ('palha' segundo ele) |
A caruma apanha-se bem com ancinho, num instante fazem-se grandes montes. E ele orgulhoso, ‘Tive uma boa ideia, não foi Tá? Tira-se esta palha toda e, com esta solução, já resolvi um problema da Tá, não é?’. Pois é, meu rico menino, o vocabulário aumenta incrivelmente a cada dia que passa.
Andamos que tempos nesta labuta e quando eu já estou um bocado cansada e sugiro que vamos para casa, responde-me, ‘Porquê? Já está quase a chover?’. Digo-lhe que não, que isso foi na outra vez, agora não está de chuva. Depois lá o convenço a parar com os trabalhos forçados e vou buscar a máquina para o fotografar. Diz-me que quer tirar uma fotografia dentro da casinha da chuva. Na vez anterior, quando caiu um grande aguaceiro, corremos para nos abrigarmos lá. É um pequeno abrigo (a que vozes insensíveis chamam paragem de autocarro) que pintei com uma parede de cada cor e onde, no fundo, desenhei uma janela aberta ao céu. Nas paredes escrevi poemas. Tem um banco ao fundo, encostado à parede, também pintado de outra cor. Fico feliz que ele goste destas minhas coisas. No outro dia, o meu filho, que ainda não tinha visto as minhas pinturas daquele pequeno abrigo, suspirou (condescendente), ‘É a loucura total…’. Mas o meu filho já é grande, já acha loucura aquilo a que as crianças pequenas aderem espontaneamente.
O abrigo da chuva (não se vêem as paredes laterais, cada uma de sua cor, cheias de poemas) |
Depois, o meu pequeno líder, resoluto, vira-se para mim, ‘Senta, Tá, que agora vou eu tirar uma fotografia a ti’. Mas a máquina é grande e pesada para as suas mãozinhas pequeninas e ele vê-se um bocado atrapalhado para pegar, apontar, e ao mesmo tempo disparar e então eu ajudo-o. Fica todo feliz. Ajuda-me a apanhar as folhas secas, a palha, ajuda a transportar o contentor, tira fotografias, está um rapaz crescido.
Ao jantar, como fruta, tenho ananás e melancia. Nunca tinha comido melancia, nem sabe pronunciar bem. Come deliciado, ‘Hum, gosto muito…’, diz apreciador.
No fim, quando se levanta da mesa, lembra-se e, cavalheiro, vira-se, educado, ‘Obrigado, Tá, gostei muito, a me-hanxia estava muito boa’ e segue. Meu rico menino.
Antes de se vir embora, tempo ainda para uma história. Adora livros, desde bebé que a isso é incentivado por todos, e muito pela mãe que também começou cedo - aliás a mãe tem um livro da Alice Vieira com dedicatória, ainda ela não tinha nascido - e, por isso, para ele é dos melhores brinquedos (tal como a prima, a querida princesinha Plim-Plim dos belos olhos azuis, que ainda não tem 1 ano e que se senta, costas muito direitas, muito compenetrada, com as suas mãozinhas delicadas, gestos muito femininos, a folhear e a tocar os seus livros, especialmente agora os do Ruca que têm páginas espessas, fáceis de virar, um belo colorido e texturas – ontem ofereci-lhe o do Riscas, que tem animais de pelo, o coelhinho, o gatinho, o cãozinho, que ela sentirá com o seu dedinho esticado).
Então, leio a história ao meu querido pequeno ajudante e ele fica imóvel, olhos fixos no além a visualizar as cenas que eu vou descrevendo. Qualquer dia, o irmãozinho, agora com 3 meses, começará também a ouvir atentamente as historinhas de encantar que lhes contamos com tanto amor.
Assim se começa a ganhar o gosto da leitura. É que, logo de pequeninos, começam a perceber que os livros contêm histórias, levam-nos até outras realidades, despertam a imaginação, fazem pensar, ensinam, fazem companhia.
[PS: Se, apesar de tudo, quiser ler o que escrevi sobre o lixo da Moody's e sobre a espada de D. Afonso Henriques, deslize até ao piso inferior. Se quiser ver o que escrevi sobre o casamento da Princesa Charlene e sobre o casamento da Rainha Kate Moss, siga até ao piso mais abaixo]
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