Não é inédito acabar em crime violento a relação entre um homem homossexual de certa idade e o namorado mais novo. Discussões, ameaças, sangue num quarto de hotel, castração e morte, são, não raras vezes o destino trágico destes relacionamentos. Há uma qualquer tensão descontrolada, uma qualquer revolta profunda que faz com que um jovem perca a cabeça ao ponto de tirar a vida ao homem mais velho que por ele se apaixonou.
É uma realidade que não conheço senão superficialmente e que me causa alguma perplexidade.
Perante o assassinato de Carlos Castro, que lamento (lamento em abstracto pois igualmente lamento qualquer outro assassinato), contudo, lamento ainda mais a triste vida que espera o jovem Renato, presumível assassino - obviamente se se provar que, conforme os índicios conhecidos, é ele mesmo o homicida.
Lembro-me de o ver no À procura do Sonho na SIC, um programa da estilista Fátima Lopes, em que se elegia o melhor futuro modelo masculino e o feminino, Face Model of the Year: Renato Seabra foi finalista, é bonito, escultural, atlético, tímido, um sorriso algo triste, tranquilo e humilde.
Foi campeão de basquetebol, acabou recentemente a licenciatura. Soube hoje que é de Cantanhede, filho de enfermeiros, com uma irmã médica. Entrou no concurso por incentivo da mãe. No final do programa, rezou a agradecer, diz que é religioso.
Imagino-o em criança, em jovem adolescente, um menino bonito, os pais orgulhosos, os avós felizes por terem um neto assim, alto, bem constituído, bom aluno, bem comportado.
Na televisão, em depoimentos emocionados de amigos tais como Sofia Alves, de quem era padrinho de casamento, Lili Caneças, sua 'cúmplice' na pink society, Claúdio Montez, amigo de longa data, ou o jornalista Luís Pires, ouvi que Carlos Castro tinha confidenciado que estava numa fase muito boa, feliz como nunca, completamente apaixonado - embora fosse sabido, e confirmado por Carlos Castro, que o jovem Renato era heterossexual.
Depois do concurso, foi agenciado por Fátima Lopes e começou a trabalhar como modelo, conhecendo então Carlos Castro, homossexual assumidíssimo, a quem se conheceram antes várias relações, algumas francamente duvidosas (conforme referem os amigos). Segundo parece, foi este que, através do Facebook, se aproximou de Renato, prontificando-se para o guiar no competitivo mundo da moda.
Mas, se era hetero, porque começou, então, o Renato a andar com o Carlos Castro (levando este a referir-se ao jovem como namorado)? Para que lhe enviava sms a dizer 'amo-te', a ser verdade o que Carlos Castro, orgulhoso, contou aos amigos? Para que este o introduzisse no milieu da moda? Para que este o levasse à Broadway? Acho tão estranho. Um jovem bem formado, pertencente a um meio de gente bem formada (digo-o sem saber, apenas por o admitir, dado que os pais são enfermeiros), certamente sem dificuldades financeiras. Não costumam vir destes meios os jovens que negam a sua natureza, que se prostituem, que vendem a alma ao diabo. Uma ambição envolta em ingenuidade? Imaturidade?
Mas, se era hetero, porque começou, então, o Renato a andar com o Carlos Castro (levando este a referir-se ao jovem como namorado)? Para que lhe enviava sms a dizer 'amo-te', a ser verdade o que Carlos Castro, orgulhoso, contou aos amigos? Para que este o introduzisse no milieu da moda? Para que este o levasse à Broadway? Acho tão estranho. Um jovem bem formado, pertencente a um meio de gente bem formada (digo-o sem saber, apenas por o admitir, dado que os pais são enfermeiros), certamente sem dificuldades financeiras. Não costumam vir destes meios os jovens que negam a sua natureza, que se prostituem, que vendem a alma ao diabo. Uma ambição envolta em ingenuidade? Imaturidade?
Num hotel que leio que é luxuoso, em Nova Iorque, a passar o ano, a verem espectáculos, a encontrarem-se com amigas de Carlos Castro, imagino um rapazito de 21 anos, a quem os pais desejavam certamente um bom futuro, de quem os avós sentiam certamente orgulho, a ver-se a si próprio, jovem católico, como o amante de um homem pouco dotado fisicamente, um gay de 65 anos, com tiques de gay: o garotão de um velho gay.
Imagino a confusão que ia na cabeça do rapazito, um belo corpo mas uma mentalidade de miúdo de 21 anos, atormentado e dividido: por um lado a querer entrar no mundo da moda, por outro a ter que suportar o odor, a voz, os modos, o sexo de um gay muito rodado.
Quando telefonava à mãe, dizia que há dias que não dormia.
Quando telefonava à mãe, dizia que há dias que não dormia.
Ouviram-nos discutir. Imagino. Imagino as discussões, noite após noite, noites sem sono numa cidade que não dorme.
Imagino o velho jornalista apaixonado, a não querer perder o namorado bonito, inteligente, bom aprendiz, imagino-o inseguro, ciumento, a insinuar que o jovem modelo andava com ele só por dinheiro, imagino-o desesperado a ameaçar não o ajudar mais, imagino-o de cabeça perdida, imagino-o a implorar um gesto de ternura, um beijo, a querer sexo, imagino o imenso pavor, a crua angústia, por poder perder um tão grande amor.
Imagino a discussão em crescendo, os gritos, imagino o jovem ainda imaturo, pouco mais que um menino, o menino de sua mãe, revoltado, infeliz, a afirmar a sua heterossexualidade, a sua honestidade, cheio de asco pelo velho apaixonado, por si próprio, pelo rumo que a sua vida estava a tomar.
Imagino o velho jornalista apaixonado, a não querer perder o namorado bonito, inteligente, bom aprendiz, imagino-o inseguro, ciumento, a insinuar que o jovem modelo andava com ele só por dinheiro, imagino-o desesperado a ameaçar não o ajudar mais, imagino-o de cabeça perdida, imagino-o a implorar um gesto de ternura, um beijo, a querer sexo, imagino o imenso pavor, a crua angústia, por poder perder um tão grande amor.
Imagino a discussão em crescendo, os gritos, imagino o jovem ainda imaturo, pouco mais que um menino, o menino de sua mãe, revoltado, infeliz, a afirmar a sua heterossexualidade, a sua honestidade, cheio de asco pelo velho apaixonado, por si próprio, pelo rumo que a sua vida estava a tomar.
Imagino as vozes em estridência, os empurrões, os puxões, uma bofetada a despoletar outra, a força de um corpo jovem, musculado.
Imagino a tensão, a violência descontrolada, a raiva no limiar da loucura. A perda da consciência de si, na expressão de António Damásio. O sangue, a raiva, o terror, o fim.
E tenho pena.
Imagino amigos e conhecidos incrédulos, imagino o desgosto sem tamanho dos pais, da família toda.
E imagino o estado de irreversível mutilação psicológica em que Renato Seabra, o presumível assassino estará.
E imagino o estado de irreversível mutilação psicológica em que Renato Seabra, o presumível assassino estará.
Não era para ser assim. Que pena.
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18 comentários:
Olá, é a primeira vez que leio o seu blog, cheguei a ele por mera coincidência, mas permita-me que discorde de uns pontos...há um velho ditado que diz "no melhor pano cai a nódoa", se o Renato era bem formado, e a família também, como permitiam uma relação desta??? Poderá ter dinheiro?? Sim, mas não conhecia as pessoas certas para o introduzir no mundo da moda e quanto a mim e a muitos portugueses, foi isso que aconteceu, foi o oportunismo a sede de alcançar o sonho, não olhando a meios. Se a família era condescendente, é porque é porque, embora bem formados de títulos académicos, não seriam tão bem formados em termos morais...e não basta ser católicos, porque até na igreja há casos de pedofilia. O rapaz quis dar um passo maior que as pernas. Como mãe, tenho pena daquela mãe, mas estou de fora, vejo as coisas com outros olhos. Ser bem formado não é desculpa...
Percebo o que diz.
No que descrevi não pretendi desculpabilizar o Renato. Apenas não quero ser redutora na análise da situação.
Será fácil dizer que o jovem modelo andava com o Carlos Castro por ambição, sem escrúpulos. Talvez isso até possa ter-se passado, pelo menos em parte. Não o sabemos. Mas uma pessoa calculista, de ambição fria, não despedaça a sua própria vida assim: matar uma pessoa é ficar com uma carga de remorso e de culpa para o resto da vida. Fazê-lo nos EUA, pior ainda. O que se passou só pode ter sido fruto de um desespero limite. Li que ele telefonou á mãe a dizer que havia dias que não dormia. Sendo heterossexual, que conflitos interiores não se passariam naquela cabeça atormentada? Sendo católico, que sentimentos de culpa não o atormentariam? Não o sabemos. Mas não será difícil imaginarmos.
Só uma tensão irreprimível explica que as coisas tenham chegado a esse ponto irreversível em que a vida deixa de fazer sentido.
Não apenas matou o suposto protector, como, ao fazê-lo, destruiu a sua própria vida.
Como mãe imagino a aflição daquela mãe, imagino também a preocupação em que não andaria antes, com toda esta ambígua situação.
Os pais não podem proteger os filhos em qualquer situação. A maior parte das vezes, felizmente, isso não é grave. Mas às vezes é - e imagino que isso seja para os pais uma impotência, um desespero.
Pode acontecer que haja um momento da vida em que os filhos se percam dos pais, se percam da sua própria vida, se percam de si mesmos.
É uma coisa muito triste. Tenho, de facto, muita pena.
Acho engraçada a forma como se defende aqui um criminoso. Se fosse ao contrário provavelmente estaria a crucificar o Carlos Castro. O post é nitidamente tendencioso, demasiado influenciado pelos efeitos que o porte físico do rapaz exerce sobre si.
"é bonito, escultural, atlético, tímido, um sorriso algo triste, tranquilo e humilde. "
Se matou tem mais é que pagar pelo que fez. É que não bastou matar. Ainda castrou o homem! Quem anda à chuva molha-se. O que é que ele estava a fazer a partilhar quarto com ele? Era hetero? Talvez. Mas assumiu uma relação sexual e emocional com o Carlos Castro. Disso tb não há dúvidas. O que torna ainda mais suspeitas as intenções materialistas dele. Enfim. Estragou a vida.
Este caso é semelhante aos muitos casos de pedofilia, a única diferença é que para além de não se perder alguém a vítima normalmente fica com uma raiva imensa a essa pessoa que desnorteia qualquer pessoa, em certas circunstâncias não a pode mesmo ver.E é por isso que decorreu todo aquele processo da Casa Pia.
Anónimo, a única diferença com os muitos casos de pedofilia é que aqui não estava envolvida nenhuma criança!
Ou pensa que um homem de 21 anos é uma criança?
É a 1ra vez que leio o seu blog, foi a procura de mais informações sobre este caso que aqui cheguei.
E na minha opinião o Renato quis jogar um jogo e não tinha qualquer estofo para o suportar. não se se eles se envolveram ou não, só ele saberá. Mas penso que não, penso que o renato começou por se iludir, por achar que podia fazer o jogo dele, subir na vida, ganhar fama e dinheiro, mas um dia esses favores têm de ser pagos e esse dia foi sexta feira e terminou como todos sabemos.
Ele pode não ser homosexual, mas estava a querer passar-se por um para chegar onde chegou. Mas também acredito que o carlos castro não teria só amigos homosexuais..
Tenho pena da m-ae sim, nunca ninguém está preparada para uma reviravolta destas.
E sinceramente também tenho pena dele que estragou a vida dele.
Cada macaco no seu galho, e nunca devemos dar um passo maior que a perna.
E acho que todos os pais devem ter muita atenção aos sonhos dos filhos, e acompanha-los sempre porque neste mundo tudo se sabe.. e quem não tem uma cabeça sâ.. está muito mal.
beijinhos e abraços
Não defenda esse criminoso, você fica imaginando como o Carlos tratava o Renato, mas no fundo esse "menino" como você se refere não passa de um gigolô barato, que de menino não tem absolutamente nada, ele sabia muito bem o que estava fazendo.
O Carlos não escondia de ninguém sua condição de homossexual e o Renato sabia disso, porque então ele resolveu se envolver com ele, sendo ele heterossexual?
Esse "menino" agora tem que pagar pelo que fez, nada justifica um crime hediondo desses.
É assassino tem de pagar por isso, mas os contornos deste assassinato são macabros e revela que algo de errado se passava naquela cabeça, (Renato), muitos sentimentos sombrios e aí concordo consigo, tinha de haver revolta, nojo, angústia, rancor, ódio...Pois se o objectivo era cometer um homicidio, cometia-o, sem acrécimos
Independentemente do que se venha a provar, adorei o artigo e a perspectiva da envergadura deste caso.
Renato poderia não ter sido um "santo" nesta trama, mas concretizou o que talvez desejariam concretizar. Acabar com os Gays endinheirados que compram a vida e a juventude não vivida.
Parabéns! O artigo está muito bem escrito e é envolvente.
Percebe-se bem que não há vontade de desculpar quem quer que seja, mas apenas fazer valer a condição de PESSOA (que não pode ser negada a ninguém) independentemente do crime que esta possa ter cometido.
Penso que o seu artigo e os seus comentários revelam que é uma pessoa esclarecida.
Agradeço as palavras de compreensão pelo que escrevi mas, relativamente a outras, volto a esclarecer que não pretendo desculpabilizar o Renato, muito menos vitoriá-lo. Nesta história triste não há anjos nem demónios. Há, em meu entender, pessoas frágeis, que caminhavam no fio da navalha. Ambos morreram embora de maneiras diferentes.
Para me pronunciar, penso que pela última vez, sobre este caso tão triste, escrevi um último texto pois também não quero que se pense que, de alguma forma, condeno a homossexualidade.
Condeno, sim, a homofobia.
Se quiserem ir drectamente para o post que acabei de escrever o link é este:
http://umjeitomanso.blogspot.com/2011/01/renato-seabra-e-carlos-castro-o-fim-e.html
Saudações a todos. Sejam sempre bem vindos a Um Jeito Manso.
Tenho a dizer que concordo plenamente com tudo o que diz. E não tem nada a ver com ser homofóbico nem nada que o pareça. Mas a verdade é que, se o rapaz era heterossexual, realmente deve ter sentido muito nojo do homem, que, por estarem num país bem longe do seu, não devia parar de o assediar, tentando cobrar-lhe tudo o que lhe tinha pago.
Agora que se podem ver neste caso contornos de pedofilia, isso podem. É que, apesar de o rapaz ser maior de idade, com parativamente com o outro, ele era uma criança que podia ser neto dele. E é óbvio que o jornalista era muito rodado e com muito mais experiência que o miúdo. E, além disso, segundo contaram os próprios amigos do Carlos Castro, o Reanato sempre se afirmou heterossexual, portanto é natural que não pensasse que o outro estaria com segundas intenções. O jornalista foi uma "raposa" manhosa, iludindo o miúdo com um mundo de luxo, ao qual ele não estava habituado, pensando que dessa forma o levaria a fazer o que ele realmente pretendia. Mas o rapaz era realmente uma pessoa bem formada e não quis vender-se. Ou acham que se quisesse ia matar a sua "galinha dos ovos de ouro"?
Não vamos agora fazer do jornalista um santo, porque todos sabemos que ele ganhava a vida a dizer mal das pessoas e a assediar meninos.
Tenho pena dos pais do Renato e também tenho muita pena dele, porque estragou a sua vida.E, se pensam que eram incapazes de cometer um acto tresloucado numa situação daquelas, é porque não se importavam de se vender.
“Confusões de línguas entre o adulto e a criança – a linguagem da ternura e da paixão” é um texto clássico de Ferecnzi.A criança quer ternura,o adulto ofereço sexo.
Renato Seabra era criança? Claro que não! Mas psiquicamente estava a agir como tal.
Procurava ternura em um pai que por sua vez oferecia sexo!
O que faz a ausencia de um pai na vida de um miúdo? Pode criar um psicopata ou um psicotico em potencial.
Renato precisa pagar caro pelo grave crime que cometeu.
Antonino Silva Mendes Bou Habib
Adendo: esqueci de comentar que na ausêcia de um pai de verdade,a mãe pode estar a criar um monstro através da sexualização precoce de seu miúdo e do discurso contra o pai.
Antonino S.M. Bou Habib
Li os imensos comentários com toda a atenção, e acho surpreendente ninguém colocar a questão de perturbação psíquica. Os surtos psicóticos não caem do céu, é o terreno já de si frágil,que se revela num dado momento de conflito emocional. Renato Seabra é um doente como dezenas de jovens na casa dos 20 anos. Nessas idades revelam-se muitas psicoses, que a família e amigos confundem com crises de adolescência...
Depois de ler alguns comentários, gostaria aqui de deixar a minha opinião: Para mim o RS é mesmo homosexual mas não p quer admitir. Isto pela carga religiosa que pelos vistos lhe foi administrada desde criança. O facto de ele ter dito "Já não sou mais gay" tem mais que se lhe diga ... pois é porque o era antes....
Todo o cenário violento de que foi autor, parece-me a mim que transferiu toda a sua raiva para o CC,torturou o senhor, matou-o, como se ao mesmo tempo quisesse também ele "matar" a sua tendência para o homosexualidade, que ele não quer admitir.Daí ter falado dos demónios, etc...
Concordo com a máxima "No melhor pano cai a nódoa" e os sonsos, os bons-meninos e meninas escondem por detrás dessa imagem a sua verdadeira personalidade, que muitas vezes é arrepiante....
Como mãe, tenho pena da mãe do RS, mas ela terá tido a sua parte de culpa como educadora deste menino-de-ouro, pois parece-me que terá evitado o contacto do filho com o pai,desde criança, por motivos puramente egoistas, tipo vingança por ele a ter abandonado...
O RS ainda que venha a usufruir de algumas atenuantes que lhe aliviem a pena tão pesada de que se fala, não deveria de forma alguma ser absolvido do crime horrendo que praticou. Pelo menos devia lá estar uns 8 ou 10 anos...
olá o seu blog esta muito boonito, parabens!
Obrigada por gostar do novo aspecto do meu blogue. De vez em quando, gosto de mudar de ares, mudo a imagem, as cores.
Obrigada por me visitar. Volte sempre.
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