quarta-feira, agosto 04, 2010
A Alta Sociedade e os Alpinistas - Critérios para identificar uns e outros
(Maria Duarte e Liliana Campos em http://aeiou.caras.pt/iv/0/43/421/maria-duarte-e-liliana-campos-abee.jpg)
(D. Teresa Marquesa de Lavradio em http://altasociedad.files.wordpress.com/2008/07/marquesa-teresa-de-lavradio-02.jpg)
Talvez o Céu seja uma sociedade sem classes mas não temos como confirmar.
Cá por baixo, o que temos é uma sociedade de classes. E sub-classes. E classes de faz-de-conta. Uma taxonomia ao gosto de chaque un.
Não sei em que classe deveremos incluir os’famosos’ que enchem revistas e programas de TV. A maior parte, olha-se para eles e não se sabe de onde apareceram. Tenta-se perceber e ouvimos ou lemos que são actores, actrizes, apresentadores, modelos, relações públicas. Fornadas deles, das telenovelas, seriados, concursos, whatever. New comers.
Respondem com nulidades a perguntas que são outras nulidades e riem-se todos muito.
Presumo que se vistam à conta, que passem férias à conta, que vão a discotecas à conta e que por aí circulem sempre à conta. Uns, jovens sorridentes e saudáveis, iletrados, maliciosos qb, com uma experiência de vida que lhes permite dissertar sobre carreiras, relações e por aí fora. Outros, maduros, igualmente sorridentes, elas geralmente louras com nuances, todos um pouco parecidos, esticados, ginasticados, uns a saírem de uma relação que chegou ao fim no melhor clima de amizade e compreensão, outros ilusionados por estarem a entrar numa relação fantástica que está a começar, uns corajosos a sair de uma doença ou mesmo de um aborto, sempre todos muito felizes, bronzeados, bem vestidos.
Numa óptica industrial diria que são a principal matéria prima dos pink media. Ou, se quisermos usar algum rigor contabilístico, talvez nem devamos falar em matéria prima, talvez seja mais correcto falarmos de consumíveis.
Mas estes, cuja exposição faz as delícias do lumpen, da classe baixa ou média/baixa, são vistos com desdém por outra sub-classe que não sei bem como designar. Talvez os possamos designar por old stayers ou long stayers. A suposta verdadeira elite. La crème de la crème.
Mas como estes, frequentemente, também não são extraordinariamente letrados, para facilmente poderem saber quem devem discriminar, arranjaram uma chave simples de catalogação. É uma tabela muito básica, com poucas entradas e apenas duas saídas: ou se é bem ou não se é bem. As entradas são:
>‘diz encarnado’ ou ‘diz vermelho’;
> pronuncia ‘sófá’ ou ‘sofá’;
> diz ‘presente’ ou ‘prenda’;
> diz ‘piqueno’ ou diz ‘pequeno’,
> diz ‘enterro’ ou diz ‘funeral’;
> diz ‘retrete’ ou diz ‘sanita’.
Poucas coisas; mas, como se vê, coisas importantes.
De cada binómio, a primeira entrada dá saída para a classe dos ‘Bem’ enquanto os que usam a segunda vão de carrinho para os ‘Não-bem’.
Ora, como opinarei, a utilização desta chave de classificação revela, mais do que pretensiosismo, alguma superficialidade ou falta de actualização.
Ou, como refere Alexandra Guedes Pinto no texto As Modas nos Modos de Dizer disponível no link abaixo, trata-se talvez de uma insegurança linguística que é ultrapassada através de imitação.
Seja como for, a utilização da 1ª entrada da tabela não revela erudição, nem é indício clínico de sangue mais azul do que vermelho.
Temos pena.
http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/1479.pdf
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