Em noite de feroz inspiração, o poeta foi passear pelo campo e, topando com um alentejano que contemplava o luar, disse-lhe:
- És um amante do belo! Acaso já viste também os róseos-dourados dedos da aurora tecendo uma fímbria de luz pelo nascente, ou as sulfurosas ilhotas de sanguíneo vermelho pairando sobre um lago de fogo a esbrasear-se no poente, ou as nuvens como farrapos de brancura obumbrando a lua, que flutua esquiva, sobre um céu soturno?
- Ultimamente, não!... respondeu o alentejano pasmado. Há mais de um ano que não me meto nos copos...!
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Já agora, e agradecendo ao Leitor que me enviou a graça acima, deixem que junte um poema, uma outra pintura, e, já agora uma canção.
O luar através dos altos ramos,
Dizem os poetas todos que ele é mais
Que o luar através dos altos ramos.
Mas para mim, que não sei o que penso,
O que o luar através dos altos ramos
É, além de ser
O luar através dos altos ramos,
É não ser mais
Que o luar através dos altos ramos.
[O Luar de Alberto Caeiro in 'O Guardador de Rebanhos']
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A primeira pintura é A Cornfield by Moonlight with the Evening Star de Samuel Palmer, 1805-1881
A segunda pintura é Starry Night de Vincent van Gogh, 1853-1890
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Vincent (Starry Starry Night) por Don McLean
[A slideshow of Vincent Van Gogh's work set to the song "Vincent" by Don McLean. It's part of an art and creative writing lesson plan for the patients at Mississippi State Hospital at Whitfield. Compiled by artist Anthony DiFatta, who also suffers from mental illness and teaches art to other adults with mental illness. ]
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