domingo, agosto 31, 2025

Activos destes & daqueles
-- A palavra ao meu marido --

 

O Marcelo, que corre o risco de ficar para a história como o hipócrita-desbocado -- já que seria  muito pouco sexy ficar com o extenso cognome de hipócrita-dissolvente-"marselfie"-o pior PR-desbocado -- disse, no meio de uma aula da universidade laranja, do alto da sua verve incontinente, que o Trump é um activo russo (por acaso até se enganou e primeiro chamou-lhe ativo soviético). 

Desta vez, concordo com o Marcelo. O Marcelo tem razão: pelas suas ações e omissões o Trump é, de facto, um activo russo. Não sei se não será mesmo um activo soviético porque, com a forma como actua, dá força ao objetivo do Putin de voltar às fronteiras do estado soviético. 

Tenho uma enorme repugnância em falar do Trump. É inqualificável o que ele está a fazer, tanto a nível interno como ao Mundo. Mas, neste caso, como em outros ao longo da história, o que é verdadeiramente insuportável e aterrador é que o Trump tenha sido eleito de forma democrática e continue a ser suportado pelos MAGA cuja acefalia demonstra até onde pode ir a manipulação, o populismo, o poder das redes sociais e a falta de educação. 

[Sofre da mesma acefalia dos MAGA quem recentemente comentou um post aqui do blog dizendo que o problema com o SNS, com os bombeiros, com isto e aquilo resulta do nosso apoio à guerra da Ucrânia. É absolutamente inconcebível que alguém possa pensar e escrever este tipo de coisas. Nada justifica este tipo de mentiras. A  manipulação dos factos e uma mentira muitas vezes repetida não alteram a realidade.]

Voltando aos activos, não me espantará nada se o Marcelo numa próxima universidade de Verão ou, quem sabe, numa tertúlia, disser que o Montenegro é um activo do Ventura, que a Mariana Leitão é um activo do Montenegro, que o Nuno Melo nem chega a activo, e que ele próprio é um hiperactivo. Vale uma aposta?

Nota: já aqui tinha referido o "êxito" que o governo tem tido no combate à inflação. Ontem soubemos que o valor da inflação subiu para 2,8% e que os produtos frescos aumentaram mais de 7%. Sendo conjuntural, como defendem os analistas inclinados para a direita, ou, sendo estrutural, o que é verdade é que esta enorme subida dos preços não é um activo para a bolsa dos portugueses.

sábado, agosto 30, 2025

Trump está a apodrecer? Epstein, o pedófilo compulsivo, tomava testosterona? Ghislaine apenas tinha por missão arranjar massagistas para Epstein, de preferência bem novinhas? Trump vai conceder perdão a uma traficante sexual de menores?
Isso e muito mais no saboroso podcast do The Daily Beast com a encantadora Joanna Coles e o fantástico Michael Wolff

 

Tenho andado bastante ocupada, já contei, mas, sempre que posso, e agora posso, intervalo. Ou seja, como agora parece que as coisas estão a encarrilar, fico logo a sentir-me de férias, com vontade de vadiar, de preguiçar. 

Para a semana vou ter mais um daqueles episódios numa repartição pública para os quais vou em modo panela de pressão, como se só estivesse à espera que me ofereçam o pretexto para lhes cair em cima a pés juntos. Mas, ao mesmo tempo, forço-me a enfaixar-me numa camisa de forças de humildade e resiliência pois sei que dependo da boa vontade de burocratas que já provaram à saciedade que são quadrados, retrógrados, embirrantes, quezilentos, prepotentes, daqueles que parece que também estão à espera que a gente lhes dê pretexto para pedirem mais cinquenta papéis, um dos quais, inevitavelmente não temos ali connosco. Portanto, forço-me a assimilar que tenho é que ir em modo bolinha baixa. E isso, só por si, encanita-me e não é pouco. Portanto, tento não pensar no assunto.

E, assim sendo, neste ínterim, rego, varro, fotografo, faço videozinhos para o instagram que deixam o meu marido a navegar na ambiguidade, entre o sorridente e o resignado, como se não percebesse o objectivo mas também já não estranhasse e até achasse graça ao absurdo. E, à noite, vejo alguns vídeos sobre temas que me interessam. E há muitos. 

A minha insaciável curiosidade deveria fazer dilatar o tempo para que eu conseguisse ver tudo o que me interessa. E, se calhar, deveria ir partilhando aqui, convosco, os vídeos que despertam o meu interesse. Mas não sei se faz sentido isso. Tenho que pensar. No outro dia vi um vídeo sobre um tema de física que me deixou a salivar e que me tem levado a ver outros, tão misteriosos e poéticos que nem parecem lidar com partículas elementares e com as leis que regem os seus movimentos. Ora não sei se é tema que desperte interesse por aí além a quem ande ocupado com temas mais concretos e emergentes...

Mas um dos podcasts que gosto sempre de ouvir/ver é um sobre esse buraco negro e putrefacto que é a cabeça do Trump: Inside Trump's Head, do Daily Beast.

Partilho o episódio que vi hoje. É longuito e creio que não dá para legendar. Mas para quem esteja familiarizado com o inglês, dá para acompanhar muito bem pois falam a um ritmo educado e têm uma boa dicção. É todo um outro mundo, um mundo em que ninguém fala verdade e em que as relações entre uns e outros são suspeitas, estranhas, indecifráveis. E em que um dos intervenientes é talvez o homem mais ridiculamente poderoso (e perigoso) do mundo.

White House Raging at Trump's Health Crisis: Michael Wolff | Inside Trump's Head

Joanna Coles and Michael Wolff dig into the explosive Trump DOJ transcripts of Ghislaine Maxwell’s meeting with Todd Blanche and what they reveal about Jeffrey Epstein’s finances, Donald Trump’s anxieties, and more. From the talk in the White House of Trump “keeling over” and the President’s obsession with Ghislaine Maxwell, the conversation unpacks Trump’s paranoia, monied moves, and lingering ties to Epstein’s world. With fresh Epstein details overlooked by the mainstream media found within Maxwell’s proffer, Wolff explains how Trump’s past scandals keep colliding with his present.


Desejo-vos um belo sábado

sexta-feira, agosto 29, 2025

Felca, o Senhor Influencer

 

Virou a mesa, destapou a tampa, atirou a bomba para cima da mesa. Mais de 49 milhões de pessoas já viram o seu vídeo Adultização. É obra. Na sequência na sua denúncia pública, já se legislou e a polícia já actuou. 

Ao ver este jovem (tem 27 anos) com uma figura algo bizarra a agir de forma tão determinada e corajosa, a demonstrar um sentido ético de responsabilidade cívica, fico a pensar que isto, sim, isto é um influencer a sério.

O tema que ele estudou e denunciou é tema que a mim me revolve as entranhas, me petrifica, me assusta a sério pois é como uma onda gigante a que dificilmente se consegue resistir caso nos passe por cima, ou, pior, se passar por cima de crianças. A única coisa a fazer é fugir, não estar por perto. Mas não é fácil pois o poder dos algoritmos e a difusão generalizada das redes tornam os perigos grandes demais.

Felizmente alguém como um improvável Felca -- e digo isto na maior ignorância pois só recentemente sobre a sua existência -- veio denunciar a exposição de crianças e adolescentes nas redes sociais, muitas vezes pela mão dos próprios pais, a adultização, a exploração a chantagem, os riscos tremendos das redes sociais que colocam os indefesos na rota dos predadores, dos pedófilos, dos criminosos de toda a espécie.

Sobre o Felca, transcrevo da wikipedia:

Felipe Bressanim Pereira (Londrina, 25 de julho de 1998), mais conhecido como Felca, é um youtuber, influenciador digital e humorista brasileiro. Conhecido por seus vídeos de reação e sátiras de tendências da internet, começou sua carreira como streamer em 2012, produzindo vídeos de jogos eletrônicos. Com o tempo, reformulou seu conteúdo e passou a criar vídeos humorísticos, principalmente com tom autodepreciativo.

Ganhou notoriedade em 2023 ao testar a base "We Pink", de Virgínia Fonseca,[1][2] e com vídeos criticando lives de NPC no TikTok,[3] que lhe renderam 31 mil reais, doando todo o valor arrecadado para instituições de caridade.[4] Em 2025, desmantelou uma rede de exploração sexual de menores com um único vídeo sobre adultização,[5] no qual denunciou várias pessoas associadas à exploração sexual de menores de idade na Internet, entre elas, o influenciador Hytalo Santos, que perdeu sua conta no Instagram após a repercussão negativa, e rendeu debates sobre a criação de leis para combater a exploração sexual de menores na Internet. (...)

Mas calo-me já e partilho uma conversa elucidativa na qual Bial eleva ainda mais o Felca a figura pública de excelência. 

Felca à conversa com o Bial sobre Adultização  


E, claro, aqui está o vídeo Adultização que, por muito que nos custe, tem mesmo que ser visto (a bem da compreensão deste fenómeno e a bem da defesa das nossas crianças e dos nossos jovens)

Adultificação



De "coordenação espetacular" a "nem tudo correu bem" ... para irmos acabar no "colapso"
-- A palavra ao meu marido --

 

O Marcelo armou-se em bombeiro e saiu chamuscado. Quis ajudar o Montenegro e foi dizer ao jantar que estava tudo a correr bem, até a "coordenação era espetacular". Perante a evidência dos factos lá vieram, a muito custo, o Montenegro e a ministra afirmar que afinal "nem tudo tinha corrido bem". De facto, depois das catástrofes que aconteceram (entre outras coisas, fico pasmado com um dos incêndios ter durado 12 dias, parece-me quase inverosímil!), era impossível manter a tese de que tudo tinha corrido bem. Vamos ver se depois de uma análise independente da forma como actuaram os vários agentes não se chega à conclusão que, de facto, de facto, vendo bem as coisas, houve um colapso do sistema. 

Para se resolver a crise a ministra anunciou a "chapa um" do governo quando há problemas: analisar os factos para "empurrar com a barriga" e deixar passar o tempo, e, entretanto, atirar dinheiro para cima. Parece-me até um pouco vexatório para os bombeiros, que todos temos por pessoas abnegadas e não venais, vir anunciar um aumento de 25% do salários aos que combateram na linha da frente. Para além de refletir a versão mercantilista do governo, põe a nu as vistas curtas da ministra e provavelmente do PM que não percebem que, em situações de crise, a retaguarda é tão ou mais importante que a linha da frente. 

Mas nada de razoável se pode esperar destes governantes. Lá perdeu o Marcelo outra vez uma boa oportunidade de estar calado.

Hoje ouvi o Paulo Raimundo, que estava inspirado. Diz ele que há hoje uma "conjugação" das forças de direita em Portugal, e concretizou: a AD executa a política, a IL é a lebre ideológica e o Chega é o arrebanha. Ora apontem aí que esta é boa!

quinta-feira, agosto 28, 2025

Santa vidinha

 

Vidinha de aposentada é assim: ginásio, caminhadas, leituras, passeios à beira-mar, fotografar, papar sushi, preguiçar, regar, cumprimentar os conhecidos. Uma santa vidinha, na verdade.

Só que, pelo meio, aparecem sempre cenas. 

Estive até agora, e já passa das duas da matina, a rever um contrato. Chegou-me tarde e, claro, poderia fazer de conta que não tinha visto e só pegava nele de dia, quando tivesse tempo. Vidinha boa de aposentada tem destes privilégios, pode fazer-se o que se quer, quando se quer. 

Se, com carinha lampeira, talvez até deixando implícita a minha condição de sénior, disser, olha, quando vi já estava com sono, depois, de manhã. tive que dar banho ao cão, quem é que vai pegar no meu pé? Ninguém, né? 

Acontece que ainda tenho agarradas a mim as células velhas de quando trabalhava. Bem que já poderiam ter-se renovado, e eu, toda eu, ser outra, despreocupada. Mas não. Feita eu quando era assalariada, mal me chega alguma coisa para fazer, só se não puder é que não ponho logo na calha. E, se na calha não estiver nada de mais importante, é logo. Claro que poderia pensar para mim própria que coisas mais importantes era o que não faltava: ver as notícias, ver o instagram, irritar-me com os comentadores. Mas não. Parece que aquela coisa de primeiro as obrigações e só depois as devoções também continua peçonhentamente agarrada a mim.

Portanto, aqui estive a ver cláusula a cláusula, a consultar o código civil e o rebeubéu pardais ao ninho, a fazer análise comparada com outros contratos, a assinalar as alterações, etc., a trabalheirazinha do costume. 

Conclusão, a esta hora, sei lá eu sobre o que é que hei-de aqui escrever? Não sei... Aconteceu alguma coisa digna de registo? Não sei.

Por acaso, li, de relance, que se percebeu aquela coisa da falha tectónica que justifica aquela quedazinha maçadora para os sismos cá do burgo. Mas não sei mais do que o título pelo que não me aventuro a botar faladura. Além do mais, não é tema que me ponha aos saltinhos. Se aquela coisa da fissura das placas for coisa que dê para preencher com silicone para isto não dar de si, tudo bem. Agora se é coisa sem remédio e a dita falha não vai fazer senão agravar-se, então, obrigadinha, mas não venham para cá incomodar-me com o tema pois passo bem sem ralações adicionais.

Por isso, peço desculpa mas, não havendo nada mais a declarar, aos costumes digo nada e avanço para os meus aposentos. E o que eu estimo é o que eu desejo. Sinceramente. 

quarta-feira, agosto 27, 2025

Traçando a bissetriz ao dia, obtenho uma linha quase luminosa

 


Tenho andado atarefada com umas cenas. A coisa parece ter-se quase solucionado mas, em sequência, nasceram mais uma série de tarefas. E digo tarefas para não dizer trabalhos. Mas que alguns têm sido uma carga de trabalhos, lá isso, têm.... 

Hoje voltou a ser um dia desses. Tive que acordar com despertador, coisa que abomino, coisa que parece trazer-me de volta os tempos em que acordava sempre com sono e que me levantava a saber que ia ter um dia de cão. Depois houve de tudo um pouco, incluindo estar quase duas horas num serviço público, a espumar de impaciência. Poderia tratar-se remotamente mas não seria tão rápido e, neste caso, a rapidez é um factor crítico. Depois, num outro assunto, ocorreu um erro a que ninguém conseguiu atribuir responsabilidades que nos obrigou a andar, debalde, para a frente e para trás para, no fim, ficar agendado para outro dia. Ou seja, foi daqueles dias, cheio, cheio, mas saturante, saturante. 

Ia dizer que foi um dia perdido mas, na realidade, se não me armar em queixinhas e em fatalista, não foi. Tratei de várias coisas e isso não é despiciendo pois temia que surgissem complicações que atrapalhassem tudo e, afinal, as coisas parece que estão mais ou menos encaminhadas. 

Não sei que paranoia minha é esta mas, quando vou tratar de qualquer coisa de tipo administrativo/ burocrático, parece que desce em mim um quase medo, uma espécie de impotência. Quando chega a minha vez, e quando me sento e explico ao que vou, sou invariavelmente atacada por funcionárias que tentam apanhar-me em falta: Trouxe o papel tal e tal? Trouxe o comprovativo tal e tal? E olham para mim como se estivessem preparadas para me dar a estocada final, a de que não se poderá tratar de nada por conta do meu erro ou omissão. Por isso, vou sempre preparada para o pior, carregada de papéis, sempre preparada para sacar de todas as armas para tentar defender-me de ataques que são mais do que certos.

Mas, apesar da longa espera e de várias trapalhadas, desta vez a coisa não correu mal de todo. Pelo menos, até agora. 

O que sei é que, com isto tudo -- e, nestas coisas, não sei porquê, desce-me sempre a tensão arterial e, porque nunca me lembro de levar uma garrafinha de água, acabo também a sentir-me desidratada, meio zonza -- quando acabámos uma das tarefas, por volta das duas e tal, olhámos em volta, estafados, esfomeados, e pensámos que tínhamos que almoçar por ali mesmo. Vimos uma pizzaria e foi ali sem tirar nem pôr, na esplanada. Soube-nos bem. 

Estávamos naquilo, ouvi uma voz que me pareceu conhecida. Olhei. Era mesmo. Uma conhecida actriz de telenovelas e não só. Julgava que fosse bem mais alta mas é bonita e elegante. Sorridente, creio que com o marido e filhos. Mas parece que na televisão as pessoas parecem mais altas do que são na realidade. Facto irrelevante, bem sei.

E, ao fim da tarde, depois de outra missão, neste caso, incumprida, ainda conseguimos passear por um sítio bem bonito, tranquilo. Caminhámos sob uma doce luz dourada, fiz umas fotografiazitas, descansei a cabeça.

Ao virmos para casa, já tardote, estava a apetecer-me caracóis ou um gelado. Mas, cansada como estava, já não tive pachorra para desvios, só me apetecia vir para casa. Além disso, queria ir regar uma parte do jardim que, no outro dia, descobri que não tem estado a ser regada pela rega automática. Esta coisa da rega é uma carga de trabalhos: agora acho que é uma electroválvula que está entupida ou estragada. Mas também não sei se estamos com paciência para cá termos mais artistas a mexerem naquilo. Acho que prefiro regar com mangueira. Poderíamos arriscar sermos nós a pôr uma nova mas, às tantas, ainda estragamos mais. Por isso, para já, acho que fica assim. 

E é isto. Não tenho respondido nem agradecido os comentários pois tenho andado ocupada e com a cabeça cheia de preocupações e chatices. A ver se um dia destes, agora que as coisas parece estarem a serenar, volto a ter mais disponibilidade mental. 

E é verdade: há por aí, entre vocês, Caros Leitores, alguns sonsos, alguns manhosos, algumas más pessoas, que aqui vêm deixar comentários maldosos, parvos, mal educados. Como têm reparado, não os tenho publicado nem vou publicar. Não sei o que pretendem, se é apenas chatear, se é condicionar, se é outra coisa qualquer. Mas já deveriam ter percebido que é tempo perdido: bem podem vir para aqui despejar a vossa maldade e a vossa falta de educação que isso a mim passa-me ao lado. De gente estúpida quero é distância e só não percebo porque insistem em vir aqui visitar-me se não se reveem em nada do que digo. Portanto, bem podem escrever comentários alarves, ordinários, trogloditas ou, simplesmente, parvalhões, que já sabem, estão a escrever para o boneco. 

terça-feira, agosto 26, 2025

Os sucessos do Montenegro
-- A palavra ao meu marido --

 

Depois das tragédias na saúde, da catástrofe dos incêndios, do pavor da habitação -- e fico-me por aqui que só estes três enormes problemas são bem reveladores da incapacidade e incompetência do governo -- soube de duas notícias que me causaram causaram preocupação. 

A primeira é o valor da inflação. As medidas do governo não funcionam, a inflação vai aumentando e o nosso posicionamento na Europa não é nada confortável. De facto, julgo que até os laranjas empedernidos devem achar que o valor que deixam no supermercado, no mercado ou na mercearia é cada vez maior, e parece injustificável. Vai mal a tal história da inflação, muito mal.

Uma outra notícia deveras preocupante é ter diminuído significativamente o número de alunos candidatos ao ensino superior, tendo esta diminuição impacto significativo nos jovens com menos recursos. Um País nunca crescerá de forma integrada e coerente se não tiver gente educada e com boa formação pelo que estas notícias são muito preocupantes e consequência seguramente de problemas no ensino e na falta de recursos das famílias. Podemos dizer que temos aqui mais um "enorme sucesso" do governo.

segunda-feira, agosto 25, 2025

Um dia em forma de assim

 

Hoje foi dia de rega manual. O sistema de rega não chega a todo o lado, nomeadamente a vasos ou a trepadeiras ou arbustos plantados no terraço. Já devo ter contado que é tarefa minha e que a faço de gosto, geralmente com pouca roupa vestida e descalça. A pouca roupa não se prende só com o facto de ser encalorada mas também porque ao puxar pela mangueira, volta e meia alguma coisa se solta e apanho um valente banho. Não me importo nada, sabe-me até bem, mas assim é mais fácil de secar do que se andasse vestida da cabeça aos pés. E isso foi uma das partes boas do dia.

Há alguma relva que parece não querer ficar saudável e verdinha e temos vindo a adiar a decisão de a substituir, nesses sítios, por outra coisa, supostamente por um tal trevo branco anão. Teremos que ir comprar as ditas sementes, ver qual a melhor altura para a semeadura, depois deitar mãos à obra e tapar. Sempre que tentámos semear qualquer coisa, nomeadamente relva, não tivemos esse cuidado e os pássaros chamaram um figo às sementinhas. 

Tirando isso, tivemos que ir à cidade pois temos andado com uns certos e determinados compromissos, coisa que tem dado algum trabalho e que a mim me tem trazido um bocado enervada pois sou muito germanófila no rigor do cumprimento do que se combina e tenho que tentar controlar-me para não mostrar excessiva irritação quando lido com pessoas que se estão a marimbar para o que está acordado, que acham que tanto pode ser assim como assado, tanto pode ser agora como quando calhar e que consideram que os compromissos estabelecidos foram um mero pro forma que não interessa nem ao menino jesus. O meu marido tenta pôr água na fervura e os meus filhos também aconselham alguma relativização. Mas, para mim, há uma ética, que é inegociável, no cumprimento dos compromissos. Não me desvio um milímetro do que se combinou e respeito escrupulosamente os outros. Por mais que me digam que ética é coisa que escasseia ou que gente imprestável é o que mais não falta, a mim custa-me fazer de conta que está tudo bem quando está tudo virado às avessas. Apetece-me espernear à força toda, confrontar ou penalizar quem se está nas tintas para o rigor, para a ética, para o respeito.

Mas, enfim, também compreendo que a vida é mais do que o somatório de todas as pequenas parcelas que a constituem, pelo que, por vezes, mais vale passar por cima das parcelas enviesadas, fazer de conta que nem as vemos, e tentarmos focar-nos nas parcelas escorreitas e na seiva que as irriga e nos bons sentimentos que alavancam o nosso bem estar. 

Portanto, siga o baile.

Estando na cidade, passámos por uma daquelas lojas de pão da moda, daquelas todas xpto, todas alto décor (e alto preço), todas biológicas e artesanais. Foi o meu marido que deu por ela e que sugeriu que entrássemos. O cheirinho daquilo é altamente convidativo. Esfomeada como sou e altamente amante de pão, fiquei logo cheia de vontade de experimentar aquelas variedades mais estranhas. Mas, depois, lembrei-me que, agora que os três leões da família também já fizeram a festa toda (depois de me terem feito comer bolo e mais bolo... isto a seguir aos três caranguejos), está mais que na altura de voltar a tentar fechar a boca. Portanto, foi o meu marido que escolheu: um de espelta e outro de centeio, tudo massa mãe. Mas depois vi uma focaccia de azeite e de alecrim e não resisti. Vi também um brownie de chocolate e pistácio e também não. Mas, em minha defesa, direi que não era um brownie, era uma partíula de brownie, ainda por cima uma partícula estupidamente minúscula. Cada um de nós dois deu uma dentada e o bolículo desandou. Mas era bom. Lá isso não vou negar. Não resisti também a uma espécie de pãozinho fofo com uns tininis de coco. Mínimo também. Não sabe a nada nem é doce. Não achei graça. O meu marido disse que não era mau.

E, feita maria deslumbrada de visita à cidade, ao passar por uma loja de coisas para a casa, entrei e, como sempre, fiquei estupefacta com a quantidade de apetrechos para tudo e mais alguma coisa. Resisti a trazer toda a espécie de bugigangas, algumas das quais tinha que ler na embalagem para perceber o que eram e para que serviam de tão desconhecidas para mim. Mas trouxe uns individuais para a mesa da casa in heaven pois os que lá temos já estão um pouco usados e é mais fácil usar individuais laváveis do que, de cada vez, estar a usar uma toalha grande que tem que ser lavada na máquina. 

E esta parte de ir à padaria ou à loja das coisas para a casa também foi boa. E as caminhadas que fizemos também foram boas. O tempo já está mais fresco, sabe bem voltar a sentir este arzinho que já prenuncia o doce outono.

Portanto, vendo bem as coisas, o dia até não foi mau de todo.

E bola para a frente porque para a frente é que é caminho. É ou não é? 

domingo, agosto 24, 2025

A graça dos inocentes

 

Não quero parecer tonta e insensível como o Montenegro, a banhos ou todo contente no Pontal enquanto o país arde e as populações gritam, entregues à sua sorte com o fogo a lamber-lhes e a devorar-lhes as terras. Mas, em minha defesa tenho o facto de que, ao contrário de Montenegro, eu não sou responsável por tomar medidas que previnam estas desgraças ou que, na presença delas, as ataquem. Ele é. E parece que anda às aranhas, sem saber o que fazer. Depois de tanto ter pregado contra António Costa e ter prometido resolver tudo e mais alguma coisa em três tempos, agora não apenas está tudo pior como não conseguimos ter confiança nos artolas que nos aparecem da parte do Governo. Maria Lúcia Amaral pode ser uma boa pessoa, uma boa professora e ter algumas coisas razoáveis no cv mas, caraças, não salta a olho nu que jamais poderia ser pessoa capaz para este ministério? Que experiência tem a senhora para lidar com catástrofes, que experiência tem em coordenar equipas distintas, para lidar com problemas complexos, no terreno? Não sei mas presumo que zero. Estamos entregues a isto. 

Por isso, enquanto as televisões mostram Pedrógão de novo debaixo de fogo e outros céus rubros das labaredas e do fumo ardente, eu aqui estou a pensar nos meus amores e amorzinhos, tão queridos, tão alegres, todos boas pessoas. Cá estiveram e, como sempre, é aquela animação e aquele bom apetite que dá gosto. Os caranguejos gostam de alimentar os outros. Eu sou assim, o meu filho é assim, o meu pai era assim. 

Entre parêntesis, confesso uma coisa de que não me orgulho, uma coisa que talvez indicie que a minha cabeça começa a desandar... Fiz uma empada de galinha, uma empada grande, familiar. Deu-me algum trabalho, claro. Quando pronta, não a retirei do forno para se manter quentinha. Depois preparei o resto, o meu filho veio para a cozinha e assumiu o comando, cozinhou escalopes e febras, preparou bifanas, e pitas, tudo saborosíssimo, juntei a isso, na mesa, o cheese naan, chamuças, etc, e é sempre aquele reboliço de se ajeitarem na mesa, de se servirem, de conversarem e rirem. E depois veio a fruta e o bolo e tudo certo, cantoria, fotografias. De repente lembrei-me: a empada! Ainda morninha, no forno... caraças... 

No fim, quando saíram, lá a dividimos entre famílias, sempre a provam em casa, mas, bolas, como fui esquecer-me de uma coisa destas? Que absurdo... Enfim. Cabeça de alho cada vez mais chocho...

Mas, enfim, todos os males fossem esses. O que importa é que a convivência é sempre leve, bem disposta. E eu fico feliz por eles, por serem amigos, por gostarem uns dos outros, e por gostarem de estar cá em casa.

Ainda não contei mas no outro dia, estávamos in heaven, pergunta o mais novo, e já nem me lembro bem das exatas palavras mas foi qualquer coisa do género: 'Para quem fica isto quando vocês já não puderem tomar conta?' e depois, mais palavra menos palavra, disse que podia ficar para ele. Achei um piadão. Disse-lhe que já era o terceiro a candidatar-se. O mano dele depois dissertou dizendo que se calhar daqui por uns vinte anos eu e o avô já não poderíamos tomar conta, que ele poderia ocupar-se disso. São inteligentes, percebem que uma coisa assim tem que ter quem se ocupe dela, dá muito trabalho, e, de facto, eu e o avô já não vamos para novos, chegará a altura em que não daremos conta do recado. Fico contente por sentir neles este amor a este bocado de terra, enche-me de felicidade, talvez continue a ser um lugar no coração deles e de vindouros que nem conhecerei mas que, de alguma forma, ainda transportarão algum do meu sangue, um lugar de paz que os animais também procuram, em que nasce tudo em todo o lado, em que o ar transporta a liberdade dos grandes espaços. 

Felizmente não somos eternos e, quando chegar a minha vez de sair da passadeira rolante que é a vida, já cá não estarei no day after para lamentar isto ou aquilo. Mas, apesar disso, alegra-me pensar que talvez entre eles se organizem para continuarem a usufruir de um espaço tão rural, tão selvagem mas, ao mesmo tempo, tão acolhedor.

E estava eu aqui a ver as fotografias de hoje, a pensar nisto, a pensar nos meus cinco pimentinhas, agora já tão grandes e sempre tão queridos, resolvi espreitar o youtube.

E pimbas, apareceu-me este vídeo que aqui partilho. Uma delícia, uma fofura, a graça da descoberta, a graça da inocência.

O elefante bebé Chaba pela primeira vez numa banheira


Desejo-vos um feliz dia de domingo!

sábado, agosto 23, 2025

Montenegro & Companhia
-- Uma vez mais, a palavra ao meu marido --

 

Depois do desastre que está a ser a atuação do governo nos incêndios (a manchete do Expresso é demolidora não só para o governo como também para a "coordenação espetacular" do Marcelo), o Montenegro vem com a única solução que conhece que é atirar dinheiro para cima dos problemas. E assim tem "torrado" e vai continuar a "torrar" dinheiro que devia ser gerido de forma diferente , equilibrada e conducente a desenvolver o País. 

Mas o Luís e a rapaziada do governo não sabem nem aspiram a tanto. Quando perceberam que a 'malta" estava irritada com as festejos laranja no Pontal, com a permanência a banhos do Luís e com a ligeireza, o distanciamento e a falta de discernimento com que o Luís & Companhia (entende-se por Companhia os membros do governo e a malta do PSD de onde se destaca o dono deles todos, o Hugo Soares) encaram o problema dos incêndios, reuniram um conselho de ministros e anunciaram 45 medidas obviamente escritas em cima do joelho. 

Até conseguiram inserir no pacote (sem segundo sentido, obviamente), que se saiba até agora, uma medida já em vigor desde 2022 (serão mais?). É obra! 

Basicamente as medidas são dar dinheiro a rodos sem justificativos e não se percebendo quais os critérios. Assim, se  tentam acalmar os ânimos, fazendo chegar dinheiro à população através das câmaras (vamos ter autárquicas, certo?) na esperança de que a coisa funcione e o voto vá parar ao laranjinha lá do sítio. 

Hoje também ouvi que o governo vai adiantar às associações humanitárias até cinquenta mil euros sem qualquer justificativo. O argumento é que têm tido muitos gastos. As perguntas são: então não fazem orçamentos? Não preveem os gastos? Também fazem tudo em cima do joelho? O dinheiro público deve ser gerido com parcimónia e parece-me muito duvidoso que o mesmo seja gasto sem justificativos. Veremos a quantos processos judiciais vai dar este forrobodó.

Outro tema. Tenho aqui criticado ferozmente o Luís e a Ana Paula (parece um duo de malabaristas) pela política de saúde que têm praticado. Gastos e mais gastos, serviços de saúde cada vez piores com o objetivo de aumentarem o mais possível a participação (e faturação) dos privados. Hoje venho apoiar a medida que vão tentar por em prática para pôr cobro ao que aqui já referi várias vezes: os médicos abandonarem o SNS para trabalharem como tarefeiros ou acumularam o contrato com o SNS com a prestação de serviços como tarefeiros. Pode ser uma medida que garanta alguma transparência na contratação dos médicos. No entanto, ninguém se deve esquecer que o enorme aumento dos custos com os tarefeiros (com este caminho ainda temos o Gaspar de volta) resultou do enorme aumento no valor do pagamento das horas aos tarefeiros que a ministra decidiu para tentar tapar o sol com uma peneira, isto é, não ter urgências fechadas. Mais um dinheirão "torrado"!

Tenho dúvidas e vou deixar algumas sobre o objetivo da ministra e do Luís. Depois de aumentar tanto os valores pagos aos tarefeiros (tanto que puseram os cabelos em pé aos privados, a quem os ditos tarefeiros pressionam para que os privados também subam a parada), agora de repente quer tirar o tapete aos doutores? Será que os médicos vão acatar esta medida, tipo cordeirinhos, ou vão para a "luta"? Será que os amigos da ministra que foram colocados em lugares de chefia (e que, se calhar, alegadamente, também complementam os salários com o serviço de tarefeiros -- assunto que deveria ser averiguado) vão achar piada a esta história? Será que mais uma vez o objetivo da ministra e do Luís é dar mais uma machadada no SNS, "correndo" com os médicos para os privados?

Bom seria esclarecer e moralizar estas "cenas".

sexta-feira, agosto 22, 2025

Repulsa, repugnância, estupefacção, indignação. E etc.

 

Por todo o lado onde há grunhos, e há-os em todo o lado, há um, tão ou mais grunho que todos os outros, que se apresenta como o salvador dos grunhos. Anuncia-se como sendo o líder, o grande líder, o que vai salvar os outros dos 'poderosos',  o que troça dos que 'têm a mania que são superiores', o que despreza os que falam 'coisas complicadas', o que diz 'as verdades'.

Os grunhos não compreendem nada do que os mais eruditos, os mais informados, os mais cultos e competentes dizem. Por isso, odeiam-nos. Sentem-se inferiores perante os que falam 'caro'. Em contrapartida, percebem tudo o que dizem os grunhocos, os grunhescos, os brutamontes: as palavras grunhescas, as ameaças, as promessa de vingança são fáceis de perceber.

Os grunhos -- gente ressabiada, invejosa, bruta, abestalhada -- vão na conversa dos que se propõem dar cabo dos outros, rebentar com o regime, acabar com isto tudo. Não percebem que, no dia em que o líder dos grunhos tenha poder, os maiores prejudicados serão eles, os grunhocas que o elegeram. Não percebem que os grunhos-chefes, porque são inseguros e trogloditas, para se aguentarem no poder, vão cortar liberdades, vão fazer de tudo para se imporem, são autoritários, incapazes de perceberem a democracia.

E o drama é que, sempre que um grunho vence umas eleições, todos os grunhos, em todo o lado, se sentem inspirados e animados a conseguirem o mesmo. O populismo cresce facilmente. Como ervas daninhas, os populistas vão invadindo o terreno fértil e bondoso da democracia. 

O cúmulo dos cúmulos aconteceu com a eleição de Trump.

O descaramento, a vigarice, o comportamento misógino, errático, o narcisismo absoluto, a estupidez, a falta de noção, a patetice, o absurdo... tudo seria razão mais do que suficiente para ninguém ter votado nele. Mas votaram e ele aí está. E supera-se. 

Este vídeo é abaixo de tudo o que se poderia imaginar. Vê-se e não se acredita. Parece uma brincadeira, uma palhaçada, uma coisa do além de tão grotesco e parvo e estúpido. Mas é verdade. Ver para crer.

quinta-feira, agosto 21, 2025

Read my lips: Gavin Newsom

 

Finalmente. 

Provavelmente, o próximo presidente dos Estados Unidos. 

Está a lutar com as armas de Trump, no território de Trump. Está a gozar com Trump. À grande. Com a vantagem de ter muita pinta, muita, muita mesmo, enquanto o mentiroso compulsivo, o narcisista doentio Trump é um trapalhão que volta e meia já se mostra meio gagá, só diz parvoíces, todo cor de laranja, todo caneja a andar, todo mãozinhas pequeninas (e, dizem, com outra coisa também muito diminutinha). E com a vantagem de este ter cadastro limpo enquanto Trump é um sujeito condenado, com um historial manchado, enlameado.

Gavin Newsom está a levantar os ânimos dos democratas. Está a resistir contra o autoritarismo, contra o rumo errático, prepotente, desempático e vigarista de Trump. 

Gavin Newsom  está a ganhar um espaço crescente na comunicação social. Com a vantagem que o que faz vem alavancado pelo humor, pelo bom humor, pelo puro gozo. Imita Trump. Imita à cara podre. Imit... e é de gargalhada. 

As pessoas falam nele e sorriem. Ou riem. Ficam bem dispostas. E, geralmente, isso dá vontade de sentir esperança.

Ouço, olho-o e penso: temos homem.

Salve Gavin Newsom .

'Talk about snowflakes': The right-wing meltdown over Newsom's new social media style

Democratic Congressman Eric Swalwell of California, MSNBC Senior Political Analyst Matt Dowd, and MSNBC Senior Political Analyst Alex Wagner join Nicolle Wallace to react to some of Governor Gavin Newsom's most outrageous social media impressions of Donald Trump.

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Gavin Newsom

Só tenho pena de não poder votar lá, essa é que é essa

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Desejo-vos uma boa semana a começar nesta segunda feira.

quarta-feira, agosto 20, 2025

Maria Lúcia Amaral, a ministra da administração interna, é uma trainee
-- A palavra ao meu marido --

 

Muitas empresas incorporam anualmente nas suas hostes os denominados "trainees". É rapaziada recém formada, ou em vias de o ser, na qual a empresa encontra potencial para, se as coisas correrem bem, virem a fazer parte dos quadros. 

Hoje o Marcelo comentou os recentes disparates da ministra da administração interna (mai) que, como a anterior, tem demonstrado que não tem competência para desempenhar o cargo. Disse o PR que a ministra não conhecia os problemas e que tinha ainda muito que aprender, que ainda anda a descobrir os cantos à casa, etc., Resumindo, que é uma trainee. 

Percebe-se a subtileza do PR: não quis dizer que a ministra é uma trainee, era chato para a ministra, para ele e para o Luís, pelo que preferiu elaborar um pouco e não dizer a 'coisa" de chofre. 

Como é possível que o  Montenegro tenha escolhido e o Marcelo tenha aceitado para o cargo de MAI alguém completamente inexperiente e sem conhecimentos técnicos nos domínios de atuação do ministério? Será que admitiam que a senhora iria ter tempo para aprender? Esqueceram-se que com as previsões das vagas de calor para o verão e com o tipo de tempo que tivemos no inverno e na primavera a situação no verão ia ser muito difícil e era preciso alguém experiente e conhecedor para o cargo? O desastre que tem sido o desempenho do cargo pala ministra resulta naturalmente de  incapacidade da própria, de falta de discernimento do PM e da incoerência e hipocrisia do PR. A demissão da MAI e da ministra da saúde são urgentes. Não aconteceram é falta de respeito para com os Portugueses.

Nota: muitos dos comentários que nos são dirigidos pelo pessoal da direita são generalidades sem substância de quem não tem argumentos e só sabe atirar as habituais bolas "para o pinhal". Também é hábito referirem o José Sócrates, o que é uma história com barbas. Em vez de virem sempre com as mesmas requentadas alusões, sugiro que defendam as políticas do governo e refiram os sucessos que o "querido" Luís conseguiu. O problema é que isso é difícil, muito difícil, nada haveria para dizer, pois não?

terça-feira, agosto 19, 2025

Só me apetece hibernar

 

Bem... isto há dias que parecem um torvelinho, uma ventania virada do avesso. O compromisso do dia correu bem. Foi rápido e tudo se resolveu na boa. Depois comprámos uma pizza e almoçámos já a caminho das quatro e isso, em si, não teve mal nenhum. O pior foi que, a seguir, ao pousar o telemóvel no braço do sofá, não sei como, deu-se o desastre. Caiu de borco, o vidro em contacto com o chão. O barulhinho prenunciou o pior. Apesar de película não sei quantas, vi logo que a coisa tinha corrido mal. Tudo às cores e aos tremeliques. E já não consegui fazer nada dele. O telefone tocou e não consegui atender. E tanto lhe mexi que consegui entrever, no meio daquela confusão cromática e cintilante, que estava em modo de avião. Aí ficou silencioso.

Fui a uma loja do operador. Disseram-me que ou comprava um novo ou ia a uma loja lá perto ver se tinha arranjo. Na loja, disseram-me para o deixar lá ficar que iam tentar trocar o vidro. Ao fim de hora e meia, lá fui. O rapaz de volta dele: o telemóvel arrancava e desligava-se. Segundo o rapaz, se calhar o vidro que lá tinha não estava bom, mas não tinha outro. 

Já era tarde. O meu marido disse: compra outro e despacha-te. Fui, de novo, à loja do operador. Todos os que escolhi estavam esgotados. Segundo a jovem qu eme atendeu, tem havido uma procura incrível e não tem dado tempo a repor o stock. Recomendaram que fosse à worten. Lá fui.

Carradas de gente, uma multidão. Finalmente, lá fui atendida por um jovem. Escolhi um modelo e uma película protectora. Quando estava a pensar que estava quase despachada, o rapaz disse-me que estava na hora de saída e que ia dar as coisas a um colega. E voltei a ficar à espera. Por fim, perguntou se eu tinha ficha de cliente. Tinha. Mas não aparecia. Disseram que têm estado a actualizar a plataforma e que eu tinha que autorizar não sei o quê. Puseram o cartão do telemóvel danificado num outro telemóvel para eu autorizar não sei o quê. Depois voltaram à carga. E, quando pensei que estava tudo, não senhor. Só havia um terminal de pagamento, tive que esperar. Quando paguei, diz-me ele: 'Agora tem que ir à Resolve, para pôr a película. Lá fui. Tirei senha, aguardei. Quando saí de lá, vinha doida, desidratada, com a tensão baixa. Só quando cheguei a casa é que reparei que não trouxe a caixa, que tem o cabo e mais não sei o quê.

Em casa, estive a configurar o dito.

Como a segurança do whatsapp e das fotografias -- que, no meu caso, crescem a um ritmo vertiginoso -- estava sempre a rebentar com as costuras do espaço do google drive, vai daí, enfureci-me e cancelei as cópias de segurança.

Ou seja, agora, não tenho nada.

Já tentei passar do telemóvel para o novo mas como não consigo desbloquear o estragado, não consigo fazer nada.

Portanto, não tenho histórico de conversas nenhumas de whatsapp e também não tenho vários contactos que, por estes dias, me são vitais. 

Tenho que tentar ir a outra loja ver se me conseguem salvar alguma coisa do danificado. Mas são horas em cada lado, não dá jeito nenhum, o tempo não chega para tudo. Nestas alturas tenho saudades dos tempos em que havia sempre alguém na empresa que ajudava no que fosse preciso, que tratava da reposição dos equipamentos, que resolvia impossíveis. E depois eu estava ao pé de tudo. Agora, isto seja eu ou o meu marido, estamos por nossa conta. E longe de tudo. É bom não viver no meio das cidades, tem coisas boas, é uma calmaria, passarinhos e ar puro, mas, nestas alturas, quando é preciso ir aqui e ali, e horas para cada coisa, é uma chatice.

Por isso, hoje estou nesta, a descarregar apps, a configurá-las e a vencer a impaciência que está a subir por mim acima e a descer por mim abaixo a um ritmo que não vos digo nem vos conto. Este mundo das tecnologias e das apps e das mil passwords e das mil permissões para isto e para aquilo é uma estopada das valentes. Quando eu for velhinha, sei lá, para aí com 150 anos, será que vou conseguir dar conta disto tudo? Tenho dúvidas. Caraças. Que falta de pachorra para isto tudo.

segunda-feira, agosto 18, 2025

Um heaven a precisar de alguma lei e ordem
(e um país a precisar de ser decentemente governado)

 

Depois de um dia belamente preenchido, quando ficámos sozinhos, à noite, ainda fomos fazer a nossa caminhada. E depois estive a tratar de uns assuntos e só agora me despachei. Como ainda por cima não posso levantar-me tarde, agora tenho que abreviar.

Caso tenham a possibilidade de me seguir também no Instagram (ao que eu cheguei... eu sempre tão contra as redes sociais...), poderão saber que tenho andado aos figos, barrigadas deles. Passo por perto de uma figueira e, mostrando que a minha vocação para o sacrifício é muito limitada, atiro-me aos figos com uma gula que não tem perdão. Vivo in heaven mas o meu heaven não é o paraíso das beatas elegantes, o meu heaven é um lugar em que se pode pecar à vontade e comer até não poder mais. 

Poderão também saber que parece que os coelhos estão de volta. Uma felicidade. 

E ainda não vos contei mas no outro dia tive uma ideia que o meu marido abraçou com todas as mãos de que dispõe: pedirmos um parecer a um paisagista. Com a queda de cedros quando foi o vendaval Martinho, consultámos uns experts que nos disseram que os cedros são frágeis perante situações adversas como as ventanias pois as suas raízes são superficiais e, ao crescerem muito em altura, ficam com uma fraca base de sustentação. Então o que fazer? Deixara que caiam? Ou agir antecipadamente? E substituir por que outras árvores? Também há o caso das laranjeiras que querem mais água do que a que lhes podemos dar. Arrancamos? Colocamos lá o quê? Suculentas gigantes? E há o mato que não sabemos se é bom e útil para manter o solo fértil e faz sentido ou se deve ser arrancado sistematicamente (rosmaninho, alecrim, sálvia, tomilho, etc) pois, ao secar, pode tornar-se perigoso. Em suma, que ordenamento do nosso pequeno território deve ser feito para que aquilo seja auto-sustentável, seja equilibrado, requeira pouca ou quase nenhuma manutenção, fique esteticamente agradável. É que, ainda por cima, tudo rebenta por todo o lado. Folhados, por exemplo, aparecem por todo o lado. Na serra da Arrábida, por exemplo, crescem espontaneamente, são verdinhos, são bonitos. Mas aquilo é serra, é suposto estar florestado 'selvaticamente'. Será que devemos deixar que também ali, no nosso terreno, a natureza se imponha?

Ou seja, acho que está na altura de obtermos aconselhamento especializado. 

Poderia agora fazer a ponte para falar da desgraça dos incêndios, da aflição das pessoas que se veem cercadas pelo fogo, impotentes, assustadas. E poderia referir que têm razão para estar assustadas (aliás, temos todos razão para termos medo: medo de precisarmos de uma ambulância e não aparecer nenhuma, medo de irmos parar às urgências e não haver médicos, medo de nos vermos rodeados por fogo e não aparecerem bombeiros -- pois nem as ministras das respectivas áreas dão uma para a caixa, só fazem porcaria, nem o primeiro-ministro tem a humildade de pedir desculpa aos portugueses que enganou ao prometer resolver tudo em meia dúzia de dias ou de meses e, agora, contatarmos que não apenas não resolveu nada como estragou ainda mais o que encontrou). Mas não vou dizer nada pois são quase três da manhã e eu já deveria estar a dormir.

domingo, agosto 17, 2025

A coerência do Montenegro
-- De novo, a palavra ao meu marido --

 

Para quem apoia o Montenegro e também, claro, a quem o critica sugiro que tentem ver um vídeo que circula nas redes sociais em que se comparam duas intervenções do Montenegro sobre os incêndios (a minha mulher mostrou-me uma story na conta de Instagram do Miguel Prata Roque). O que se constata é que o que o Luís disse em 2022, quando era oposição, é exatamente o contrário do que disse agora quando falou dos incêndios. É mais uma confirmação da falta de ética e de honestidade moral do Luís. 

Como é possível que, numa questão tão dramática como são os incêndios (e este ano, até à data, a área ardida já é 17 vezes mais do que a de 2024!), diga uma coisa e o seu contrário só para ganhar ou para não perder votos? 

E a populaça parece que não percebe esta falta de rigor e esta indecência de o Luís (qual Trump) só dizer o que lhe interessa --  não o que é verdade. 

Claro que está bem acompanhado pelo Marcelo que nestas questões é professor catedrático. 

Quando ouvi as declarações da ministra da administração interna sobre os meios alocados para combater os incêndios fiquei ainda mais surpreendido com a evolução dos incêndios. A ministra afirmou que tem meios ilimitados para combater os incêndios e mesmo tendo uma jornalista sugerido que tinha sido um engano, que ela teria querido dizer que os meios eram limitados, manteve a afirmação. Estamos bem servidos com esta ministra. Também é uma coisa para que o Montenegro tem jeito, é escolher os ministros. Os expoentes máximos de acerto nas escolhas são as ministras da administração interna e a ministra saúde. 

O Montenegro é um "espectáculo" populista e sem conteúdo que se aproveite.

sábado, agosto 16, 2025

Silly Season -- A palavra ao meu marido --

 

A silly season dá cabo da malta. Que o diga o Marcelo a quem manifestamente o sol de Monte Gordo não trouxe melhoras. Ir anteontem fazer de bombeiro privado do Luís (segundo o Valupi, com base em artigo do Público) e dizer que a coordenação no combate aos incêndios tem sido "espetacular" dá que pensar. 

Estando perante uma das piores semanas de sempre de incêndios, o que teria acontecido se a coordenação tivesse sido um bocadinho menos "espetacular"? Boa presidente Marcelo, boa! 

Semelhante a esta só aquela do Marcelo que não ia falar da saúde porque a ministra tinha prometido resolver os problemas. 

Silly season é uma coisa, hipocrisia é outra coisa. E a conjugação de uma com a outra dão um produto chamado Marcelo. 

A ministra da administração interna também foi afetada pela estação que atravessamos. Informou o País que não se demite porque há dois meses fez um juramento de lealdade. Ele há cada justificação!  Fica no cargo não porque tem  dotes políticos, conhecimentos técnicos, capacidade de gestão, uma política para o setor,...? Não, fica no cargo porque jurou lealdade e leva esta coisa da lealdade a sério. 

Se está justificação fizer "jurisprudência", estamos tramados, nunca mais nenhum governante se demite. 

Quanto ao Luís, lá esteve na festa dos laranjadas. E não me pronuncio porque não ouvi o que ele disse no Pontal. Para mim um mentiroso é sempre mentiroso, e o Luís...

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Uma observação minha: 

Sugiro que deslizem um pouco mais para lerem um texto que repesquei dos comentários a propósito do Dr. Relvas, essa sumidade.

Ainda a propósito do Relvas e não só:
É o destino, “for the time being"

 

A propósito do testo que escrevi ontem sobre o Bannon tugolaranja, Relvas, por aí andar a dar as tácticas a Montenegro (respaldado por Passos? ou a abrir caminho a Passos?), permito-me puxar para aqui, para o corpo principal do blog, um comentário bastante interessante.

[Mas, antes, um apontamento. Pouco tempo depois do Relvas ter deixado de ser ministro, e lembremo-nos que saiu pela porta pequena, foi almoçar, num restaurante ali à beira rio, para as bandas de Belém, com um empresário e com um outro artista, familiar (para não dizer familiar muito próximo) de um ex-primeiro ministro. Esse empresário contou-me depois que estavam a almoçar na esplanada e que algumas pessoas que passavam reconheceram-no, olhando parece que com um certo ar trocista, e que ele sorria, na maior. E uns jovens, de longe, gritaram 'Vai estudar ó Relvas'. E ele, sorridente, como se nada fosse. Perguntei: 'Mas, no fundo, deve ficar sentido, não...?'. Resposta desse empresário: 'Acha?! Estava, isso sim, a ver se me 'vendia' umas ideias... Pessoas como o Relvas, gente de esquemas, estão é sempre a ver se estabelecem ligações, se fazem pontes para negócios, coisas assim.']

Mas, então, aqui está o texto do Leitor a quem muito agradeço.

Relvas já tem alguém (Victor Sereno) da sua máxima confiança no aparelho de Estado, precisamente num alto e sensível cargo – o SIRP Serviço de Informações da República Portuguesa, um dos vetores das nossas “Secretas”). O “Dr.” Relvas (assumindo que terá entretanto concluído o tal curso que não possuía) foi buscá-lo (VS) ao MNE, onde já revelava sordidez, ou seja, estavam bem um para o outro – e ambos arrogantes qb.

Quanto ao Tribunal Constitucional, tal como é (ou foi concebido) não deveria existir. Isto porque um Tribunal não deve ter juízes nomeados, ou escolhidos, por razões políticas, como sucede, desde a sua criação. Só nos EUA, que não é um país democrático segundo os “standards” do Conselho da Europa (por causa do seu sistema judicial, cujos magistrados – juízes e procuradores – são nomeados e escolhidos por pertencerem ou aos Partido Republicano, ou Democrata, bem como o seu sistema eleitoral, aquele tal Colégio Eleitoral, onde não é facultado o voto directo) é que os magistrados são escolhidos pela sua simpatia ou filiação partidária.

Inclinava-me para, em vez de termos um Tribunal Constitucional, optássemos por uma Secção Constitucional no Supremos Tribunal de Justiça, com magistrados peritos em Direito Constitucional, a fim de dirimir as questões de carácter constitucional. Como não sucede assim, teremos em breve uns tantos trogloditas de extrema-direita sentados no Palácio Raton a decidir questões sensíveis de constitucionalidade, sabendo bem o quão desprezam esta Constituição. Afinal de contas, o Chega conseguiu eleger 60 energúmeros para a AR, sendo que um deles, Diogo Pacheco de Amorim, antigo bombista do MDLP, fascista/salazarista assumido, que desdenha a Democracia que o 25 de Abril nos devolveu, após 48 anos de Ditadura, é hoje um dos Vice-Presidentes da AR.

Mas, atenção, se hoje estamos onde estamos, com uma maioria de Direita radical (AD+Chega+IL), deve-se ao mau desempenho da Esquerda, em particular do PS, que não se soube assumir como alternativa ao trafulha do Montenegro e ao Chega (os restantes Partidos de Esquerda não existem, praticamente e alguns, BE, e PCP deverão desaparecer em próximas eleições).

Voltando a Relvas, faz o papel que bem sabe e sempre soube fazer, que é o de desgastar a oposição à esquerda do PSD. Um traste político, sem valores e princípios políticos. E teremos esta gente (AD+ Chega, com a mãozinha da IL) pelo menos nos próximos 2 anos, se não forem mais. É o destino, “for the time being”.

sexta-feira, agosto 15, 2025

Miguel Relvas, o Steve Bannon do regime Montenegrista

 

“Deixem o PS de fora”, diz Miguel Relvas, que defende entrada do Chega no Constitucional

Ex-ministro aponta caminhos ao Governo: para substituir os juízes do TC e, depois, para a revisão da Constituição (...)

O outrora conhecido por Vai-Estudar-ó-Relvas e agora, nestes tempos de miséria moral que vai grassando, se calhar já chamado de senador, é como todos os outros do mesmo calibre: está-se nas tintas para o que dizem ou pensam dele. Tem uma ideia, nem sempre a mesma -- mas isso não interessa, o que interessa é o rumo --, e vai atrás dela. Sempre com aquela pose de quem a sabe toda, de quem conhece muito podre, de quem tem muita carta na manga. E há quem lhe dê ouvidos, se calhar há quem lhe tenha aquele respeitinho que resulta do medo de que ele arregimente tropas, gente ressabiada, bolorenta, gente saída dos esquifes a espumar raiva, e apareçam aí para se vingar. Não se sabe se tem o Passos no bolso ou se é, ele mesmo, um alter ego do outrora conhecido por Láparo, não se sabe o que o move, se é apenas o gostinho rançoso de se sentir o verdadeiro estratega do PSD, se há alguma ambiçãozinha de ver os seus negócios alavancados, se tem esperança de ver o seu mérito reconhecido por alguma universidade. Não se sabe. Mas ele por aí anda.

À escala tuga, ele é o Steve Bannon dos laranjinas.

quinta-feira, agosto 14, 2025

Bestiário


Nos intervalos, ponho-me em modo de férias, sobretudo mentais. Hoje quase não houve televisão nem leitura de jornais. Poupei-me, no que pude, dei descanso à mente. 

De vez em quando, não consigo evitar, sinto uma angústia que tenta, de forma certeira, esquartejar a minha disposição, e, nessas alturas, vou espreitar o mapa dos fogos. Um horror. Muita aflição, certamente. Muita área ardida e, quando ardem tão grandes superfícies é parte da natureza que morre, árvores, flores, muitos animais. Isto quando não ardem casas ou, em casos mais dramáticos, vidas humanas. Destruição pura. Temperaturas a rebentar, um calor que não se aguenta, e, em cima disso, gente doida, sem cuidado ou com perturbações.

Mas tenho tido outros assuntos, outras preocupações, outros compromissos. E, no tempo que sobra, tento pôr-me em modo de pausa, descontrair.

Claro que, ao longo do dia, vou tendo contacto com algumas bestas (pardon my french). Esforço-me para não dar respostas tortas, exercito a condescendência. Mas chego a esta hora a pensar que bem podia enfiá-las a todas num zoo, criar um bestiário.

Mas não vou para aqui pôr-me a destilar arrelias ou a gastar o meu latim com gente parva. Adiante, pois, que para a frente é que é caminho.

E, bestiário por bestiário, antes este aqui abaixo, surreal como gosto das coisas -- as demasiados reais cansam a minha beleza. 

David Szauder -- Bestiarium:


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Desejo-vos uma boa quinta-feira

quarta-feira, agosto 13, 2025

Se não demitem a Ministra Ana Paula Martins, pelo menos transfiram-na para a Secretaria de Estado dos Inquéritos (a criar)
-- De novo, a palavra ao meu marido --

 

O que aconteceu ontem é mais uma vez inacreditável e põe Portugal no mesmo patamar que os países mais pobres que não se preocupam ou não têm condições para se preocupar com a saúde dos cidadãos. Uma mãe ter um bebe à porta do supermercado no centro de uma cidade, sendo o parto assistido pelo avô, porque ninguém atendeu no SNS24, é motivo mais do que suficiente para a ministra se demitir e o primeiro-ministro, no mínimo, pedir desculpa pelo estado a que deixou chegar a saúde em Portugal e deixar de tratar os portugueses com a arrogância habitual. 

Mas o ridículo é tão grande que hoje ouvi na SIC a secretária geral da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia referir, à laia de desculpa, que a parturiente teria tido um parto muito rápido e isso também tinha contribuído para que o nascimento tivesse sido na rua. Fiquei a ouvir expectante, julgando que teria sido uma coisa de minutos. Não, segundo esta senhora foi um parto que terá demorado duas horas! Então, em duas horas não conseguiram fazer chegar uma ambulância ao local...? E agora alguém desvaloriza o problema com um parto rápido...! Haja dó que não há pachorra para tanta falta de honestidade intelectual. 

Ontem o presidente do sindicato do INEM referiu que 20 por cento das chamadas são perdidas. Como é possível isto acontecer? A saúde tem piorado de dia para dia. Os resultados dramáticos da greve no INEM, os problemas com os helicópteros, o aumento dos custos sem quaisquer melhorias no sistema, as urgências fechadas, as parturientes a terem os bebés nas ambulâncias (e agora até no meio da rua!), a falta de controlo dos gastos, os valores milionários que os médicos recebem quando trabalharam como tarefeiros ou fazem cirurgias fora do horário de trabalho, o regabofe das nomeações para as administrações das ULS... são o estado a que isto chegou como resultado da política deste governo. Já passou o período dos 60 dias que prometiam, já passaram os seis meses que , a seguir, prometiam -- só o que não passa é a ministra nem a falta de vergonha do PM.

De cada vez que acontece um escândalo e já se está a perder a conta aos que já aconteceram (e, por muito, muito, menos que isto já uma ministra da Saúde se demitiu), o que faz a incompetente ministra? Um inquérito. Não sei quantos inquéritos já ela mandou instaurar. Uma acumulação de inquéritos. Depois, ou não se sabe quais as conclusões desses inquéritos ou, quando se sabem, são desvalorizadas. De uma maneira ou de outra, a ministra chuta para canto. E o Luís, como sempre, assobia para o lado.

E hoje veio o Marcelo dizer que não se pronuncia porque a ministra prometeu que tudo ia fazer para resolver os problemas. Vá gozar com a prima. Então quando se pronunciava sobre tudo e todos em questões de muito menos gravidade era porque os ministros prometiam que não iam resolver os problemas...? Vá mas é dar uma volta ao bilhar grande porque já não se consegue tolerar tanta hipocrisia.

Mudando de assunto, a questão dos incêndios também revela a incapacidade do governo para planear e resolver os problemas. Os incêndios este ano têm sido uma calamidade, a área ardida aumentou 8 vezes,  e agora soubemos que os Canadair estão inoperacionais, o que tornará o combate aos fogos mais difícil. O PM partiu a banhos para o Algarve e demonstra estar-se nas tintas para o assunto (será que vai haver um clamor de indignação semelhante ao que aconteceu com o Antonio Costa quando alguém, maldosamente, lançou a notícia falsa de que ele estava de férias quando ocorreram os incêndios?). Curiosamente os bombeiros têm estado pouco reinvindicativos e o próprio presidente da liga, tão crítico em anos anteriores, agora anda manso como um cordeirinho. Será porque o governo fez com os bombeiros o que fez com outras corporações, isto é, atirou dinheiro para cima dos problemas...? 

O que aconteceu com os professores e os colocou num patamar de privilégio relativamente ao resto da populaça, o que parece estar a acontecer nas FA, o que se passou com as polícias, os aumentos na saúde e etc... são bem exemplo do que é torrar dinheiro sem qualquer efeito positivo para a maioria da população e tendo apenas como objetivo garantir votos. 

Quando não houver dinheiro para distribuir o que irá fazer a rapaziada do governo?

terça-feira, agosto 12, 2025

A consciência anda por aí, ao deus dará, e o nosso corpo humano é que a capta e sintoniza?
Pergunto

 

Não é tema para o querido mês de Agosto e, muito menos, para se falar sem profundidade e sem conhecimentos. Mas, justamente porque o mês de Agosto é condescendente para com os azougados, aqui estou a partilhar um vídeo que vai lá, vai. 

Aquela coisa de eu ter gostado de ser psiquiatra e depois ter desistido porque primeiro teria que ser médica tout court e, portanto, ter que ter aulas de anatomia e ver mortos, e isso é que nem pensar, e depois ter gostado de ser psicóloga e depois ter desistido porque o curso, na altura, parece que não era tido como um curso mesmo a sério (mas, afinal, parece que até era, eu é que parece que estava mal informada), deixou marcas. Depois, apaixonei-me pela física da matéria, pela física das partículas elementares, pela mecânica quântica e aí é que percebi que gostava mesmo era do que não compreendia, do que estava muito para lá do demonstrável, do que toda a gente sabia. Passei a compreender que, dentro de mim, há uma parte, a que se dá a conhecer, a que conversa e quase parece normal, aquela que se põe a ouvir e, por isso, toda a gente lhe conta coisas, e uma outra parte, desconhecida até de mim, que lida mentalmente com mundos indefinidos e em que não existe uma língua passível de ser usada pois não há palavras existentes para realidades inexistentes.

E se parece uma conversa de doidos não é impressão vossa, é mesmo porque ninguém de bom senso confessa tal condição, uma coisa assim esconde-se de todos e da luz do dia. Muito menos se solta no espaço para que fique por aí a vogar em torno do maravilhoso ponto azul que flutua no imenso espaço sideral.

Mas isto para dizer que não percebo em que parte do cérebro se constrói a individualidade dos pensamentos e a forma de lidar com as emoções. E não sei se é no cérebro ou nos intestinos. Ou numa qualquer outra parte. Não sei. nem sei se essa individualidade, o código que faz com que os meus pensamentos sejam só meus e não os de outra pessoa, está dentro de mim, se está inscrito no meu DNA, ou se, misteriosamente, flutua também por aí e o meu cérebro é que capta esse sinal. 

Também não sei porque tenho, com alguma frequência, uma certa telepatia com a minha filha, tal como tinha com a minha mãe, ou como tenho com outras pessoas e coisas, ou como tinha com o meu amigo que estudava essas coisas e que inspirou um personagem do meu livro 'Um segredo tão azul' (por sinal, o meu livro até hoje mais encomendado), o tal livro meio maldito em que, não me perguntem como ou a que propósito, inventei que ele tinha morrido e me deixou a sofrer por ele, para descobrir, dias depois de o ter escrito, com espanto e susto, que ele tinha mesmo morrido de verdade. Coisas que não se explicam, para as quais ainda não se conhecem razões comprovadamente válidas. Há quem lhes chame coincidências. Eu tendo a chamar coisas do caraças.

E não, não sou adepta de esoterismos, de palermices envoltas em conversa fiada: nada disso. Sou da ciência. Mas sou atraída pelo que não conheço, sinto uma atracção, como íman, pelo que tenta aproximar-se do indefinível.

Para contextualizar de forma mais objectiva o tema, atrelei-me ao chatgpt. Transcrevo (com as devidas reservas pois, se fosse uma hora mais decente, iria validar; assim, a partir daqui é transcrição directa):

"Há cientistas e filósofos que defendem hipóteses em que a consciência não é apenas um produto do cérebro individual, mas algo que pode ter uma dimensão externa ou universal.

Isso não é consenso, mas existem correntes sérias (e algumas mais especulativas) que exploram essa possibilidade.

Aqui estão alguns exemplos das linhas de pensamento e quem as defende:

1. Panpsiquismo

O que diz: A consciência é uma propriedade fundamental da realidade, presente em todos os sistemas físicos, em diferentes graus.

Defensores:

  • David Chalmers (filósofo da mente) — conhecido pelo “problema difícil” da consciência.
  • Philip Goff (filósofo, autor de Galileo's Error).

o Ideia central: A consciência não “surge” apenas de cérebros; ela está distribuída na própria estrutura do universo.

2. Teoria do Campo de Consciência

O que diz: A consciência pode existir como um campo fundamental, parecido com o campo eletromagnético, que o cérebro “sintoniza” ou modula.

Defensores:

  • Johnjoe McFadden (biólogo teórico, autor da “teoria do campo eletromagnético da consciência”).
  • Michael Persinger (neurocientista, propôs o “campo de informação” ligado à atividade geomagnética).

      • Ideia central: A mente é como um rádio que capta e transmite um campo mental já existente.

3. Hipótese do “Cérebro como Receptor”

O que diz: O cérebro não cria a consciência, mas funciona como um receptor/transmissor de uma mente universal.

Defensores:

  • Henri Bergson (filósofo, início do séc. XX) e William James (pai da psicologia moderna).
  • Alguns físicos como Roger Penrose (trabalha com Stuart Hameroff na teoria Orchestrated Objective Reduction — Orch OR).

      • Ideia central: A consciência pode existir independentemente da matéria, e o cérebro é apenas o “interface” local.

4. Modelos de Consciência Distribuída / Não-Local

O que diz: A mente pode estar interligada num “campo informacional” que transcende o indivíduo.

Defensores:

  • Dean Radin (Instituto de Ciências Noéticas).
  • Rupert Sheldrake (hipótese dos “campos mórficos”).

      • Ideia central: Há uma rede ou campo informacional que conecta todos os seres vivos, e a consciência individual acessa esse campo.

🔹 Importante:

Grande parte destas ideias é controversa e está fora do consenso científico dominante, que ainda vê a consciência como produto emergente da atividade neural. Mas o interesse está a crescer, especialmente porque a ciência não tem, até hoje, uma explicação completa para como a atividade física do cérebro gera a experiência subjetiva (o “problema difícil”)".

[ChatGPT dixit] 

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E agora o vídeo que me arrisco a partilhar

 Why we might live in a conscious universe | Rupert Sheldrake

Most scientists think that consciousness is created by the brain. After all, most assume consciousness vanishes if the brain is destroyed. But what if this consensus view is radically mistaken? Join distinguished Cambridge scientist Rupert Sheldrake as he argues that the mind extends beyond the brain and explores the radical implications of this account.

Rupert Sheldrake is a preeminent biologist and author best known for his hypothesis of morphic resonance. His books include Science and Spiritual Practices, Ways to Go Beyond And Why They Work and The Science Delusion. Furthermore, he was ranked in the top 100 thought leaders for 2013 by the Duttweiler Institute, Switzerland's leading think tank, and has been recognised as one of the 'most spiritually influential living people' by Watkins' Mind Body Spirit Magazine.


Desejo-vos um belo dia

segunda-feira, agosto 11, 2025

Amamentação e outras alarvidades do governo
-- A palavra ao meu marido --

 

O governo, para agradar aos patrões e sem ter noção da realidade, incluiu na proposta de lei da legislação laboral limitações ao direito das mulheres amamentarem os seus filhos. A ministra defendeu convictamente que havia muitos abusos. Azar do costume, vi hoje na SIC que não existem autos dos inspetores sobre incumprimentos das mulheres que estão a amamentar. Já o contrário é verdade. Existem dezenas de autos levantados a empresas que não respeitam os direitos dos seus trabalhadores. Se todos os ministros que mentem fossem corridos, haveria remodelações dia sim, dia sim, e o Montenegro há muito tempo que tinha sido remodelado.

Outra alarvidade do governo é que para se limpar da manifesta incompetência que tem demonstrado na questão dos incêndios -- já ardeu este anos 8 (oito!) vezes mais área que o ano passado --, veio, através do ministro, anunciar que daria dinheiro a quem tinha tido prejuízos e que até dez mil euros não era necessário comprovativo porque as burocracias são uma chatice. Não sei quem vai validar o pagamento mas, se forem as câmaras municipais em ano de autárquicas, muita água pode correr debaixo da respectiva ponte. De qualquer forma, o dinheiro dos nossos impostos não é para ser desbaratado: é para ser bem empregue, e tenho muitas dúvidas que este processo vá ser exemplar. Parece-me mais uma medida populista do governo em ano de autárquicas e, provavelmente, os municípios onde tem havido mais fogos têm uma cor alaranjada. 

Outro assunto: o TC chumbou a lei dos estrangeiros. Afinal não vale tudo para agradar à extrema direita, como o Montenegro imagina. Ainda há uma ou outra instituição que existe para fazer cumprir a lei. Vamos lá ver como é que a rapaziada do governo vai tentar dar a volta ao texto. Não se esperam novidades, a coisa vai continuar a cheirar a bafio.

Para terminar, um aparte: o Paulo Núncio é provavelmente o tipo mais execrável que aparece regularmente na televisão. Qual a razão para termos de levar com tal beata de sacristia com tanta frequência? Eu, por mim, mudo logo de canal.

domingo, agosto 10, 2025

A vida dos muito ricos

 

Não sou mas conheço alguns. Nunca aparecem nas revistas. Nunca aparecem na televisão. Raramente vão aos restaurantes da moda. Raramente vão às praias da moda.

Geralmente estão nas suas casas. Um deles tem uma casa de férias, dizem que 'normal', ou seja, nada daquelas villas que ostentam fortuna por todos os poros e janelas, numa aldeia perto da costa vicentina. Dizem que vai, de calções e chinelos, ao minimercado mais perto, geralmente comprar peixe para assar. Digo 'dizem' pois nunca ninguém viu, foi um irmão que uma vez comentou isso e, quando contra-comentaram que ninguém lá deve desconfiar quem ele é, respondeu que claro que não, ninguém sonha. Esse que comentou, outro igualmente rico, também é especialista em churrascos. Gosta de assar peixe e carne não apenas para a família como para os amigos. Se lhe perguntarem se conhece algum daqueles restaurantes super estrelados dirá que isso não é para ele. Quando se vai ao restaurante com ele, não apenas escolhe restaurantes 'normais' como, no fim, se é ele que paga, no fim põe os óculos e está meia hora a olhar para a conta e a conferir se não puseram uma água ou um queijinho a mais.

Um desses muito ricos, quando em ambiente informal, em casa, mesmo que com convidados, no inverno usa geralmente um pullover de lã que é mais comprido de um lado do que outro, de tricot, já todo 'pendão' e com um ou outro buraco, de tipo malha caída. Todos os anos usa o mesmo pullover, gosta dele e acha que está bom, que não faz sentido deitar fora. 

É gente que parece ser despojada. Parece, mas não é. Pelo contrário são até forretas, 'poupadinhos'.

Uma vez vim ao lado de um deles numa viagem de avião. Tinha comprado uns charutos na freeshop. Vínhamos na conversa e, às tantas, quis ver o que eu tinha comprado. Quando viu a caixa de charutos, perguntou quanto tinham custado, e, pela entoação, foi quase como se achasse se eu tinha gastado dinheiro uma inutilidade, ainda por cima dispendiosa. 

As televisões e as redes sociais mostram-nos grandes hotéis, resorts de luxo, e, invariavelmente, estão sempre cheios. Mas não destes muito ricos, pelo menos dos old school. Aliás, do que conheço, penso que sentem um certo desprezo por esse jetset endinheirado que por aí anda gastando balúrdios e exibindo as suas férias, as suas toilettes, os seus luxos. 

Por exemplo conheço um que é rico, diria que bastante rico. Mas não é tão rico como os anteriores. Vai de férias todos os anos, duas semanas, para a Quinta do Lago, milhares como podem imaginar, e conhece todos os Belcantos desta vida, todos os vinhos renomados e envelhecidos, e frequenta torneios de golfe um pouco por todo o mundo e faz questão de ter sempre carros ultra topo de gama. Os primeiros, os muito ricos, de certa forma troçam, ainda que discretamente, com os luxos deste último, quase como se achassem que é coisa de gente deslumbrada. 

É grande a diferença entre o old money e o restante. 

Claro que há ainda as pessoas que conservam todos os hábitos do old money, porque em tempo o tiveram, apesar de já não serem tão ricos assim. Esses ignoram os novos-ricos embora, no íntimo, penso que invejem um pouco o seu sucesso e a sua ascensão, quase como se pensassem que são alpinistas socias que vêm ocupar, usurpar, o seu lugar na sociedade.

Pelos vistos os muito ricos do Brasil não são como os muito ricos em Portugal. Pelo que vejo no vídeo abaixo, não só gostam de ostentar a riqueza como acham que é pouca, que ricos são os outros. É uma questão cultural.

De qualquer forma, embora espelhando uma realidade diferente (pelo que ouço, os muito ricos do Brasil seriam considerados em Portugal novos-ricos), partilho o vídeo em que o Bial fala com um antropólogo que tem investigado a vida dos ricos.

Por que os RICOS OSTENTAM? Michel Alcoforado TE CONTA | Conversa com Bial | GNT

O antropólogo @‌michelalcoforado experienciou o mundo dos muito ricos através da chamada “observação participativa”, para entender como pensam, o que consomem e por que ostentam tanto.

No #ConversaComBial, ele explica como a riqueza no Brasil não diz apenas sobre dinheiro, mas também sobre poder, acesso e pertencimento. 

Desejo-vos um feliz dia de domingo

sábado, agosto 09, 2025

Sobre a Guerra Rússia – Ucrânia"
-- A palavra ao meu filho --

 

Veio o segundo pedido, escrever sobre a Guerra Rússia – Ucrânia. 

Sendo este um texto pessoal, que expressa unicamente a minha opinião, há duas premissas de partida:

1) Culpo o governo e aparelho militar da Rússia, liderados pelo Putin, por terem iniciado uma Guerra que causou uma enorme destruição, muitas mortes civis e militares, e uma desestabilização do mundo. Provocar a morte nunca é desculpável e sobre o Putin recai essa culpa.

2) Este é um tema de enorme complexidade e, na minha opinião, a única verdade objetiva é a do ponto 1). Tudo o resto é o reflexo das últimas sete décadas de história mundial. Não sou historiador, não me preparei especialmente para este texto, não tenho uma equipa de pesquisa a trabalhar para mim, pelo que assumo desde já a superficialidade e subjetividade das minhas palavras.

Gostaria de neste texto de explorar três pontos que me parecem fundamentais para esta Questão.

1) Este conflito é um acontecimento isolado de um contexto recente?

2) Este conflito resulta da loucura imperialista do Putin?

3) A Ucrânia é inocente neste conflito?

Estabelecido o ponto de partida, vamos ao primeiro ponto. 

A sociedade foi-se interligando progressivamente ao longo dos últimos séculos, até se consolidarem dois grandes blocos geopolíticos: o Ocidental, orientado pelos princípios dos Direitos Humanos e pelo modelo capitalista, e o Oriental — ou de Leste — geralmente associado a regimes autocráticos e socialistas. Esta divisão é, naturalmente, uma simplificação excessiva, mas pode servir como ponto de partida para uma reflexão mais profunda.

A sua simplicidade é particularmente problemática porque, apresentada desta forma, estabelece logo dois lados — os "bons" versus os "maus". Por exemplo, a suposta virtude dos Direitos Humanos no Ocidente pode ser posta em causa quando se confronta com as contradições internas do liberalismo capitalista, que frequentemente sacrifica comunidades inteiras em nome da eficiência económica e da manutenção do sistema. 

A emergência e solidificação destes dois blocos resultou em alianças complexas e uma política permanente de tensão que teve altos e baixos, mas que se manteve latente, umas vezes mais global (auge da Guerra Fria) outras vezes mais episódicos e contidos (exemplo, Guerra da Síria).

Os Estados Unidos, enquanto potência dominante do bloco Ocidental, estabeleceram a doutrina de que a sua posição hegemónica exige acesso e controlo contínuo dos principais recursos estratégicos, essenciais para sustentar a sua economia e a dos seus aliados. O petróleo tornou-se o símbolo mais evidente dessa lógica, e muitos dos conflitos no Médio Oriente podem ser interpretados à luz desta necessidade geoeconómica.

A União Soviética — e posteriormente a Rússia — partilhou dessa mesma visão. A sua atuação em várias regiões, nomeadamente em África, revela uma ambição semelhante, marcada por uma voracidade estratégica sobre recursos e zonas de influência.

A tensão resultante desta pressão económica e politica sobre pontos críticos do planeta, associados ao antagonismo de ideais políticos, levou a um estado de permanente tensão militar com momentos de libertação de energia vulcânica naquilo que ficou conhecido por guerra por procuração por um lado, e por outro por operações secretas-militares altamente impactantes (caso do Chile por exemplo).

Este contexto global, marcado por disputas de poder, recursos e ideologias, parece-me ser um elemento fundamental para compreender o conflito na Ucrânia. Não se trata apenas de uma guerra territorial, mas de um episódio dentro de uma longa narrativa de confrontos sistémicos.

Os dois blocos antagonistas desenvolveram um arsenal nuclear de milhares de ogivas com capacidade de obliterar, muitas vezes, a população humana. Ainda esta semana ouvimos falar do paradigma Mão Morta, da Rússia, que assegura uma resposta imediata de aniquilação caso se dê o primeiro ataque.

Enquanto sociedade, vivemos em constante alerta perante ameaças como o aquecimento global, pandemias como a COVID-19, a proliferação de microplásticos, ou até a chegada da vespa asiática. No entanto, ignoramos com surpreendente leveza que, à distância de alguns códigos e botões, reside a possibilidade do nosso fim — não apenas o nosso, mas o dos nossos vizinhos, das futuras gerações, e de toda a espécie humana. Esta é, paradoxalmente, a maior ameaça à nossa sustentabilidade enquanto civilização: uma ameaça autoinfligida, nascida da nossa própria engenharia e ambição.

Parece ficção científica, mas a História mostra que já estivemos perigosamente perto dessa linha vermelha. O exemplo mais célebre é a Crise dos Mísseis de Cuba, em 1962, quando a União Soviética tentou instalar ogivas nucleares na ilha caribenha, a meros 150 quilómetros da costa dos Estados Unidos. Esta ação foi uma resposta direta à instalação prévia de mísseis americanos na Turquia, junto à fronteira soviética. Ambos os lados acabaram por recuar, removendo os mísseis e afastando-se das fronteiras adversárias — uma decisão prudente que evitou o colapso global.

Ora esta psicose, este receio de aniquilação que foi, pelo que leio, algo muito palpável nos anos 60 no auge da guerra fria, hoje é praticamente inexistente, por habituação, mas também porque depois das ameaças ficou o conforto de entender que em geral impera a razão (diria que a destruição mutua garantida é equilibrada pelo mais básico instinto de sobrevivência, o código mais primário do nosso DNA). Parece-me até que esta psicose foi substituída pela ideia de que esta ameaça não é credível e as armas nucleares são peças de museu, como as réplicas do Sputnik.

Mas a verdade é que o equilíbrio nuclear continua a ser uma força poderosa que molda as relações entre estes países e, em geral, entre os dois blocos. Claro que perdeu protagonismo em face das relações económicas e comerciais, diplomacia, e todas as outras formas de soft power (que Trump agora tenta destruir).

É neste enquadramento que chego ao primeiro ponto da minha tese: a guerra na Ucrânia não é um acontecimento isolado, nem fruto exclusivo do contexto atual. Trata-se, antes, de mais um episódio de elevada tensão entre dois blocos que há décadas se confrontam. A Ucrânia tornou-se, neste caso, o palco onde se projetam forças que transcendem o território e o momento histórico específico – uma guerra por procuração.

O segundo ponto decorre diretamente do primeiro: não considero que esta guerra seja simplesmente um ato de loucura desvairada por parte de Vladimir Putin. Essa leitura, embora compreensível, ignora a complexidade do cenário geopolítico. O conflito parece ser, antes, o resultado de uma pressão externa crescente sobre uma fronteira sensível, que gerou uma escalada de tensão interna — especialmente dentro do aparelho militar russo. A decisão de invadir a Ucrânia, por mais condenável que seja, inscreve-se num padrão histórico de reação estratégica, ainda que profundamente destrutiva.

Nas palavras de Mário Soares (um insuspeito aliado dos EUA contra a influência que vinha de Leste) num artigo sobre a Nato na Visão: “A NATO, criada como organização defensiva, no início da guerra fria, está a tornar-se, por pressão dos neoconservadores americanos, uma ameaça à paz.” E acrescentava “E a NATO, cercando a Rússia e instalando na Polónia e na República Checa bases de misseis, começa a ser uma ameaça para a Rússia, que a pode tornar agressiva. Um perigo!”. E por fim “Cheney foi à Ucrânia, onde tentou também dividir os dirigentes políticos, (…) Tudo em nome da Nato.”

Não são por ser do Mário Soares que estas palavras se tornam em verdade absoluta. Mas é conhecimento histórico do final do século passado e início deste, que a Rússia abatida e humilhada, foi sendo sucessivamente pressionada pela EUA como forma de solidificar a sua hegemonia, o seu papel de única e indiscutível potência. Do ponto de vista económico e de influência política os EUA conquistaram de facto esta posição. Faltou o lado militar.

A Rússia de Putin sabe-se que adotou muito dos princípios da Doutrina Primakov, de multipolaridade como eixo central e da Rússia como a potência com enorme influência Euroasiática. O BRICS é um acrónimo que simboliza isso mesmo, um mundo multipolar onde o Ocidente não detém o monopólio da liderança.

Esta doutrina e esta postura é tao aceitável ou criticável quanto o são as estratégias idênticas dos EUA e da China. No caso da Rússia é quase um mandato de sobrevivência e preservação de um estatuto outrora inquestionável. Ao que parece, os russos têm uma nostalgia da Rússia imperial, de Rússia motherland. um símbolo de orgulho e de grandeza perdida.

Se aceitarmos esta leitura como credível, podemos então estabelecer a base para o segundo ponto da tese: a aproximação progressiva da NATO às fronteiras russas foi interpretada por Moscovo como uma ameaça existencial e uma humilhação estratégica. A resposta russa — militar e política — visa reafirmar o seu estatuto de potência que não se deixa intimidar, e que detém o maior arsenal nuclear do planeta.

O poder militar, e em particular o nuclear, tornou-se o último bastião do estatuto da Rússia como potência mundial. E essas mesmas armas estão no cerne da tensão entre a NATO e a Rússia no contexto ucraniano. A guerra, neste sentido, pode ser vista como uma fuga para a frente por parte de Putin — não um ato de loucura irracional, mas uma decisão deliberada e planeada, nascida da pressão interna e da perceção de cerco externo.

Este segundo ponto, sobre Putin, é uma tentativa de entender, não desculpar. Porque perante esta pressão haveria outras hipóteses, nomeadamente diplomáticas, de deterrence baseada em ameaças. 

Esta Guerra não é desculpável por nenhum dos parágrafos anteriores, apenas é mais entendível. 

Quanto ao terceiro ponto, a inocência ou não da Ucrânia, importa analisar a relação da Ucrânia com a Nato. 

Primeiro ponto, a Ucrânia pode juntar-se à Nato? 

Pode querer juntar-se à Nato! Mas a Nato não a pode aceitar!

Porquê? Porque o equilíbrio que se estabeleceu, voltando ao tema das armas nucleares, requer zonas de tampão, zonas neutras. A colocação de armas nucleares na proximidade das fronteiras resulta num risco acrescido para a Potência alvo. E a Ucrânia, com as suas planícies, é a auto-estrada para a invasão terrestre da Rússia, desestabilizando ainda mais o equilíbrio.

Por ser evidente esta necessidade de equilíbrio, diversos líderes ocidentais prometeram, em declarações públicas, que a Nato não se expandiria para a leste depois da queda do Muro de Berlim 

Mas não me parece que a responsabilidade de manter a Nato fora da Ucrânia recaia sobre a própria Ucrânia, e como tal não a culpo de lutar pelos seus interesses. Também não me parece que seja culpada por lutar pela sua independência e pela soberania da totalidade do seu território prolongando a Guerra. Creio que esse é o seu direito e quiçá dever.

Mas ponho em causa um desejo bélico incontrolado dos aliados ocidentais, que animados pelo lobby militar, continuam a enviar armas e fogem da solução diplomática. Curiosamente só Trump tentou realmente uma solução de paz, sem sucesso. E, enquanto cidadão do mundo, parece-me um mal menor a Ucrânia perder território a leste versus o prolongar e escalar um conflito com consequências globais e riscos de dimensão incalculável.

Portanto, procuro estabelecer três ideias:

1) A guerra na Ucrânia não é um acontecimento isolado no tempo. É mais um episódio de elevada tensão entre dois blocos que se enfrentam há décadas, num conflito que se inscreve na lógica de guerra por procuração, com repercussões globais em múltiplas dimensões — económicas, políticas e humanitárias.

2) Não considero que esta guerra seja fruto de uma loucura imperialista de Vladimir Putin. Trata-se, antes, de uma ação deliberada, orientada pela tentativa de recuperar o estatuto da Rússia como potência mundial. A invasão da Ucrânia é, nesse sentido, uma resposta estratégica — ainda que profundamente condenável — à pressão externa e à perceção de cerco por parte da NATO e dos seus aliados.

3) A Ucrânia e o seu povo são, indiscutivelmente, as grandes vítimas deste conflito. Não encontro razão nos argumentos utilizados para justificar a agressão. A tese do “nazismo” ucraniano não tem fundamento, e não há evidência sólida de perseguições sistemáticas contra cidadãos russófonos no leste do país. O tipo de guerra que Putin escolheu travar é moralmente indefensável, e a sua inclinação para a destruição evoca um passado sombrio que não deve ser revivido.

Em resumo, não podemos ignorar o papel que os EUA, a Nato e os aliados no geral, têm na provocação à Rússia, que, qual urso ferido, se tornou perigoso. Mas não sendo Urso e sendo um sistema de pessoas, haveria outro caminho para a Rússia – o caminho escolhido não tem desculpa. No entanto, aqui chegados, para sair desta situação não basta à Rússia recuar, também o bloco ocidental tem de fazer concessões que permitam restabelecer a integridade do equilíbrio e à Rússia evitar a total humilhação.

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Nota de minha lavra a propósito do texto acima, escrito pelo meu filho

Levou algum tempo, ainda por cima com alguns aniversários e casa cheia pelo meio do habitual muito trabalho, mas o meu filho lá conseguiu arranjar tempo para escrever o texto que eu lhe tinha pedido. Mais uma vez, enviou-me o que acabaram de ler desafiando-me e questionando se haveria lápis azul. 

Não, mais uma vez não há. Primeiro, porque não teria que haver, é a sua visão das coisas, e é livre de a ter. Segundo, porque concordo com o que ele aqui escreve. É certo que sou um pouco mais linha dura que ele pois, em abstracto, penso que não deveria ser preciso muito para fazer vergar Putin, obrigando-o a recuar. Bastaria, pela via negocial, conseguir que, por exemplo, a China deixasse de abastecer a Rússia. Mas, claro, entre a abstracção e a realidade vai um mundo de oportunidades perdidas: à China também não lhe interessa enfraquecer a Rússia, deixando que o bloco ocidental cante demasiado de galo. Também alimentei durante bastante tempo a esperança de que o assunto se resolvesse dentro das portas da própria Rússia -- mas também já se viu que Putin está bem blindado, inclusive a nível de opinião pública interna. Portanto, também a esse nível, não consigo ver qual a melhor solução (e, por melhor solução, leia-se a mais justa, a mais decente, a mais segura para o mundo, e, simultaneamente, a possível) e, portanto, também a esse nível não me arrisco a contestar o que ele escreveu, alvitrando alternativas.

Em suma, considero que o texto que o meu filho escreveu está excelente pelo que nada tenho a ressalvar.

Quando acabei de ler, fiz-lhe mais um pedido: que se pronuncie sobre a posição do PCP em relação a este assunto. Gostava de conhecer a sua abordagem pois sei que é sempre racional, que enquadra bem os assuntos. Mas aí não sei se serei bem sucedida já que me respondeu o seguinte: "Essa não escrevo, pois seria uma discussão mais de comunicação do que de conteúdo". E pronto... Mas irei tentando, prometo...

Por estes dias em que Putin e Trump, essas duas sumidades, andam a tanguear o mundo com as suas erráticas conversações sobre este conflito, por acaso gostaria que as Estátuas de Sal desta vida e seus fervorosos seguidores lessem o texto do meu filho  -- e dissessem de sua justiça.

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Desejo-vos um bom fim de semana