Como gosto de me pôr à prova e tenho dificuldade em virar costas a um quizz ou a testes que me digam o que eu penso, experimentei as dating apps que os jornais disponibilizaram para podermos validar quais os partidos ou os líderes com que mais nos identificamos.
Muito consistentemente deu-me o que me costuma dar: em primeiro lugar o PS, em segundo o Livre. Cá bem em baixo, aqueles com que não tenho nada a ver como o Chega ou o PCP. Bate certo.
Dito isto, considero que a campanha do PS parece que ainda não percebeu que, para ganhar, tem que ir buscar votos a quem está a pensar votar na AD ou a quem, estando hesitante, não está muito convencido a votar no PS. Ou seja, tem que perceber as dúvidas ou os anseios da classe média que não se revê em políticas muito encostadas à esquerda. Como escrevi aqui no outro dia, o PS não tem que falar para quem gosta do PCP ou do Bloco pois esses vão votar no PCP ou no Bloco. Não é com esses que o PS tem que se preocupar. Tem que se preocupar com aqueles que, nas últimas legislativas, votaram no PS (com António Costa) e que agora estão preocupadas com receio que o Pedro Nuno Santos dê ouvidos ao Bloco e ao PCP, nomeadamente, com aqueles para quem a conversa da AD de redução de impostos é música para os seus ouvidos.
Apesar de eu compreender as dúvidas desses hesitantes ou de preferir e um PS mais social-democrata e mais virado para a frente, mais aberto às grandes questões do mundo, e, em contrapartida, menos agarrado às reivindicações corporativistas de várias classes profissionais, considero que, face às reais alternativas, o PS é a melhor aposta, a mais segura, a que me dá mais confiança, a mim e ao País. Apesar de votar onde poderia eleger deputados do Livre, não quero arriscar. O meu voto é consciente e é útil.
Jamais daria o meu voto a quem pode colocar em risco a democracia, a liberdade, os avanços sociais que já foram conseguidas, a aventureiros, a populistas, a gente desqualificada ou traiçoeira.
E agora, esperando que não levem a mal, vou importar para aqui as declarações de voto de duas pessoas cuja opinião prezo.
Da declaração de voto do Rui Bebiano (A minha escolha no dia 10):
Da declaração de voto do Valupi:O meu voto sempre esteve, no momento da decisão, associado à pluralidade da representação da esquerda e à escolha de políticas baseadas nos valores que esta fundamentalmente partilha. A saber, para mim e para tantas outras pessoas: a defesa da democracia e da liberdade, a promoção da justiça social e de um desenvolvimento material harmonioso, a propagação do bem-estar, da saúde e da educação, o progresso da cultura, a defesa dos direitos humanos e do relacionamento pacífico entre povos. Sempre ancorados no papel imprescindível, ainda que infinitamente em construção e aperfeiçoamento, do Estado-Providência. É este, na essência, o sentido da minha escolha no momento de votar. E é também esta a razão pela qual, com o gesto, procuro contribuir para afastar a direita, a extrema e a dita «moderada», que são o contrário de tudo isso.
Direto agora ao assunto apontado no título. O partido cujo programa, apesar de algumas pequenas discordâncias, está mais próximo das minhas convicções – a defesa integrada de universalismo, liberdade, igualdade, solidariedade, socialismo, ecologia e europeísmo – é o Livre. Todavia, sei que, no presente contexto e com a atual lei eleitoral, em muitos distritos levará a votos perdidos; assim, se votasse em Lisboa, Porto, Braga ou Setúbal, onde pode eleger, votaria no Livre, mas não sendo o caso, votarei sem hesitar no Partido Socialista. Este é o partido de esquerda mais forte e aglutinador, que pode impedir o regresso da direita e tem condições para governar. Mesmo discordando de algumas das suas escolhas e personalidades, creio ser a solução possível, de preferência em convergência à esquerda. Tendo simpatia por escolhas e por pessoas do Bloco de Esquerda, que por muitos anos apoiei, reconhecendo o seu importante papel, temo o seu desequilibrado sentido institucional, bem como algumas das suas prioridades no combate político, mas representará sempre uma opção progressista e combativa.
Nas últimas eleições sugeri o voto em qualquer dos partidos da esquerda, mas reduzo agora o leque, pois dois deles perderam a escassa confiança que neles ainda tinha. Um é PAN, sem coerência para além das suas causas pontuais, pactuando com diferentes campos sem uma orientação clara, desde que da escolha resulte a participação num quinhão de poder. Outro é o PCP – o PEV é, de facto, um partido sem vida própria – que, apesar da sua respeitável história e das muitas pessoas honradas que sem dúvida inclui, continua a revelar-se defensor de ditaduras, como as da China, da Coreia do Norte ou de Cuba, e de regimes autoritários, como o da Venezuela, o da Síria e o da Rússia neoimperialista. Ao mesmo tempo, tem pactuado com a invasão da Ucrânia, em nome de uma «paz podre», tem sido sempre anti-União Europeia, e, além de conservador no plano dos costumes, tem-se batido contra causas justas e urgentes, como a defesa da morte assistida ou o fim das touradas. Quem considere isto irrelevante, que me ignore.
A minha escolha é esta e a ela não voltarei até ao dia das eleições.
(...) O meu voto no PS é paradoxal. Considero que esse partido suporta isolado a coesão da comunidade, ligando as carências de pobres, remediados e ricos em políticas que não ambicionam a revolução nem a perfeição. A história do PS como partido de poder confunde-se com a história da democracia como regime da inclusão e do desenvolvimento pragmático, realista, consequente. E estes predicados são os mesmos que me levam a considerar o PS como o principal responsável pela perigosíssima, e já trágica, disfunção dos órgãos de Justiça, Ministério Público como corporação e certos juízes incluídos.
No PS não existem respostas para essa crise do poder judicial tomado pelo justicialismo e cometendo crimes sistemáticos. Não existe sequer um discurso que permita ter esperança a respeito. Restam as pessoas a dar o seu melhor, confusas e assustadas com os poderes fácticos em acção. Sendo demasiado pouco, é nesta circunstância infinitamente melhor do que nada.
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Um dia bom
Saúde. Pés na terra. Paz.
1 comentário:
O segundo comentário é a clássica desculpa, "eles não fazem nada" mas como são uns tipos porreiros e com vontade vou votar neles.
declaração interesses, independentemente das minhas convicções politicas e pessoais, este tipo de opiniões é responsável pelo que se passa no país.
Deveríamos ter consciência que votar implica consequências, tenho de star convicto que voto em alguém porque quero um país melhor, e independentemente do meu voto tenho o dever mora de votar naquele partido que me parece que tem condições para melhorar a sociedade em que estou inserido.
A segunda opinião deixa-me triste porque mostra que alguém vota pelo porreirismo em detrimento da convicção de que devemos premiar os "bons" em vez dos "maus", não quero com isto rotular de bons ou maus qualquer um dos partidos, isso caberá a cada um decidir em consciência.
Terminaria apenas com um votem em consciência sabendo que o resultado será a vontade de "todos" ( apesar de apena serem uns quantos a ir votar; e desses apenas cerva de 1/4 ou menos dos votantes decide pelos 100% dos votantes de Portugal.
Votar deveria passar de direito a dever.
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