quinta-feira, dezembro 28, 2023

Em cima de tudo, a gripe

 

Quando passeamos por aqui à noite não encontramos ninguém. As luzes dentro de casa estão acesas, as pessoas estão lá dentro mas as casas, por fora, apresentam-se silenciosas. Por vezes passamos por casas em que há muitos carros à porta. Percebemos que deve haver festa. E, no entanto, não se ouve nada cá fora. 

Naquele corredor do hospital é a mesma coisa. Estive um bom bocado fora do quarto, a minha mãe estava a dormir e eu queria falar com uma enfermeira ou com uma médica, estava a ver se as via, e tive uma estranha sensação. Parece que se está numa ala deserta. Passado um pouco ouvi uns sons estranhos, não percebi se era alguém que ria com voz de criança, se era alguém que chorava. Depois, logo a seguir, de novo, o silêncio. Apenas de vez em quando um piiiii, o som de algum aparelho. Mas logo depois o silêncio. Quando veio o carro com os lanches, vi que as funcionárias iam deixar o lanche a cada quarto. Percebi depois que alguns doentes conseguem alimentar-se sozinhos. Outros não, vai uma funcionária dar a comida ao doente. Mas tudo em silêncio. 

No meio daquela ausência branca, saiu um homem de um quarto. Cumprimentou-me com um ar também um pouco ausente. Passado um bocado regressou trazendo consigo um rapaz -- um homem jovem com ar assustado, olhos baixos, silenciosos -- que devia ser o filho. Pensei que deveria ser a mulher do homem que estava no quarto, a mãe do rapaz. Julgando pelas idades deles, pensei que a mulher deveria ser da minha idade. Pensei também: tomara que nunca eu dê tamanha preocupação ao meu marido e aos meus filhos. Mas estas coisas não se escolhem. É uma questão de sorte. Uma roleta russa.

Com a minha mãe, tal como a minha filha disse desde o início, continua a ser um dia de cada vez. Não é uma realidade linear em que a evolução seja previsível. Uma mistura de montanha-russa e, lá está, de roleta russa. 

E há outra coisa. A sensação de impotência, sempre esta sensação. A todos os níveis mas também a um nível mais prático: o não se saber quando e o que será o day after, quando tiver alta, o não saber como funcionam as diferentes possibilidades, o não haver um local único onde possamos informar-nos de todas as hipóteses. Ando de site em site, procuro aqui, procuro ali, tenho dúvidas, percebo que antes compreendi mal. Assim ando.

No meio disto, depois de vir de lá, resolvi que devia ir ao shopping trocar uma coisa que recebi de presente e que não me ia bem. O prazo para trocas era o dia 2 mas pelo meio há o fim de semana e o ano novo e nunca sei o que vai ser. Se calhar também me apetecia distrair-me. Fomos. Muita gente. E, pelo meio, telefonemas. Vim cansada. 

E continuo engripada. Penso que devo estar com a dita gripe A. Lá no hospital, de máscara P2, com tosse e calor, estava a ver que a tensão me baixava, que o ar me faltava, estava mesmo a sentir-me mal. Estar assim, nariz tapado, cheia de tosse e não poder tirar a máscara durante muito tempo foi uma coisa um bocado má, custou-me mesmo. Em situação normal, uma pessoa tosse à vontade, bebe água. Com máscara, naquela ala, não dá para espalhar micróbios. Portanto, foi resistir. 

Consolei-me, ao chegar a casa, com um belo banho quente. Mas sinto-me cansada. Cansada. E com os pés gelados (apesar das meias bem quentinhas).

Mas, enfim, todos os males fossem as gripes e as tosses e os cansaços. 

Sobre notícias e televisões e etc., nada, não vi nada, não tenho nada a comentar.

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Desejo-vos um dia feliz

Saúde. Ânimo, Paz.

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