Por acaso hoje não fomos à praia, isto é, para a areia, para a água. Ontem, sim. O meu marido mergulhou e eu estava afoita, convencida que não teria dúvida em ir também. Mas à última hora vacilei. Não passou do peito.
Estar na praia nesta altura do ano é uma maravilha. A praia quase sem ninguém, a temperatura amena, a luz muito limpa. Por todo o lado pequenos gaivotinhos, saltitando à beira de água.
Enquanto lá estava pensava que há menos de um ano estava eu a trabalhar, com toda a gente a trazer-me problemas para que eu, com invisíveis varinhas mágicas, os resolvesse num ápice. Isto enquanto o meu colega (e amigo) lutava contra os medos por ter descoberto que o cancro, que julgava extinto, afinal, silenciosamente, se tinha espalhado. Mas, para não desastabilizar, não quis que se soubesse. Ausentava-se para exames ou por não estar bem e eu tinha que aguentar tudo sozinha, inventando desculpas para as ausências dele. Foram tempos muito complexos e pesados.
Por mil motivos, estas minhas belas férias sabem-me pela vida. Sinto-me feliz por poder estar a desfrutá-las.
Poder andar a fazer exercício dentro de uma piscina funda, durante o dia, também me enche de bem estar a satisfação. Antes trabalhava de sol a sol sem tempo para mim. Agora posso levantar-me às horas que me apetece, posso ir à praia, andar na piscina, escrever, dormir a sesta, ler, apanhar sol, caminhar... e isto durante o dia.
Muitos antigos colegas de escola, da minha idade, portanto, ainda trabalham. Dizem que não se imaginam sem nada que fazer. Digo-lhes que é uma sensação tão boa, que, se soubessem, não quereriam outra coisa.
Não fomos para a praia mas, ao fim do dia, fomos caminhar à beira dela, respirar o pôr do sol, ver o mar.
Trouxemos sushi para o jantar, um sushi muito fresco, muito bem feito. Também é bom não ter que fazer todas as refeições.
Vi um vídeo em que um estudioso, um professor universitário, investigador, dizia que a felicidade se obtém com coisas simples:
- ter amigos, amigos de verdade, não amigos virtuais, não amigos daqueles que fazem parte de um networking de interesses, pessoas que nos podem ser úteis, mas, sim, amigos de verdade, que não servem para nada a não ser existirem e serem nossos amigos
- partilhar afecto com a família, falar com a família, partilhar momentos e memórias, acarinhar as raízes comuns, cuidar do futuro com cuidado e devoção
- sentir que se faz parte de algo maior, seja porque se professa uma religião ou se está integrado num clube ou se adora e venera a natureza, ou coisas assim, em que nos sentimos bem
- sentirmo-nos agradecidos por estarmos vivos, por termos o que temos, por sermos como somos (diz ele que o maior inimigo da felicidade é a inveja)
- perceber que os outros não têm que ser iguais a nós, não querer, a todo o custo, encontrar almas gémeas, perceber que é das diferenças que nasce a aprendizagem
- procurar a beleza das coisas facilmente alcançáveis: ler, ouvir música, apreciar a arte, descobrir a perfeição das flores
Coisas simples. Não alimentar rancores, por exemplo. Não ficar preocupado por não ter o que outros têm. Não traçar objectivos difíceis de alcançar cujo não atingimento seja interpretado como um fracasso.
Gosto bastante de ler ou ouvir coisas assim. Revejo-me nelas. Gosto mais de ouvir isto do que estar junto de quem desfia viagens que fez ou de quem despeja citações, títulos de livros, ou exibe o que toma por sinais de um status superior. Isso cansa-me. Ouvir falar de coisas simples agrada-me.
Por exemplo, uma colega de piscina levou-me um vasinho com pés de pitanga para eu poder plantar no jardim. Fiquei agradecida e tocada pela generosidade dela, por se ter lembrado de mim, por ter tido essa ideia e por ter ido com o vasinho para me dar.
E é isto, por hoje. Há pouco adormeci e custou-me a acordar. Lá o consegui pois queria escrever isto. E agora ainda quero ir fazer outra coisa.
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Nick Cave & Warren Ellis interpretam We Are Not Alone
(do filme La Panthère des Neiges)
Pintura de Kang Un
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Desejo-vos uma boa quarta-feira
Saúde. Alegria. Paz.
5 comentários:
perfeito!
ujm
Das pequenas coisas como por exemplo a musica, digo eu....
https://www.youtube.com/watch?v=psXtaZ5cBLo
Peço desculpa por escrever com letra pequena UJM.
Quem se lembra há 50 anos desta pérola...
https://www.youtube.com/watch?v=vKSQ7n336z0
Obrigada a Todos!
UJM ou ujm ou UjM ou uJm... está sempre tudo bem, Ccastanho!
Que a boa música nunca nos abandone.
Uma boa quinta-feira!
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