Vou contar uma coisa.
Não deve ter interesse para ninguém mas, como tenho passado os últimos dias com este assunto em mente, parece que, agora à noite, tenho que desabafar um pouco.
Como é uma situação real, sei o que se passou até aqui mas não sei o que vai acontecer doravante.
Claro que poderia prosseguir a narrativa inventando.
Mas, às tantas, pareceu-me que, mesmo inventando, o assunto esgotar-se-ia sem grande graça.
Só que, nestas coisas da ficção, mesmo quando se está a relatar uma situação real, a imaginação intromete-se. E se há coisa que de há muito sei é que a imaginação tem vontade própria. A gente não sabe quais os caminhos que vai percorrer e para onde vai levar a narrativa.
Sem que eu tivesse premeditado, do nada apareceu um personagem. E esse personagem trouxe outro. E, sem que eu pudesse interferir, às tantas tomaram conta da história.
Agora, aqui chegada, aconteceu uma outra coisa. Estando eu, de início, a relatar acontecimentos reais, fi-lo na primeira pessoa. Ou seja, eu na história sou eu na realidade. O meu marido na história é o meu marido de verdade.
Ora os novos personagens viraram a história de pernas para o ar e, se fossem de verdade, viravam a minha vida também de pernas para o ar.
E, nesta altura da escrita, vejo-me bloqueada.
Eu faria isto?
Eu aceitaria que o meu marido fizesse aquilo?
Portanto, andei a pisar ovos, a esforçar-me por ser capaz de me convencer que o eu da história já não era eu de verdade.
Até que hoje, não sei como nem porquê, consegui desbloquear este imbróglio.
Já escrevi a cena em que consigo emancipar-me de mim. Foi uma sensação boa, uma libertação.
Agora estou desejando de dar continuidade à história embora tenha para mim que o fim deve ficar em aberto.
Agora uma coisa vos garanto. Raramente, muito raramente, me dói a cabeça. E hoje dói. Dá ideia que, com esta brincadeira, dei uma tareia aos neurónios.
Já bebi um chá, já me pus aqui de olhos fechados, mas continua a doer-me. E, sobretudo, estou mortinha por acabar de vos contar isto para me atirar de novo à luta.
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E, por hoje, nada mais que isto. A não ser a homenagem que à data de 13 de Setembro deste ano da graça de 2023 se fez por ocasião dos 100 anos que nasceu Natália Correia.
De Amor Nada Mais Resta Que Um Outubro | Poema de Natália Correia
com narração de Mundo Dos Poemas
Poesia e poema de autor português. Natália de Oliveira Correia (1923 — 1993) nasceu na Fajã de Baixo, São Miguel, Açores, a 13 de setembro de 1923. Poetisa, ficcionista, contista, dramaturga, ensaísta, editora, jornalista, cooperativista, deputada à Assembleia da República (primeiro pelo PSD, depois como independente pelo PRD), foi uma das vozes mais proeminentes da literatura e da cultura portuguesas na segunda metade do século xx, tendo resistido energicamente ao Estado Novo e aos radicalismos do pós-25 de Abril. Ecuménica e eclética, filantropa e idealista, anteviu um novo tempo, que garantisse a paz, a dignidade humana, a justiça social e o direito à diferença como raízes indeléveis da democracia. Morreu em Lisboa, a 16 de março de 1993.
3 comentários:
Quando se escreve sobre, deixa-se de ser espectador(a). Penso eu de que
Ou somos nós ou o outro, os somos biógrafos de nós mesmos ou desejamos muito aquilo que nos consiga alterar onde estamos para viver ainda outras vidas sem remorsos de vidas passadas....
A. Vieira
Falou, falou, falou...e acabou por não contar nada. :(
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