sexta-feira, setembro 22, 2023

Ida ao hospital.
E umas little consideraçõezitas sobre o SNS

 


Quando se vai a um lugar assim, a gente vê de tudo. Os mais novos que, fruto de doença ou de circunstâncias infelizes, se veem debilitados. Os velhos que, fruto da idade avançada ou da má sorte, se veem a caminhar por uma via com cada vez mais escolhos. Os de meia idade que, quase envergonhadamente, se apresentam diminuídos no meio de uns e outros, como se não fosse ali o seu lugar, que se mostram tímidos por saberem que os outros os vão olhar com estranheza, como se não pertencessem ali, como se não tivessem o direito a estar ali a ocupar o lugar destinado a outros.. 

Depois há os que, como eu, acompanham. Há os empregados, os que são pagos para estar ali a acompanhar os que não conseguem ir sozinhos. E há os familiares. Há os que, como eu, tratam o doente quase de igual para igual, relação entre adultos, cada um com a sua vontade. E há os que tratam os doentes, em especial os velhos, como se fossem crianças, usando diminutivos e rebuçadinhos em cada frase.

E há depois o pessoal clínico. Também tratam uns doentes como se fossem uns seres infantilizados. Mas, se calhar são. Há os que não ouvem quase nada, não sabem responder, estão confusos. Se calhar faz sentido que as enfermeiras os tratem com carinho, quase como se fossem bebés. Mas depois há os doentes que são tratados de igual para igual, com respeito. E eu penso, de vez em quando, em determinadas situações: 'Deveria ter sido mais assertivo, deveria ter dito que é assim porque é assim e ponto final.'. Mas não, explicam e deixam à consideração. 'Eu acho isto mas a senhora fará como entender'. Fico a pensar que fizeram mal, deixaram solta a ponta que a minha mãe irá agarrar.

Mas tento sempre pôr-me nos sapatos dos outros, quer do médico que sente que deve deixar margem para o paciente decidir, quer do paciente que se sente com o direito a tomar decisões, mesmo que perceba que não é a que os médicos aconselham.

Portanto, resumindo, mais um dia daqueles. Horas. 

Tenho que dizer: tendo ela adse e um bom seguro de saúde, prefiro que se trate no sns onde há um serviço de apoio transversal. Ali é monitorizada, faz análises, é vista por enfermeiros e médicos. E há atendimento todos os dias úteis. O pior é mesmo o de sempre: a organização. O tempo que lá estamos. A impossibilidade de telefonar para a parte administrativa, por exemplo para mudar o dia da consulta. Um conjunto de pequenos bottlenecks que seriam fáceis de resolver e que trarim grande qualidade aos serviços.

E depois outra situação. No outro dia a minha mãe teve que ser vista por um médico. Não era caso de hospital. No centro de saúde havia greve, não havia consultas. Médicos ao domicílio já não havia para este mês. A hipótese seria ir com ela para o centro de saúde no dia seguinte logo de manhã a ver se arranjávamos vaga. Ora não estava em condições para se meter em tal aventura. Conclusão: para não ir horas para filas de espera imensa para o hospital público, foi para um hospital privado. 

Mas, mesmo que fosse fácil obter vagas para o dia, em especial em casos complexos de idosos, não haverá, no Centro, maneira de fazer análises e um rx. 

Para tudo isto funcionar bem teria que haver um enorme investimento em meios de diagnóstico simples para as unidades locais, e mais pessoal. E, não menos importante, gestão. 

Os Centros ou os Hospitais devem ser geridos por gestores e não por médicos. Estes devem ser os directores clínicos, não os gestores.

Agora que já não tenho o belo seguro de saúde que tinha através da empresa, estou por minha conta. Gostaria de me bastar com o sns. Mas se precisar de uma consulta de cardiologia, o que faço? Espero que o médico de família me referencie para uma consulta no hospital? E vários meses depois chamam-me? E, entretanto?

E depois esta forma abstrusa de trabalharem. Em vez de ligarem às pessoas e escolherem uma data/hora consensual, não senhor: prepotentemente, enviam uma carta a dizer o dia e a hora. Se uma pessoa não pode, azarinho.

Coisas simples que poderiam ser melhoradas.

Espero que tudo isto leve uma grande volta mas com optimização de recursos, boa gestão.

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E estou cansada. Levantei-me muito cedo. Foi dose. Isso e mais lidar com a situação que, toda ela, vai evoluindo, por vezes de forma desconcertante. O que me valeu foi ir passear para a praia ao fim da tarde. Foi bom. Mas estou um bocado esgotada.

Portanto, fico-me por aqui.

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Uma bela e happy friday

Saúde. Tolerância e compreensão. Paz.

6 comentários:

aamgvieira disse...

Tem razão no que escreve.


A.Vieira

Américo Costa disse...

Cara UJM
Essa frase, "a gestão do SNS devia ser para gestores" deixa-me em polvorosa. Eis os meus conflitos de interesses: médico, Pneumologista do SNS em exclusividade há 41 anos. Desde 1983 que noto os mesmos problemas no seu funcionamento. E não foi por existir gestores que eles desapareceram. Até acho que, com a sua entrada e o facto de se equiparar a saúde como se fosse bananas ou sacos de cimento, que as coisas se deterioraram mais. A medicina é uma arte, não um negócio. O que o SNS precisa é de inteligência emocional e não de gestores. O que o SNS precisa é de elevarmos a literacia em saúde das pessoas, médicos com tempo de conversar com elas e não de cálculos matemáticos ou computadores XPTO. Voltar às origens. Estou cansado desta coisificação da doença, de sopesar os ganhos a torto e a direito, de tratar a doença como se fosse um tijolo que se partiu numa obra. Sejamos claros, cara UJM: fomos nós, médicos e enfermeiros que demos cabo do SNS. Só pensamos em dinheiro (e vejam hoje o motivos das greves : salário, aumento, dinheiro). Portanto, e desculpe a ousadia, teve azar. Não encontrou um médico, mas sim um gestor; não encontrou alguém que lhe resolve-se o problema, mas sim alguém que só espera o fim do mês para receber. E na privada, com dinheiro, vai encontrar de certeza. Vamos destruir o SNS com a nossa ganância.
Abraço
Américo Costa

Anónimo disse...

os politicos mudam, os gestores mudam sempre introduzindo mais meios para ajudarem na resolução dos problemas, mas quem na realidade tem que fazer para os resolver não muda. enquanto utilizarem a informática para escreverem com lápis de carvão nada feito.faz doer o coração como essa gente esbanja meios por vezes dos mais avançados utilizando-os como se fossem carrinhos de mão em ambiente robotizado. no site do SNS pode tratar do testamento vital só que não se compreende por quê tem que descarregar o impresso imprimi-lo, preenche-lo e entregá-lo no balcão do centro de saúde. (https://www.sns24.gov.pt/servico/testamento-vital/#como-posso-fazer) mas que raio de serviço é este, então porque é que Eu além de toda a aberração que é imprimir, preencher tenho que depositar todos os dados privados e até íntimos na mão de uma pessoa qualquer. porque não introduzo os dados directamente por via informática utilizando meios de certificação. pode marcar consulta através do SNS só para o médico de família para daí a 2 ou 3 meses mas se for ao balcão consegue para mais breve. para alguma coisa servem os nossos funcionários

ccastanho disse...

UJM
Como a compreendo. Saí de uma pequena-média cirurgia esta semana.

Mas nada melhor para repor baterias como este som,

https://www.youtube.com/watch?v=IFNntd48II8

ccastanho disse...

Já agora,

https://www.youtube.com/watch?v=cgEd5suDn-Q

Um Jeito Manso disse...

Meus Caros,

Escrevi um novo post sobre o assunto no qual dou destaque, em particular, ao Caríssimo Américo Costa.

Contudo, os meus agradecimentos, como é óbvio, vão para todos.

Rápida recuperação Ccastanho. E obrigada pela música.

E A. Vieira, concorda comigo... Como é que isso é possível...? Estará doente...?

Anónimo@, totalmente de acordo. A informática, nestes meios, ainda deixa muito a desejar. Não consigo médico de família na zona em que vivo. Tenho que manter o médico na cidade em que antes morava. Tento marcar consulta via portal, não consegui, diz que ainda não é possível. Liguei... dias a tentar. Até que finalmente consegui. Depois era aquela coisa, se for isto marque 1, se for aquilo marque 2, etc. Escolhi a opção que parecia adequada. Depois música e mais música. Quando me atenderam, disseram que para o que eu queria não era ali, que fizesse nova chamada e escolhesse outra opção. Mais um dia a tentar. Lá consegui. Um martírio... Vamos ver agora como corre. Um desespero.