Sou absolutamente avessa a ajuntamentos. Ver muitos milhares de pessoas em cima umas das outras é algo que me perturba. Se calhar sou bicho do mato. Não digo que não.
À hora de almoço vi milhares de pessoas a passo de caracol, ao sol, ao monte, numa estrada a caminho do local junto ao Tejo. A impressão que aquilo me faz. Parece-me um rebanho insano. Qual o sentido, a utilidade, o propósito daquilo? Juro que não percebo.
Que, numa de fazer bem aos mais desfavorecidos, se tivesse arranjado maneira de aproveitar toda a boa vontade dos jovens e os pusessem a construir parques, casas, a plantar árvores, a fazer qualquer coisa de útil para os pobres ou para o país ou para o planeta, eu ainda percebia. Agora desaproveitar tanta energia para andarem apenas de um lugar para o outro, com cantiguinhas infantilizadas, com conversinhas pueris... acho uma oportunidade perdida. E todos os voluntários a mesma coisa. Acham-se úteis a fazer coisas e mais coisas em volta de uma grande inutilidade. Não sei como dizer isto sem parecer uma desmancha-prazeres perante pessoas que andam cansadas e felizes por fazerem o bem mas, na verdade, tudo me parece uma coisa frustantemente absurda.
Agora, à noite, quando ligámos a televisão, vimos uma multidão de jovens preparados para dormir ao relento. Felizes da vida, claro. O Sudoeste ou o Meco (mas em versão pia pois provavelmente não há charros nem sexo; e, pelo menos por esse lado, os pais podem estar descansados). Woodstock new age. Peace and love.
Que não se pense que acho mal os jovens estarem em acampamentos. Não acho. Acho piada a ver jovens juntos, a curtirem o convívio e a night, é bom. Mas a verdade é que para eles é capaz de ser uma experiência fantástica, muito convívio, muita hormona junta, noitadas ao relento sob as estrelas é do mais romântico e fixe que há. Mas, muito racionalmente falando, tirando isso, é conversa fiada. Milhõe$ gastos (em vez de serem gastos em obra social ou em acções a bem da natureza), horas de televisão à desgarrada (só aflorei, não vi). quando, na verdade, nada de concreto e útil se fez nem nada de especial há a dizer.
Claro que o Papa diz muita coisa acertada e apela à inclusão e ao amor e, é certo, ainda bem que não é um fanático, radical, fundamentalista. Mas, em concreto, tudo espremido, o que é que aqueles milhares de jovens vão fazer com o que ouviram? Bola. Sorriem com ar beatificado, é certo. Mas, de concreto, isso vale bola.
E que não se pense que quem participa nisto ou quem vai à missa é melhor que os outros. Melhor que eu, por exemplo, Dos maiores sacanas que conheço -- gente sectária, cínica, indiferente perante as dificuldades -- são católicos praticantes, beatos, todos de missas, retiros, peregrinações. Se calhar é coincidência mas é verdade.
Não quero dizer que são todos assim. Conheço outros que não são assim, que são simplesmente alienados, entretêm-se com cursos para casais e coisas do género, coisas completamente fúteis, banalidades ditas como se fossem grandes ensinamentos.
Portanto, tomara que os jovens, os portugueses e os de todo o mundo, se dediquem à aprendizagem, que gostem de ciência e de arte, que sejam humanistas, que sejam bondosos, que sejam inclusivos, que tenham a mente aberta, que lutem que nem doidos pela liberdade e pela democracia e pela defesa do planeta e que não se dispersem com coisas que servem apenas para fazer de conta.
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Charlie Chaplin vai levar uma massagem...?
5 comentários:
Cara UJM.
Não pretendo inquietar nenhuma sensibilidade católica, até porque todos me merecem respeito.
Mas penso como resumo desta visita Papal , o que ficou de relevante? Que mensagem ficou no ouvido? Vendo bem, nenhuma, e parece, que não estou sozinho. Uma repórter de televisão, fez a pergunta a um grupo de jovens de qual era a frase mais bonita e cheia de cristandade que ouviram do Papa, e ninguém !,conseguiu depois de pensar um bocado, e olharem uns para os outros, apontar uma frase que lhes tocasse o coração.
Esperava muito mais deste Papa Francisco, com o palco que tinha pela frente de tantos jovens, e escutado por todo o mundo, uma mensagem ao mundo liberal, uma mensagem e até chegando á frente para intermediar nesta guerra que consome o mundo mas, nada de nadinha.
O Papa Francisco utilizou meia dúzia de chavões da caridadezinha e nada mais. Uma oportunidade perdida para quem alimentou grandes teorizações. Claro, na falta de ideias lá apareceu a reacionária posição sobre o aborto, da eutanásia, considerando que só Deus!, tem poder para acabar com o sofrimento retirando a cada pessoa o poder livre de fazer o que entende com a sua, repito, sua dor, etc. coisa e tal, com mais do mesmo para ficar tudo na mesma.
Para além da manifestação de força católica, arrebanhada no mundo inteiro para Lisboa, como forma justificativa, que a Igreja é muito mais, do que criminosos, a" esventrar crianças como tem acontecido por esse mundo fora com testemunhos, ao longo dos tempos", a Igreja é uma congregadora de amor, de paz, de ajuda ao próximo.
Já agora uma pergunta: ao que parece, as autoridades disseram números de sexta-feira a rondar os setecentos mil peregrinos, no sábado, o vaticano, avança com um milhão e quinhentos mil no largo tejo, então por onde entraram se as autoridades das fronteiras disseram que não havia aumento substancial de trafego? Mais um milagre de Fátima.
Inteiramente de acordo com o que escreveu, UJM.
A finalizar, uma nota de rodapé, ao comentário de ccastanho: mundo liberal não, mundo democrático sim. É que o Neoliberalismo defende que existem as democracias liberais e as outras. Até há um mapa da Europa onde Portugal, por não ter - e ainda bem -um governo Neoliberal (já teve e livrámo-nos dele, o de Passos e Portas e antes dele o de Cavaco), aparece como tendo, ou vivendo, numa democracia diminuída. A Democracia é, não se define por ser Liberal e não Liberal.
2. Ainda bem que, lucidamente, chamou à atenção da forma como o fez, por comparação, para esta história das JMJ. Fez bem.
Dois dias depois de as JMJ terem acabado, tenho pena é que tenha ficado um rasto de lixo por onde os jovens passaram... Não percebo porque é que não tiveram o cuidado de deixarem tudo imaculado.
Tirando isso, seria bom que voltassem em turismo de qualidade pois o país só ganha em ter turismo pagante. Também não seria mau que alguns quisessem vir trabalhar para cá pois o país também ganharia em ter imigrantes jovens para se reproduzirem e injectarem oxigénio na demografia.
E bola para a frente porque para a frente é que é caminho.
Concordo completamente com o que diz e olhe que eu sou uma pessoa católica - gosto mais de dizer "de fé". Há tanta coisa importante para fazer e onde se gasta o dinheiro? Em coisas de que não fica nada que ajude quem precisa, nomeadamente os velhinhos e os jovens que trabalham e pagam impostos exagerados.
Não vi nada das jornadas, porque não abro a televisão há uns meses, mas chegou-me uma ou outra coisa através do whatsapp.
Enfim, são as políticas que temos.
Beijinhos:))
Olá Isabel
É bom ver os jovens de todo o mundo juntos e alegres. Mas é um desperdício tanta gastação de milhões sem que nada fique, nada. Tanto jeito que esses milhões dariam a quem tão necessitado está de uma ajuda. Não ficariam os jovens mais felizes se, em vez de andarem de um lado para o outro, ao sol, estivessem a fazer qualquer coisa de útil...? É uma dúvida que tenho...
Mas é o que é...
Beijinhos, Isabel!
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