sábado, julho 15, 2023

A felicidade e as pequenas alegrias

 

Nunca fui de sonhos irrealizáveis ou de desejos transcendentes. Balizo as minhas aspirações ao quadro daquilo que é alcançável. 

Nem alimento grandes expectativas sobre as coisas.

Quando namorava nunca divaguei a imaginar o dia do casamento. Pelo contrário, sempre o quis simples. Nunca imaginei grandes coisas a nível do que seria o meu viver a dois. O que vier, se for bom, é bom. Não tem que ser óptimo. Dificilmente fico descontente ou defraudada porque nunca me ponho a fazer planos sobre o que poderia ser.

Que me lembre nunca tive desgostos de amor nem nunca me senti traída. Se fui, não dei por isso e também nunca me interessei por aprofundar o tema.

No trabalho nunca me pus a imaginar vir a ocupar este ou aquele cargo. Ao contrário de vários colegas que viviam em campanha e que passavam por períodos de fossa por acharem que não reconheciam o seu valor. Comigo isso nunca aconteceu. Nunca desejei ser o que não era. E quando vinham dar-me parabéns por ir fazer coisas novas nunca me senti orgulhosa ou vaidosa pois para mim eram, isso sim, novos desafios e trabalhos redobrados.

Nas férias, nunca ambicionei ir a destinos longínquos ou onde quer que seja que obrigue a grandes planos, a grandes despesas. Jamais me passaria pela cabeça pedir dinheiro emprestado e ficar a pagar juros e andar, durante o ano, a fazer tangentes para ir duas semanas para o cu de Judas. Por isso, nunca me senti com pena de não conhecer ou não ter ido visitar isto ou aquilo. Onde der para ir, vou.

A nível do que agora pretendo fazer, escrever e publicar livros, não me ponho a sonhar, a pensar que vou publicar trinta e que vou vender um milhão de livros nem que vou ser traduzida em quarenta países. Se publicar dois ou três e vender uns quantos já está bem. E se tudo correr bem, melhor. Mas porque sou focada e decidida, humildemente darei os passos que tiver que dar. E dá-los-ei por mim, batendo a uma porta, batendo a outra, preparada para ouvir muitos nãos.

De resto curto e agradeço as pequenas alegrias. Se calhar, por isso, me sinto geralmente feliz. É que não preciso de muito para me sentir bem.

Por exemplo, para mim isto é bom:

  • Estar a ler e a sentir a aragem do ventinho suave e ameno
  • Estar na sala a ver, lá fora, um esquilo a brincar 
  • Nadar, nadar, estar dentro de água
  • Comer queijo, por exemplo o de cabra, fresco ou curado, ao mesmo tempo que como fruta
  • Escrever
  • Cozinhar, apurar o tempero, estar na rua e sentir o cheirinho que sai pelas chaminés
  • Comer fruta de manhã e kefir com muesli e, depois, beber um café perfumado, espumoso e quente
  • Apanhar orégãos
  • Varrer 
  • Caminhar e conversar e caminhar
  • Abraçar o cão
  • Escolher livros, arrumar livros
  • Olhar uma bela pintura ou uma bela escultura ou uma bela dança ou ouvir uma bela música
  • Passear de carro, se possível com a janela aberta
  • Dormir quando tenho sono e acordar naturalmente
e
  • Mil outras coisas mais 
e
obviamente
  • Estar com os meus
Não sei se posso ser exemplo para alguém. Falo de mim pois é a realidade que tenho mais à mão. E falo do meu caso pois, sendo como sou, não sou dada a angústias. Sinto-me geralmente muito agradecida pelo que tenho e, como esse agradecimento, vem uma tranquilidade que é boa companhia.

Cada um é como é, e muitas vezes isso nasce com a pessoa. Mas, no que podemos controlar, talvez não almejar uma felicidade transcendente  ajude a ser feliz.

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A felicidade e alegrias, segundo Rubem Alves


CHANEL Connects - S3, Ep1 - Yinka Ilori & Kelsey Lu, Immersive Joy

Neste episódio, conheça Yinka Ilori, um artista visionário que combina a sua herança anglo-nigeriana com designs vibrantes e ousados que celebram a unidade e a acessibilidade. Unindo forças com a música Kelsey Lu, conhecida pelos seus sons eletroclássicos etéreos, os nossos convidados compartilham como a alegria alimenta os seus empreendimentos artísticos e exploram a influência da natureza em suas práticas criativas. Deixe esta discussão transportá-lo para um mundo de cor, som e imaginação desenfreada.


Desejo-vos um bom sábado
Saúde. Tranquilidade. Paz.

2 comentários:

Pôr do Sol disse...

Pois. Um mundo de contradições.

Primeira condição para se ser feliz é não pôr a fasquia muito alta. Certo. E quando a seguir o mundo acusa de acomodado. Sem ambição.

Um beijinho e continue feliz, fazendo os outros felizes já nos deixa felizes.

Um Jeito Manso disse...

Olá, querida Pôr do Sol,
Não pôr a fasquia muito alto, em minha opinião não é forçosamente sinónimo de se ser acomodado, é mais de não sonhar com impossíveis.

Querer uma coisa, mesmo que leve tempo a alcançar ou que dê muito trabalho, é bom porque há esperança de se alcançar. Há que persistir, ir à luta. No que estiver ao nosso alcance, bora lá.

Outra coisa é sonhar com ficções, irrealidades, coisas que nem sequer dependem de nós.

Beijinhos também para si e para os seus, Sol Nascente!