sábado, novembro 05, 2022

Ando devagar porque já tive pressa

 

Tive que me levantar muito cedo. Madrugar desconjunta-me para o resto dia. Faço por parecer que não mas, por dentro, o corpo dá-me sinais. Tento ignorá-los mas sinto que eles estão lá. Por isso, agora que é quase meia-noite, estou com um sono que não vos digo nem vos conto. 

O dia também foi complicado. Parece que deixam para sexta-feira para despejar baldes cheios de problemas por cima da minha cabeça. Alimento sempre a esperança de que as sextas-feiras sejam neutras, como se já estivesse em regime de quatro dias. Mas há gente que parece que queria era voltar às semanas de sete dias e, não podendo, condensa. À sexta, dão à costa chatices que davam para três dias, tudo para infernizar a vida dos outros. 

À hora de almoço, depois de mil chatices, um telefonema. Eu: poças para isto; que é que fazemos? E, do outro lado, ele: sei lá, talvez fugir. Rimo-nos. Para ambos a melhor solução seria mesmo essa: fugirmos. Mas devemos ter perna curta pois a verdade é que não vamos a lado nenhum.

Ao fim do dia, o meu marido quis ir, mais uma vez, fazer uma caminhada longa, à beira-mar. Não apenas diz que gosta como acha que é o que gasta mais energia ao nosso ursoto. Assim, estafado, à noite, aqui na sala, desejavelmente não fará aquelas mil tentativas para nos pôr a brincar com ele. 

Mas estava frio e algum vento. Nós bem agasalhados e alguns surfistas nocturnos a saírem da água, a porem-se em tronco nu. Ou algumas jovens atletas de top desportivo, de alças, sem frio. Gente de outro planeta, cá para mim.

Mas, se calhar, isto de andarmos à noite com aquele frio e aquele vento contribuiu para moer ainda um pouco mais o meu corpo. Acresce que, para acompanhar o peixe assado do jantar, veio vinho branco e, talvez por andar um pouco desabituada, parece que bateu um pouco. Bem bom. Douro, fresquinho, frutado, civilizado. Por isso, estou aqui capaz de me encostar e deixar-me adormecer. Mas ainda vou dar um pouco mais de luta, ainda é cedo para dormir.

Claro que, com isto, não vi as notícias nem agora me apetece ir à procura. 

Por acaso, há pouco ia para entrar num site e não sei que troca de mãos fiz que me apareceu o cmjornal, ou seja, o site do correio da manhã. Desastres, crimes. Fugi. Há vários mundos paralelos, disjuntos. Não gosto da maioria.

Agora, no zapping, uma vez mais passei pela 3 e uma vez mais lá está aquela dominatrix, encharcada em ideologia, insuportável, mal vestida, mal pintada, mal penteada. E não sei se é ignorante ou uma desenfreada demagoga. Diz parvoeiras que não lembram ao careca e tudo cuspido sem hesitação, com insuportável sobranceria. Não se aguenta. Coitados dos restantes paineleiros que há anos têm que aturar aquela verborreia arrogante e destemperada. 
Agora, ao escrever o que escrevi, estava a falhar-me a palavra 'verborreia'. Só me ocorria 'gonorreia', mais propriamente, 'gonorreia falante'. Mas, entretanto, lembrei-me do que queria dizer: verborreia arrogante e não gonorreia falante.
[Há que manter o nível. Nem sempre uso as palavras que a minha mente me quer ditar. Imponho-me algum respeito, forço-me a arranjar sucedâneos socialmente melhor aceites.]

Bem. 

Sei que vai por aí vai muito fuzuê com o maluco do Musk e com a baderna que está a arranjar no Twitter. Não quero saber, não me assiste. Não frequento. Passo muito bem sem. É chato que esteja a despedir a malta toda e que ainda não se perceba bem qual a dele. Mas, por mim, que tenha muitos meninos. Aliás, neste capítulo, já vai em oito e bem pode continuar a fazê-los pois ainda tem muito por onde improvisar em nomes. Tem uma a que deu o fofo nome de Exa Dark Sideræl e outro que se chama simplesmente X Æ A-12. Um excêntrico e perigoso exalouco, este Elon. 

Mas, portanto, desisto. Hoje não quero saber de notícias para nada. Estou a modos que um bocado cansada, quer do sono quer da saturação que a maluquice circundante provoca em mim. I rest my case.

Com vossa licença, vou mas é ouvir musiquinhas boas, vou ver casas e jardins, vou alimentar o meu eu lírico e bucólico.

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As fotografias não têm a ver com o texto mas têm a ver com o que me apetece ver. 
São algumas das belas fotografias de The week in wildlife – in pictures no Guardian
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Ando devagar porque já tive pressa
E levo esse sorriso
Porque já chorei demais
Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz
E ser feliz

Almir Sater recebe Maria Beltrão em seu refúgio no interior de São Paulo 

| É De Casa | TV Globo


Desejo-vos um dia bom
Saúde. Bom descanso. Boa diversão. Paz.

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