segunda-feira, outubro 17, 2022

Fazer de uma casa um lar

 

O meu marido está muito aborrecido com o resultado de hoje do Sporting e, parece-me, com as consequências disso. Não sei exactamente de que se trata mas, pela reacção dele e pelo agastamento em que se encontra, deve ser coisa grave.

Ainda há pouco o urso-fera desatou a ladrar e, esperto como é, para ter um maior ângulo de visão, subiu as escadas e foi espreitar, pela janela, o jardim e a rua. E continuou a ladrar. Como minutos antes me tinha levantado para ir à cozinha buscar-lhe um ossinho de roer, achei que agora era a vez dele se levantar. Se o cão estava a ladrar daquela maneira alguma coisa devia ser. Não foi e nem se explicou tão concentrado estava a ver um (por acaso) civilizado debate na televisão sobre a temática. Provavelmente a derrota foi humilhante.

Hoje tivemos um dia tranquilo. De tarde, estávamos no terraço. O tempo cinzento, levemente chuviscoso, a temperatura amena. Eu tentava escovar o nosso amigo cabeludo mas ele não estava nem aí. Agora descobriu que consegue enfiar-se por baixo dos painéis para ir buscar as bolinhas que deslizam para lá e depois, ali enfiado num espaço estreitissimo ocupado por arbustos, sai de marcha atrás. 

O meu marido costuma dizer que fui eu que voltei a querer um cão pois ele sempre alertou para o trabalho que um cão dá mas hoje chamei-lhe a atenção para a companhia que o cabeludo nosfaz. Enquanto lhe fazia festas, ele reconheceu: 'Não digo que não, gosto muito dele'. 

A minha mãe também gosta imenso dele. E é recíproco. Ainda no sábado, mal ela se sentou no carro, ele fez a festa habitual, saltos, latidos, lambidelas. E a seguir atirou-se de lado, com a cabeça em cima das pernas dela. A minha mãe derrete-se: 'Vejam bem isto, parece uma pessoa'. E faz-lhe festas na cabeça. Ainda se lembra muito, com saudade e carinho, da nossa querida cãzinha cor de mel, uma santa comparada com este. Mas encanta-se e diverte-se com esta truculenta, teimosa e meiga criatura.

Muitas pessoas pensam um cão ou um gato são sucedâneos para afectos não concretizados através de humanos. Não creio. São afectos distintos. Um não substitui outro. Tenho uma vida familiar e afectiva preenchida e não é por ter aqui em casa este urso felpudo que sinto mais ou menos vontade de estar com filhos e netos. São compartimentos distintos. Pelo contrário, penso que para as crianças um cão na família é uma mais-valia, um amigo. Aprende-se a observar e interpretar ou simplesmente a aceitar espontâneas reacções mútuas de carinho ou medo ou susto ou divertimento.

Apesar do trabalho que dá e das condicionantes que esta fera maluca e meiga nos trouxe, a minha casa hoje é mais completa. 

Sempre fizemos as nossas caminhadas e é bom andarmos os dois, sempre conversando. Seja ao sol, à chuva, ao vento, nas ruas do lugar em que vivemos, no campo ou na praia, é sempre bom. Gostamos de caminhar. Mas andar com este nosso novo companheiro traz uma graça adicional ao passeio, é um ponto de convergência, uma companhia adicional. E, antes de o termos, quando ficava sozinha em casa, se não tivesse uma razão prática para sair, durante o dia não ia à rua passear, ficava-me pelo jardim. Agora não, agora vou passear com ele. E vejo como ele fica contente por estar connosco, por estar com a família. 

Ao ver o vídeo no local onde Glória Pires pratica os seus textos, se exercita fisicamente ou se descontrai não presto atenção apenas à arquitectura do espaço que, por sinal, parece ser espectacular, um sótão espaçoso com um tecto recortado, elevado, inspirador. 

Observo também a graça dos cãezinhos, a forma brincalhona como eles interagem com ela e ela com eles. Quanta ternura. E como a percebo quando diz que eles transformam a sua casa num lar...

Glória Pires mostra sótão de trabalho, exercícios e descanso em sua casa no Rio de Janeiro | Lar

Neste vídeo do programa "Lar: Vida Interior", a atriz Glória Pires abre as portas de sua casa no Rio de Janeiro para mostrar seu sótão. O lugar pode ser definido como um cantinho de trabalho, exercícios e descanso onde, na companhia dos seus fiéis e amorosos cachorros, a atriz se prepara para o dia e deixa as tarefas cotidianas mais prazerosas. Para ela, em um lar não podem faltar duas coisas: música e memórias afetivas.

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Desejo-vos uma bo semana a começar já por esta segunda-feira

Saúde. Afecto. Paz.

3 comentários:

Anónimo disse...

Este animal diz que o “apego a um qualquer animal de estimação, (é) típico das sociedades decadentes”:

https://portocanal.sapo.pt/noticia/312619

- R y k @ r d o - disse...

Pois o Sporting foi eliminado pelo Varzim, (1-0) equipa da 3ª Divisão. Muito maus de superar para qualquer sportinguista. Mas tudo passa.
Já tive cães e gatos quando morava numa casinha de campo. Hoje em dia apenas tenho como animais de estimação uma mosca aqui outra ali que vão entrando sorrateiramente pelas janelas abertas. Escreve muito bem. Deixo o meu aplauso e elogio
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Uma semana feliz … Cumprimentos poéticos.
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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Monteiro disse...

E que inteligentes que as moscas são. Quando o Sporting ganha até parecem outras. O que elas mais gostam é de pão, de vinho, de chouriço, de queijo e de aguardente, sobretudo as pequeninas. Deixei uma pinga de aguardente num cálice e houve uma ou um ainda mosquito que se esforçou tanto que acabou por já não conseguir sair e lá morreu todo alcoolizado no fundo do copo. Já me esquecia que aquelas mesmo pequeninas gostam também é de café. Às vezes vou dar com a máquina toda conspurcada e com elas a esvoaçar. O pior é que o Rúbem Amorim está pior que as moscas e já não acerta uma. Lá no fundo ele ainda é do Benfica. Traidor.