Está a fazer furor. Eles desdobram-se em entrevistas. Mais ela que ele. Compreende-se. Vários aspectos são tabu: sexo, prazer, intimidade, nudez. Tanto mais sendo sexo pago, sexo pago por uma mulher, nudez duma mulher com mais de 60. Tanto mais quanto ela é a Dame Emma Thompson.
Ao ver a apresentação do filme e ao ver algumas das entrevistas, fiquei a pensar. Será que, em circunstâncias idênticas, eu seria capaz de contratar um profissional de sexo? Não sei. Poderia ter vontade, poderia sentir curiosidade, mas não sei, sou um bocado medrosa para coisas assim. Ficar sozinha com um desconhecido, sem conhecer a sua índole, assustar-me-ia.
E se fosse um ladrão? E se fosse um assassino? E se fosse um violador? E se fosse agressivo? E se fosse estranho? E se fosse um tarado? E se fosse um chantagista? E se fosse um palerma?
Sou um bocado esquisita, ou seja, exigente. Melhor: muito exigente. O diabo está nos pormenores. Se alguma coisa me desagradasse
(um cheiro pouco convidativo, dentes mal lavados, cabelo pouco limpo, mais do que um pontapé na gramática, sinais de burrice aguda. umas cuecas foleiras, uma tatuagem ridícula, todo depilado, uma camisa com colarinho ensebado, umas meias encardidas, desatento... sei lá, mil coisas)
já não ia dar. Tem que haver clima. Pode até ser apenas um climinha. Mas tem que haver. E, para haver climinha, não pode haver nada que distraia, nada que perturbe, nada que possa comprometer.
Por isso, com tanto receio, tanta ressalva, acho que não me arriscava a abrir a porta a um desconhecido havendo o risco de, no minuto seguinte, só querer vê-lo pelas costas.
E se o mandava embora e ele se recusava a ir? Que medo...
Não... acho que o meu espírito de aventura não é para isto. Mas já me pareceria viável conhecer alguém num encontro em público com a intenção de o conhecer, de conversar. Claro que também poderia não funcionar. Ao fim de dois minutos poderia ter vontade de arranjar uma desculpa e desandar. Mas se, por exemplo, me aparecesse alguém com quem se pudesse ter uma boa conversa sobre a situação na Ucrânia e na Rússia, sobre o suicídio do PCP, sobre os problemas ambientais nos próximos anos... coisa assim, já me parece que poderia ser interessante. Poderia nunca passar disso. Mas isso, em si, poderia ter piada.
Mas, pronto, eu não poderia dar a personagem interessante que a viúva Nancy Stokes parece ser. E também não sei se há por aí muitos Leo Grandes.
Agora uma coisa é certa: não sei se, depois de um filme assim -- e falo apenas por ver a apresentação e as entrevistas -- se vai continuar a olhar para os profissionais do sexo da mesma maneira. É censurável que Nancy Stokes tenha recorrido a Leo Grande para voltar a estar nos braços de um homem, para voltar a sentir prazer, para voltar a sentir o aconchego da intimidade?
Falo por mim: não acho censurável.
Mas... se fosse ao contrário? Se for um homem a contratar uma mulher... já o é? Porquê? Porque um homem vender-se para dar prazer a uma mulher é menos censurável do que se for uma mulher a fazê-lo?
Good luck to you, Leo Grande
com
Emma Thompson, Daryl McCormack
Dame Emma Thompson wants to talk about sex. It’s all because of her new film Good Luck To You, Leo Grande. In it, she plays a widow in search of sexual fulfillment. Relative newcomer Daryl McCormack plays the sex worker she hires to help her in her quest.
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