quinta-feira, junho 02, 2022

Libertar as mamas, tapar os mamilos


Nada contra uma coisa ou outra. Mamilos tapados ou mamilos destapados, maminhas beatamente cobertas ou mamocas descaradamente ao léu. Tudo está bem quando acaba bem. #Freethenipples. #Coverthenipples. 

Posso já não ser praticante mas sou admiradora. Como em tudo, há que usar o que se usa com elegância e dignidade. Mais do que usar uma moda, há que ter atitude. So they say.

Pela parte que me toca, o que posso dizer é que gosto de decotes grandes e que agora pouco uso soutien. Só o uso em dia de festa ou afim tal como, por exemplo, reunião presencial. Livre sempre fui mas agora ainda mais me sinto.

Para o trabalho, tempos houve em que usei roupa que, em meu entender, dispensava o soutien Tinha um vestido de que gostava muito. Já não me cabe mas não o deitei fora. Tenho esperança que alguma outra mulher da família ainda tenha prazer em usá-lo. Era de uma malhinha de algodão preta, um vestido bem justo, liso, com um decote nas costas em V profundo, com umas tiras horizontais para unir as duas partes do decote dorsal. Usava-o com um cinto largo de pele macia em bordeaux. Claro que era incompatível com soutien dado que as costas estavam muito a descoberto. Na altura,  mil vezes não usar soutien do que ir com ele à vista. Agora isso também já não choca. Nessa altura, lembro-me bem, já tinha os meus filhos, eram pequenos, e nem trinta anos eu devia ter. Vestia-me assim, na maior descontração. Claro que, olhando para mim, se percebia que a única coisa que tinha vestido para além do vestidinho eram as cuecas que, de resto, eram escolhidas a dedo para não se notarem. Gostava de o usar. 

Também tinha um vestido branco sem mangas nem alças, um cai-cai com um franzido na zona do peito e depois solto para baixo. Gostava de o vestir no verão, quando estava um pouco bronzeada. Claro que o soutien também não tinha ali qualquer cabimento.

Se agora tivesse vinte ou trinta ou quarenta anos seria uma alegria para as liberdades vestimentais de agora. Há uns anos, eu vestir-me como por vezes me vestia era coisa que envolvia alguma ousadia pois não havia muita gente que se aventurasse.

Já o contei e conto outra vez pois na altura achei graça e nunca mais me esqueci. Aos trinta fui nomeada directora de uma grande empresa. Era uma directora multiplamente atípica. A direcção tinha umas vinte e tal pessoas e na altura tínhamos também sempre estágios curriculares, geralmente jovens finalistas e, por coincidência, porque me mandavam os melhores alunos e os melhores alunos eram raparigas, tínhamos geralmente um par delas. E trabalhávamos com empresas de consultadoria, a maior parte deles não portugueses. Havia, pois, para além de mim mais umas meia dúzia, pelo menos, de mulheres muito jovens, algumas estrangeiras, gente desempoeirada e muito bem disposta. Havia uma, estagiária, que usava saias e vestidos tão curtos e tão justos que tinha que andar sempre a puxá-los para baixo. Havia uma outra que morava ao pé da praia e andava sempre bem morena, com um cabelo muito louro, muito comprido, que usava sempre vestuário que destapava mais do que tapava. Eu tinha um gabinete mas o resto do pessoal estava numa ala grande, em open space. E foi por essa altura que um colega, um já com alguma idade, uma vez me disse com sorriso malicioso: gosto sempre de vir para estes lados, é como se estivesse a ir para o Meco. Para quem não saiba, a Praia do Meco é uma praia conhecida por se praticar nudismo. Achei um piadão.

Mais recentemente, eu já vestida com a discrição que a idade aconselha  (a idade e 'a posição social'  -- como dizia a mãe do meu amigo) pasmava com as roupas reduzidas de algumas raparigas que trabalhavam no escritório. E pasmava por o fazerem para tentarem partido disso. Isso deixava-me chocada. Uma, quando lhe chamaram a atenção para a saia reduzida num dia em que ia ter uma reunião importante, disse: 'Então... tenho que fazer pela vida...'. Fiquei deveras incomodada. Acho isso uma subversão e um atentado. A antítese do que deveria ser sempre o gosto de vestir.

Eu sempre me vesti para me sentir bem, porque gostava de me ver assim. Claro que sentia que despertava alguma atenção e isso não me desagradava. Mas não era isso, tal como não é hoje, o que me motiva. O que me motiva é o prazer de me sentir bem. Nunca me passou pela cabeça tirar qualquer partido da situação. Sentir-me-ia indigna se sentisse que estava a exibir-me para que alguém me promovesse pela minha aparência.

Provavelmente se hoje fosse uma jovem mãe e não uma idosa avozinha não iria trabalhar em tronco nu, apenas com uns tapa-mamilos. Mas para a praia iria, talvez até ousasse um modelito assim numa saída nocturna. Não sei...

O que sei é que acho uma graça, uma libertação, uma alegria. Felizes os tempos e as sociedades livres que o permitem. 

Contudo, quando se lê o título Breast in show! How nipple pasties went from underwear to outerwear. The self-adhesive covers are normally used in lieu of a bra, but celebrities from Cara Delevingne to Doja Cat are proudly flaunting them on the red carpet, sobre o facto dos tapa-mamilos deixarem de ser um adereço de underwear para passarem a moda à vista, pode pensar-se que é coisa recente, de agora. Mas não. Veja-se, por exemplo,

Miley Cyrus leaves Jimmy Kimmel flustered by wearing heart-shaped nipple pasties for chat show


Tenho ainda a dizer que fiquei agora a saber que há tapa-mamilos que são usados para fazer um lift instantâneo e não invasivo. Funcionam na base da fita cola e parece coisa bem prática. Aqui fica a dica a quem quiser aparecer espevitada das ideias e do frontispício. Não ponho o vídeo porque o youtube, que é algoritmo todo metido a besta, pudico que só ele, quer atestado de idade para o incluir no blog. Não estou para isso. Fica só a fotografia.


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E viva a vida
Saúde. Alegria. Paz.

5 comentários:

Arménio Pereira disse...

Trabalho é trabalho, cognac não é armagnac...

Já em tempos houve tempo & espaços apropriados às dinâmicas sexuais, questão sensata de atenuar as ambiguidades que hoje, ubíquas, reinam: para isso existiam os Carnavais e Saturnais desta vida... mas a decadência - de corpos, costumes & mentes - segue os seus trâmites, inabalável; só os tontos tentam detê-la, só os néscios por ela se lamentam ou nela se deleitam.

(Nem inteligente, nem indefeso, nem bandido, nem estúpido: sou um homem distanciado da vida, alheado do tempo; sim, envelheço, mas com vagar: vantagens de quem aprecia não ser juiz em causa própria.)

Arménio Pereira disse...

(not our merit : not our fault)

Why am I doing the things I do? Because God wants me to. Why are you?
Protons & Electrons, Good & Evil, Acceptance & Denial: there isn't One without The Other. You didn't create them, it's not up to you to chose: God makes the choice for you; freedom is an illusion - God made that one too.

A blessing, a curse & a million paths to and fro: The Everlasting Dissatisfaction is here, is now, is all.

(Are you free to born when you wish? Will you die when you chose? If so, congratulations then - and my sympathies too: you are God - how does it feel?
... fair enough: reality has this penchant to hit us like a ton of bricks.)

(Bonus) Religious trinities laid bare:
- Denial (The Father/Contraction/Thesis/Yang)
- Acceptance (The Son/Expansion/Antithesis/Yin)
- A million paths to and fro (The Holy Ghost/Limit/Synthesis/Change)

Contraction - Expansion - Limit : The Heart
We're all servants of the Heart - accept it if you can, deny it if you must.

Um Jeito Manso disse...

K.,

Não se considera humano, confesse. Pelo menos, um humano com as limitações dos humanos. Ou considera-se um humano que, de tão distante, perdeu os hábitos e os modos dos humanos?

Da galeria em que se instalou, observa os néscios, os ignorantes, os gestores, os políticos, os portugueses, e desencanta referências que sublinham e atestam os seus juízos, juízos sempre negativos.

Em paralelo, num outro plano, um outro roteiro: o da uma banda sonora que, frequentemente, não encaixa no texto mas, provavelmente, encaixa numa narrativa subterrânea.

Uma noite descansada, Servo do Coração.

Arménio Pereira disse...

Será desprezo?
Será rancor?
Desprezo fenece,
lentamente
e rancor não queima assim.

Um Jeito Manso disse...

K.,

Que comentário mais críptico... Refere-se a mim? A mim em relação a si? Ou nada a ver?

É que se pensa que eu o desprezo ou sinto rancor por si só posso dizer que nem pouco mais ou menos. Porque haveria isso de acontecer? Ná. Não tenho razão para isso, pois não? E acho que nunca tal manifestei.

Por isso, espero que as suas palavras sejam apenas palavras de efeito (digamos assim).