Por vezes nem nos ocorre pensar no que sofrem os que nasceram com alguma diferença. Pode ser porque se é alto e magro demais, porque se é mais gordo do que os outros, porque se tem um cabelo que não cresce para baixo mas, antes, em caracóis que ficam agarrados à cabeça, ou porque se é estrábico, ou porque se é gago, ou porque se coxeia, ou porque se tem uma voz que não desenvolve... ou por qualquer outra coisa. Quem não passou por isso nem se lembra do que eles sofrem na escola, ridicularizados pelos colegas, atormentados com a crueldade das outras crianças.
Sabemos que essas crianças não querem ir para a escola, ficam doentes só por antecipar a vergonha por que vão passar. Sabemos que há jovens que querem desistir, que há os que tentam o suicídio.
Sabemos como crescem atormentados os que passaram por essa angústia quotidiana.
Nunca se fará o suficiente para que todos, crianças e adultos, aceitem e convivam normalmente com a diferença. Não será necessário fazer de conta que não se vê. Pode até comentar-se, com naturalidade. Sem superioridade. Com respeito.
Nessa pedagogia, o programa Tabu do Bruno Nogueira foi extraordinário. Ele ria mas de forma a que os próprios se rissem também. Os que são diferentes não são piores nem melhores, são apenas diferentes. E toda a gente se pode rir de si próprio ou rir dos outros e com os outros: desde que não humilhemos os que vemos como diferentes, desde que não os façamos sentir inferiores, desde que não exerçamos sistemáticas acções de bullying.
Avery Dixom nasceu prematuro, com menos de 700 gr. Tem agora 21 anos, não é muito alto, de acordo com os padrões não será especialmente bonito, tem uma voz estranha. Tem sido gozado, humilhado, quis suicidar-se.
Quando lhe perguntam o que faria se ganhasse o AGT, diz que gostava de ter um espaço para ele, a mãe e o irmão viverem e onde pudesse ensaiar. Diz que agora, quando toca, os vizinhos chamam a polícia e mandam-no parar de tocar.
E é este jovem que, apesar de tudo por que tem passado, tem um sorriso meigo e que, quando pega no saxofone, se transforma dando-nos a conhecer um fantástico músico. Nessa altura, a sua aparência e a sua voz deixam de ser relevantes. Ele e o saxofone fundem-se e ele vibra e faz vibrar quem o ouve.
Depois da exibição no America's Got Talent, depois de pôr a sala a dançar, depois de emocionar o gigante Terry Crews que ofereceu a sua protecção de irmão mais crescido e depois do Golden Buzzer, certamente ninguém mais ousará apoucar o simpático e talentoso Avery Dixon.
Golden Buzzer: Avery Dixon's Emotional Audition Moves Terry Crews to Tears | AGT 2022
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Um dia bom
Saúde. Generosidade. Tolerância. Paz.
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