quarta-feira, abril 06, 2022

Tenho muita, muita, infinita pena que os ucranianos tenham que pagar com tanta dor, sangue e lágrimas, tantos com a própria vida, para que consigamos ver com clareza o que antes parece que não víamos

 


Tantas vezes aqui em casa me insurjo: caraças, será mesmo possível que não haja uma força internacional, isenta, que possa ir para o terreno impedir esta guerra, esta barbárie, travar os assassinos, abater aviões ou navios que estejam a disparar mísseis ou bombas sobre cidades e populações? Não há mesmo maneira de travar a insanidade criminosa de uns quantos, talvez até, sobretudo, de um único homem?
 

O meu marido é mais legalista, invoca os princípios e regulamentos, explica que uma coisa é ser uma força de paz, que existe justamente para defender uma situação de paz e outra, muito diferente, é ser parte de uma guerra. 

Até pode ser essa a razão -- mas não concordo. A Ucrânia estava em paz antes de ser invadida. Por isso, acho que faria todo o sentido que um país que é militarmente invadido por um outro país seja ajudado a defender a paz a que tem direito.

A mortandade, a sanha destruidora, a loucura encarniçada que as tropas russas têm demonstrado desde o primeiro momento em que iniciaram uma guerra injustificável e inqualificável tem que poder ser travada.

Se não vai lá com sanções, se não vai com tentativas de negociação, então que as estradas, as ruas e as praças da Ucrânia sejam ocupadas por capacetes azuis prontos para defender a paz da Ucrânia.

E, mais uma vez o digo, parece-me essencial que o Papa Francisco passe uns dias na Ucrânia, em especial nas zonas mais críticas e mais atacadas. E era bom que mais líderes religiosos se lhe juntassem.

Tal como primeiros-ministros de três outros países, a presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, e, parece que dentro de dias, a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, deixam bem claro o apoio à Ucrânia, é ainda mais relevante do ponto de vista da opinião pública que os principais líderes religiosos mostrem ao mundo e à Rússia em especial, um total repúdio perante os bárbaros, atrozes crimes de guerra de Putin. 

Sei que a ida do Papa à Ucrânia está, finalmente, em cima da mesa. Mas devia ir já e demorar-se o tempo suficiente para que Putin seja forçado a fazer uma pausa. E uma pausa, em situação de guerra, é relevante a todos os níveis.

Bem sei que ainda há quem encontre explicações para que um regime criminoso invada um país e o destrua e massacre e tente exterminar o seu povo e bem sei que há quem invoque interesses geo-estratégicos para não condenar inequivocamente o brutal crime em massa que está em curso. Contudo, perante o que está a passar-se, não há explicações nem atenuantes possíveis. O que está a acontecer é imperdoável, injustificável, inaceitável.

Neste caso não tem muito que saber. Há uma linha vermelha, desenhada a sangue, e de um lado está Putin e os que o apoiam ou desculpam e do outro os que não aceitam a guerra, a violação de fronteiras, os massacres, a bárbara destruição.

Como chegámos aqui, como permitimos que isto esteja a acontecer, como não percebemos o que estava por vir (apesar de todas as evidências), como não arranjámos mecanismos para nos protegermos destes crimes de guerra, destes insanos delírios imperialistas, como -- perante crimes tão atrozes -- ainda há quem não os condene sem adversativas ou meias palavras, é um mistério para mim. 

Que, ao menos para nos fazer abrir os olhos e nos fazer as escolhas certas, sirva o sacrifício dos infelizes ucranianos.

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A Ukranian grandmother trapped at home as her quiet street became a war zone

Valentyna Omelchuk spent a month hiding out in her basement in Makariv, Ukraine, west of Kyiv, as shells landed in her yard and bullets shattered her windows. She is still trying to get in touch with her daughter and grandchildren in Kyiv

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Surviving Russian atrocities in a destroyed Ukrainian village

Russian troops withdrew from the village of Andriivka, west of Kyiv, after a month of waging war and terrorizing residents, leaving a trail of dead civilians and spent munitions in their wake. Similar scenes are being discovered across Ukraine, as experts gather evidence of possible Russian war crimes.
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Russia wants to turn Ukrainians into 'silent slaves', Zelenskiy tells UN
Volodymyr Zelenskiy has urged the UN to act and reform its system which gives Russia, a permanent member of the security council, a veto, saying everything must be done to ensure the international body works effectively.

In a passionate address on Tuesday, the Ukrainian president questioned the value of the 15-member security council, which has been unable to take any action over Russia's invasion of Ukraine because of Moscow's veto power

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Tanya Nedashkivska reacts as she recounts how her husband Vasyl Ivanovych, who served in the navy, was killed by Russian soldiers, as she stands near their residential building, amid Russia's invasion on Ukraine, in Bucha, Ukraine April 3, 2022. Vasyl was arrested by Russian soldiers. Tanya looked for him for days and found him in a building's basement where two bodies were lying, she recognized him by his sneakers, his trousers. "He looked mutilated, his body was cold. They turned him over a little. He had been shot in the head, mutilated, tortured" Tanya said. REUTERS/Zohra Bensemra
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As imagens (bem como a legenda da fotografia acima) podem ser originalmente vistas no artigo: 

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E, sobre as linhas vermelhas, permito-me transcrever na íntegra um texto que muito vivamente recomendo: trata-se do que Rui Bebiano publicou no seu blog A Terceira Noite (o que está a bold é de minha responsabilidade):

Desde 1968, o ano em que, com Paris e Praga, despertei para a necessidade de ter uma opinião política própria e de a exprimir, habituei-me – mesmo naqueles anos, entre 1971 e 1976, em que fui bastante inflexível – a tomar o lado esquerdo do futuro e da vida coletiva como necessariamente plural. Capaz de conter, a par de uma vontade transversal e profunda de justiça social e de fraternidade, uma grande diversidade nas formas de as conceber, de as conquistar e de as defender. Estas diferenças notam-se sobretudo quando olhamos os programas, as linguagens, as formas de organização e a base social, mas de uma forma muito particular quando se confrontam os valores da liberdade, da equidade e dos direitos humanos.  
Foi nestes domínios que cedo fui deparando com homens e mulheres para quem estes três fatores são, de facto, de uma importância relativa, sobretudo se o caminho que vislumbram para alcançar e conservar o poder político, o seu ou o dos seus aliados, requerer a sua relativização e a sua passagem para segundo ou terceiro plano, quando não a sua omissão. São pessoas que mantêm palavras sobre justiça, igualdade, paz, liberdade e democracia na ponta da língua, mas que as assumem, verdadeiramente, apenas dentro do seu próprio quadro de explicações e interesses, jamais como valores absolutos e inegociáveis, associados a uma humanidade plena e ao convívio na diferença das escolhas e opiniões. Consideram tais valores, na realidade, como luxos dispensáveis, e nos momentos críticos isso torna-se evidente.

É neste quadro que se torna possível compreender que não questionem os dois maiores sistemas concentracionários e tirânicos do século XX, a União Soviética de Estaline e a China de Mao, apenas contestando aquele outro, o da Alemanha de Hitler, que em número de vítimas – mortos, presos, torturados, deslocados, empurrados para campos de trabalho ou extermínio – de facto se encontra em terceiro lugar na negra contabilidade. Têm também defendido regimes tirânicos e de partido único desde que estes se apoiem numa verborreia «socializante» ou antiamericana, enquanto em outros momentos e lugares declaram defender os valores da esquerda democrática. Embora sabendo dessa ambiguidade, pois não sou ingénuo e conheço razoavelmente a história, fui convivendo politicamente com essas pessoas, sempre em nome de objetivos prioritários pelos quais poderíamos desfilar debaixo da mesma bandeira.

Existem, todavia, momentos em que esta contradição entre o que se prega e aquilo que se faz ultrapassa os limites, revelando, em quem a pratica, um fundo moral perante o qual é honestamente inevitável uma profunda desilusão. Se tivesse vivido o Pacto Germano-Soviético de 1939, talvez tivesse há muito experimentado algo desta natureza, como tantos comunistas e outras pessoas progressistas na época experimentaram com grande desilusão e uma amargura que nunca se extinguiu, mas admito que, em situação vivida na primeira pessoa, seja realmente agora a primeira vez que chego a um tal limite.

A guerra de invasão da Ucrânia e as chocantes posições de conciliação diante do espetáculo da morte e da destruição de um país e de um povo da parte dessas pessoas, a forma como pactuam com a mentira e até com teorias da conspiração, falando ocasionalmente de paz sem apontar o dedo aos agressores diretos, estão a fazer com que as transfira agora, provavelmente em definitivo, para o lado de lá barricada do combate pela minha noção de democracia, de justiça e também de honestidade pessoal. Não mais desfilarei ao lado de quem, como os fascistas ou os criminosos, contemporiza com a morte, a tortura e a devastação, aceitando recorrer à mentira ou à deturpação, ou desculpando-se com contextualizações ocas e contemporizadoras, não menos assassinas que as proclamações abertamente agressivas. Em questões desta natureza traço no chão linhas vermelho-vivo.
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Desejo-vos um dia tão bom quanto possível.
Saúde. Ânimo. Paz.

1 comentário:

Fernando Ribeiro disse...

Putin pretendia ficar para a história como Vladimir "O Terrível", mas vai ficar como Vladimir "A Besta", por ter destruído a Ucrânia e arruinado a Rússia.

Na Ucrânia, de um lado luta-se pela sobrevivência; do outro luta-se pela ambição do Putin. Resultado: um só combatente ucraniano vale por dez ou vinte combatentes russos, juntos e por atacado. Espero que David vença Golias, mas temo que isso não venha a acontecer desta vez, tão grande é a desproporção de forças.