terça-feira, abril 26, 2022

Fotografias enigmáticas, uma voz de veludo, duas casas extraordinárias e acho que pouco mais

 



Estou a modos que de ressaca e, a bem dizer, nem sei bem porquê porque o sábado e o domingo foram descansados. Às vezes penso que me seria benéfico fazer uma cura de sono. Não precisava de ser nada de muito elaborado. Bastava poder ter uma semana sem ter que pôr o despertador, sem ter que ir aqui, ali ou acolá, sem ter que fazer isto, aquilo e aqueloutro. Esta segunda-feira, dia bom por todos os motivos, inclusivamente por ser dia de descanso (dia de descanso é sempre bom mas coincidir com uma segunda-feira é bom demais), poderia ser um desses dias. Mas não -- e o estúpido é que por nenhuma razão em especial. 

Não pus despertador para ver se punha o sono em dia. 

Mas fiz mal pois fiquei com a preocupação de acordar tarde demais. Não que tivesse muita coisa que fazer mas, apesar de ser dia de descanso, se começasse tarde demais, tudo se atrasaria. E, por isso, acordei cedo demais.

Para além da caminhada, tinha que pôr adubo nas laranjeiras, no limoeiro e na limeira. Depois de aplicado, regar. Depois fazer uns pagamentos. Depois arrumar umas coisas para levar para o campo. Depois almoçar. Depois ir ao supermercado. Depois ir visitar a minha mãe (que continua a levar a sério a sua reciclagem em inglês e faz páginas e páginas de exercícios gramaticais e vocabulares). Depois ir para o campo. Depois... 

Até que, à noite, cheguei ao sofá e, claro, logo me deu o sono.

Inclinei a cabeça para trás, que é o que faço quando o sono me dá com força, e, de imediato, senti que estava a adormecer. Eis senão quando o meu marido me perguntou: 'O que é que aconteceu?'. Abri os olhos, admirada. 'Que aconteceu onde?' E ele: 'Contigo. Sentaste-te, puseste a cabeça para trás e fechaste os olhos'. E eu: 'O que é que tem?'. E ele: 'Está bem, nada'. Não sei qual o espanto. Só se foi por ser instantâneo. Mas, com isto, passou o momento. Não adormeci como deve ser e agora estou a ver se, assim como assim, me mantenho acordada.

Na RTP 1 um programa com músicas do Zeca. Está uma jovem a cantar o Bairro Negro. Canta muito bem. Tem ar de ser fadista. Não conheço mas tem uma voz fantástica e canta com a emoção das almas que sabem interpretar o fado. Tenho que ver se descubro como se chama. 

Ah, já vi. Sara Correia. Não conhecia. Muito boa. 

O Zeca, de facto, é intemporal. Qualquer pessoa que pegue nas suas canções e as interprete com sentido e sentimento torna-as momentos inesquecíveis. 

[Sempre que me lembro dele, lembro-me dele a espreitar e, ao ver que o Abílio estava ocupado, fazer um gesto de desculpa e voltar a fechar a porta. Era, para todos nós, um símbolo, uma pessoa maior.]

Enfim.

Estive a ver as notícias em vários onlines; mas hoje não quero falar da guerra (embora seja o que maioritariamente ocupa o meu pensamento). Tanto que sempre penso que gostaria de deixar aos meus descendentes um mundo melhor que aquele em que fui recebida... e agora acontece isto. E sabe-se lá como e quando é que isto vai acabar. Acredito que os serviços secretos de muitos países andem a trabalhar activamente numa qualquer forma de solução para esta loucura mas compreendo que as condicionantes são mais que muitas. Gostaria também de pensar que, quando isto acabar, estaremos mais esclarecidos quando ao que verdadeiramente importa nesta vida, mais exigentes quanto à paz e à liberdade. Mas já não ouso ser tão optimista.

Entretanto, ando com vontade de iniciar um diário. Escrevo aqui todos os dias e escrevo o que penso e sobre o que quero mas há temas sobre os quais não escrevo, não quero; ou melhor: não aqui em que escrevo a céu aberto para ser lida à vista desarmada. Por isso ocorre-me que poderia ter um diário privado. Ou isso ou um livro de memórias. Há muitas memórias que aqui, no blog, não têm lugar e que, num registo pessoal, privado, estariam bem. Vamos ver. 

E, pronto, isto hoje não dá muito mais que isto. Estou desconcentrada. Recebi na última hora dois mails de trabalho que só não me deixam possuída porque estou a tentar preservar o espírito de dia feriado, keep calm and carry on. Se fosse há algum tempo, a esta hora já tinha soltado os cachorros. Mas agora estou a querer aprender a portar-me como gente grande e, portanto, perante cenas destas, respiro fundo, deixo assentar a poeira, de preferência durmo sobre o assunto. 

Mas, antes de me ir, partilho dois vídeos que estive a ver de gosto. Confesso que, antes, estive vai não vai para reincidir e partilhar um vídeo que me pareceu bastante interessante sobre os meandros da guerra mas não, hoje não, hoje intercalo. 

Enquanto leio e ouço que há reais ameaças no ar de que esta desgraça descambe para uma guerra mundial, forço-me a abrir espaço a duas das minhas benquerenças, a arquitectura e a decoração. 

O primeiro vídeo mostra uma casa que foi reconstruída sobre uma outra, tradicional. É daquelas obras de arquitectura que me encantam: espaço, luz, a paisagem dentro de casa e, ao mesmo tempo, carinhosamente concebida para cada membro da família. Aqui o dono e o arquitecto são a mesma pessoa e todo ele é cool e toda a casa cool é e, tal como ele conta, é uma casa que evoluiu natural e intuitivamente. Uma maravilha.

A fantástica casa de Nick Tobias

A seguir temos o oposto: aqui se mostra como num apartamento pequeno também se podem fazer maravilhas. Haja imaginação, bom gosto, gosto pela vida.

Apartamento parisiense, pequeno mas parecendo espaçoso, no Boulevard Haussmann

Aqui vive Virginie, jornalista de televisão, mãe de 3 filhos. Foram algumas paredes abaixo para criar alguma amplitude. Há objectos antigos, objectos modernos, há bom gosto e graça.


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As fotografias são da autoria de Maïmouna Guerresi e acompanham MARO que interpreta we've been loving in silence

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Desejo-vos um dia bom
Saúde. Vida nova. Força. Paz.

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