É verdade, faltam palavras para falar do que se passa. Talvez o silêncio fosse mesmo preferível.
Por diversas vezes, ao ver fotografias ou imagens na televisão ou em vídeos, sinto que as lágrimas assomam aos meus olhos e, nessas alturas, não consigo dizer nada.
São imagens muito violentas: uma criança de 11 anos que foi sozinha para outro país, enviada pela mãe. Um menino que levava um saco de plástico e um número de telefone escrito na mão. A mãe, uma jovem viúva, chora, teve que ficar a tomar conta da sua própria mãe, doente e sem mobilidade. A voz embargada, o rosto mostrando grande infelicidade, fala dos filhos, explica que achou que era a melhor decisão. Imagino o coração estrangulado, a angústia, a vontade de proteger os filhos mas incapaz de abandonar a mãe. Como se sobrevive a uma decisão tão dilacerante?
Uma jovem grávida, desamparada, cujo namorado ficou para lutar, parece perdida. Uma outra espera casar quando a guerra acabar mas que diz que, quando se despediu do companheiro, sentiu que estava a separar-se para sempre. Desvia o rosto sem conseguir conter as lágrimas.
Estou a falar de momentos tocantes. Mas como escolher uns momentos e não referir outros?
Não é igualmente tocante ver tantos jovens que vão de todo o lado para lutar ao lado dos ucranianos? Como ficam as mães, as avós, as mulheres e filhos desses homens? Como podem sentir orgulho pela valentia dos seus homens quando certamente sentem a carne rasgada pela angústia, sem saberem se vão poder voltar a abraçá-los?
Não é também tão tocante ver mulheres idosas, cansadas, ofegantes, em desequilíbrio, com pequenos sacos nos quais transportam o que conseguiram salvar da sua vida de paz, tropeçando ao frio, a irem sem saber bem para onde? Que vida as espera nos anos que lhes restam?
Ou pessoas chorando, precariamente descendo de dentro de casas em ruínas, tentando equilibrar-se por entre pedras soltas, segurando uns papéis, documentos que pensam poder valer-lhes, deixando uma vida inteira de sonhos para trás?
Ou uma idosa, entre destroços, filmando a destruição com o seu telemóvel? A quem vai ela enviar aquele testemunho? Será para um dia mais tarde poder mostrar aos bisnetos? Não é isso igualmente comovente? Tão comovente...
Não sei se há quem fique indiferente perante a brutalidade do que está a passar-se. Se calhar, há.
Não quero saber se em todo o lado em que há guerra se pode assistir a situações igualmente infernais e dolorosas. Acredito que sim mas isso agora não me serve para nada. O que não quero é que haja guerra nem quero ver isto que nos é mostrado: cidades arrasadas, casas esventradas, ruas e pontes interrompidas, tudo transformado em montes de destroços, mulheres e crianças abatidas na rua, famílias separadas, tanta gente em lágrimas ou já sem conseguir chorar. Não venham falar-me de todos os outros casos tentando banalizar o mal. Recuso-me a aceitar que se banalize o mal.
Quem já viu a morte de perto, quem já pegou em armas ou matou outra pessoa consegue olhar para esta chacina sem emoção? Os que já viram morrer e mataram em cenário de guerra relativizam esta agressão brutal por comparação com tantas outras? Ou não querem que se fale disto porque voltam a viver os momentos de medo e ferocidade que, em tempos, viveram?
Não conseguindo ficar em silêncio, faço perguntas. Mas temo que sejam perguntas para as quais jamais obterei respostas.
Man who lost five family members when a Russian missile destroyed his home: "God, help this to end."
Twelve days since the war began, many Ukrainian civilians are stuck in cities under fire, unable to flee the conflict. A promised evacuation corridor to allow civilians to flee failed to open on Sunday.
Russia has proposed some humanitarian corridors that lead from Ukrainian cities to Russia and Russia’s ally Belarus.
Ukrainian officials called the proposal “completely immoral” and said that Ukrainians should be able to flee through their own country.
Lieutenant Colonel Astakhov Dmitry Mikhailovich, a captured Russian soldier, begs for forgiveness for Ukraine invasion
A Russian soldier who was captured by Ukrainian forces says he realised he was on the wrong side when his favourite boxers took up arms to defend their country from invaders.
Lieutenant Colonel Astakhov Dmitry Mikhailovich begged for forgiveness in a press conference after he was captured, saying he was under the impression Ukraine was under the grip of a fascist regime.
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