Há assuntos que eram inequivocamente prementes e que agora parece que passaram de moda. E, no entanto, nem é correcto eu colocar a frase no passado (porque continuam prementes) como é erradíssimo que tenham saído do nosso radar. Um dos temas tem a ver com a emergência climática e com todas as medidas necessárias para travarmos o fim do mundo que conhecemos, habitável por humanos.
Mas, na realidade, como poderemos preocupar-nos agora os gases com efeito de estufa, com o aquecimento global, com os fenómenos climáticos extremos quando assistimos, em tempo real, a bombardeamentos, a estradas cheias de tanques e os céus cheios de aviões, a uma destruição em larga escala (e sabe-se lá que mais virá por aí)?
Um amigo, até há algum tempo, quando queria definir alguém que, em vez de se preocupar com os assuntos concretos que tinha em mãos, se dispersava por futilidades, dizia: 'é daqueles que está sempre com a cabeça no buraco do ozono'. E, de certa forma, ocorre-me que se, no meio da chacina a que assistimos, fossemos falar nas emissões poluentes que degradam a atmosfera e retardam a recuperação pretendida, alguém também diria que deveríamos andar com a cabeça enfiada no buraco do ozono para nos esquecermos das cidades em ruínas, de mais de um milhão de expatriados e de um número incontável de mortos, e só nos preocuparmos com frioleiras.
Com as economias a sofrerem os efeitos da guerra (e vão sofrer) -- e tomara que não com uma crise financeira daquelas barbudas à perna -- quem vai ter cabeça para querer saber das medidas para que daqui por uns quantos anos estejamos menos em perigo na vertente climática? As pessoas devem é estar preocupadas com o emprego, com serem capazes de pagar as suas casas, com terem dinheiro para viverem como antes pensavam que iam viver. Certo. E... no entanto... há outro mundo onde viver para além do que estamos a destruir...?
Tento ver alguma coisa boa nesta tragédia: sempre há alguma coisa boa, penso. Mas a mim própria me coloco reservas. Não sei se é altura para optimismos.
- A Europa percebeu que não pode estar tão dependente de regimes ditatoriais? É verdade... Mas e é bom estar tão dependente da China (que também não é uma estampa em termos de democracia)?
- A Europa percebeu que é um peão (e um alvo fácil) entre os Estados Unidos e a Rússia? Ah sim... e daí...? Fazer o quê, agora? Fugir para Marte...?
- O mundo percebeu que não tem meios para travar um demente, um paranóico, um mitómano, um psicopata? Muito bem. E então? O mundo faz o quê? Em concreto faz o quê? Espera sentado que apareça o tal Brutus, é isso...?
Diria eu que algumas pessoas inteligentes e de espírito forte deveriam estar, a esta altura do campeonato, a reunir-se para, rapidamente, se preparar uma refundação de uma série de instituições, posicionando-as à luz do que se tem vindo a viver.
Dirão os timoratos que não é bom pensar em refundações enquanto as sirenes tocam e o sangue escorre do corpo dos inocentes. Não interessa. Em tempo de guerra não se limpam armas. E qualquer altura é boa para melhorar o que está mal. Têm é que ser pessoas com alguma elevação para que os assuntos não sejam tratados com cegueira e espírito de vingança.
- Os mais virados para a acção devem procurar-se uns aos outros -- certamente em conjunto com os serviços secretos daqui e dali --e estudar formas correctivas de travar malucos, dementes e tarados que estejam armados e sedentos de poder
- Os mais virados para a organização, para as leis e para a justiça, deverão juntar-se e ver o que hoje os trava ou põe em causa a segurança do mundo sem que possam fazer nada par areformular leis, estatutos, etc.
- Os mais virados para as contas devem preparar os dias que se seguem: injectar dinheiro em força na economia? Preparar o embate financeiro decorrente das consequências das sanções à Rússia?
- Os mais resilientes deverão encontrar planos para salvar o planeta apesar da guerra. E deve haver cenários. O worst-case scenario, com partes do planeta mergulhados num longo e penoso inverno nuclear, o cenário intermédio, em que não há crise letal mas há destruição brutal e crises de toda a espécie ou o best-case scenario em que alguém consegue travar Putin dentro de não muito tempo e acabar com a destruição da Ucrânia sem que outros países sejam atacados.
Acredito que tudo isto esteja a ser preparado.
Uma coisa é certa: de uma vez por todas deveriam ser criados mecanismos que previnam a guerra. Não me venham com conversas de coisas que remontam a gregos e troianos, ao berço da civilização, o instinto bélico sempre presente na cabeça dos homens e o diabo a sete. Não quero saber. Que se dane isso. O que todos devemos querer é uma vida simples, sem medos, sem que ninguém tenha que matar ninguém, em que possamos pensar no futuro sem medo, em que possamos alimentar sonhos, em que possamos estar uns com os outros, felizes, livres, em que possamos dizer o que pensamos, sem medo, em que qualquer maluco com instinto criminoso seja legalmente impedido de fazer mal aos outros.
Lirismo?
Talvez. Mas se, em vez de andar meio mundo a fazer selfies a torto e a direito -- reduzindo o mundo às selfies e aos pratos uns dos outros, consumindo tempo com smiles e emojis infantis que nada acrescentam a coisa alguma --, prestarmos atenção ao que interessa, se formos cuidadosos a votar, se votarmos em quem nos representa, se mostramos, no nosso dia a dia, que queremos um mundo melhor, se nos chegarmos à frente para defender as nossas ideias (mesmo que seja apenas um chegar à frente simbólico, com os meios que se tem ao alcance) talvez se consiga alguma coisa. Pelo menos assim o desejo.
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Pensa nele e só nele, pensa no dinheiro que tem a ocidente, é um facínora e um ditador. Todos acham que o seu regime tem o fim à vista.
Mas mais do que isso ainda não se sabe. Como? Quando? Não se sabe.
Mas tenho-me enganado tanto ultimamente que já não sei. Acreditava que ele não ia invadir a Ucrânia, que isso era histeria da comunicação social a fazer o frete aos senhores do armamento... e veja-se como me enganei redondamente... Portanto, já não sei é nada.
Deixem, portanto, que partilhe alguns dos vídeos. Não há com legendas em português mas talvez a maioria de quem por aqui me acompanhe arranhe o suficiente a língua inglesa para perceber o que dizem.
Russian news anchor, Ekaterina Kotrikadze, says millions of Russians feel invasion is a catastrophe
Russian news director and anchor, Ekaterina Kotrikadze, speaks to CNN's Fareed Zakaria about the state of the country's news media after her station, TV Rain, shut down due to the Russian government's crackdown on local media over unfavorable coverage of the war in Ukraine.
Bill Browder on Putin: When You Believe Your Time Is Almost Up, You Start a War | Amanpour and Company
Unprecedented sanctions have sent the Russian ruble tumbling. The U.S. has now cut off Russia’s central bank from its $630 billion so-called sanctions-proof fund. Bill Browder is CEO of Hermitage Capital and the architect of the Magnitsky Act, used by President Biden to impose sanctions on Vladimir Putin and his oligarch cronies. Browder speaks with Walter Isaacson about the tactic of cutting Putin off from his wealth.
What is Putin’s Endgame? Garry Kasparov on Russia’s Attack on Ukraine | Amanpour and Company
A vocal critic of the Russian leadership is Garry Kasparov, the chess grandmaster who repeatedly ranked world number one for 20 years before turning his attention to politics. He tells leaders to “help Ukraine fight against the monster you helped create.” Kasparov speaks with Walter Isaacson
The War in Ukraine Could Change Everything | Yuval Noah Harari | TED
Concerned about the war Ukraine? You're not alone. Historian Yuval Noah Harari provides important context on the Russian invasion, including Ukraine's long history of resistance, the specter of nuclear war and his view of why, even if Putin wins all the military battles, he's already lost the war. (This talk and conversation, hosted by TED global curator Bruno Giussani, was part of a TED Membership event on March 1, 2022.
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