Ia dizer que a máquina de guerra tem os motores a aquecer na expectativa de encomendas das valentes mas que a malta não é maluca a ponto de desencadear uma guerra só para fazer a vontade aos mesmos de sempre. Eles e os do petróleo. Ia dizer... mas já não digo nada.
Não hei-de esquecer-me de estar numa reunião daquelas que juntava umas quinze pessoas em volta de uma magnífica mesa ovalada em nogueira e de se falar na previsível queda do BPP e de 'a ver se um dia destes não vai o BES' e eu dizer e insistir que o BPP ainda vá que não vá embora me custasse a crer mas que o BES e o GES eram too big to fail: impossível, as quebras haveriam de ser brutais, impossíveis de acomodar, que o risco da queda era maior do que as chatices de limpar o que houvesse a limpar. Insistiam que a coisa estava a ficar feia, que cuidado com o que andava a passar-se, que algumas guerras intestinas às vezes acabavam mal e eu que aquilo era uma daquelas conversas fatalistas que podiam resultar mal, que começa um a dizer isso, outro repete, um terceiro ouve dois e faz-se eco e que, às tantas, o que não era nada passava a ser um big buraco. Por fim, estávamos dois em posições bem definidas: ele a a dizer que eu não me fiasse na sensatez dos políticos e de alguns decisores e eu a dar a entender que ele era um conservador fatalista, um pessimista daqueles que ajuda a espalhar o medo, um descrente da democracia.
Algum tempo depois andava a fazer-se as contas às imparidades, à dimensão do risco, a avaliar protecções e salvaguardas, a analisar os colaterais, a encarar a forte probabilidade de encaixar vultuosas perdas, os advogados e consultores e auditores a trabalharem a todo o gás, todos atordoados com o que estava a acontecer.
Nunca ele me lembrou: então? quem é que tinha razão? Mas eu, que sou humilde, várias vezes o referi: tinha razão e eu não, enganei-me redondamente, nunca pude sequer imaginar tal coisa.
Depois disso ainda mais incerta fiquei nas minhas certezas. Juraria que não vai haver guerra coisíssima nenhuma. Os russos e os americanos podem parecer parvos mas burros não são. Ou o contrário: podem parecer burros mas parvos não são.
A gente vê aqueles tipos, um com cara de pero saloio, a pares, numa mesa com vários metros de comprido, um em cada ponta, numa sala com uma decoração à Monty Python e fica à espera que apareça um conselheiro a andar com passo maluco ou um psiquiatra alucinado a recolher um dos que ali está, feito parvo, a dizer coisas sem qualquer sentido.
Mas isto sou eu, tolhida pela lembrança de todos os meus muitos anteriores juízos errados, cheia de incertezas.
E se, apesar de tudo, estou uma vez mais enganada e um destes dias acordamos com guerra às portas de casa?
Não dá para acreditar, temos todos mais que fazer, certo....?
Mas, com tanto doido varrido por aí à solta, às tantas estou eu aqui no maior cepticismo, armada em engraçadinha, achando que anda por aí muita histeria, os media todos empolgados, a acharem que não precisam de inventar assunto, com os comentadores do corona e da vacina e do estado de emergência, os mesmos das eleições e da seca e das alterações climáticas, agora já especialistas em geopolítica... e já por aí anda a tropa em treinos, os campos de tiro todos numa efervescência, tiro aos pratos a doer, todos a marcharem para aprenderem a disciplina de marcar passo para o mesmo lado...
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