quarta-feira, janeiro 05, 2022

Jerónimo de Sousa versus António Costa; Ventura versus Rio; Catarina Martins, a loura, versus Ventura; Tavares versus Costa; etc, etc.

Com vossa licença, vou mas mas é aprender a Como não morrer

[E, de caminho, vou uma vez mais constatar que it takes two to tango]

 




Vi o debate entre Jerónimo de Sousa e António Costa. Jerónimo de Sousa, com ar vendido, sem viço, com uma conversa que frequentemente roça o populismo, usa um discurso vago, oco, dizendo verdades inegáveis mas sem apresentar uma única solução. O PCP disfarça o estado de exaustão ideológica dizendo banalidades. Não conseguiu explicar porque é que chumbou o orçamento quando era um orçamento que ia mais longe do que alguma vez se tinha ido na defesa dos direitos dos mais vulneráveis e na concessão de regalias aos mais carentes. Não consegui explicar, claro. Enunciou pretensas medidas inexequíveis e ilusórias mas enunciou-as de forma gasta, sem vida.

A questão do salário mínimo, por exemplo. Claro que toda a gente gostaria que o salário mínimo desse um valente salto. Mas... e depois? Iria encostar-se ou ultrapassar os outros salários? Esses teriam que subir. Mas... iam encostar-se ou ultrapassar os seguintes...?

E as empresas iriam aguentar o embate dessa subida generalizada dos custos de mão-de-obra sem repercutir nos preços de venda? Provavelmente não. Com as margens de lucro esmagadas como andam por quase todo o lado... Mas os clientes iriam suportar o aumento de preços...? Bom, se calhar não.

É que, como António Costa referiu, grande parte dos possíveis beneficiários não são funcionários públicos ou trabalhadores de empresas altamente lucrativas. Grande número das pessoas que usufruem do salário mínimo trabalha em pequenos restaurantes, pequenos cafés, pequeno comércio. Numa altura em que todas essas pequenas empresas estão tão causticadas pela pandemia, como infligir-lhes ainda outro golpe...?

Subir o salário mínimo, sim, claro. Mas de forma gradual, de modo a que toda a cadeia económica consiga adaptar-se. 

O PCP e o BE não percebem isto? Bom. Se não percebem isto, então, mais vale que se dediquem a outra actividade, não à política ou a qualquer função em que se exija algum sentido de responsabilidade.

E, se percebem isto e, ainda assim o defendem, então das duas uma: ou querem o mal do país ou acreditam que a malta não percebe a sua hipocrisia.

Agarrado a conversas velhas, sem vida, o PCP continua, pois, a sua trajectória descendente. Não tem nada a propor. Continua a exibir jargões gastos, bandeiras que não convencem ninguém.

Antes vi excertos do debate de Rui Rio com o Ventura, Rui Rio com a Catarina Martins, Catarina Martins com o Rui Tavares.

A única coisa nova nisto é o cabelo da Catarina Martins: agora está loira e com madeixas.

Tirando isso, mantém-se populista, demagógica. Mostra que a deslealdade lhe corre nas veias, em abundância. 

Tal como Jerónimo de Sousa, usa argumentos hipócritas para defesa das suas indefensáveis atitudes.

Fui defensora e, depois, apoiante de uma solução à esquerda, apesar de já antes o PCP e o BE se terem aliado à direita para abrirem a porta a um governo de direita, um dos piores de sempre, o de Passos Coelho e Paulo Portas. Mas achei que traição tão grave acontece uma vez na vida. Acreditei que as probabilidades de voltar a acontecer eram mínimas.

Afinal aconteceu uma segunda vez. Sem outra justificação que não a de ceder ao facilitismo de querer agradar ao seus militantes mais fundamentalistas, Jerónimo e Catarina uniram-se ao Rui Rio, ao puto Chicão e ao execrável André Ventura, abrindo uma incompreensível crise. Idem ao IL mas esse não conta. Só conta, como já o disse, porque acho o Cotrim de Figueiredo uma bela figura de homem, ainda por cima sempre elegantemente vestido. E sabe falar e apresentar-se. Ora, na política, isso é importante mas não chega.

Mas, voltando ao PCP e ao Bloco. Tenho lembrado amiúde a propósito do comportamento destes dois partidos: Roma não paga a traidores. Portugal também não. Não perdoamos a traidores, ainda por cima traidores reincidentes. Da parte que me toca, e não passo uma simples e insignificante votante, não apoiarei novo acordo que envolva partidos nos quais o Jerónimo de Sousa, a Catarina Martins ou as manas Mortáguas estejam ao comando ou que tenham o cardeal Louçã na rectaguarda. É gente em que não é possível confiar. Lamento mas é coisa que não consigo ultrapassar. Não perdoo actuações políticas desleais, irresponsáveis, hipócritas.

Claro que Rui Rio também não é flor que se cheire: que não haja dúvidas sobre isso -- é errático, incoerente, é um troca-tintas, um tangas, não tem uma linha de rumo firme. Já deu mil provas disso. Não tenhamos pois dúvidas. Mas, a ter que contar com o apoio de algum partido, e se o Livre e o Pan (partidos relativamente neutros e em que, apesar de alguns excessos a absurdos, parece haver algum bom senso) não chegarem, preferiria que se desse uma little e controlada hipótese ao Rui Rio do que esperar que a demagoga e populista Catarina Martins e o gasto e servil Jerónimo (servil perante a linha dura dos seus militantes) traiam uma vez mais os seus eleitores (e o eleitorado de esquerda em geral).

Claro que preferia que o PS atingisse uma maioria estável sem necessidade de ficar na mão de quem começa bem mas acaba a chantagear. Confio no António Costa e confio na sua capacidade para formar e gerir equipas competentes e sérias. Confio na sua visão humanista e europeísta, confio na sua capacidade de ajustar um rumo estratégico face às circunstâncias adversas que vão ocorrendo, confio na sua capacidade de introduzir temas inovadores e na sua capacidade de ouvir e articular partes contrárias. 

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E agora ainda vou ler mais um pouco. 

Tenho andado a ler à vez: um pouco do Para quê tudo isto?, biografia de Manuel António Pina e um pouco do Como não morrer.

Comprei o segundo livro para a minha mãe. O bom efeito da nutrição na prevenção e tratamento de doenças é o género de livro de que ela gosta, ainda mais escrito por um médico. Depois de o ter comprado, cá em casa folheei-o e pareceu-me bastante interessante. 

Pensei que seria interessante para nós, cá em casa. Então, lembrei-me de o oferecer ao meu marido pelo Natal. Ofereci-lhe também o Jerusalém, a biografia. E, então, no meio da confusão da abertura dos presentes, todos a darem presentes a todos, abre ele o pacote com o Como não morrer e eis que o vejo ficar com ar estupefacto e os filhos a rirem e, ao mesmo tempo, a acharem que era um presente disparatado. Não percebi porquê. Não sei se acharam que era alguma indirecta, assim como se fosse um livro que se dá a alguém que está quase a bater as botas, se quê... Se o livro fosse: Como morrer mais depressa eu ainda perceberia que houvesse desagrado e estupefacção. Agora... é justamente o contrário... Nem é um livro dedicado à terceira idade. Não. É um livro bem escrito sobre as principais doenças causadoras de morte e como a medicina tradicional as encaram vis a vis uma alimentação saudável e equilibrada e um exercício físico adequado para as prevenir e ajudar a combater. Vou lendo aos bochechos e, até ver, estou a gostar de ler. Até estou a pensar oferecer aos meus filhos. Acredito piamente que uma vida saudável e uma alimentação equilibrada são fundamentais. Não garantem a vida eterna -- e ainda bem porque a vida eterna deveria ser uma seca -- mas talvez ajudem a viver melhor.


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As pinturas de Odilon Redon não têm muito a ver com o texto mas também o Vejam bem do Zeca não tem e não é por isso que deixa de ser aqui muito bem vindo.

E, para provar que não há limites para o despropósito e para lembrar que são precisos dois para dançar o tango, trago aqui, uma vez mais, o belíssimo tango dançado por Al Pacino e Gabrielle Anwar no Perfume de Mulher.


E se é bom ver Al Pacino a dançar, imagine-se o que será dançar com ele...


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Desejo-vos uma boa quarta-feira
Boa sorte. Saúde. Boa disposição. Coragem.

10 comentários:

Monteiro disse...

Foi António Costa que se pôs a jeito e deu o flanco onde queria apanhar porrada para depois gritar por socorro que o estavam a agredir. Esta farsa já foi aplicada muitas vezes ao longo da História. O problema para ele é se as suas contas saírem furadas e fica em situação idêntica à de Sócrates. Parece que não aprendem nada porque a ambição lhes tolda o cérebro e quem sofre depois é o Povo mas a isso viram as costas porque têm mais que fazer. Ao fim de 10 anos os reformados ainda não recuperaram o que o Governo do Passos Coelho lhes roubou e isso diz bem da decadência politica, social e moral do Partido Socialista que promete pagar 5€ à Hora de Salário mínimo em 2026 se ganhar as eleições. Neste momento o Salário mínimo hora na Alemanha são 12€ e a diferença reflete bem a mudança de mentalidades entre a miséria e a riqueza. Há mais de 150 anos que naquele pais todos os idosos têm uma reforma garantida cujo dinheiro ao regressar ao consumo cria riqueza nos diversos sectores económicos onde é gasto.

Anónimo disse...

Belo serviço ao Sr. António Costa, como se não bastassem toda a tralha de jornalistas e de comentadores que inundam toda a comunicação social 24 h por dia. Assim é fácil ganhar eleições
.Consola-me a certeza que o que acabo de ler não foi encomendado nem pago.
E chamam a isto democracia e pelos vistos há quem acredite !

Um Jeito Manso disse...

Caro Monteiro,

Grande confusão vai nessa cabeça. Então acha que é o Costa que paga alguma coisa a alguém? No barbeiro da esquina é o Costa que pode mandar pagar X ou Y ao ajudante...?

E acha que os reformados são os únicos que ganham o mesmo que ganhavam antes do Passos Coelho? Olhe que não, olhe que não...

E não ouviu ainda falar na sustentabilidade do sistema de pensões...? Claro que agora, com a descida da esperança de vida, as contas ficam mais equilibradas... É tétrico mas é verdade.

Agradeça é ao Costa não ceder a facilitismos e manter os pés no chão...

E se quer comparações com a Alemanha comece por comparar as produtividades.

Enfim.

Cada um interpreta e raciocina como quer.

Eu baseio-me em factos, não dispenso os números e gosto de pensar a médio e longo prazo.

Um dia feliz para si.

Um Jeito Manso disse...

Olá Anónimo do belo serviço,

Só consigo dizer uma coisa. A gente às vezes, na maior ingenuidade, pensa que a estupidez tem limites. O seu comentário vem provar o contrário.

Lamento (por si).

Monteiro disse...

Estes são os factos:
Sustentabilidade do Sistema de pensões assenta na seguinte desagregação das Contribuições em percentagem, veja:
Doença 1,41%
Doença Profissional 0,50%
Parentalidade 0,76%
Desemprego 5,14%
Invalidez 4,29%
Velhice 20,21%
Morte 2,44%
Total 34,75%
(11% + 23,75%=34,75%)
Os reformados da Segurança Social não precisam de esmolas.
A Segurança Social é a única instituição em Portugal onde todos os governos se abastecem sem necessidade de pedirem autorização por vezes com o protesto dos sindicatos.
Um dos últimos grandes abusos foi o Vitor Gaspar ter sacado 5 mil milhões para compra de Dívida Pública.
E os apoios da Segurança Social à epidemia ainda não percebi como o Estado vai pagar os milhares de milhões que têm saído para apoiar a os patrões e a economia.
Acusar os outros de confusão é fácil só que contra factos não há argumentos.
Só espero que não aconteça ao Costa o que aconteceu ao Sócrates que perdeu a maioria absoluta e depois entregou-se ao inimigo.
Estes são os factos.
A Alemanha não se tornou produtiva de qualquer maneira. Correram foi com a Igreja Católica e arranjaram uma nova religião e é aí onde se geram as "Causas da Decadência dos Povos Peninsulares" segundo Antero de Quental.
Desde Bismark a Hitler que a Alemanha é responsável pela morte de milhões de criaturas e já estão outra vez com o ímpeto da guerra na guelra. Uma pena.
Parece que já têm um Ministro da Guerra porque no subconsciente não aceitam terem sido derrotados pela União Soviética, um país tão atrasado como eles julgavam.
Só que secretamente Staline em 10 anos construiu 10.000 fábricas como esforço de guerra e ai de quem obstaculizasse tal plano, daí a sua fama de mau, penso eu. Coisa que o António Costa não é nem de perto nem de longe e não deixa de ser um Socialista Democrático como ele afirma batendo com a mão no peito.
Peço desculpa pela delonga.

Anónimo disse...

"Belo serviço"

Os meus pais sabendo-me estupido - para contrapor - optaram por me dar educação.
Quero agradecer-lhe pelos muito bons - alguns poucos nem tanto - momentos de leitura que me proporcionou.
Desejo-lhe muitas felicidades para a Senhora e para a sua família que tanto ama.


Um Jeito Manso disse...

Olá Anónimo do 'belo serviço',

Não sei se a educação resultou... Se tivesse resultado, não achava que eu estava a fazer um frete (a quem quer que seja) nem lançava a dúvida de que alguém me tinha encomendado ou pago alguma coisa.

Penso pela minha cabeça e digo o que penso sem recear o que pensem de mim ou do que digo.

Se por aqui me costuma acompanhar sabe disso. Se tenho votado e vá votar no PS é porque é o partido com que mais me identifico e porque, neste caso, reconheço no António Costa um bom Primeiro-Ministro. Nenhum outro candidato o seria caso, por infortúnio, fosse eleito.

Mas, olhe, não seja por discordarmos que deixe de comentar. Já sabe que respondo à letra mas, estando preparado para isso, força, avance.

Feliz Ano Nove para si e para os seus!

Um Jeito Manso disse...

Caro Monteiro,

Lá está. O meu Caro acha que de um lado estão as pessoas e do outro estão as empresas e a economia. Visão mais errada não pode haver. Daí as suas confusões.

São as empresas e a economia que geram postos de trabalho e impostos e contribuições para o Estado Social e para os Fundos de Pensões. Se as empresas fecharem e a economia soçobrar adeus minhas encomendas.

Se não for injectada liquidez nas empresas e na economia em momentos de crise, como manter a vida em sociedade a funcionar...?. Paralisa-se a vida e Deus Nosso Senhor faz chover dinheiro?

E se não se inverter rapidamente a trajectória da demografia há menos dinheiro a entrar do que dinheiro a sair (nomeadamente para pagar as reformas).

Se gerir as contas públicas fosse coisa para quem faz simples aritmética estávamos bem entregues.

O Caro Monteiro pode achar que o dinheiro que há é para ser distribuído e... quem vier atrás que feche a porta.

Felizmente para os portugueses que o António Costa e a sua equipa não cede ao populismo e pensa a mais longo prazo, acautelando o futuro.

E pode escrever longamente que não me importo. Gosto de conhecer os argumentos alheios mesmo que contrários aos meus.

Um dia feliz.

António Ladrilhador disse...

Agradou-me bastante o seu texto, embora não subscreva quanto refere quanto ao partido do governo. Sobre o mesmo tema, convido-a a ler o que deixei em https://mosaicosemportugues.blogspot.com/2022/01/jeronimo-de-sousa.html.

Monteiro disse...

Não lhe queria estar a dar maçada mas já que tenho uma Visão errada...Daí as minhas confusões...e se as empresas fecharem e a economia soçobrar e se não for injectada liquidez ...como manter a vida em sociedade a funcionar...?.
Eu já li isto tudo num manual de Economia Política na década de 1960 e aconselho mesmo a estudar Keynes porque tem coisas muito saborosas que os economistas de agora se aproveitam de forma renovada e com muito interesse.
Quanto ao António Costa parece que tem tem dormido mal e segundo opinião de Jerónimo de Sousa anda um bocado agoniado e com insónias diárias.
Aí nas suas deliciosas mezinhas arranje lá qualquer coisinha que lhe restitua o bom humor e a alegria perdida. O Lacão até já quer pôr o Rui Rio minoritário como Primeiro Ministro com o apoio do PS. Aliás na entrevista que Jorge Lacão deu a Ana Sá Lopes foi muito explicito: "PS não deve criar obstáculos à governação" de um PSD minoritário. Pobre Aquiles de pés velozes que vai ser obrigado a regressar frustrado a casa enquanto a guerra e a doença dizimam os Aqueus e embora Aquilo seja um dilecto dos Deuses que injectam liquidez e criam postos de trabalho para manter a economia e as encomendas a circular, e não obstante os favores sorridentes da senhora Pelosi em terras lusitanas, tremei que Trump regressa com a Internet em grande estilo no dia 21 de Janeiro. Espero que o meu compadre que me deu a notícia a tenha dado certa, mas deu, até porque ele é um cronista de confiança.
Eu não lhe queria dizer mais nada mas ando sempre de roda de Um Jeito Manso e quando por cá passo digo sempre que logo que tenha tempo hei-de entrar para a cumprimentar. Calhou agora, não leve a mal e já agora digo-lhe não há cão melhor que um Podengo, de bebé vivia sempre agarrado à minha pombinha a avó de outras pombinhas que sempre nos acompanharam.