quarta-feira, dezembro 08, 2021

Spell on you

 


Já não quero ter pois tenho de sobra para o que preciso. Mas ainda move a minha atenção. Spell on you. A sedução começa no nome. What's in a name

O nome é a chave de tudo. A minha filha não poderia ter outro nome senão o que tem. Cai-lhe bem seja qual for a declinação que se use. O meu filho não poderia ter outro nome senão o que tem. Aliás, se, no caso da minha filha, o nome estava definido desde sempre, o do meu filho começou por ser negado. Eu dizia: qualquer nome menos esse. Era o nome do meu marido, o do primo mais chegado, o do filho do primo, o do tio, o que tinha sido do avô. Tentámos todos os nomes e mais alguns e, em todos, achávamos defeitos. No último dia, rendemo-nos: não podia ser outro senão aquele nome e foi assim que foi registado. É agora também o nome do filho mais velho da minha filha e o do filho mais velho do meu filho. Nas nossas casas, chama-se por esse nome e há vários a responderem. Mas cai-lhes bem esse nome. Não poderia ser outro senão esse.

Quando me apaixonei pelo meu marido sem o conhecer foi sem surpresa que a amiga especial dele da altura me disse como é que ele se chamava. Foi como se obviamente tivesse que ser esse o nome. Como se isso comprovasse a razão de ser da minha paixão. Nunca tinha falado com ele nem nunca o tinha ouvido falar. E, no entanto, estava apaixonada por ele e, no meu íntimo, sabia que o seu nome não poderia ser outro senão esse. Quando ela me falou dele e me disse qual o seu nome, eu tive a certeza que ela estava a falar do desconhecido por quem me tinha apaixonado.

Já o meu primeiro namorado se chamava assim. Estávamos a entrar na adolescência, eu nada sabia da vida, e, no entanto, ele tinha tudo o que eu gostava ou haveria de gostar num homem. Não sabia, então, mas sei agora: tudo o que há a saber sobre uma pessoa está contido no seu nome.

O meu nome. Eu não seria eu se não me chamasse como me chamo. Sou chamada pelo menos em quatro declinações e em qualquer delas me revejo. A minha mãe tinha dúvidas, pôs a hipótese de me chamar Helena. Mas eu não teria tido a vida que tive, seguido as opções que segui, não seria a que sou hoje, não escreveria aqui o que escrevo se me chamasse Helena. Gosto muito do nome mas a mim não me assentaria tão naturalmente quanto o meu me assenta. Eu sou o que sou porque este é o meu nome e porque as pessoas com o meu nome são assim.

Nem todas as pessoas com o mesmo nome serão exactamente iguais. Claro que não. Aí entra a questão do signo. O nome mais o signo definem e calibram com precisão tudo o que há a saber sobre uma pessoa.

Aqui chegados, imagino que muitos dos que me lêem acham que nada disto faz sentido. Mas ainda estamos no início dos tempos. Tudo o que se sabe não é nada comparado com o que há para saber. Se não nos apressarmos a chegar ao fim dos tempos talvez, até lá, consigamos descobrir alguns dos mistérios que hoje nos parecem insondáveis.

Mas, dizia eu, que é o nome. Spell on you. Isso e a descrição, o nome das flores, os sentidos despertos para receberem odores de terras longínquas, as palavras que hipnotizam e seduzem. Transcrevo:

An ode to the iris pallida from Florence, its composition exalts the duality of a precious flower that symbolizes feminine seduction. The iris insinuates its violet notes into a radiant bouquet of rose and Sambac jasmine, then unfurls the force of its powdery notes within the honeyed accents of acacia flower. Evolving from carnal seduction and an intimate impression, Spell on You has a hypnotic, heady aura, like an unforgettable refrain...

Ou, numa perspectiva mais técnica, as notas

Top notes are Green Notes, Violet and Tuscan Iris; middle notes are Rose, Chinese Jasmine and Tuscan Iris; base notes are Peach, Acácia and White Musk.

E depois há a embalagem, a elegância do exterior. As proporções. Os pormenores. 

E há a forma como se apresenta. Se há sensualidade, intimidade, sedução, malícia, segredo, mistério, se há qualquer coisa de inexplícito, se há a possibilidade de ser outra coisa e não aquilo que parece... então eu identifico-me. E tenho vontade de me aproximar, de experimentar. 

Por isso, logo que possa, fá-lo-ei. É inevitável. What's in a name...? E, de resto, para quê mudar...?


Spell On You with Léa Seydoux ||| Louis Vuitton

[ao som de Nina Simone: « I put a spell on you »]


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Fotografias de David Sims na companhia de Fiona Apple que interpreta Why Try To Change Me Now 

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Desejo-vos um dia feliz
Saúde. Sorte. Esperança. afecto.

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