sábado, novembro 27, 2021

Ah, que boas que eram aquelas intermináveis e abafadas festinhas de Natal das crianças...

 



Mais uma semana e quase mais um mês. O tempo desaparece-me das mãos. esta sexta-feira foi de tal maneira que, quando chegou ao fim e me meti no carro para ir tratar de umas coisas, mal me lembrava de tudo o que se tinha passado. Um pouco inquietante. Por muito que tente deixar intervalos entre reuniões, não estou a conseguir. Mal consigo respirar. Tenho uma coisa que não sei se é só minha se é comum a toda a gente: preciso de não fazer nada a seguir a algumas situações para que elas assentem. Pode ser uns cinco minutos. Chega. Ora, como não estou a conseguir, sinto que, por vezes, as próprias situações se evolam, pelo menos do meu radar.

Hoje de tarde aconteceu-me uma coisa que me incomodou muito. Tive uma reunião com uma pessoa a seu pedido. Como é uma pessoa com muita autonomia, boa cabeça e que não dá problemas, no meio de tudo o resto, acabo por me esquecer dela. De cada vez que ele me liga a pedir uma reunião, penitencio-me. Hoje, ao fazermos o ponto de situação, ele quis dar-me conta do andamento de dois trabalhos que eu lhe tinha pedido. E, quando ele disse isso, eu vi à minha frente uma parede escura, sem princípio nem fim. Não tinha a mínima ideia do que lhe tinha pedido. E, no entanto, quando ele descreveu o ponto em que estava, a parede iluminou-se. Eram trabalhos importantes, críticos. E eu tinha-me esquecido.

De que serve sentir-me mal com isso se não é voluntário, se tenho consciência de que isto acontece porque sou humana, tenho os meus limites? Mas, para as outras pessoas, cumpridoras, responsáveis, como é que é entendido eu não andar em cima? Provavelmente pensam ser desinteresse. E não é, é apenas excesso de trabalho.

Depois, já de noite, ia no carro e ouvia os mails a chegarem. E pedidos para mais reuniões. 

O cardiologista disse-me que, para além da medicação, o que há a ter em atenção: uma vida normal, saudável. Faça exercício, evite o stress, tenha uma alimentação saudável. Contei-lhe das reuniões sucessivas, dias inteiros, tantas vezes para resolver problemas ou para tomar decisões difíceis. Ele disse: pois, já sabe, isso não dá saúde a ninguém. 

Há uns meses, decidi: vou mudar completamente de vida. Fixei um prazo limite. Não iria prosseguir neste ritmo. Mas estou a chegar a esse limite e o limite voltou a deslizar. Não sei como evitá-lo.

Mas, entre outras cosas, fomos comprar uma caminha maior para o urso peludo que já tem quatro meses e começa a estar grande. Ia morar na rua, não era? Lembram-se? Mas pensámos logo que a casinha de cimento do jardim era grande e inóspita. Por isso, arranjámos-lhe uma casinha mais pequena para ficar no pátio abrigado, junto à cozinha. Ao fim do segundo dia, achámos que estava frio. Coitadinho. Ingressou no bem bom e passou a dormir numa caminha almofadada na cozinha. Agora, quando podemos supervisionar, ou seja, ao fim do dia, pode circular pela casa. E vai experimentando: a chaise longue, o sofá em frente da lareira, o cadeirão de orelhas, a bergère em ouro velho. Quando o vejo, pergunto-lhe: então? estás bem? Olha-me e é como se me respondesse: Tá-se.

Digo-lhe. Quer um biscoitinho? Vem a correr, a saltar, a dar ao rabinho. Digo-lhe: senta. Ele senta-se. Digo: a patinha. Ele levanta a patinha peluda. Digo: a outra. Trapalhão, ele pousa a primeira e levanta a segunda. Dou-lhe, então, o biscoitinho que parece um feijaozinho. É um educ e dizem que é pouco calórico. Adora. Então, volta e meia, chega-se ao pé de mim a andar desengonçado e com uma patinha no ar e outra no ar, um mini cavalinho de cortesias, peludo, cabeludo, maluco. Pergunto se quer um biscoitinho e todo se derrete, de alegria, a andar à minha volta, aos saltos. Uma graça.

O pior é que me arranha com as suas unhinhas afiadas e os seus dentinhos sem noção. Agarra-se a mim, quer brincar. Digo-lhe: só beijinhos, com a língua. Mas acho que é vocabulário que ainda não conhece. Espero que lá chegue para ver se deixo de andar toda marcada nas mãos e nas pernas.

Agora aqui no sofá, ensonada, só a adormecer, abri o youtube e apareceram-me vídeos que me fizeram lembrar as festinhas de natal de quando os meus filhos eram pequenos. Eram sessões que duravam longas horas. Geralmente estava muito calor, estava muita gente. O ginásio transformado em sala de espectáculos. Aguardava pacientemente ao princípio mas, por fim, já muito impacientemente. O meu marido geralmente também ia. Mas ele, em situações destas, não é apenas impaciente: fica verdadeiramente desesperado, incapaz de estar quieto. Mexe-se, bufa, pragueja em voz baixa, ameaça ir-se embora. Fica em estado de absoluto sofrimento. Mas nem pensar sairmos nem que fosse apenas para apanhar ar. E se chegasse a vez de um dos nossos actuar? Então, aguentávamos estoicamente. Com a minha filha havia também os saraus musicais. Ela andava no piano e, por esta altura, cada menino da escola tinha o seu momento de glória. Horas. Uns era flauta, outros piano, outros violino. Um suplício. 

Mas depois, quando actuava qualquer deles, passava-me toda a impaciência. Adorava.

A minha filha vibrava com isto. Para ela era uma excitação, uma alegria. Preparava-se, antecipava o momento, fazia questão de estar bem. O meu filho era o oposto. No primeiro ano, aos três anos, recusou-se a participar. E nos outros anos, era sempre com alguma aversão que aceitava integrar-se. 

Fosse como fosse, nunca falhei uma única festa da escola. Por muito pincel que fosse aguentar a longa duração daquilo e o calor abafado que me fazia baixar a pressão, sempre lá estive para aplaudir e para me encantar com eles.

Também já fui a algumas festinhas na escola dos meus netos. O meu marido acho que só foi duas vezes. É que uma coisa é uma pessoa sair mais cedo para ir à festa de Natal do filho ou da filha. Outra é uma pessoa baldar-se cinco vezes para ir à festinha de cada neto. E, no entanto, como eles ficam contentes quando nós vamos. 

Agora, com esta porcaria do corona, já nem devem fazer aqueles ajuntamentos em ambientes fechados, verdadeiras incubadoras de vírus. 

Mas, ao ver alguns dos vídeos que o meu amigo algoritmo tinha para me mostrar, já me fartei de rir e de me enternecer. Só aqui partilho dois mas o Youtube tem vários, presumo que por upload por parte dos pais orgulhosos.




_________________________________________________

As fotografias foram obtidas por aí e desconheço a sua autoria

__________________________________________________

Desejo-vos um sábado feliz
Tudo à maneira. 

1 comentário:

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Riqueza,

Bela aguarela desta caminhada para o Natal.

Ouça o Dr. e comece a por travão nas cargas pesadas.

Um belo fim de semana.