sexta-feira, outubro 22, 2021

Um dia quase igual aos dias do 'velho normal'

 



Levantei-me mais cedo do que o costume. Tinha pensado vestir uma coisa mas, à última hora, apeteceu-me experimentar outra. Não gostei. Experimentei outra. Também não gostei. Pensei antes numa camisa de seda com riscas verticais em tons de verde seco e branco. Experimentei. Pensei que, se calhar, não. O tempo a passar. Antes da reunião queria ainda ir visitar umas pessoas. Pensei que o melhor era voltar ao que tinha pensado de véspera. Experimentei. Talvez. Mas tive que vestir um top por baixo, o decote estava profundo demais. Fui procurar um no tom da blusa. Vesti. Resolvi que podia ser.

Escolhi os brincos. Pérolas pequeninas. Colar. De pérolas, também. Comprido. 

Depois fiquei na dúvida. Que sapatos? Fui ver quais. Fiquei na dúvida. Pensei nuns mas não ficariam bem com a roupa que tinha vestida. Pensei que o melhor seria mudar de roupa. Mas o tempo estava cada vez mais apertado. 

Pensei então nuns sapatos em tons neutros. Não fiquei muito convencida mas era uma solução de compromisso.

Vestida e calçada voltei ainda ao closet. Perfume. Bergamota como nota principal. 

Pensei ainda em ir buscar a aliança e o relógio. Mas já era tarde. Fui com mãos e braços nus.

Antes de chegar, pensei que esperava que a reunião não fosse lá em cima, numa daquelas salas que tão bem conheço, isoladas, secretas. Quando me fiz anunciar, sem grande surpresa disseram-me que subisse ao último piso. Quando cheguei a sala ainda estava vazia. Pensei: de novo, uma emboscada. Desloquei-me até à janela de vidro de onde se tem uma das melhores vistas do rio. Por baixo um jardim. O sol tornando as águas um espelho luminoso. Pensei: o que será desta vez?

Depois, ele entrou. Conversámos. O meu cão, o cão dele. A minha casa, a casa dele. Depois, contou-me. Disse que, por uma questão de lealdade, tinha que me dizer aquilo e que não são coisas que de que se fale por telefone. Talvez. Depois continuámos a conversa, o que faremos, o que teremos que manter em segredo, o que poderemos dizer. E combinámos nova conversa.

A seguir, dirigi-me ao outro local para fazer a visita que tinha pensado fazer antes. 

Ao ir para o elevador, saiu de lá uma jovem que me cumprimentou pelo meu nome e sorriu, voltando-se para trás, a sorrir: 'não sabia que vinha...'. Puxei pela cabeça. Juraria que nunca a vi mais gorda.

Ao entrar, muitos cumprimentos e, entre as pessoas conhecidas, uma outra jovem com uma blusa sensual e o cabelo apanhado de um dos lados. Cumprimentou-me efusivamente. Pensei: isto será para os apanhados? Que gente é esta e de onde me conhecem? Mas depois assumi que para os apanhados não seria certamente pelo que deve ser gente que tem entrado e que me conhece não sei como ou de onde. Pensei que tinha que tentar perceber. Mas toda a gente tinha muita coisa para dizer e acabou por me passar o esclarecimento do mistério. 

Saí de lá já tarde. Há sempre muitos assuntos. Saio mas poderia ficar lá até à noite a ouvir toda a espécie de histórias, de queixas, de desabafos, de alertas, de conselhos, de sugestões.

Uma vez mais não usei os parques dos edifícios. Preferi, de novo, deixar o carro num parque público para poder andar a pé nas ruas de Lisboa. 

Já estou um bocado desabituada de andar na calçada lisboeta com saltos altos mas é como andar de bicicleta: ao princípio parece que a elegância não está lá mas a verdade é que, logo depois, se percebe que a gente não esquece.

Andei sem máscara e gostei muito. Uma sensação de liberdade muito boa: andar na rua, ao sol, sozinha, sem máscara.

Na rua, muitos estudantes, turistas, gente que passeia, outros que devem andar que nem eu, a curtir o ar iluminado da bela cidade. Ao meu lado, duas mulheres muito elegantes, com pastas, saltos ainda mais altos que os meus, perfeitamente maquilhadas e penteadas. Pensei: advogadas. O semáforo estava vermelho para peões. Elas ao meu lado, ouvi-as a delinearem a estratégia. Eram advogadas.

Quando cheguei a casa, o pequeno urso, ao constatar que eu estava de volta, fez aquela festa que me enche de alegria e afecto. Quanta ternura, quanta alegria a dele. Abracei-o e ele a mim, os dois felizes da vida, ele a dar freneticamente ao rabinho, eu a fazer-lhes festinhas, eu a chamar-lhe 'meu menino lindo, minha coisinha mais fofa', ele a tentar mordiscar-me. 

No resto da tarde, tive mais uma reunião. Foi daquelas de arrebimba. Disse o que tinha a dizer sem dosear na franqueza. Há pessoas que não entendem a subtileza, só entendem se lhes falarmos com todas as letras. Como sempre, apesar de saber que ele me apoia, confirmo que fica sem saber como acompanhar a minha assertividade. Quando fala, reforça o que eu disse mas sinto que tenta amenizar um pouco. Obviamente tínhamo-nos combinado, antes. Mas ele, pela sua natureza, não consegue dar murros na mesa nem ser totalmente taxativo. Eu consigo. Claro que o murro que dou é metafórico. Do outro lado, a terceira pessoa protesta, diz coisas mas, tudo espremido, nada. Fala, fala, fala. Deixamo-la falar. É importante que possa esvaziar. Ficamos a saber tudo o que pensa. Quanto mais fala mais se esvazia a ela própria. Acaba a dar o dito por não dito. No fim, já mal sabe explicar porque quis a reunião. 

Uma canseira. As pessoas que se movem por estados de alma, cansam-se a elas próprias e cansam os outros. É aquilo da estupidez. Nada a fazer. É genético. 

Ao fim do dia, já os dois, voltámos à cidade. Tínhamos coisas para tratar. 

Regressámos a casa um bocado tarde. Ainda quis ir fazer uma caminhada mas já escurecia e estava frio. E eu não tinha qualquer agasalho. Portanto, desisti. 

Ao entrarmos em casa, de novo, o nosso ursinho de peluche voltou a fazer aquela festa. Corre, salta, rebola-se, ri, dá latidos, atira-se-nos às pernas. Uma festa. Um afecto incondicional, espontâneo, genuíno. Um aconchego emocional. Uma ternura.

Fui fazer o jantar. E voltei a trabalhar. 

Já tarde, ainda pensei ver uma série mas adormeci. Penso que a sesta não deve ter durado mais que dez minutos mas foi profunda. 

Estou com muito sono. Esta semana tem sido puxada. E custa-me cada vez mais ter que me levantar muito cedo. E há muito trânsito em Lisboa. Não sei o que se passa. Há trânsito por todo o lado. Perde-se muito tempo no trânsito. Anos de vida. 

Bem. Adiante.

Tenho mails por responder, não conheço as notícias do dia mas hoje já não dá. Tenho que me ir deitar. Por hoje acho que já chega.

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Há bocado, o meu filho perguntou quando é que poderíamos voltar à nossa casa in heaven. Dizia ele que era pena agora não podermos ir. A quem ele o diz... Tenho tantas saudades. Não sei se poderemos ir quando o little baby bear levar a 2ª toma da vacina. Espero que seja, que não seja só na 3ª. 

Não sei se já estaremos na época dos cogumelos. Adoro andar por lá a descobrir cogumelos. Há lá sempre tantos, tão diferentes, tão bonitos. Aqui já vi dois minúsculos, branquinhos, quase transparentes. Fiquei em pânico não fosse a omnívora criatura lhes deitar o dente. Sei lá se são pacíficos... Vim logo a correr buscar uma pequena pá de jardim para os arrancar e deitar fora para longe. Mas eram tão lindos, etéreos, quase virtuais.

E, já agora, permitam que partilhe:

Fantastic Fungi | Moving Art by Louie Schwartzberg


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Desejo-vos uma happy friday

Tudo na boa

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