segunda-feira, agosto 09, 2021

Um fim de semana leonino e parcialmente campestre

 


Sobre sábado já ontem sintetizei: almoçámos fora, ou seja, em casa alheia. Mas dizer que almocei fora quando almocei em casa do meu filho é capaz de não ser a melhor forma de me exprimir. Mas, para mim que, desde os tempos do corona não tomo refeições senão em casa, a ocasião é ainda mais de festa. Acho que, neste ano e tal, a excepção anterior tinha sido, justamente, também em casa dele, provavelmente há um ano. Isso, exceptuando um ou outro lanche em casa da minha mãe.

Juntou duas mesas e fez uma mesa quadrada, muito grande, que montou no terraço da varanda que dá para o jardim. Eram eles, os meninos e os quatro avós. Juntar todos os tios e todos os primos seria juntar muitos agregados familiares e aumentar bastante o risco até porque crianças (não vacinadas, recordemos) são, declaradamente, muito mais do que as mães.

Portanto, um almoço bom, bom, uma companhia boa, agradável, uma conversa boa, as crianças sempre a trazerem alegria e felicidade - muito bom. 

Dali seguimos para o campo com a trupe da minha filha. Os meninos (e todos nós) adoramos estar ali, in heaven. Que saudades de lá estar, com tempo, com vagar...

É, decididamente, um lugar mágico para todos nós.

Fomos aos figos, passeámos, a minha filha começou a ter ideias para as mudanças que estão em curso.
Portas e rodapés já estão todos branquinhos. As janelas serão finalmente substituídas. Ainda são as de origem, aros de madeira, cor de madeira, vidro simples, deixando passar o frio e o calor. Serão branquinhas, zelando pelo nosso conforto a nível de temperaturas. A minha cómoda e as mesas de cabeceira estão agora praticamente branquinhas com um flavour de verde água e as portas de madeira da bancada do lavatório e os aros dos dois espelhos grandes da casa de banho grande estão quase branquinhos com um cheirinho de azul, coisa tão ao de leve que quem não esteja informado nem reparará. Os tectos de madeira da zona antiga estão também brancos. Toda a casa respira uma luminosidade que traz uma boa onda. Já não há zonas escuras, apenas lugares abertos e luminosos.

A mesa da sala de jantar já fica meio desconjuntada quando se abre toda e o aparador dá sérias mostras de querer deformar-se pelo peso. Mantive-os do anterior proprietário pois são bonitos. Não sei há quanto tempo eles os tinha mas connosco já estão há vinte e muitos anos. Portanto, pensámos que estava mais do que na altura de arranjarmos uma solução mais robusta. Como a minha filha tem jeito e gosto para a decoração e nesta casa deu uma ajuda preciosíssima, pedi que fosse connosco a uma enorme casa de móveis que há numa aldeia a caminho da nossa. É daquelas lojas que mais parece um armazém com mil mobílias de quarto, mil de salas de estar, mil de salas de jantar, modernos misturados com clássicos, avant garde misturado com rural. Não dá para explicar. Quando se entra, dá vontade de dar meia volta e sair, tal a confusão que se adivinha. Mas, garimpando, encontram-se coisas interessantes. E as pessoas são amáveis, genuinamente interessadas em encontrar alguma coisa que vá de encontro ao nosso gosto.

A minha filha tinha dito que, se a loja estivesse fechada no sábado à tarde, até era melhor porque os miúdos passariam bem sem esse programa. Enganou-se. Aliás, espantámo-nos todos. Os rapazes adoraram. Acho que nunca devem ter andado numa tal babel. Habituados a poucas lojas, provavelmente nada de móveis e, sobretudo, calibrados para o minimalismo urbano, ao depararem-se com aquilo, estavam como que num enorme pavilhão de diversões. Estavam entusiasmados, davam-me sugestões, já queriam convencer a mãe a mudar de sofás. Uma alegria.

Escolhemos um conjunto de mesa, aparador e quatro cadeiras, em branco e tampo cor de madeira, assentos beige. Aproveitarei os cadeirões que eram da minha avó para ficarem nas cabeceiras. Acho que este conjunto vai ser também um lampejo de luz na sala.  A ver se consigo quem dê um jeito na mesa que fica desconjuntada quando está aberta. Talvez até a pintemos para a colocarmos sob o alpendre do barbecue.

Depois, no campo, aproveitámos aquela absoluta tranquilidade. Está-se sempre tão bem, lá. Até o cãozinho do vizinho entrou e veio pôr-se à porta da cozinha enquanto lanchávamos. Lembrou-se de nós. Achámo-lo mais entrado, menos irrequieto e malandro.

Às tantas, a minha filha lembrou-se que ali era um bom sítio para se juntarem em lutas de paintball. O que ela foi dizer. O entusiasmo dos meninos foi ao rubro. Logo ali, consultaram o tio, grande apreciador dessas batalhas, e logo ali começaram a avaliar o investimento e a discutir alternativas. Antevêem-se tempos bem animados.

Já não viemos de lá nada cedo.

Este domingo, foi cá em casa. Juntámo-nos todos para festejarmos com os leõezinhos aniversariantes. Fui buscar a minha mãe e, pouco depois de chegarmos, chegaram as trupes alegres e ruidosas. Foi aquela festa. As crianças brincaram, alguns dos mais crescidos também, houve jogo de raquetes, jogos de pontaria, jogos de bola, jogos de lutas, lanche. Os meninos também brincaram ao Got Talent, uns a cantarem, outros a serem o júri. A alegria deles por estarem juntos é para mim motivo de felicidade maior.

Imagino que a minha mãe, ao chegar a casa, caiu na cama como sempre cai quando vai daqui: como uma pedra. A algazarra que fazem faz-lhe lembrar o ruidoso chilreado dos recreios, dos tempos em que dava aulas. Vai daqui sempre cansada, só de os ouvir, só do receio que se magoem. Diz que dorme horas a fio e até manhã alta (ela que geralmente acorda com as galinhas).

Para o lanche, fizemos sandes de ovo mexido, sandes de alheira, sandes de queijo fresco com salmão fumado. Eram trinta carcaças e, no fim, acho que sobraram duas. E tinha morangos. E a minha mãe trouxe crepes e creme de chocolate para os rechear e bolo de cenoura que serviu de bolo de anos. 

Como sempre, separamo-nos em mesas, por agregado familiar, e a comida é também distribuída por mesa. Toda uma logística meio parva. Mas estamos ao ar livre, as mesas estão relativamente perto umas das outras e conseguimos conversar uns com os outros. É que os momentos de refeição sempre foram momentos de partilha e conversa animada (e, por vezes, cruzada) e este protocolo agora atrapalha um bocado. Mas, enfim, é o que é, covid oblige

Quando vínhamos de regresso a casa, depois de termos ido levar a minha mãe, já era de noite. 

Os dias começam a ficar tristemente mais pequenos. Fico sempre levemente angustiada quando constato que estamos a aproximar-nos dos tempos em que a noite cai cedo demais e em que os burocratas do tempo ainda fazem a gracinha de lhe roubar uma hora. Gosto de dias grandes, gosto de luz.

O meu marido queixou-se: 'um gajo não descansa', queixa que nele é recorrente. Confortei-o: 'deixa, está quase a começar mais uma semana de trabalho'. Ele não reagiu apesar de por vezes dizer que o menos cansativo na nossa vida é o trabalho. Pelo menos acho que não teremos que ir amanhã ou depois ao supermercado. Fomos no sábado, fomos no domingo. Ir ao supermercado e virmos carregados é um bocado cansativo. Poderíamos encomendar mas não seria a mesma coisa. Assim, in loco, vejo, avalio, tenho ideias. Mas não apenas estimula o consumismo como cansa. E depois ainda persistimos nos cuidados covideanos, limpezas, lavagens -- o que chateia e dá trabalho.

Esta semana, pelo menos à partida, também não tenho nenhuma ida ao médico nem exames a fazer. É verdade: na semana que passou, também tive óculos para actualizar, até porque, para ajudar à festa, se partiu uma haste dos óculos escuros e, assim como assim, sabendo que a graduação precisava de ser ajustada, aproveitei para uma revisão. Portanto, a semana passada foi puxada a todos os níveis. Só não digo que esta se antevê tranquila porque parece que dizer coisas boas atrai os maus espíritos e eu, nestas coisas, começo a aprender a ser prudente. É certo que começo a semana com uma reunião das boas mas, enfim, optimista que sou, prefiro ter esperança em que o resto decorra em verdadeiro espírito quase estival.


E é isto.
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Pinturas de Robert Boyer.
Victory Brinker, 9 anos, interpreta Juliet's Waltz

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Desejo-vos uma semana feliz a começar já nesta segunda-feira.
Saúde. Força. Motivação. Alegria. Boa onda. Tudo de bom.

2 comentários:

Estevão disse...

Parece que a UJM veio do heaven a carregar nos erres, no “camprestre” do título ..
Uma boa semarana!

Um Jeito Manso disse...

Olá Amofinado,

Pois foi...

Mas estava era a escrever com uma bebedeira de sono que já pensava a dobrar... Já emendei. Thanks a lot!

Um dia bom para si, Amofinado.