Recebi alertas sobre o que tenho escrito, referindo-me que, perante quem me lê, pode ficar a ideia de que sou reticente em relação à vacina anti-Covid e sugerindo que, tendo eu em média para cima de duas mil visualizações, deveria ter cuidado com a mensagem que posso estar a passar.
Sou sensível a esses alertas. Não quero que passe uma mensagem que não coincida com as minhas ideias e, por isso, vou tentar falar claro.
A minha mãe, quando ao falar comigo, se refere à 'porcaria da vacina' está apenas a ter o seu sentimento maternal aguçado. Desde sempre assim foi: se alguma coisa não está bem comigo, ela sente necessidade de encontrar um culpado para descarregar nesse agente a sua arrelia por alguma coisa me ter feito mal. Já lhe disse muitas vezes que nem sempre a razão é da responsabilidade, bem identificada, de terceiros: os responsáveis podemos ser nós próprios ou as nossas circunstâncias ou pode, até, haver razões congénitas.
Mas não é contra as vacinas: quando foi convocada, não hesitou. Já levou as duas doses.
E se é verdade que as vacinas, umas menos que outras, não se têm mostrado tão eficazes quanto o desejaríamos no contágio com a variante Delta, a verdade é que são eficazes na prevenção da gravidade da doença -- e isso é o mais importante. Não será grave eu ser infectada se isso não me afectar grandemente mas poderá ser grave, ou até fatal, se for parar a uma cama dos cuidados intensivos, se for ventilada ou se for desta para melhor. E esse é o raciocínio a fazer.
Ou seja, se há 20, 30 ou 40% de pessoas que, estando vacinadas, ainda assim contraem a covid, a verdade é que essas pessoas, maioritariamente, ou ficam assintomáticas ou têm manifestações ligeiras ou benignas da doença. A percentagem de casos graves ou de fatalidades diminuiu drasticamente entre a população vacinada. Os casos graves que continuam a verificar-se concentram-se agora nas pessoas não vacinadas ou com a toma ainda incompleta.
É certo que há um ou outro caso de reacções adversas às vacinas mas não apenas será sempre difícil afirmar de ciência segura que a causa do que aconteceu é a vacina como se trata de uma ínfima minoria e, salvo muito raríssimas excepções, casos não dramáticos.
Lá, na sala de reanimação, ao ser avaliada, examinada e analisada, decidiram que ficava lá em observação. Tive alta apenas no dia seguinte, à hora de almoço, ao ser verificado que o coração estava estabilizado, embora com a sequela identificada na noite anterior. Saí não apenas com medicação mas, também, com um conjunto de instruções sobre como agir face a alguns possíveis sintomas, com indicação de repouso quase absoluto e de ir o mais rapidamente possível a cardiologia.
Na sequência disso, tenho estado a fazer diversos exames, nomeadamente para perceber como está o meu coração a funcionar agora que ficou a referida sequela resultante do evento isquémico. A situação que poderia ser mais crítica, problema nas coronárias, já foi descartada. Foi entretanto percebido que há um aspecto em que o meu coração tem uma condição congénita que pode, em certas circunstâncias, provocar alguns problemas, nomeadamente o que aconteceu. Pode ter sido, também, um acumular de diversas situações, nomeadamente stress, inflamações, anti-inflamatórios, etc (talvez por ter uma vida muito sedentária ou stressada, tenho, de vez em quando, algumas tendinites ou inflamações articulares que trato com anti-inflamatórios). Ou pode ter sido a vacina -- e isto apenas é hipótese pois existiu a coincidência temporal.
Mas, se eu não tivesse feito o ecg, não teria dado por nada e a questão da vacina nem se teria colocado. Por sorte, fiz o ecg que apanhou a situação e me permite perceber os cuidados que devo ter daqui para o futuro. Faço a vida normal mas com menos intensidade pois trabalhar doze ou catorze horas por dia não dá saúde a ninguém e eu sentia que estava a atingir um limite. E, lá está, terei que vigiar-me e estar atenta a alguns sintomas.
Não há nenhum médico que arrisque uma razão para o que me aconteceu, nem a favor nem contra alguma hipótese. Aconteceu -- e, milagrosamente, fiz ecg's no exacto momento em que a coisa estava a dar-se.
Mas uma coisa é certa: se eu tiver que tomar nova vacina, se isso for aconselhado pelos organismos mundiais de Saúde e pela nossa DGS, tomá-la-ei.
No balanço que faço entre os prós e os contras e na conjugação de probabilidades, não tenho dúvida em achar que a balança pende, sem dúvida, para o lado de se tomar a vacina.
Chateia-me um bocado pensar que a que levei, Janssen, é a menos eficaz no contágio (mas é segura na prevenção da gravidade). Leio que está em estudo a avaliação sobre se é seguro conjugá-la com uma toma de vacinas de outro tipo e, naturalmente, quero sentir-me confiante quanto a essa segunda toma.
Mas, no cômputo geral, não tenho qualquer dúvida de que, tal como, ao longo dos tempos se venceram flagelos como o sarampo, a difteria, a varíola, a poliomielite e etc. com vacinas, também agora não poderemos vencer esta praga senão com a vacina.
E que ninguém pense que está acima dos riscos e que não precisa de vacinar-se. Errado. O risco de ter consequências graves caso se contraia a covid é incomparavelmente muito superior aos efeitos secundários de tomar a vacina. Cada pessoa é responsável perante si, perante os que lhe são próximos e queridos e perante a sociedade. Sob nenhum ângulo a pessoa poderá desculpabilizar-se se contrair formas graves da doença por não ter querido vacinar-se.
Desde há meses que o mundo está a ser vacinado pelo que a amostra existente é de uma tal ordem de grandeza (milhões e milhões que não acabam) que não deixa margem para dúvidas. As vacinas são seguras e eficientes. Os números falam por si.
Vaccinations
From Our World in Data · Last updated: 2 days ag
Espero que agora esteja claro o que penso das vacinas contra a covid (que é idêntico ao que penso das vacinas em geral): se a recomendação é para vacinar, vacino-me. E não penso duas vezes.
Não é apenas por mim e pelos custos gerais para a sociedade (ter um doente covid internado sai caro ao erário público). É também pelos que me são próximos: se apanhar covid e ficar mal, ventilada, não me perdoaria por causar tantas preocupações e trabalhos aos que me são queridos se isso fosse o resultado de não me querer vacinar.
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E porque gosto sempre de ter acompanhamento musical, imaginando que o tema vos possa ter dado vontade de dormir, aqui deixo uma musiquinha a condizer:
Canção de embalar
Lakota Lullaby • Alexia Evellyn
5 comentários:
Muito bem!!
Folgo em saber o que concretamente se pessou com a UJM e que está bem sob controlo.
Bons sonhos e uma 4.ª-feira bem animada.
o "bem" está a mais
Olá Francisco,
Obrigada e espero que também esteja tudo bem-bem consigo!
😉
Uma dia feliz!
Obrigado UJM,
Percebo a hesitação em expor esta questão pessoal e, "conhecendo-a" não duvidava que era esta a sua posição. De qualquer forma, talvez alguns posts realmente deixassem algumas "dúvidas".
Bem, agora ao que interessa: desejo que recupere bem. E procure uma vida mais balanceada. Para emoções, vá ao teatro! Não precisa de preocupações. Está a decorrer o sempre magnífico Festival de Almada - uma pena que eu este ano talvez não consiga ir (e já viu que o magnífico Tiago Rodrigues, de quem já lhe falei aqui e que sugeri até que fosse a uma peça lindíssima - By Heart - foi selecionado para diretor do Festival de Avignon?! Vai "perder" o D. Maria um dos melhores diretores de sempre, que deu grande impulso ao teatro nacional!)
Bem, e nisso da Janssen: estamos juntos. Eu, até agora, zero sintomas..nem sequer uma leve dorzinha no braço. E não se preocupe com a suposta menos eficácia. É relativo. E é como diz: eventualmente ligeiramente menos eficaz a evitar a infecção sintomática (mas isso não significa que é pior ou melhor atenção! Pelo contrário!), tem eficácia similar às restantes na prevenção da doença grave. Utiliza também uma tecnologia mais convencional e testada (ao contrário da Pfizer e Moderna por exemplo), dando mais garantias de segurança.
Um abraço!
Estou muito bem, gracias, Riqueza!!
Ainda não me chamaram para a vá-cina, aguardo, se achar que o tempo se prolonga, agendarei.
Um dia feliz, auch!
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