terça-feira, julho 27, 2021

Killing Kittens
O erotismo no feminino -- ou quando, na festa dos corpos, as mulheres é que dizem como é

 


Em tempos não muito remotos eu alimentava o secreto desejo de me dedicar a uma actividade profissional pouco confessável. É uma actividade legal apesar de ser socialmente pouco recomendável. 

O meu marido achava (e acha) bem e creio que me incentivará bastante nesse sentido.

Contudo, o tempo vai passando e tenho a sensação que vou perdendo o élan. Estou a ver que nem presidente da câmara nem esta outra coisa.

Tenho em mim um lado muito prático e, o mesmo tempo, talvez já por deformação profissional, muito virada para o bom negócio. Trabalhar para aquecer só aqui mas isto não é trabalhar, é distrair-me, é descansar a cabeça. Mesmo nos meus hobbies gosto de produzir. Tenho inúmeras carpetes feitas em legítimo ponto de arraiolos e réplicas de desenhos originais do séc. XVII e fi-las não apenas com o grande prazer que retiro de fazer trabalhos manuais mas também com a consciência de que estava a fazer coisas de valor. Também fiz durante anos camisolas de tricot ou mantas de crochet porque não encontrava a meu gosto por valor equivalente e sabia que não apenas estava a ter gosto em fazê-las como estava a fazer peças únicas e mais baratas do que arranjaria no mercado. Deixei de fazê-las quando as zaras desta vida (para as camisolas) e os gatos pretos (para as mantinhas) apareceram com oferta de qualidade a valor razoável, deixando as minhas peças de ser competitivas.

Por isso, para a minha actividade eventualmente por vir, tenho na minha cabeça que, antes de me entregar a ela, terei que avaliar se poderei ser bem sucedida e, também, se há quem me possa ajudar a progredir. Quando falo em ajudar, falo em termos profissionais. Não sei bem como mas admito que faria sentido ter um agente que seria remunerado em função do meu revenue

Trata-se, como deve dar para perceber, de uma actividade que me é estranha em absoluto. Nunca fiz nada, nem de perto nem de longe, nestes domínios. Mas, com a minha matriz profissional sempre a querer impor-me a atenção aos fundamentals, só avançarei depois de conhecer os caminhos a percorrer, depois de ter o know how mínimo necessário e depois de ter antecipado que o resultado será favorável. É aquilo de apenas investir depois de ter o business case sólido e bem estruturado. Ora tudo isso requer tempo e esforço, e, com o tempo a passar e eu ainda presa ao meu emprego tradicional, não sei se vou ter tempo e disponibilidade para isso.

Mas veremos. Não vale a pena antecipar.

Prezo o valor intrínseco das mulheres e acredito que não deveriam ter que disputar o seu lugar seja onde for. Não acredito na superioridade masculina (tal como não acredito na feminina) nem aceito que haja espaços que lhes estejam sonegados. 

Claro que, junto da elite intelectual, a igualdade de oportunidades ou de direitos das mulheres já não é tema. Mas a elite é isso mesmo: le beau monde. Fora desse escol, mesmo em meios cosmopolitas supostamente detentores de mentes abertas, acha-se que há um mundo natural dos homens e um mundo natural das mulheres. E, ao falar-se nisto, lá vem à baila a ideia de que o mundo natural das mulheres é primordialmente o mundo da família, da criação dos filhos, da casa. Enquanto isso, segundo essa visão, que é ainda a visão dominante, o mundo dos homens é o mundo do trabalho fora de casa, seja no trabalho, seja na política, seja no desporto ou no lazer em geral.

Salvo as elites intelectuais, em especial nas grandes cidades, o mundo do sexo ou do erotismo em geral é ainda um mundo predominantemente masculino, quer na produção e distribuição de produtos (sejam filmes, objectos ou locais de prazer) quer no que se refere ao seu consumo. 

Ora estou em crer que não há por que ser assim. As mulheres estão numericamente em maioria e são tão ou mais sensíveis ao erotismo e à ousadia do que os homens. Aliando a isso a de que são naturalmente mais disponíveis para o consumismo do que os homens, temos que há um imenso mercado por desbravar.

Ou seja, creio haver mercado para que as mulheres se afirmem assertivamente neste mercado, quer como produtoras quer como consumidoras. 

Por ser assunto que me interessa, fico especialmente agradada quando percebo que actividades que se situam nesses ambientes são lideradas por mulheres e que, imagine-se, estão a bombar. 

É o caso das Killing Kittens

The KK Group’s brands empower women from the bedroom to the boardroom. We create experiences—both online and offline—that inspire the next generation of independent women.

Killing Kittens was founded in 2005 by Emma Sayle in response to demand from young, independent single girls and couples who needed something more. The world’s most exclusive, decadent and hedonistic parties were created, fully focused on the pursuit of female pleasure. Girls remain at the forefront…in control, knowing what they want whilst also empowering adventurous couples the world over.

Since 2005, Killing Kittens has evolved and expanded beyond organising parties. An online community of over 100,000 women, gentlemen and couples has been formed – chatting, flirting and socialising all over the world.

Durante o confinamento, as Killing Kittens viraram-se para as festas virtuais mas, agora que (um bocado incompreensivelmente) a liberdade já foi decretada lá por terras de Sua Majestade, as festas esgotaram. Tal como aos tempos de guerra se sucedem tempos de farra, celebração com libertinagem à mistura, parece que o mesmo vai acontecer depois da era covid. Enquanto em casa muitos casais vêem a sua relação corroída e as separações disparam, os corpos parece estarem ansiosos por partir à aventura, à descoberta de novas sensações, de novos parceiros, de novas experiências.  

Festas de mulheres, nos quais os homens são os convidados das mulheres. Aposto que é o paraíso para eles. Estarem numa festa de mulheres desinibidas, serem voyeurs e jouets, creio ser o sonho de grande parte dos homens. E para elas, sentirem-se livres, poderosas, terem a primeira e a última palavra, poderem pôr e dispor dos homens, é também porem o pé naquilo que deve ser o paraíso.

Não sei se sou suficientemente ousada para participar numa festa destas mas gostaria muito de lá fazer uma reportagem: fotografar, fazer perguntas, mergulhar na devassidão e liberdade daquele ambiente.

Enquanto isso não acontece vou mas é ver se mantenho viva a chama da minha segunda vocação para ver se, daqui por algum tempo, me dedico de corpo e alma ao que, se calhar, é aquilo para que nasci.


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Carla Bruni interpreta, uma vez mais, a Femme Fatale.
Encontrei as fotografias que usei ao longo do texto na net relacionadas com as Killing Kittens.
Também encontrei estes dois vídeos.




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Desejo-vos um dia feliz
Enjoy.

2 comentários:

Estevão disse...

Cara UJM,

Desejo-lhe sucesso nessa próxima e mui nobre actividade. E, se me permite, gostava de sugerir que nos intervalos do House espreitasse este documentário sobre a Mulher, objectivamente analisada do ponto de vista arqueológico. Ainda pode ser visto na RTP2_última sexta_20,37horas … e pode ser importante para esse seu trabalho:

https://www.rtp.pt/programa/tv/p40995

Por outro lado, quanto à sua anterior actividade de réplicas de tapetes de arraiolos, esta informação do centro interpretativo do tapete espantou-me. Eu que tanto gosto das cores repousantes desses tapetes, fiquei a saber que o tempo que tudo desbota foi o seu maior amigo. A partir do minuto 22:

https://www.rtp.pt/play/p8647/e548339/visita-guiada

Um bom dia.

Um Jeito Manso disse...

Olá Amofinado,

Tem sempre sugestões interessantes. Não conhecia este episódio e é importante para mim. Estes programas deveriam passar em horário nobre.

Acho curioso essa sua referência às cores. Foi também uma surpresa para mim quando comecei a estudar os originais. Tenho carpetes que são réplicas de originais que estão em museus, cá, em Paris e em Londres. A pessoa que me fez os desenhos e que os adaptou sem deturpar a lógica e a estética originais à dimensão que pretendi*, uma estudiosa da tapeçaria de Arraiolos, identificou as cores originais e foram essas as cores que usei. Os tapetes que fiz são pois tapetes com cores fortes, ocres, tijolo, verde e azul escuro.

Também fiz carpetes à mão livre, sem desenho definido, abstractos, respeitando o ponto e o preceito dos genuínos tapetes de arraiolos.

* As dimensões originais são geralmente generosas, destinadas a grandes salões. Os meus são geralmente, salvo erro, de 1,7 x 2,5 m.

Quanto ao documentário sobre a Mulher irei também ver. São temas que me interessam. Interessa-me, sobretudo, o tema do poder exercido por mulheres bem como o erotismo no feminino. São temas que, de certa forma, se intersectam.

Agradeço-lhe muito as suas sugestões. São-me úteis e interessantes. Muito obrigada.

Dias felizes.